segunda-feira, agosto 11, 2025

XIX DOMINGO DO TEMPO COMUM













Amados irmãos, o Evangelho de hoje nos chama com força à vigilância espiritual. “Vós também, ficai preparados!” Não como quem vive com medo, mas como servos fiéis que esperam, com esperança viva, o Senhor que vem. Jesus nos coloca diante da imagem do servo atento, com os rins cingidos e as lâmpadas acesas, à espera de seu Senhor que volta das núpcias.

 

Não tenhas medo

Logo no início, Cristo nos acalma o coração: “Não tenhas medo, pequeno rebanho, porque foi do agrado do Pai dar-vos o Reino”. Aqui está o ponto de partida da nossa vigilância: não o pânico, mas a confiança. O Pai deseja dar-nos o Reino. A vigilância, portanto, não é medo de perder, mas zelo por não desperdiçar.

Jesus continua com um convite claro: “Vendei vossos bens e dai esmola. Fazei bolsas que não se gastam.” Ou seja, invistam no que é eterno, não no que passa. Há aqui um chamado à liberdade interior: quem está preso às riquezas e à autossuficiência, não conseguirá esperar o Senhor com o coração leve. Ele será como o servo distraído, embriagado com os banquetes do mundo, insensível às necessidades do próximo.

 

A vinda do Senhor

Na teologia espiritual, esta parábola reflete o modo escatológico de viver a fé: conscientes de que este mundo passa, vivemos o presente com responsabilidade e expectativa. Não adianta conhecer a doutrina se ela não se traduz em escolhas. A vinda do Senhor será como um ladrão — não para nos roubar, mas para nos surpreender. E será feliz aquele servo que Ele encontrar cumprindo fielmente a sua missão.

Pedro pergunta: “Senhor, é para nós que dizes essa parábola ou para todos?” E Jesus responde com outra imagem: o administrador fiel, a quem o Senhor confia sua casa. Esse administrador não é apenas uma figura dos apóstolos ou dos líderes da Igreja; é cada batizado, cada cristão, chamado a cuidar do que lhe foi confiado: sua família, seu trabalho, sua fé, sua alma.

 

A quem muito foi dado

Contudo, quanto mais recebemos, mais será exigido de nós. Jesus é claro: “A quem muito foi dado, muito será pedido.” Essa frase, ao mesmo tempo, nos responsabiliza e nos dignifica. O Senhor confia tanto em nós, que nos dá dons, nos revela mistérios, nos coloca como guardiões do Reino. Mas isso não é para orgulho, é para serviço.

Na vida cotidiana, essa vigilância se traduz em atitudes concretas:

– Não adiar o bem que podemos fazer hoje.

– Cultivar a oração como lâmpada acesa.

– Viver com sobriedade, sem se distrair com excessos.

– Ser fiel nas pequenas tarefas.

– Estar reconciliado com Deus e com os irmãos.

A vigilância cristã não é tensão, é prontidão. Como a noiva que espera o noivo, como o lavrador que prepara a colheita, vivemos o presente com olhos fixos na eternidade.

 

Ficai preparados!

Portanto, irmãos e irmãs, não durmamos no comodismo, nem fujamos para a agitação sem sentido. Estejamos despertos, não o fim dos tempos, mas para cada momento em que o Senhor se aproxima: nas dores dos que sofrem, nos pedidos discretos dos pobres, nas oportunidades diárias de amar melhor.

Porque o Senhor virá. E feliz o servo que Ele encontrar vigilante.

Vós também, ficai preparados! Amém.





















segunda-feira, agosto 04, 2025

XVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM










XVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM
04 de agosto de 2025

Paróquia São Conrado de Constança



Amados irmãos, o Evangelho de hoje começa com uma situação comum: um pedido por justiça material. Alguém da multidão pede a Jesus: “Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo”. Era uma reclamação legítima, uma preocupação concreta com bens, com direito, com aquilo que, aos olhos humanos, parece importante para a sobrevivência e para a vida digna. Mas Jesus, que sempre vai além da superfície, recusa-se a ser somente um mediador de heranças, e Ele aproveita o momento para nos ensinar algo muito maior: o perigo da ganância.

E, então, Ele nos conta a parábola do homem rico que produziu uma grande colheita. Ele se vê diante de uma dificuldade — não por falta, mas por excesso, e seus celeiros são pequenos demais para guardar toda a sua produção. E a solução que encontra é construir armazéns maiores para acumular ainda mais. Ele fala consigo mesmo, como se fosse dono do seu destino:

“Tens muitos bens armazenados para longos anos; descansa, come, bebe, aproveita!” Mas Deus lhe diz: “Insensato! Ainda nesta noite pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que acumulaste?”

Aqui está o ponto central: a vida não se mede pela abundância dos bens, afinal, Jesus não condena o trabalho, o planejamento ou o esforço: Ele alerta contra a ilusão de que a vida pode ser garantida por posses. Aquele homem acreditava que seu futuro estava seguro porque seus depósitos estavam cheios, mas esqueceu-se de que sua alma estava vazia.

Teologicamente, esta parábola nos ensina que os bens materiais são passageiros e relativos. A vida é dom, não propriedade. O tempo que temos, o fôlego que respiramos, não nos pertencem, mas pertencem a Deus. Por isso, a verdadeira riqueza não está no que acumulamos para nós, mas no que oferecemos, no que partilhamos, no que fazemos frutificar para o bem do outro.

Jesus termina a parábola com uma frase incisiva:

“Assim acontece com quem ajunta tesouros para si, mas não é rico diante de Deus.”

Aqui está a chave: existe uma riqueza que Deus valoriza. Não é a conta bancária, nem os investimentos, nem as posses, mas a capacidade de amar, de perdoar, de partilhar, de viver para os outros. Essa é a riqueza que nem a morte pode levar, porque ela atravessa a eternidade.

Na vida prática, isso nos provoca. Quantas vezes medimos nosso valor pelo que temos? Quantas vezes dizemos: “Se eu perder isso, perco tudo”? Mas, no dia em que a vida for pedida de volta, o que restará? Os títulos? Os imóveis? As conquistas? Ou as relações, os gestos de amor, a fé que carregamos?

Não se trata de desprezar o necessário para viver. Jesus não elogia a miséria, mas denuncia a ilusão da autossuficiência. É bom ter planejamento, mas sem esquecer que tudo o que temos é provisório e deve ser usado com sabedoria e solidariedade.

Portanto, irmãos e irmãs, o convite hoje é revisar nossas prioridades. Onde está nosso coração? No que acumulamos ou no que entregamos? Em depósitos de coisas ou em tesouros eternos? Porque, no fim, todos nós ouviremos a mesma pergunta:

“E para quem ficará o que tu acumulaste?”

Que possamos responder não com medo, mas com alegria, porque escolhemos ser ricos aos olhos de Deus — ricos em amor, em misericórdia, em obras de justiça.



sexta-feira, agosto 01, 2025

O QUE SIGNIFICA O 666?








 

Quando se fala em 666 do Apocalipse de São João surgem muitas dúvidas

O que significa o 666? Para não ser enganado, é preciso saber o que os números representavam para os antigos judeus. Por exemplo: os 144 mil eleitos (Apocalipse, cap. 14) é o povo cristão, que não aderiu ao culto imperial, permanecendo fiel a Cristo. 144.000 = 12 x 12 x 1000. O número 12 era símbolo da perfeição e é citado 187 vezes na Bíblia. O número 1000 representava a glória de Deus.

 

O simbolismo do 666 é claramente interpretado pela Igreja

A mentalidade judia afirmava que o número 7 significava a perfeição e o contato com Deus, e o que estava abaixo era imperfeito, de modo que, o número 6 era sinal de imperfeição, de erro. Temos, por exemplo, os 7 Sacramentos, os 7 dons do Espírito Santo, as 7 dores de Virgem Maria e de São José, etc.; o 7 é um número símbolo de perfeição. O número 6 repetido quer dizer “perfeição da maldade”, e o autor do Apocalipse identifica a besta com o 666, fala dessa como de vários personagens, ou de alguém que perseguia os cristãos dessa época.

 

Perseguição ao Cristianismo

É bom lembrar que, o Apocalipse foi escrito em grego no fim do séc. I (95 d.C), e tinha como destinatário as comunidades cristãs da Ásia Menor (Ap 1,4; 2,1-3,22), que falavam o grego. Nessa época, essa região estava sob o domínio do Império Romano, e o Cristianismo era duramente perseguido pelo terrível imperador Domiciano (81-96 d.C). Esse imperador considerava-se um deus e exigia que todos os seus súditos o adorassem, o que os cristãos, jamais aceitaram.

 

São João, assim escreve o Apocalipse, divinamente inspirado proclama que, no final, o Cristianismo sairá vencedor. Querendo dizer quem era a besta, sem poder falar claramente para não ser acusado de crime de “lesa majestade” (estava desterrado na ilha de Patmos por causa da Palavra de Deus – cf. Ap. 1,9). De maneira que, o apóstolo fez uso da gematria, que consistia em atribuir um número formado pela soma das letras de certo alfabeto para expressar uma verdade conhecida pelos leitores.

 

Os números e os povos antigos

Os povos antigos não usavam o sistema arábico (o nosso) para expressar os números, mas sim, as próprias letras do alfabeto. Os romanos usavam apenas 7 letras. Também os judeus e os gregos atribuíam números às letras de seus respectivos alfabetos, mas de forma muito mais ampla do que os romanos, já que toda letra (grega ou hebraica) possuía um certo valor.

 

Alfabeto Grego: Alfa = 1; Beta = 2; Gama = 3; Delta = 4; Epsilon = 5; Stigma = 6 (antiga letra grega que depois de certo tempo deixou de ser usada); Zeta = 7; Eta = 8; Teta = 9; Iota = 10; Kapa = 20; Lamba = 30; Mu = 40; Nu = 50; Xi = 60; Omicron = 70; Pi = 80; Ro = 100; Sigma = 200; Tau = 300; Upsilon = 400; Phi = 500; Chi = 600; Psi = 700 e Omega = 800.

 

Alfabeto Hebraico: Alef = 1; Bet = 2; Guimel = 3; Dalet = 4; He = 5; Vau = 6; Zayin = 7; Chet = 8; Tet = 9; Yod = 10; Kaf = 20; Lamed = 30; Mem = 40; Num = 50; Sameq = 60; Ayin = 70; Pe = 80; Tsadi = 90; Kof = 100; Resh = 200; Shin = 300; Tau = 400.

 

Origem do 666

São João era de origem hebraica e escreveu o Apocalipse em grego. Se fizermos a gematria da expressão grega “NVRN RSQ” (César Nero), usando o alfabeto hebraico, totalizaremos 666, pois: N(50)V(6)R(200)N(50) R(200)S(60)Q(100)=666.

 

As comunidades da Ásia Menor falavam o grego, mas conheciam os caracteres hebraicos. São João misturou aí dois idiomas, ou seja, o grego e hebraico por esse fato. Se, acaso, o livro caísse nas mãos das autoridades romanas, que não conheciam o hebraico, não colocaria em risco seus leitores. Nero (67dC) foi o primeiro grande perseguidor dos cristãos e, na época em que foi escrito o Apocalipse (anos 90), Domiciano voltava a perseguir os cristãos com mais força e crueldade. Era “um novo Nero”. Essa e outras evidências levaram os estudiosos a interpretar que, a “Besta do Apocalipse”, era o próprio Imperador Romano, perseguidor dos cristãos.

 

Em Ap 17,10-11 reafirma-se essa interpretação. Esse versículo diz: “São também sete reis, dos quais cinco já caíram, um existe e o outro ainda não veio, mas quando vier deverá permanecer por pouco tempo. A Besta, que existia e não existe mais, é ela própria o oitavo e também um dos sete, mas caminha para a perdição”. Os reis de que trata a citação são os imperadores romanos. Considerando, cronologicamente, os imperadores a partir da vinda de Cristo, até a época da redação do livro do Apocalipse: cinco já caíram – Augusto (31aC-14dC), Tibério (14-37dC), Calígula (37-41dC), Cláudio (41-54dC) e Nero (54-68dC); 1 existe: – Vespasiano (69-79 dC); e 1 durará pouco: – Tito (79-81dC: só 2 anos!); a besta é o oitavo Domiciano (81-96dC).

 

As duas bestas do Apocalipse, quem são?

A primeira besta, que sobe do mar (v. 1), é o próprio imperador de Roma, Domiciano (como foi explicado); o mar é o Mediterrâneo, onde se localizava Roma, a capital do Império. Sua autoridade vem de satanás (v. 2) e as palavras blasfêmicas que profere (v. 5) se referem ao culto de adoração ao imperador imposto por Domiciano a todos os povos do Império. A segunda besta, que sai da terra (v.11), classificada como “falso profeta” (Ap 16, 13; 19,20; 20,10), é a ideologia do culto imperial favorecido pelas religiões pagãs. A prostituta (caps. 16-17) significa a Roma pagã e idólatra (v. 9). Os reis das terras que se prostituíram com ela (v. 2) são os povos que adotaram o culto de adoração ao imperador.

 

De maneira figurada, o 666 pode ser símbolo também de toda força, cultura, pessoa, que combata contra Deus e a sua santa Igreja. São João dizia, no séc. I, que o anticristo já estava no mundo.

 

Fonte: Canção Nova