AS ENTIDADES QUE ASSINAM ESTA NOTA QUEREM EXTERNAR SUA MAIS IRRESTRITA SOLIDARIEDADE A DOM PEDRO. DESDE O MOMENTO EM QUE PISOU ESTE CHÃO DO ARAGUAIA E MAIS PRECISAMENTE, DESDE A HORA EM QUE FOI SAGRADO BISPO DA PRELAZIA DE SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA, SUA AÇÃO SEMPRE SE PAUTOU NA DEFESA DOS INTERESSES DOS MAIS POBRES, OS POVOS INDÍGENAS, OS POSSEIROS E OS PEÕES.
15 entidades e organizações da sociedade civil, incluindo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT), divulgaram uma nota de solidariedade ao bispo prelado emérito de São Félix do Araguaia (MT), dom Pedro Casaldáliga.
15 entidades e organizações da sociedade civil, incluindo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT), divulgaram uma nota de solidariedade ao bispo prelado emérito de São Félix do Araguaia (MT), dom Pedro Casaldáliga.
A nota se refere a desocupação das terras indígenas
Marãiwatsèdè Xavante, após mais de 20 anos de invasão por fazendeiros,
posseiros e pequenos produtores.
Segundo a nota, as entidades querem externar sua mais
irrestrita solidariedade a dom Pedro. “Desde o momento em que pisou este chão
do Araguaia e mais precisamente, desde a hora em que foi sagrado bispo da Prelazia
de São Félix do Araguaia, sua ação sempre se pautou na defesa dos interesses
dos mais pobres, os povos indígenas, os posseiros e os peões. Todos sabem que
Dom Pedro e a Prelazia sempre deram apoio a todas as ocupações de terra pelos
posseiros e sem terra e como estas ocupações foram o suporte que possibilitou a
criação da maior parte dos municípios da região”.
Ainda segundo as entidades que assinam a nota, a área
reservada aos Xavante foi toda ocupada por fazendeiros, políticos e
comerciantes. Muitos pequenos foram incentivados e apoiados a ocupar algumas
pequenas áreas para dar cobertura aos grandes. “O governo da República, porém
estava agindo e logo, em 1993, declarou a área como Terra Indígena que foi
demarcada e, em 1998 homologada pelo presidente FHC. Só agora é que a justiça
está reconhecendo de maneira definitiva o direito maior dos índios. O que D.
Pedro sempre pediu, em relação a esta terra, foi que os pequenos que entraram
enganados, fossem assentados em outras terras da Reforma Agrária. Mas o que se
vê é que, ontem como hoje, os pequenos continuam sendo massa de manobra nas
mãos dos grandes e dos políticos na tentativa de não se garantir aos povos
indígenas um direito que lhes é reconhecido pela Constituição Brasileira”.
Para o bispo de São Félix, dom Adriano Ciocca,
“estamos vivendo um momento de muita apreensão e tensão em nossa Prelazia por
causa da retirada dos ocupantes não-indígenas das terras de Marãiwatsèdè.
Sabemos que está havendo muito sofrimento, sobretudo, dos mais pobres, por causa
desta retirada determinada pela justiça. Queremos lembrar que nós, bispos e
agentes de pastoral, desde o início desta ocupação alertamos e sempre
continuamos alertando para a possibilidade do atual desfecho por se tratar de
terras cujo direito é garantido ao povo Xavante pela Constituição Federal de
nosso país. Lamentamos que pessoas humildes tenham se deixado levar pelas
promessas de políticos e demais pessoas interessadas apenas em tirar proveito
desta terra historicamente pertencente ao povo Xavante e que estão acostumadas
a usar o povo para garantir os seus interesses.
Repudiamos todas as ameaças que nosso bispo emérito Pedro vem sofrendo, bem como membros do povo Xavante. Alertamos para o fato de que nenhuma violência poderá reverter a decisão tomada pela justiça e que o atos criminosos só aumentarão o sofrimento de mais pessoas e suas consequências deverão cair também sobre as cabeças de quem os praticar”, disse dom Adriano Ciocca em nota divulgada ao povo de São Félix.
Repudiamos todas as ameaças que nosso bispo emérito Pedro vem sofrendo, bem como membros do povo Xavante. Alertamos para o fato de que nenhuma violência poderá reverter a decisão tomada pela justiça e que o atos criminosos só aumentarão o sofrimento de mais pessoas e suas consequências deverão cair também sobre as cabeças de quem os praticar”, disse dom Adriano Ciocca em nota divulgada ao povo de São Félix.
Leia abaixo a nota das entidades:
NOTA DE SOLIDARIEDADE A DOM PEDRO CASALDÁLIGA
Ao se aproximar a desintrusão da Terra Indígena
Marãiwatsèdè, após mais de 20 anos de invasão, quando os não indígenas estão
para ser retirados desta área, multiplicam-se as manifestações de fazendeiros,
políticos e dos próprios meios de comunicação contra a ação da justiça.
Neste momento de desespero, uma das pessoas mais
visadas pelos invasores e pelos que os defendem é Dom Pedro Casaldáliga, bispo
emérito de São Félix do Araguaia, a quem estão querendo, irresponsável e
inescrupulosamente, imputar a responsabilidade pela demarcação da área Xavante
nas terras do Posto da Mata.
As entidades que assinam esta nota querem externar sua
mais irrestrita solidariedade a Dom Pedro. Desde o momento em que pisou este chão
do Araguaia e mais precisamente, desde a hora em que foi sagrado bispo da
Prelazia de São Félix do Araguaia, sua ação sempre se pautou na defesa dos
interesses dos mais pobres, os povos indígenas, os posseiros e os peões. Todos
sabem que Dom Pedro e a Prelazia sempre deram apoio a todas as ocupações de
terra pelos posseiros e sem terra e como estas ocupações foram o suporte que
possibilitou a criação da maior parte dos municípios da região.
Em relação à terra indígena Marãiwatsèdè, dos Xavante,
os primeiros moradores da região nas décadas de 1930, 40 e 50 são testemunhas
da presença dos indígenas na região e como eles perambulavam por toda
ela. Foi com a chegada das empresas agropecuárias, na década de 1960, com
apoio do governo militar, que a Suiá Missu se estabeleceu nas proximidades de
uma das aldeias e até mesmo conseguiu o apoio do Serviço de Proteção ao Índio
para se ver livre da presença dos indígenas. A imprensa nacional noticiou
a retirada de 289 xavante da região os quais foram transportados em aviões da
FAB, em 1966, para a aldeia de São Marcos, no município de Barra do Garças.
Em 1992, a AGIP, empresa italiana que tinha comprado a Suiá
Missu das mãos da família Ometto, quis se desfazer destas terras. Por ocasião
da ECO-92, sob pressão inclusive internacional, a empresa destinou 165.000 hectares para os Xavante que, durante todo este tempo,
sonhavam em voltar à terra de onde tinham sido arrancados. Imediatamente
fazendeiros e políticos da região fizeram uma grande campanha para ocupar a
área que fora reservada aos Xavante, precisamente para impedir que os mesmos
retornassem. Já no dia 20 de junho de 1992, algumas áreas tinham sido ocupadas
e foi feita uma reunião no Posto da Mata, da qual participaram políticos de São
Félix do Araguaia e de Alto Boa Vista e também havia repórteres. A reunião foi
toda gravada.
As falas deixam mais do que claro que a invasão da
área era exatamente para impedir a volta dos Xavante. “Se a
população achou por bem tomar conta dessa terra em vez de dá-la para os índios,
nós temos que dar esse respaldo para o povo” (José Antônio de Almeida – Bau,
prefeito de São Félix do Araguaia). “A finalidade dessa reunião é
tentarmos organizar mais os posseiros que estão dentro da área... Se for
colocar índio no seu habitat natural, tem que mandar índio lá para
Jacareacanga, ou Amazonas, ou Pará...” (Osmar Kalil – Mazim, candidato a
prefeito do Alto Boa Vista). “Nós ajudamos até todos os posseiros daqui serem
localizados... Chegou a um ponto, ou nós ou eles (os Xavante) porque nós temos
o direito... Dizer que aqui tem muito índio? Aqueles que estão preocupados com
os índios que tem que assentar. Tem um monte de país que não tem índio. Pode
levar a metade... Na Itália tem índio? Não, não tem! Leva! Leva pra lá! Carrega
pra lá! Agora, não vem jogar em nós, não... ( Filemon Costa Limoeiro, à época
funcionário do Fórum de São Félix do Araguaia)
A área reservada aos Xavante foi toda ocupada por
fazendeiros, políticos e comerciantes. Muitos pequenos foram incentivados e
apoiados a ocupar algumas pequenas áreas para dar cobertura aos grandes. O
governo da República, porém estava agindo e logo, em 1993, declarou a
área como Terra Indígena que foi demarcada e, em 1998 homologada pelo
presidente FHC. Só agora é que a justiça está reconhecendo de maneira
definitiva o direito maior dos índios. O que D. Pedro sempre pediu, em
relação a esta terra, foi que os pequenos que entraram enganados, fossem
assentados em outras terras da Reformas Agrária. Mas o que se vê é que, ontem
como hoje, os pequenos continuam sendo massa de manobra nas mãos dos grandes e
dos políticos na tentativa de não se garantir aos povos indígenas um direito
que lhes é reconhecido pela Constituição Brasileira.
Mais uma vez, queremos manifestar nossa solidariedade
a Dom Pedro e denunciar mais esta mentira de parte daqueles que tentam
eximir-se da sua responsabilidade sobre a situação de sofrimento, tensão e
ameaça de violência que eles mesmos criaram, jogando esta responsabilidade
sobre os ombros de nosso bispo emérito.
5 de dezembro de 2012
Conselho Indigenista Missionário – CIMI - Brasilia
Comissão Pastoral da Terra – CPT - Goiânia
Escritório de Direitos Humanos da Prelazia de São Félix do Araguaia – São Félix
do Araguaia
Associação de Educação e Assistência Social Nossa Senhora da Assunção – ANSA –
São Félix do Araguaia
Instituto Humana Raça Fêmina – Inhurafe – São Félix do Araguaia
Associação Terra Viva – Porto Alegre do Norte
Associação Alvorada – Vila Rica
Associação de Artesanato Arte Nossa – São Félix do Araguaia
Grupo de Pesquisa Movimentos Sociais e Educação - GPMSE - Cuiabá
Associação Brasileira de Homeopatia Popular – ABHP - Cuiabá
Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso - FDHT - Cuiabá
Centro Burnier Fé e Justiça – CBFJ - Cuiabá
Fórum Matogrossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento – FORMAD - Cuiabá
Instituto Caracol – ICARACOL - Cuiabá
Rede de Educação Ambiental de Mato Grosso – REMTEA - Cuiabá