O
menino de Belém leva-nos a contemplar o
incrível amor de um Deus que Se preocupa até ao extremo com a vida e a
felicidade dos homens e que envia o próprio Filho ao mundo para apresentar-nos
um projeto de salvação/libertação. Nesse menino de Belém, Deus grita-nos a
radicalidade do seu amor por nós.
O
presépio apresenta-nos a lógica de Deus que não é, tantas vezes, igual à lógica
dos homens: a salvação de Deus não se manifesta nos encontros internacionais
onde os donos do mundo decidem o destino da humanidade, nem nos gabinetes
ministeriais, nem nos conselhos de administração das multinacionais, nem nos
salões onde se concentram as estrelas do jet-set, mas numa gruta de pastores
onde brilha a fragilidade, a dependência, a ternura, a simplicidade de um recém-nascido.
A
presença libertadora de Jesus neste mundo é uma "boa notícia" que
devia encher de felicidade os pobres, os débeis, os marginalizados e dizer-lhes
que Deus os ama, que quer caminhar com eles e que quer oferecer-lhes a
salvação. É essa proposta que nós, os seguidores de Jesus, passamos ao mundo.
Nós, Igreja, não estaremos demasiado ocupados a discutir questões laterais,
esquecendo o essencial - Jesus.
Jesus
- o Jesus da justiça, do amor, da fraternidade e da paz - já nasceu, de forma
efetiva, na vida de cada um de nós.
A
transformação da "Palavra" em "carne" (em menino do
presépio de Belém) é a espantosa aventura de um Deus que ama até ao
inimaginável e que, por amor, aceita revestir-Se da nossa fragilidade, a fim de
nos dar vida em plenitude. Neste dia, somos convidados a contemplar, numa
atitude de serena adoração, esse incrível passo de Deus, expressão extrema de
um amor sem limites.
Acolher
a "Palavra" é deixar que Jesus nos transforme, nos dê a vida plena, a
fim de nos tornarmos, verdadeiramente, "filhos de Deus". O presépio
que hoje contemplamos é apenas um quadro bonito e terno, ou uma interpelação a
acolher a "Palavra", de forma a crescermos até à dimensão do homem
novo?
Hoje,
como ontem, a "Palavra" continua a confrontar-se com os sistemas
geradores de morte e a procurar eliminar, na origem, tudo o que rouba a vida e
a felicidade do homem. Sensíveis à "Palavra", embarcados na mesma
aventura de Jesus - a "Palavra" viva de Deus - Não podemos pactuar com
a mentira, o oportunismo, a violência, a exploração dos pobres, a miséria, as
limitações aos direitos e à dignidade do homem.
Jesus
(esse menino do presépio) é para nós a "Palavra" suprema que dá
sentido à nossa vida, ou deixaremos que outras "palavras" nos
condicionem e nos induzam a procurar a felicidade em caminhos de egoísmo, de
alienação, de comodismo, de pecado.
É
na noite que é belo acreditar na luz... Era a noite para este casal em viagem
e, no momento em que a mulher devia dar à luz. Nunca há lugar para aqueles que
incomodam. É então, na obscuridade de um estábulo, que a luz aparece para
iluminar não somente este lugar bem sombrio, mas o mundo inteiro tantas vezes
tão mergulhado na noite da dúvida e da violência. Era a noite para estes
pastores em cuja palavra havia tanta dificuldade em acreditar, por estar muitas
vezes longe da verdade. Ora, é a eles que a boa nova é anunciada para que ela
não cesse de seguida de se transmitir de geração em geração. Uma luz rasga
então a noite da Judeia, é a luz da glória do Senhor e o anúncio da paz sobre a
terra aos homens que Deus ama. Não espanta que esta criança acabada de nascer
proclame mais tarde: «Eu sou a luz do mundo». Esperar é levantar os olhos
quando ainda é noite, para descobrir a luz mais forte que a noite.