Antropologicamente,
a palavra “raça”, referindo-se a seres humanos, está superada, pois
biologicamente significa “subespécie” e conota um preconceito contra certos
grupos humanos, o que vem a ser “racismo”. Às vezes se usa o termo “raça” para
identificar um grupo cultural ou étnico-linguístico, mas seriam preferíveis os
termos “população”, “etnia” ou “cultura”.
A Igreja já se
pronunciou diversas vezes contra o preconceito baseado na cor da pele ou na
etnia, proclamando, firmada na divina Revelação, a dignidade de toda a pessoa
criada à imagem de Deus, a unidade do gênero humano no plano do Criador e a
reconciliação com Deus de toda a humanidade pela Redenção de Cristo, que
destruiu o muro de ódio que separava os mundos contrapostos, para que em Cristo
se recapitulassem todos os seres humanos.
Com essas premissas, a Igreja prega o
respeito recíproco dos grupos étnicos e das chamadas “raças” e a sua
convivência fraterna.
A mensagem de Cristo foi para todos os povos e nações,
sem distinção nem preferências. É o tema repetido por São Paulo: “Não há
distinção entre judeu e grego, porque todos têm um mesmo Senhor...” (Rm 10,12);
“já não há judeu nem grego, nem escravo nem livre..., pois todos vós sois um em Cristo Jesus ” (Gal 3,
28).
Infelizmente, com
a descoberta e colonização do Novo Mundo, no século XVI, começaram a surgir
abusos e ideologias racistas. Os Papas não tardaram a reagir.
Assim, em 1537,
na Bula Sublimis Deus, o Papa Paulo II denunciava os que consideravam os
indígenas como seres inferiores e solenemente afirmava: “No desejo de remediar
o mal que foi causado, nós decidimos e declaramos que os chamados Indígenas, bem
como todas as populações com que no futuro a cristandade entrará em relação,
não deverão ser privados da sua liberdade e dos seus bens – não obstante as
alegações contrárias – ainda que eles não sejam cristãos, e que, ao contrário,
deverão ser deixados em pleno gozo da sua liberdade e dos seus bens”.
Mais
tarde, o Papa Urbano VIII teve até de excomungar aqueles que detinham escravos
indígenas. É claro que essas normas da Igreja nem sempre foram obedecidas,
mesmo por muitos dos seus membros.
Quando começou o tráfico de Negros, vendidos pelos próprios africanos como escravos e trazidos para as novas terras, os Papas e os teólogos pronunciaram-se contra essa prática abominável.
O Papa Leão
XIII condenou-a com vigor na sua encíclica In Plurimis, de maio de 1888, ao
felicitar o Brasil por ter abolido a escravidão.
E o Papa São João Paulo II não
hesitou, no seu discurso aos intelectuais africanos, em Yaoundé, em 13 de
agosto de 1985, em deplorar que pessoas pertencentes a nações cristãs tenham
contribuído para esse tráfico de Negros.
E quando, fruto
da ideologia racista do século XVIII, surgiu na Alemanha o partido totalitário
nacional-socialista, o Papa Pio XI, na sua encíclica Mit Brennender Sorge,
condenou com firmeza as doutrinas nazistas da superioridade da raça ariana
sobre as demais.
Dom Fernando
Arêas Rifan
Bispo da
Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
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