segunda-feira, maio 09, 2022

IV DOMINGO DA PÁSCOA






“Sou Eu!” Quem de nós não exclamou tantas vezes esta expressão? Nem é necessário dizer o nome… Hoje, diz Jesus: “Eu sou o Bom Pastor..:” Coloca-Se num registo de uma relação de intimidade para falar da sua ligação com os discípulos. Foi isso que Ele viveu com eles durante três anos. Tornaram-se seus amigos. Várias vezes, Jesus só precisou deste grito para Se fazer reconhecer: “Sou Eu!” Os discípulos não podiam enganar-se: esta voz era a sua, única no mundo. Não serve de nada dizer a um desconhecido: “Sou Eu!” Para entrar na intimidade de alguém, é preciso uma relação longa, um conviver”, uma familiaridade, no sentido pleno da palavra. Isso só se pode viver na duração, na fidelidade, na paciência. Com Jesus, é exatamente a mesma coisa. Não é o meu nervo auditivo que vibra à sua voz, mas a “audição do coração” que me torna atento quando a sua Palavra é proclamada em Igreja, quando leio e medito esta Palavra. É ela que vem fazer vibrar o meu ser profundo, que me toca o coração. Torno-me então, pouco a pouco, capaz de integrar na minha vida, na minha maneira de pensar e de agir, a sua maneira própria de falar e de agir. Pouco a pouco, a minha vida toma uma cor evangélica, a minha consciência afina-se, torno-me discípulo de Jesus, reconheço a sua presença na minha vida. Aí está um trabalho de longo alcance, de toda a vida. Então, pouco a pouco também, é um pouco d’Ele que traspassará através da minha vida para tocar os outros. Não está aí a vocação própria de todo o batizado: fazer-se eco da sua voz no coração do mundo?

Nossa vida se decide no cotidiano. De modo geral não são os momentos extraordinários e excepcionais que marcam mais a nossa vida. E muito mais essa vida comum de todos os dias, com as mesmas tarefas e obrigações, em contato com as mesmas pessoas, que vai configurando nosso perfil. No fundo somos o que somos na vida cotidiana.

Em geral, essa vida nada tem de excitante. Está cheia de repetição e rotina. Mas é nossa vida. Somos "seres cotidianos. A cotidianidade é um traço do ser humano. Somos, ao mesmo tempo, responsáveis e vítimas dessa vida aparentemente pequena de cada dia.

Nessa vida do normal e ordinário, podemos crescer como pessoas ou podemos desperdiçar nossa vida, não aproveitá-la. Nessa vida cresce nossa responsabilidade ou aumenta nossa negligência; cuidamos de nossa dignidade ou nos perdemos na mediocridade; inspira-nos e anima-nos o amor, ou agimos com indiferença; deixamo-nos arrastar pela superficialidade ou arraigamos nossa vida no essencial; nossa fé vai se dissolvendo ou vai se reafirmando nossa confiança em Deus.

A vida cotidiana não é algo que devemos suportar para depois viver não sei o quê. E nessa vida de cada dia que se decide nossa qualidade humana e cristã. É aí que se fortalece a autenticidade de nossas decisões; aí se purifica nosso amor às pessoas; aí se configura nossa maneira de pensar e de crer. O grande teólogo Karl Rahner chega 2 dizer que "para o homem interior e espiritual não há melhor mestre do que a vida cotidiana".

Segundo a teologia do quarto Evangelho, os seguidores de Jesus não caminham pela vida sós e desamparados. O Bom Pastor os acompanha e defende dia a dia. Eles são como "ovelhas que escutam sua voz e o seguem". Ele conhece cada uma delas e lhes dá vida eterna. É Cristo que ilumina, orienta e anima sua vida dia a dia até a vida eterna.

No dia a dia da vida cotidiana devemos buscar o Ressuscitado no amor, não na letra morta; na autenticidade, não nas aparências; na verdade, não nos tópicos; na criatividade, não na passividade e inércia; na luz, não na escuridão das segundas intenções; no silêncio interior, não na agitação superficial.