Deve-se
falar do Natal a partir das leituras ou falar das leituras a partir do Natal?
As duas propostas seriam válidas , mas seria melhor falar das leituras e do Natal
a partir do Mistério Pascal, pois é o núcleo e o ponto de partida de toda a
liturgia, e da nossa fé.
Ao
que parece estamos muito próximos do que ouvimos e meditamos no último Domingo
do Advento , José recebe Maria por esposa e agora se dirige com ela
para Belém da Judéia. Parece que São Lucas , no Evangelho , tem a
preocupação de apresentar a narrativa de hoje dentro de um quadro histórico
universal.
É
certo que Maria e José poderiam ter ficado em Nazaré , mas somente eles sabem o
mistério que os envolviam e oque Maria estava carregando em seu ventre. O que se revelou vontade de Deus em Deus
deve-se cumprir, nem por isso as circunstâncias foram as mais favoráveis. Em
Belém chegou a hora do parto, não me parece certo pensar que Maria estivesse
sozinha com José , Lucas nada diz, mas é possível pensar que em Belém havia
parteiras e mulheres solidárias, pois o momento exigia tal sensibilidade. A
notícia que não havia lugar para eles na hospedaria não aponta necessariamente
para uma rejeição mas é usada como justificativa para as três ações de Maria: 1º
Deu à luz a sua filho primogênito, indicador de experiência inédita mas tem um
valor teológico importante; 2º Ela o enfaixou , se por um lado era procedimento
normal após a criança ser lavada numa espécie de salmoura, por outro lado
aponta para ação que ocorreu na deposição de Jesus no sepulcro , 3º O colocou
na manjedoura que evoca o dom do alimento que se liga ao nome BELÉM (“casa do
pão”) , bem como aponta para a Eucaristia , o fato de mencionar a manjedoura
permite pensar que o parto aconteceu num lugar reservado para os animais e que
fazia parte da casa onde José e Maria estavam.
A
partir desse momento o alimento esta pronto para ser distribuído a começar pelos
que eram considerados mal feitores e portanto marginalizados. Entram em cena os
pastores , Belém não é só “casa do pão” , mas também lugar de pastores , foi
assim que Davi foi apresentado , era pastor. E Jesus em seu ministério público
dirá “ EU SOU O BOM PASTOR”; pelo fato dos pastores passarem a noite nos campos
permite supor que não era inverno talvez próximo da Páscoa dos judeus (entre
março e abril) , um dado a mais que permite ligar o Natal a Páscoa. O primeiro
anúncio segundo Lucas encontra-se nos lábios do Anjo do Senhor, com sua a
aparição a glória do Senhor envolve os pastores de luz, é Deus exultando no céu
e se doando na terra entre os mais humildes porque a experiência é inédita, o
medo faz parte mas logo é afastado pelo Anjo que diz: “NÃO TENHAIS MEDO”. O mesmo
foi dito a Zacarias , a Maria e a José . É o Senhor que quer confirmar o que
disse pelos lábios do salmista : “de todos os temores me livrou o Senhor Deus”.
O medo deve ser substituído pelo dom que Deus fez de si : “EU VOS ANUNCIO UMA
GRANDE ALEGRIA QUE O SERÁ PARA TODO O POVO, HOJE NA CIDADE DE DAVI, NASCEU PARA
VÓS UM SALVADOR QUE É CRISTO SENHOR” .
Deus
não frustra os que Nele esperam , séculos de expectativas são confirmados, Deus
enfim cumpre as suas promessas , o Anjo do Senhor não cita alguma profecia mas define esta boa notícia dizendo:
que o motivo é um recém-nascido que é Salvador , logo é juiz e libertador , é
ungido , logo é o eleito aguardado e é rei pois tem vínculo com a cidade de
Davi e o com o próprio Davi, através de José. É Senhor porque é Deus no meio
dos seres humanos é EMANUEL. Diante de tudo isso encontra-se a notícia
contrastante do sinal dado recém-nascido envolvido em faixas e deitado numa
manjedoura , o sinal contém as ações de Maria , os pastores não terão
dificuldades para identificar o recém-nascido bem como o acesso a ele não será
também dificultado , nasceu simples e humilde para os simples e humildes: os
pastores são os primeiros convidados ao banquete . A graça continua, pois a
terra e os céus se unem , a terra é testemunha ada liturgia celeste, Deus é
louvado pelo que fez nascer na terra; se nos céus se eleva a glória de Deus ,
isto é , o peso de sua Santidade na terra Ele derrama a sua paz. Deus
manifestou sua justiça e sua misericórdia em seu filho e Unigênito. É festa nos
céus e na terra , enquanto a corte celeste canta , os homens de boa vontade
experimentam a presença e a força da paz sinal de perdão e de reconciliação ,
não é César Augusto o doador da paz mas Deus em seu unigênito filho nascido por
nós e para nossa salvação. Ele é o príncipe principio da verdadeira paz que não
vem por imposição humana e muito menos por recenciamento mas pelo nascimento
virginal do arauto do reino de Deus, salvador, Cristo e Senhor. Na manjedoura
Deus derrubou os poderosos de seus tronos e elevou os humildes na humildade de
sua Serva e de Seu Filho que humilhou-se até a morte e morte de cruz . Feliz e
Santo Natal.