O
contexto do Evangelho deste Domingo é ainda da Noite de Natal. Chama-nos
atenção que naquele momento crucial para a humanidade, nada de espetacular
aconteceu, mas tão somente: um menino recém-nascido, um pai e uma mãe. Na
aparente ausência de tudo (casa, conforto, segurança…), a humanidade conhecia a
máxima presença de Deus entre nós. Mas, tudo de Deus estava revestido com a
mais pura natureza humana: uma criança que veio ao mundo.
Os
anjos dão a confirmação que tudo está conforme a vontade de Deus. Eles sentem a
presença, veem a luz e se deixam inundar pela novidade de Deus. Aqueles homens
do campo marcados pelo sofrimento e pelo desprezo recebem o anúncio da presença
entre nós da paz que vem de Deus. Na noite, olhando para o céu, os pastores
descobrem o rosto de Deus não mais nas estrelas, mas foram convidados e
encontrá-Lo na face de uma criança. Para eles, o rebanho que guardavam era tudo
que possuíam, mas Deus lhes indicou onde estava o verdadeiro tesouro para eles
e para toda a humanidade: o Menino Salvador.
De
lado, na cena narrada por Lucas, há uma certa “agitação”: os pastores correm
apressados, narram tudo com euforia e retornam agradecendo a Deus por tudo que
tinham visto e ouvido. Aqueles que ouviram tudo (Maria e José) ficaram
espantados e maravilhados por tudo que estava acontecendo. Nosso Deus sempre
nos surpreende! Para o casal, até aquele momento, desde a concepção até o
nascimento de Jesus, tudo tinha acontecido sem brilho, sem esplendor e parecia
que tudo ficaria restrito a eles.
Aqueles
homens que correram para encontrar o sinal de Deus (Menino enrolado em faixas)
se transformaram em anunciadores da paz. Experimentaram ouvindo o anuncio e
vendo o menino Jesus. Eles foram mais uma confirmação importante para Maria e
José sobre tudo que estava acontecendo em suas vidas.
A
promessa do “rosto de Deus” como fonte de paz e graças, tinha se realizado com
o Menino Jesus. Não nos palácios, nas grandes cidades, ou nos Templos, mas em
uma criança e dentro de uma família. Uma fonte acessível a todos que queiram
experimentar a presença de Deus que quer nos inundar de sua paz. Por isto,
Paulo na segunda leitura nos fala que o maior dom que Deus nos deu é de sermos
seus filhos adotivos.
A
paz que tanto desejamos jamais acontecerá se cada um não for capaz de
reconhecer a presença de Deus nas coisas simples e cotidianas, mas o principal
meio que Deus nos revela sua paz é contemplarmos o Seu rosto em cada pessoa. Os
pastores foram convocados a reconhecer o Salvador no rosto do Menino Jesus, nós
somos convocados a encontrar o mesmo rosto de Deus em cada pessoa que
encontramos em nossa vida. Não existe paz nos isolando do próximo ou – pior –
considerando o outro como inimigo.
Na
cena do presépio, o evangelista Lucas nos dá o testemunho de Maria diante de
tudo que estava acontecendo. Dentre as pessoas presentes, ela certamente era a
que mais estava segura sobre as maravilhas de Deus que estavam acontecendo
naquela noite, mas Maria é descrita com aquela que “conservava” tudo que estava
acontecendo e “meditava” em seu coração (este segundo verbo, o seu sentido em
grego é “ajuntar”). Ela tinha já percebido que o caminho para encontrar sempre
a vontade de Deus, bem como experimentar sua presença, estava não em grandes
eventos e espetaculares acontecimentos, nem menos nos grandes locais e entre as
pessoas tidas como especiais deste mundo, mas nas coisas singelas, simples da
vida e com as pessoas que nós amamos.
A
estrada que necessitamos percorrer para encontrar a paz não está no acúmulo de
coisas materiais e nem mesmo em grandes sinais que se costuma pedir a Deus, mas
na convivência com as pessoas que temos ao nosso redor e no nosso dia a dia.
Para Maria, cada acontecimento e momento, era uma oportunidade de se encontrar
com Deus. Por isto, a Mãe de Jesus procurava “ajuntar” tudo em seu coração. A
paz que necessitamos não é somente um dom de Deus, mas é o próprio Deus
conosco!
Vimos
que Deus ensina Aarão abençoar seu povo e promete a todos de estar presente e
lhes proporcionar um rosto de paz, de proteção e de graças. Jesus é o rosto de
bênção de Deus para a humanidade que um dia veio morar em nosso meio e mesmo
depois de sua ressurreição, continua presente em cada rosto e pessoa. A paz que
desejamos não é uma promessa com um dom especial e exclusivo, mas constante e
cotidiano, basta sabermos perceber o Deus da Paz presente em cada pessoa que
encontrarmos em nosso caminho em todos os momentos do ano, pois cada ser humano
é o próprio rosto de Jesus nosso irmão.