O
mandamento do amor fraterno enche o texto evangélico que hoje escutamos: “Amai-vos
uns aos outros como Eu vos amei” (v. 12). Jesus já tinha afirmado que há dois
mandamentos: o mandamento de amar a Deus com todo o coração e o mandamento de
amar o próximo como a nós mesmos. Repetia o Antigo Testamento (cf. Dt 6, 5; Lv
19, 18). Aqui, Jesus vai mais longe: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei»
(v. 12). “Como eu vos amei». Amar o próximo como a nós mesmos é já muito. Mas,
amar o próximo como Jesus nos ama, é muito mais. É o amor cristão. Como é que
Jesus nos ama? Ama-nos com delicadeza e com força. Chama-nos amigos, porque nos
faz entrar na sua intimidade. Não nos trata como servos, mas como amigos.
Conta-nos segredos da sua família: “Dei-vos a conhecer tudo o que ouvi ao meu
Pai” (v. 15).
Este
amor delicado é também muito forte: “Ninguém tem mais amor do que quem dá a
vida pelos seus amigos” (Jo 15, 13). O modelo do amor cristão é um homem-Deus
crucificado e ressuscitado, que nos amou até ao sacrifício de Si mesmo. É
também assim que havemos de amar os nossos irmãos. Ser discípulo de Cristo
consiste em amar o irmão até dar a vida por ele, tal como fez Jesus, o Filho
que desceu do Céu para dar a vida por nós. Dar a vida não significa
necessariamente sofrer o martírio. Essa pode ser uma graça especial, concedida
a alguns. Dar a vida é gastar-se na atenção e no serviço àqueles que estão ao
nosso lado, que precisam de nós. Significa também interrogar-se, cada manhã,
sobre o modo como não se tornar um peso para os outros. Significa ainda suportar
os silêncios, os amuos e os limites de carácter de quem vive ao nosso lado.
Significa não escandalizar-nos com as suas contradições e pecados. Significa
aceitar cada um como é e não como gostaríamos que fosse.
Temos
que examinar a nossa consciência, para ver se alimentamos o fogo ou se o
deixamos apagar, isto é, se alimentamos o amor real, o calor humano,
necessários para o verdadeiro espírito de família e para fazer germinar a
verdadeira amizade. Os irmãos e, mais ainda, os amigos são dons do Pai celeste;
por meio dos irmãos e, sobretudo, por meio dos amigos, Ele fala-nos e
enriquece-nos: “Toda a boa dádiva e todo o bem perfeito vêm do alto, descendo
do Pai das luzes” (Tg 1, 17); “Um amigo fiel é uma poderosa proteção; quem o
encontra, encontra um tesouro” (Sir 6, 14; cf. Sir 6, 5-17).
Se
queremos ser amados, amemos e, como Deus, tomemos a iniciativa de amar (cf. 1
Jo 4, 19). Como o amor é dom e fruto do Espírito (cf. Rom 5, 5), assim também a
verdadeira amizade provém certamente do Espírito e é sustentada por Ele.