Inicia-se
a Quaresma, tempo de retiro, oração, conversão, penitência e caridade. As
cinzas impostas sobre a cabeça dos fiéis neste dia fazem-nos refletir sobre a
nossa criação por Deus, o nosso nada – “Lembra-te que és pó e em pó te hás de
tornar” – a nossa humilde condição e igualdade com nossos irmãos, além do
aspecto penitencial pelos nossos pecados.
Na
sua mensagem para a Quaresma deste ano, o Papa Francisco nos lembra a
necessidade da ascese num itinerário sinodal, baseando-se no Evangelho da
Transfiguração de Jesus, onde Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e
levou-os, só a eles, a um alto monte (Mt 17, 1):
“Embora
os nossos compromissos ordinários nos peçam para permanecer nos lugares
habituais, transcorrendo uma vida quotidiana frequentemente repetitiva e por
vezes enfadonha, na Quaresma somos convidados a subir «a um alto monte»
juntamente com Jesus, para viver com o Povo santo de Deus uma particular
experiência de ascese”.
“A
ascese quaresmal é um empenho, sempre animado pela graça, no sentido de superar
as nossas faltas de fé e as resistências em seguir Jesus pelo caminho da cruz.
Aquilo precisamente de que Pedro e os outros discípulos tinham necessidade.
Para aprofundar o nosso conhecimento do Mestre, para compreender e acolher
profundamente o mistério da salvação divina, realizada no dom total de si mesmo
por amor, é preciso deixar-se conduzir por Ele à parte e ao alto, rompendo com
a mediocridade e as vaidades. É preciso pôr-se a caminho, um caminho em subida,
que requer esforço, sacrifício e concentração, como uma excursão na montanha.
Estes requisitos são importantes também para o caminho sinodal, que nos
comprometemos, como Igreja, a realizar. Far-nos-á bem refletir sobre esta
relação que existe entre a ascese quaresmal e a experiência sinodal”.
“Para
o «retiro» no Monte Tabor, Jesus leva consigo três discípulos, escolhidos para
serem testemunhas dum acontecimento singular; Ele deseja que aquela experiência
de graça não seja vivida solitariamente, mas de forma compartilhada, como é
aliás toda a nossa vida de fé. A Jesus, seguimo-Lo juntos; e juntos, como
Igreja peregrina no tempo, vivemos o Ano Litúrgico e, nele, a Quaresma,
caminhando com aqueles que o Senhor colocou ao nosso lado como companheiros de
viagem. À semelhança da subida de Jesus e dos discípulos ao Monte Tabor,
podemos dizer que o nosso caminho quaresmal é «sinodal», porque o percorremos
juntos pelo mesmo caminho, discípulos do único Mestre. Mais ainda, sabemos que
Ele próprio é o Caminho e, por conseguinte, tanto no itinerário litúrgico como
no do Sínodo, a Igreja não faz outra coisa senão entrar cada vez mais profunda
e plenamente no mistério de Cristo Salvador”.
“A
experiência dos discípulos no monte Tabor torna-se ainda mais enriquecedora
quando, ao lado de Jesus transfigurado, aparecem Moisés e Elias, que
personificam respetivamente a Lei e os Profetas (cf. Mt 17, 3). A novidade de
Cristo é cumprimento da antiga Aliança e das promessas; é inseparável da
história de Deus com o seu povo, e revela o seu sentido profundo”.
Fonte:
Dom Fernando Arêas Rifan