1 - A pequenez: caminho divino
Neste último Domingo do Advento, a um dia do Natal, vou refletir com vocês um tema pouco lembrado entre nós: o tema da “pequenez”. É um tema querido na espiritualidade franciscana; fazer-se pequeno. Em tempos de coach com treinamentos para pensar grande, ter sucesso, vencer... a pequenez soa quase como pecado. Na Liturgia de hoje, a pequenez apresenta-se como caminho. Caminho que conduz à humildade. Não humildade como sinônimo de pobre ou de pessoa pouca estudada. Humildade no conceito Bíblico: tornar-se pequeno para ingressar no Mistério de Deus, para caminhar nos caminhos de Deus. Humildade e pequenez, dois conceitos complicados para a mentalidade social atual, fortemente marcada pelo sucesso, pela fama, pelo vencer, porque os fracos são perdedores e não necessitados de fraternidade. Entrar no caminho da pequenez para ser humilde é viajar na contramão da mentalidade de nossos dias.
2 - Deus escolheu a pequenez para se encarnar
A “pequenez” é tema importante para nós cristãos, principalmente quando considerado na perspectiva de caminho. Deus escolheu o caminho da pequenez na Encarnação. Belém, dizia Miquéias na 1ª leitura, “pequenina entre os mil povoados de Judá”; é da pequenez de Belém que Deus entra na história humana. Em vez do caminho do poder, de mega eventos, a pequenez de um lugar desconhecido. Por que Deus age deste modo? O caminho da pequenez, como dito, conduz à humildade e a humildade nos torna simples e os simples são capazes de penetrar no Mistério divino, como contemplamos na pessoa de Maria. Por isso, o Natal interroga nossa vida pessoal, tentada todos os dias pelo poder da riqueza, da fama, do sucesso. Interroga nossas famílias, quanto à dificuldade para viver simples e despojado. Interroga nossas pastorais quando pensamos com cabeça de marketeiro, julgando que mega eventos e muito barulho são caminhos evangelizadores.
3 - A visita de Maria
A escolha de Maria também ajuda-nos a compreender onde conduz a estrada da “pequenez”. Maria não toma o caminho das grandes cidades, vai para Ain Karin, uma vila pequena, perdida nas montanhas de Judá. É um caminho que se destina ao serviço. O caminho da pequenez conduz à humildade, à simplicidade e se concretiza no serviço. Ain Karin, onde morava Isabel e Zacarias, era uma periferia de Judá. O Natal nos leva a caminhar na direção das periferias para servir. Deus, em Jesus, deixa o céu e vem para a periferia do mundo, ensinando que este é o caminho da salvação da humanidade. Periferias sociais, não apenas geograficamente, mas também socialmente, daqueles que vivem nas margens existenciais de tantas vidas sem sentido, até mesmo dentro de nossas casas. O Natal questiona nosso estilo de vida, as escolhas de nossos caminhos, indica o caminho da “pequenez” que nos torna humildes, simples, serviçais para, como dizia a 2ª leitura, em tudo viver fazendo a vontade de Deus. Amém!