A VITÓRIA DO MEDO...
3 de março de 2021
Paróquia São Conrado
O
Covid pôs a nu o medo da morte que levamos dentro de nós. Não foi o vírus que
fechou as escolas, que nos encerrou dentro das nossas casas, que pôs muita
gente em home office, que impediu as deslocações entre concelhos, etc. Há
outros vírus, mais poderosos ainda, e nunca nenhum deles conseguiu exercer tal
poder sobre a humanidade.
Quem
efetivamente fez tudo isto foi o medo de morrer, levado ao extremo de uma forma
ansiosa e irracional, e exposto diariamente naquelas contagens do número de
mortos e dos doentes em UCI, que os nossos telejornais nos ofereceram ao
desbarato. Somos capazes de saber quem morreu de Covid, mas quantos terão
morrido de medo?
Se
há ensinamento que podemos retirar desta experiência é que temos um medo
medonho de morrer. Para garantir a nossa sobrevivência, não só estamos
dispostos a deixar ir os anéis, mas parece também que aceitamos sacrificar
alguns dedos. Deixamos inclusivamente que nos limitem a liberdade de uma forma
inaceitável noutro contexto. Da mesma forma, é o mesmo medo da morte que nos
faz andar obcecados com as vacinas, lutando para as ter o mais rápido possível,
mesmo que isso possa significar que outros países e regiões se vejam privados
delas, porque não podem pagar aquilo que estamos nós dispostos a oferecer.
O
medo é uma força extremamente poderosa. Quem consegue incutir medo nas pessoas
consegue manipulá-las e levá-las a fazer o que elas se recusariam fazer noutras
circunstâncias. Quem consegue incutir medo nas populações tem ao seu dispor um
verdadeiro exército… de escravos, dispostos a obedecer cegamente. Não tenhamos
ilusões: é o medo quem ordena que se levantem muros e barreiras; é o medo quem
afasta imigrantes e refugiados; é o medo quem faz a melhor publicidade a
sistemas de vide vigilância, alarmes e empresas de segurança.
A
força do medo é de tal ordem que nos leva a procurar a segurança nas coisas e a
acumular bens de forma desproporcional. Na verdade, penso que é o medo que se
esconde por detrás daquilo a que chamamos consumismo e que nessa penumbra reina
sobre nós. Consumimos desenfreadamente para nos sentirmos mais seguros,
açambarcamos bens com a desculpa de estar abastecidos, se eles por algum motivo
vierem a faltar. Basta lembrar-se de como, no início da pandemia, o papel
higiénico se tornou no produto mais procurado nos nossos supermercados.
Por
tudo isto, deve fazer-nos pensar que a frase que Jesus mais repete é
precisamente “não tenhais medo”. À luz do que acima referi, até parece um
insulto ou uma piada de mau gosto. Só nos resta, portanto, reconhecer que se
insistirmos em continuar neste trilho, “o nosso mundo avança numa dicotomia sem
sentido, pretendendo garantir a estabilidade e a paz com base numa falsa
segurança sustentada por uma mentalidade de medo e desconfiança” (FT 26).
José
Domingos Ferreira, scj
Fonte:
Dehonianos de Portugal