Esta
passagem do evangelho quer nos mostrar que ninguém pode negligenciar o amor aos
irmãos, não podemos ser indiferentes ao sofrimento dos desprotegidos. Um dos
pormenores mais sugestivos é a identificação de Cristo com os famintos, os
abandonados, os pequenos: todos eles são membros de Cristo e não os amar é não
amar Cristo. A mensagem é esta: o
egoísmo e a indiferença para com o irmão não têm lugar no Reino de Deus. E o mais terrível é a pena que está incluída
nas palavras de Jesus: “Afastai-vos de mim”.
Por isso, tenhamos sempre consciência de que tudo que fizermos ao nosso
próximo, imagem de Deus, aparecerá no último dia. Pelo bem praticado, será grande a nossa
recompensa: estar com Deus. Em última análise, é esse o critério que irá
decidir a nossa entrada ou a nossa exclusão no Reino de Deus.
Pode-se
observar o laço indissolúvel que Jesus estabelece entre a fé e o amor aos mais
indefesos e desprotegidos. Mesmo os
“benditos” do Pai, chamados a receber o Reino, ficam espantados, porque fizeram
o bem, sem saber a quem. Eles descobrirão, finalmente, na luz de Deus, o rosto
de Cristo, que se escondia no mais pobre, no desfigurado e desconhecido,
naquele que encontraram pelo caminho.
Para o cristão, a prática das obras de misericórdia, deriva, antes de
mais, da sua relação autêntica com Jesus!
Mas
podemos perguntar por que o Senhor Jesus se baseará no bem feito ao próximo? E
por que justamente aos famintos, aos nus, aos estrangeiros, aos sedentos, aos
doentes e aos prisioneiros? Certamente porque estas categorias resumem o que
nós somos e o que Cristo fez por nós. Cada um de nós é um faminto, um nu, um
estrangeiro, um doente e um prisioneiro.
Somos famintos e sedentos de justiça, nus em virtude do pecado,
estrangeiros nesse mundo, doentes e prisioneiros das nossas paixões. Mas Cristo
nos visita e cuida de todas essas necessidades. Nós, se queremos entrar na vida
eterna, devemos nos tornar semelhantes ao Cristo, e isto se dá de forma sublime
quando servimos ao próximo como ele mesmo nos serve, pois também ele veio “para
servir e não para ser servido” (Mt 20,28).
Na
vida de São Francisco de Assis há um episódio muito expressivo. Na fase da sua conversão, ele se encontrou
com um leproso no campo. Depois de
vencer o receio, desce do cavalo, dá a esmola pedida e beija o doente. E ao sair, volta o seu olhar para o leproso
para despedir-se, mas não vê mais ninguém, porque o leproso era o próprio
Cristo que fora ao seu encontro. É
Cristo que se identifica com os mais pobres e necessitados. Não há conversão verdadeira, isto é, não
seremos verdadeiros discípulos de Cristo e “benditos do Pai” (v. 34), se não
tivermos o coração e as mãos abertas para os necessitados.
Fazer
o bem ao irmão é fazer o bem a Cristo. O irmão é uma graça de Deus, que nos
abre a porta do Céu, pois fazemos o bem a nós mesmos, quando realizamos algo em
prol do outro. Em outras palavras, a salvação vem pelo nosso próximo. Cada
doente, cada necessitado, merece o nosso respeito e o nosso amor, porque,
através deles, Deus nos indica o caminho para o céu. E o bem feito ao nosso próximo será como o
bem feito ao próprio Cristo.
Por
isto, podemos dizer que a realeza de Cristo está na linha do serviço. É preciso
colocar em prática o mandamento novo do amor. E o amor ao irmão é, portanto,
uma condição essencial para fazer parte do Reino. Devemos estar conscientes de
que o Reino de Deus está no meio de nós; a nossa missão é fazer com que ele
seja uma realidade viva e presente no nosso mundo.
Tenhamos
consciência que a meta final da nossa caminhada é o Reino de Deus, uma
realidade de vida plena e definitiva. E podemos perguntar: Como é que aí chegamos? É São Paulo que nos
responde na segunda leitura: “Identificando-nos com Cristo”. No dia do juízo final possamos todos nós
ouvir este convite de Jesus: “Vinde, benditos de Meu Pai, recebei em herança o
Reino que para vós está preparado desde a criação do mundo… ” (Mt 25, 34.36).