Vale
a pena seguir alguém que vai morrer na Cruz? Uma pergunta semelhante pôde ter
passado pela mente dos discípulos do Senhor como também pôde ter passado alguma
vez pela nossa, quiçá formulada de outra maneira.
A
transfiguração de Jesus é uma catequese que revela aos discípulos e a nós Quem
é Jesus: O Filho Amado de Deus! É um momento antecipado de luz que nos ajuda
também a nós, a fitarmos a Paixão de Jesus com o olhar da fé. Sim, ela é um
mistério de sofrimento, mas é inclusive a “Paixão bem-aventurada” porque é – no
núcleo – um mistério de amor extraordinário de Deus; é o êxodo definitivo que
nos abre a porta para a liberdade e a novidade da Ressurreição, da salvação do
mal. Temos necessidade disto no nosso caminho quotidiano, muitas vezes marcado
também pela escuridão do mal! Agora Jesus leva consigo os três discípulos, para
os ajudar a compreender que o caminho para alcançar a glória, a vereda do amor
luminoso que vence as trevas, passa através do Dom total de Si, passa pelo
escândalo da Cruz. E, sempre de novo, o Senhor deve levar – nos consigo também
a nós, pelo menos para começarmos a compreender que este é o caminho
necessário.
Os
discípulos da transfiguração são os mesmos do Monte das Oliveiras, os da
alegria são também os da agonia. Em nossa caminhada para a Páscoa somos também
convidados a subir com Jesus a montanha e, na companhia dos três discípulos,
viver a alegria da comunhão com Ele. As dificuldades da caminhada não podem nos
desanimar. No meio dos conflitos, o Pai nos mostra desde já sinais da
Ressurreição e do alto daquele monte Ele continua a nos gritar: “Este é o Meu
Filho Amado, escutai-O”. É preciso acompanhar o Senhor em suas alegrias e em
suas dores. As alegrias preparam-nos para o sofrimento e o sofrimento por e com
Jesus dá-nos alegria. Os discípulos, que estavam desanimados diante do Mistério
da Cruz, são consolados por Jesus na transfiguração e preparados para os
acontecimentos vindouros, como, por exemplo, o terrível sofrimento que Ele
padecerá no Getsêmani. Vale a pena segui-lo? Certamente.
Quero
sublinhar que Transfiguração de Jesus foi substancialmente uma experiência de
oração (Cf. Lc 9, 28 – 29). Com efeito, a oração atinge o seu ápice, e por isso
torna – se fonte de luz interior, quando o espírito do homem adere ao de Deus e
as suas vontades se fundem, como que para formar uma só unidade. Jesus viu
delinear – se diante de si a Cruz, o sacrifício extremo, necessário para nos
libertar do domínio do pecado e da morte. E no seu coração, mais uma vez,
repetiu o seu “Amém”. Disse sim, eis – me, seja feita, ó Pai, a tua Vontade de
amor. E, como tinha acontecido depois do Batismo no Jordão, vieram do Céu os
sinais do agrado de Deus Pai: a luz, que transfigurou Cristo, e a voz que O
proclamou “Filho muito amado” (Mc 9,7).
Juntamente
com o Jejum e as obras de misericórdia, a oração forma a estrutura principal da
nossa vida espiritual.
Não
desanimemos diante das dificuldades! Os Planos de Deus não conduzem ao
fracasso, mas à Ressurreição, à vida definitiva, à felicidade sem fim! Com
efeito, a existência humana é um caminho de fé e, como tal, progride mais na
penumbra que na plena luz, não sem momentos de obscuridade e até de total
escuridão. Enquanto estamos aqui em baixo, o nosso relacionamento com Deus
realiza-se mais na escuta do que na visão; e a própria contemplação tem lugar,
por assim dizer, de olhos fechados, graças à luz interior acesa em nós pela
Palavra de Deus.
Esta
centelha da glória divina inundou os Apóstolos de uma felicidade tão grande que
fez Pedro exclamar: “Senhor, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas…”
Pedro quer prolongar a situação! O que é bom, o que importa, não é estar aqui
ou ali, mas estar sempre com Cristo, em qualquer parte, e vê-Lo por trás das
circunstâncias em que nos encontramos. Se estamos com Ele, tanto faz que
estejamos rodeados dos maiores consolos do mundo ou prostrados na cama de um
hospital, padecendo dores terríveis. O que importa é somente isto: Vê-Lo e
viver sempre com Ele! Esta é a única coisa verdadeiramente boa e importante na
vida presente e na outra. Desejo ver-Te, Senhor, e procurarei o Teu rosto nas
circunstâncias habituais da minha vida!
A
vida dos homens é uma caminhada para o Céu, que é a nossa morada (2 Cor 5,2).
Uma caminhada que, às vezes, se torna áspera e difícil, porque com frequência
devemos remar contra a corrente e lutar com muitos inimigos interiores ou de
fora. Mas o Senhor quer confortar-nos com a esperança do Céu, de modo especial
nos momentos mais duros ou quando se torna mais patente a fraqueza da nossa
condição: “À hora da tentação, pensa no Amor que te espera no Céu. Fomenta a
virtude da esperança, que não é falta de generosidade” (São Josemaria Escrivá,
Caminho, nº 139).
O
pensamento da glória que nos espera deve animar-nos na nossa luta diária. Nada
vale tanto como ganhar o Céu.
Não
podemos ficar no Monte… de braços cruzados… O seguidor de Cristo deve descer do
monte para enfrentar o mundo e os problemas dos homens!
Cada
domingo, ao participar da Santa Missa, subimos a Montanha, para contemplar o
Cristo transfigurado (ressuscitado) e escutar a sua voz.
Depois,
ao descer a Montanha (tendo participado da Missa, ao sair da Igreja) devemos
prosseguir a nossa caminhada, sendo sal da Terra e luz do mundo.
Que
neste tempo de Quaresma, possamos encontrar momentos de silêncio, possivelmente
de Retiro, para rever a própria vida à luz do desígnio de amor do Pai celeste.
Deixemo-nos guiar nesta escuta mais intensa de Deus pela Virgem Maria, mestra e
modelo de oração. Ela, também na extrema obscuridade da Paixão de Cristo, não
perdeu mas conservou na sua alma a luz do Filho divino. É por isso que a
invocamos como Mãe da confiança e da esperança! Que Maria, nossa guia no
caminho da fé, nos ajude a viver o tempo da Quaresma, encontrando todos os dias
alguns momentos para a oração silenciosa e para a Palavra de Deus. Ela, que
acompanhou o seu Filho Jesus até à Cruz, nos ajude a ser discípulos fiéis de
Cristo, cristãos maduros, para podermos participar juntamente com Ela na
plenitude da alegria pascal. Amém!