sexta-feira, dezembro 16, 2016

ESTUDOS E APROFUNDAMENTOS PARTE XV: DE NAZARÉ A BELÉM



No mês em que os cristãos celebram o nascimento de Jesus Cristo, a Revista Família Cristã visita duas das principais cidades no Oriente Médio para a tradição cristã. 

Localizada sobre uma colina a 350 metros em relação ao Mar Mediterrâneo, Nazaré é rodeada por outros montes mais altos. Ao sul da cidade está a planície de Esdrelon, que fica na parte sul da Baixa Galileia.

O vilarejo de Nazaré era, no tempo de Jesus, um pequeno povoado de não mais de 30 mil metros quadrados (200 metros de comprimento por 150 de largura). As casas eram compostas geralmente por uma única sala, ligadas a uma gruta escavada à mão devido à fragilidade das rochas do local.

A cidade tornou-se famosa porque, segundo a tradição cristã, o anjo Gabriel anunciou o nascimento de Jesus neste lugar ( cf. Lc 1,27) a uma virgem chamada Maria, prometida em casamento a um jovem chamado José (cf.Mt 1,18). Nazaré foi também o local onde a Sagrada Família viveu. Foi ali que Jesus Cristo viveu toda a vida oculta até o início à vida pública. Ao iniciar sua missão publicamente, Ele deixa Nazaré e vai para Cafarnaum (cf. Mt 4,13).

Hoje a cidade possui cerca de 71.500 habitantes: 25 mil árabes muçulmanos, 22.500 árabes cristãos e 24 mil hebreus. É a comunidade árabe mais importante de Israel depois de Jerusalém. Muçulmanos e cristãos vivem na parte baixa da cidade e nos morros, enquanto os judeus vivem em um bairro situado em uma parte alta conhecida como Nazaré Illit.

Na Galileia Baixa, Nazaré está localizada no centro de um vale rodeado por montanhas que abraçam vários dos mais importantes sítios cristãos no mundo. Esta é uma cidade de religião e fé, de espiritualidade e santidade, mas também uma cidade com uma história rica, uma arqueologia fascinante, uma cultura moderna.

Nazaré, que começou como um pequeno vilarejo judeu a cerca de 2 mil anos atrás, se tornou um baluarte do cristianismo no período bizantino, depois de apenas poucos séculos. Durante este período o nome Nazaré se espalhou pelo mundo, e o desejo de ver o lugar no qual a Virgem Maria e Jesus Cristo viveram tornou a cidade um popular centro de peregrinação. Estas visitas fizeram com que se construísse a primeira igreja da cidade, a Igreja da Anunciação, no local onde segundo a tradição ficava a casa de José e Maria. Muitas outras igrejas foram construídas pela cidade, sendo destruídas e reconstruídas conforme as mudanças nos domínios muçulmanos e cristãos durante os séculos. No século 19, Nazaré tornou-se novamente atrativa, e os cristãos voltaram a viver nesta cidade e a reconstruir igrejas e monastérios. Hoje em dia ela é a maior cidade árabe em Israel, e tem cerca de 20 igrejas e monastérios, além de mesquitas e sinagogas antigas.

Belém – É uma cidade palestina localizada na parte central da Cisjordânia, com uma população de cerca de 30 mil pessoas. É a capital da província de Belém, nos territórios palestinos, e um centro de cultura e turismo no país. Localiza-se a cerca de 10 quilômetros ao sul de Jerusalém, a uma altitude de 765 metros acima do nível do mar.

Essa cidade é, para a maior parte dos cristãos, o local onde nasceu Jesus de Nazaré. Belém é habitada por uma das mais antigas comunidades cristãs do mundo, embora seu tamanho tenha se reduzido nos últimos anos, devido à emigração.

A cidade também é a terra natal do rei Davi, e o local onde ele foi coroado rei de Israel. Foi saqueada pelos samaritanos em 529 depois de Cristo (d.C.), durante sua revolta, porém foi reconstruída pelo imperador bizantino Justiniano II. Belém foi conquistada pelo califado árabe de Omar (Umar ibn al-Khattāb), em 637, que garantiu a segurança para os santuários religiosos da cidade. Em 1099, os cruzados conquistaram e fortificaram Belém e trocaram o seu clero, ortodoxo grego, por outro, latino; estes, no entanto, foram expulsos depois que a cidade foi tomada por Saladino, sultão do Egito e da Síria. Com a chegada dos mamelucos, em 1250, as muralhas da cidade foram destruídas, sendo reconstruídas apenas durante o domínio do Império Otomano. Os otomanos perderam a cidade para os britânicos durante a Primeira Guerra Mundial, e ela foi incluída numa zona internacional sob o Plano de Partilha das Nações Unidas para a Palestina. A Jordânia ocupou a cidade durante a guerra israelo-árabe de 1948, ocupação esta seguida pela de Israel, durante a Guerra dos Seis Dias, em1967.

Atualmente, Belém é uma cidade cercada pelo muro de segurança israelense. Israel controla as entradas e saídas dos moradores de Belém, embora a administração cotidiana esteja sob a supervisão da Autoridade Nacional Palestina desde 1995, após a realização dos Acordos de Paz de Oslo (Noruega).

A população de Belém é constituída de cristãos e muçulmanos, que têm coexistido pacificamente durante a maior parte de sua história. Hoje, a população é majoritariamente muçulmana, mas a cidade ainda abriga uma das maiores comunidades de cristãos palestinos. O contingente de cristãos, que correspondia a cerca de 90% do total em 1948, tem decrescido drasticamente e, hoje, corresponde a 30%. Esse declínio é atribuído à falta de perspectivas da economia, dado que muitas famílias de agricultores cristãos perderam suas terras, para a construção de assentamentos judeus.



Economia − A principal atividade econômica da cidade é o turismo, que cresce sobretudo durante o período do Natal, quando a Igreja da Natividade, supostamente construída sobre o local de nascimento de Jesus, se torna um centro de peregrinação cristã. Também a tumba de Raquel, um importante local sagrado para o judaísmo, encontra-se na entrada de Belém.




A economia de Belém sempre esteve ligada à de Jerusalém. Mas o grande muro de concreto cinza, medindo cerca de 9 metros de altura construído por Israel passa por dentro da província de Belém, e, assim, os habitantes de Belém já não podem mais ir a Jerusalém para trabalhar ou fazer compras. Sem terras para cultivar, eles estão agora quase totalmente dependentes do dinheiro gasto pelos peregrinos. Mas estes, desencorajados pelo muro, raramente permanecem em Belém, optando por visitas de algumas horas à Basílica da Natividade e aos Campos dos Pastores, gastando pouco. 

História − Os primeiros assentamentos, no local onde está a cidade de Belém, datam 3 mil a.C. Em todo território hoje constituído por Israel e Palestina, se assentaram-se tribos cananeias, sendo as principais as dos jebuseus, hititas e amaritas, que construíram pequenas cidades, cercadas or muralhas que as protegiam. Em 1350 a.C., um governador egípcio da região menciona a cidade de Belém, em carta ao faraó Amenófis III, como importante ponto de repouso para os viajantes. Por ser ponto estratégico, os filisteus aí mantinham uma de suas divisões militares, impondo sua hegemonia em 1200 a.C., passando a se miscigenar com os cananeus. A disputa por terras entre filisteus e israelitas foi causa de numerosas guerras.

Os gregos ocuparam a Terra Santa por mais de um século, até a chegada dos romanos, em 63 a.C. Após o ano 313, o imperador Constantino iniciou a construção de várias igrejas, das quais se destaca a Basílica da Natividade, sobre a gruta onde Jesus nascera. Belém passou a ser então importante centro de vida monástica. Em 395, com a divisão do Império Romano, passou a integrar a parte oriental.

Nascimento de Jesus − Relatos do Novo Testamento descrevem Jesus como tendo nascido em Belém. De acordo com o Evangelho de São Lucas (cf. 2,4), os pais de Jesus viviam em Nazaré, porém viajaram para Belém para o censo de 6 d.C., e Jesus teria nascido ali antes que a família voltasse para Nazaré.

O Evangelho de Mateus ainda relata que Herodes, o Grande, ao receber a notícia de que um “Rei dos Judeus” acabara de nascer em Belém, ordenou que todas as crianças com dois anos ou menos na cidade e nas redondezas fossem mortas. São José é alertado sobre isso num sonho, e foge com sua família para o Egito, retornando depois da morte de Herodes.

A antiguidade da tradição do nascimento de Jesus em Belém é atestada pelo apologista cristão Justino, o Mártir, que declarou em seu Diálogo com Trifão (155-161) que a Sagrada Família teria se refugiado numa caverna nos arredores da cidade. Orígenes de Alexandria, escrevendo por volta do ano 247, referiu-se a uma caverna na cidade de Belém, que os habitantes locais acreditavam ser o local de nascimento de Jesus.




Muro que separa Palestina de Israel