O
Evangelho de hoje é curto, simples e absolutamente profundo. Jesus está no
Templo. Ele observa. Ele não fala nada no início; apenas olha. De um lado, os
ricos depositam grandes quantias. De outro, quase despercebida, chega uma viúva
pobre. Ela deposita duas pequenas moedas. Nada impressionante aos olhos
humanos. Mas, de repente, o silêncio se quebra, e Jesus revela o segredo
daquele gesto. Ele diz: “Essa viúva pobre deu mais do que todos os outros.”
Esse
comentário de Jesus vira tudo de cabeça para baixo, pois, até hoje, nós medimos
o valor das coisas pela quantidade. Jesus mede pela qualidade. Nós enxergamos
números; Jesus enxerga o coração. Nós reparamos no brilho das moedas; Jesus
repara no amor com que elas são oferecidas.
A
viúva não deu do que sobrava. Ela deu o que tinha. E, quando uma pessoa entrega
o que tem, entrega também quem é. Por isso, aos olhos de Deus, aquele pequeno
depósito transformou-se em entrega total. Ele não viu duas moedas, mas a
confiança, o abandono. Ele viu amor puro, sem cálculo, sem medo, sem reservas.
Esse
Evangelho nos arranca da comodidade. Ele nos faz perguntar: O que eu ofereço a
Deus? Dou a Ele o resto, o que não me custa? Dou apenas quando sobra? Porque a
verdade é simples e dura: Deus não precisa do nosso dinheiro, mas Ele deseja o
nosso coração. E o coração se revela na medida da entrega.
Isso
vale para tudo: tempo, perdão, serviço, escuta, atenção, presença. Às vezes,
oferecemos muito do que vale pouco, e pouco do que vale muito. Falamos de amor,
mas guardamos reservas. Dizemos que confiamos, mas seguramos as rédeas.
Declaramos entrega, mas oferecemos migalhas.
Enquanto
isso, aquela viúva nos olha através dos séculos e nos diz, sem palavras:
“Confia. Dá tudo. Deus não falha.”
Ela
entendia algo que nós, com todas as nossas teorias, às vezes esquecemos: quando
damos a Deus o pouco que temos, Ele transforma esse pouco em abundância. Mas
quando seguramos tudo, acabamos vazios.
Jesus
viu aquela mulher. Notem isso: Ele viu. Ele sempre vê os pequenos, os
escondidos, os que dão em silêncio, longe dos aplausos. Nada passa despercebido
aos olhos d’Ele. A viúva não subiu ao Templo para aparecer; ela subiu para
amar. Por isso, o gesto dela se tornou eterno.
Hoje,
meus irmãos, o Senhor nos convida a dar mais que moedas, a dar a vida, e,
portanto, entregar nosso orgulho, nosso medo, nosso apego, nossa necessidade de
controlar tudo. Cristo não pede que demos muito; pede que demos de verdade. O
Reino não cresce com grandes gestos esporádicos, mas com pequenas entregas
diárias, feitas com amor sincero.
Talvez
Deus hoje te peça não duas moedas, mas duas decisões: a de confiar e a de
entregar. A de parar de esperar condições perfeitas para amar e a de começar
agora.
A
viúva deu pouco, mas se deu toda. Por isso, ela se tornou grande.
Que
o Senhor nos ajude a viver essa ousadia: oferecer a Ele não o que sobra, mas o
que somos. E, assim, descobrir que o verdadeiro tesouro nasce da verdadeira
entrega.





