Hoje,
quarta-feira de Cinzas, começa o importante tempo litúrgico da Quaresma, no
qual a Igreja almeja que nos unamos mais intimamente ao Mistério Pascal de
Nosso Senhor Jesus Cristo, mistério que inclui sua Paixão, sua morte e sua
gloriosa Ressurreição. Dom Fernando Arêas Rifan aponta alguns trechos da
Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2015.
“Tempo de
renovação para a Igreja, para as comunidades e para cada um dos fiéis, a
Quaresma é sobretudo um ‘tempo favorável’ de graça (cf. 2 Cor 6, 2)”,
nos explica o Papa Francisco em sua Mensagem, onde nos ensina a imitar o amor
carinhoso e zeloso de Deus para conosco. “Ele não nos olha com indiferença;
pelo contrário, tem a peito cada um de nós, conhece-nos pelo nome, cuida de nós
e vai à nossa procura, quando O deixamos. Interessa-Se por cada um de nós; o
seu amor impede-Lhe de ficar indiferente perante aquilo que nos acontece. Coisa
diversa se passa conosco! Quando estamos bem e comodamente instalados,
esquecemo-nos certamente dos outros (isto, Deus Pai nunca o faz!), não nos
interessam os seus problemas, nem as tribulações e injustiças que sofrem; e,
assim, o nosso coração cai na indiferença: encontrando-me relativamente bem e
confortável, esqueço-me dos que não estão bem!
Hoje, esta
atitude egoísta de indiferença atingiu uma dimensão mundial tal que podemos
falar de uma globalização da indiferença. Trata-se de um mal-estar que temos
obrigação, como cristãos, de enfrentar.
Quando o povo de
Deus se converte ao seu amor, encontra resposta para as questões que a história
continuamente nos coloca. E um dos desafios mais urgentes, sobre o qual me
quero deter nesta Mensagem, é o da globalização da indiferença. Dado que a
indiferença para com o próximo e para com Deus é uma tentação real também para
nós, cristãos, temos necessidade de ouvir, em cada Quaresma, o brado dos
profetas que levantam a voz para nos despertar.
Para vencer essa
nossa indiferença, a Igreja instituiu o tempo da Quaresma, onde ouvimos a voz
dos profetas para nos despertar do nosso comodismo. “A Deus não Lhe é
indiferente o mundo”, nos lembra o Papa, “mas ama-o até ao ponto de entregar o
seu Filho pela salvação de todo o homem”.
O CRISTÃO É
AQUELE QUE PERMITE A DEUS REVESTI-LO DA SUA BONDADE E MISERICÓRDIA, REVESTI-LO
DE CRISTO PARA SE TORNAR, COMO ELE, SERVO DE DEUS E DOS HOMENS.
Bem no-lo
recorda a liturgia de Quinta-feira Santa com o rito do lava-pés. Pedro não
queria que Jesus lhe lavasse os pés, mas depois compreendeu que Jesus não
pretendia apenas exemplificar como devemos lavar os pés uns aos outros; este
serviço, só o pode fazer quem, primeiro, se deixou lavar os pés por Cristo. Só
essa pessoa “tem parte com Ele” (cf. Jo 13,8), podendo assim servir o homem.
A QUARESMA É UM
TEMPO PROPÍCIO PARA NOS DEIXARMOS SERVIR POR CRISTO E, DESTE MODO, TORNARMO-NOS
COMO ELE.
Verifica-se isto
quando ouvimos a Palavra de Deus e recebemos os sacramentos, nomeadamente a
Eucaristia. Nesta, tornamo-nos naquilo que recebemos: o corpo de Cristo. Neste
corpo, não encontra lugar a tal indiferença que, com tanta frequência, parece
apoderar-se dos nossos corações; porque, quem é de Cristo, pertence a um único
corpo e, n’Ele, um não olha com indiferença o outro. “Assim, se um membro
sofre, com ele sofrem todos os membros; se um membro é honrado, todos os
membros participam da sua alegria” (1 Cor12,26).
TUDO O QUE SE
DISSE A PROPÓSITO DA IGREJA UNIVERSAL É NECESSÁRIO AGORA TRADUZI-LO NA VIDA DAS
PARÓQUIAS E COMUNIDADES.
Nestas
realidades eclesiais, consegue-se porventura experimentar que fazemos parte de
um único corpo? Um corpo que, simultaneamente, recebe e partilha aquilo que
Deus nos quer dar? Um corpo que conhece e cuida dos seus membros mais frágeis,
pobres e pequeninos? Ou refugiamo-nos num amor universal pronto a
comprometer-se lá longe no mundo, mas que esquece o Lázaro sentado à sua porta
fechada (cf. Lc16,19-31)? Para receber e fazer frutificar plenamente aquilo que
Deus nos dá, deve-se ultrapassar as fronteiras da Igreja visível em duas direções.
EM PRIMEIRO
LUGAR, UNINDO-NOS À IGREJA DO CÉU NA ORAÇÃO. Quando a Igreja terrena reza,
instaura-se reciprocamente uma comunhão de serviços e bens que chega até à
presença de Deus. Juntamente com os Santos, que encontraram a sua plenitude em
Deus, fazemos parte daquela comunhão onde a indiferença é vencida pelo amor. A
Igreja do Céu não é triunfante, porque deixou para trás as tribulações do mundo
e usufrui sozinha do gozo eterno; antes pelo contrário, pois aos Santos é
concedido já contemplar e rejubilar com o fato de terem vencido definitivamente
a indiferença, a dureza de coração e o ódio, graças à morte e ressurreição de
Jesus. E, enquanto esta vitória do amor não impregnar todo o mundo, os Santos
caminham conosco, que ainda somos peregrinos. Convicta de que a alegria no Céu
pela vitória do amor crucificado não é plena enquanto houver, na terra, um só
homem que sofre e geme, escrevia Santa Teresa de Lisieux, doutora da Igreja:
“Muito espero não ficar inativa no Céu; o meu desejo é continuar a trabalhar
pela Igreja e pelas almas” (Carta254, de 14 de Julho de 1897).
TAMBÉM NÓS
PARTICIPAMOS DOS MÉRITOS E DA ALEGRIA DOS SANTOS E ELES TOMAM PARTE NA NOSSA
LUTA E NO NOSSO DESEJO DE PAZ E RECONCILIAÇÃO.
Para nós, a sua
alegria pela vitória de Cristo ressuscitado é origem de força para superar
tantas formas de indiferença e dureza de coração.
CADA COMUNIDADE CRISTÃ É CHAMADA A ATRAVESSAR O LIMIAR QUE A PÕE EM RELAÇÃO COM A SOCIEDADE CIRCUNDANTE, COM OS POBRES E COM OS INCRÉDULOS.
A Igreja é, por sua natureza, missionária, não fechada em si mesma, mas enviada a todos os homens. Esta missão é o paciente testemunho d’Aquele que quer conduzir ao Pai toda a realidade e todo o homem.
A missão é aquilo que o amor não pode calar. A
Igreja segue Jesus Cristo pela estrada que a conduz a cada homem, até aos
confins da terra (cf.Act1,8). Assim podemos ver, no nosso próximo, o irmão e a
irmã pelos quais Cristo morreu e ressuscitou. Tudo aquilo que recebemos,
recebemo-lo também para eles. E, vice-versa, tudo o que estes irmãos possuem é
um dom para a Igreja e para a humanidade inteira.
O SOFRIMENTO DO
PRÓXIMO CONSTITUI UM APELO À CONVERSÃO, PORQUE A NECESSIDADE DO IRMÃO
RECORDA-ME A FRAGILIDADE DA MINHA VIDA, A MINHA DEPENDÊNCIA DE DEUS E DOS
IRMÃOS
Se humildemente
pedirmos a graça de Deus e aceitarmos os limites das nossas possibilidades,
então confiaremos nas possibilidades infinitas que tem de reserva o amor de
Deus. E poderemos resistir à tentação diabólica que nos leva a crer que podemos
salvar-nos e salvar o mundo sozinhos. Para superar a indiferença e as nossas
pretensões de omnipotência, gostaria de pedir a todos para viverem este tempo
de Quaresma como um percurso de formação do coração, a que nos convidava Bento
XVI (Carta enc. Deus caritas est, 31). Ter um coração misericordioso não
significa ter um coração débil. Quem quer ser misericordioso precisa de um
coração forte, firme, fechado ao tentador mas aberto a Deus; um coração que se
deixe impregnar pelo Espírito e levar pelos caminhos do amor que conduzem aos
irmãos e irmãs; no fundo, um coração pobre, isto é, que conhece as suas
limitações e se gasta pelo outro.
“Por isso,
amados irmãos e irmãs”, finaliza o Papa, “nesta Quaresma desejo rezar convosco
a Cristo: «Fac cor nostrum secundum cor tuum – Fazei o nosso coração
semelhante ao vosso» (Súplica das Ladainhas ao Sagrado Coração de Jesus).
Teremos assim um coração forte e misericordioso, vigilante e generoso, que não
se deixa fechar em si mesmo nem cai na vertigem da globalização da
indiferença”.
No Brasil, a
Campanha da Fraternidade, que acontece na Quaresma, tem como finalidade unir as
exigências da conversão, da oração e da penitência com algum projeto social, na
intenção de renovar a vida da Igreja e ajudar a transformar a sociedade, a
partir de temas específicos, tratados sob a visão cristã, convocando os
cristãos a uma maior participação nos sofrimentos de Cristo, vendo-o na pessoa
do próximo, especialmente dos mais necessitados da nossa ajuda. A Campanha da
Fraternidade desse ano tem como tema “Fraternidade: Igreja e Sociedade” e como
lema “Eu vim para servir” (cf. Mc 10, 45), para recordar a vocação e missão de
todo o cristão e das comunidades de fé na sociedade, como sal da terra e luz do
mundo. Radio Vaticano
LEIA NA ÍNTEGRA A MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA A QUARESMA 2015
ACESSE: http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/messages/lent/documents/papa-francesco_20141004_messaggio-quaresima2015.html
--
LEIA NA ÍNTEGRA A MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA A QUARESMA 2015
ACESSE: http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/messages/lent/documents/papa-francesco_20141004_messaggio-quaresima2015.html
--