segunda-feira, agosto 31, 2020

CELEBRAÇÃO DO SACRAMENTO DA CRISMA

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A vida do crente é visitada por Deus. Ele habita no mais íntimo do coração de cada um. É, na verdade, o doce hóspede da alma. Como é possível viver distraídos, fora de si, com um tão grande hóspede na alma?

Mas o evangelho também nos leva ao realismo. O amor do cristão não paira nas nuvens. É um amor muito concreto: «Quem recebe os meus mandamentos e os observa esse é que me tem amor» (v. 21). O amor que Jesus espera de nós não se manifesta em palavras ou sentimentos vagos mas na vontade de amarmos a sua vontade. Assim foi o seu amor pelo Pai. Sem união de vontades não há verdadeiro amor. Quem ama a Jesus, ama cumprir a sua vontade. E quem ama a Jesus, cumprindo a sua vontade, é amado pelo Pai, que quer a glorificação do Filho.

«Se alguém me tem amor, há-de guardar a minha palavra; e o meu Pai o amará, e Nós viremos a ele e nele faremos morada». (Jo 14, 23). Quantas vezes, procuramos a Deus fora de nós ou acima de nós. Mas Deus está dentro de nós: «mais íntimo do que o meu íntimo…», como afirma Santo Agostinho (Confissões 3.6.11). Realiza-se deste modo a palavra de S. Paulo: «Cristo habite pela fé, nos vossos corações de sorte que, enraizados e fundados no amor, possais compreender… qual é a largura e o comprimento, a altura e a profundidade e conhecer (fazer a experiência), enfim, o amor de Cristo que excede todo o conhecimento, para serdes repletos da plenitude de Deus» (Ef 3,17-19).

Experimentar o mistério de Cristo no mais íntimo de nós mesmos, no eu profundo, no “coração” entendido biblicamente”. O “coração” é o lugar teológico da verdadeira oração, do encontro de amor com Cristo.

 

 Palavras de São João Paulo II  em 1982 :

Grande Sacramento é a Santa Crisma, muito importante no quadro geral da vida cristã, iniciada no ato do Santo Batismo; é um sacramento muito rico por espiritual significado e virtude. Dizer dom do Espírito, de facto, significa dizer simultaneamente os dons do Espírito: os seus sete admiráveis dons que acompanham a graça divina, inundando a alma de luz, de força e de coragem. Recordais o que aprendestes no curso de catecismo? Sabedoria, inteligência, conselho, fortaleza...: é, portanto, um dom que se multiplica e se ramifica em tantos dons, que fazem de quem os recebe um perfeito cristão. Como os Apóstolos que, depois de terem recebido o Espírito de verdade e de consolação a eles prometido por Jesus ao término da última Ceia (cf. Jo 14, 16-17.26; 16, 7-14), foram capazes de superar os limites da humana debilidade para se tornarem intrépidos anunciadores e pregadores do Evangelho no mundo, assim também vós, e sobretudo vós, queridos irmãos e irmãs, recebendo neste dia o mesmo Espírito, todos podemos e devemos ser perfeitos cristãos, dispostos sempre e em tudo, com a palavra e com as obras, a testemunhar Cristo na sociedade de hoje. 

 

Tornados filhos de Deus por força do Santo Baptismo, chegados por meio dele à luz da fé, em nós a efusão do Espírito recebida na Confirmação vem para iluminar mais amplamente este panorama, abrindo as nossas almas para uma visão mais clara e profunda: com a Crisma, numa palavra, além do aumento da graça santificante obtemos maior luz e somos chamados a maior responsabilidade. Por isso é comum dizer-se que ela nos faz perfeitos cristãos. Sermos perfeitos cristãos significa dar espaço à nossa fé, significa viver verdadeiramente o dia-a-dia da nossa existência, como filhos da luz. 

 

Precisamente este ideal do "crescimento" da fé como intensificação de luz, desejo hoje propor-vos. Na nossa época, mais que no passado, há maior necessidade de fé para sermos testemunhas de Cristo no mundo secularizado. Procedei portanto de modo que o estado de perfeitos cristãos em que vos constituí a Crisma, toque profundamente a vossa alma e nela encontre correspondência numa autêntica vida de fé; procedei de modo que à posição objetiva sacramental se alinhe, sem separações nem contradições, a posição subjetiva existencial de cada um de vós.

 

O dom do Espírito, como cada um dos Seus dons, não exime da resposta à vontade, nem do esforço necessário para fazer que todos frutifiquem: o Senhor não dispensa nunca o homem do esforço da correspondência e da colaboração. E se entre estes dons se distingue — como quis recordar-vos — o de uma efusão mais copiosa de luz sobrenatural, segue-se daí que mais decidida e mais firme deve ser, por parte do homem, a resposta pessoal.

 

Com este fim, para que isto se verifique em cada um de vós crismandos, desejo unir às minhas palavras de incitamento a certeza de uma especial oração. Para vós invoco eu o Espírito de Deus, para que se digne Ele mesmo confirmar do alto do seu templo na Jerusalém celeste (cf. Sl 68, 29) aquilo que está para realizar com a virtude do Seu sacramento. Assim seja.