1
– A violência vem ao encontro da humanidade
Durante
o ano passado, e em parte, ainda neste ano, fomos agredidos pela violência da
pandemia. A Covid 19 é uma peste violenta que silenciosamente agrediu a
humanidade. A violência nem sempre é barulhenta; muitas vezes é silenciosa e
causa estragos terríveis na vida das pessoas. Infelizmente, não foi somente a
violência pandêmica que nos agrediu, também políticas atrapalhadas e corruptas
atingiram a sociedade de modo violento. Seria injusto generalizar, mas quando
vemos que foi gasto dinheiro para construir hospitais de campanha que sequer
foram abertos e, olhamos para hospitais com pessoas amontoadas, então podemos
ver a cara da violência feita pelo descaso e matando pessoas. Neste tempo de
pandemia, pudemos ver o rosto do servo sofredor estampado em tantos homens e
mulheres de todas as idades. Diante de tamanha covardia, o salmista retrata o
coração do servo sofredor de nossos tempos: só pode esperar em Deus, por isso
entrega-se completamente nas mãos de Deus. Neles continua ecoando o mesmo grito
de Jesus: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?”
2
– Contemplar o sofrimento
Hoje,
Sexta-feira Santa, é dia para contemplar o sofrimento. Não é um quadro
agradável diante de nossos olhos, como fez Isaías, na 1ª leitura, e João, no
Evangelho. Mas, o sofrimento é humano e por isso é importante considerar como
olhamos o sofrimento e como olhamos o sofredor. Isaias, na 1ª leitura, fala de
desvio do olhar. Não é fácil entrar em contato com o sofrimento pessoal e com o
sofrimento do outro. Arrumamos desculpas, buscamos argumentos, criamos
suposições para explicar o sofrimento. O “Servo Sofredor”, Jesus Cristo,
acolheu o sofrimento com ansiedade, com temor, mas não se furtou a ele. Fez sua
Páscoa, sua passagem pelo sofrimento. Isaías diz que o sofrimento faz alcançar
uma ciência perfeita. Sim, porque o sofrimento coloca-nos em contato com nossa
realidade existencial, com nossas fragilidades, com nossas fraquezas com aquilo
que é essencial na vida. A sabedoria do sofrimento ensina-nos o caminho da
humildade, da simplicidade da vida e da serenidade diante dos reveses da vida.
3
– Reagir ao sofrimento
Neste
momento histórico que vivemos, marcado pela pandemia, provocadora de
sofrimento, celebramos a Paixão do Senhor como um encontro da violência contra
a vida divina. Jesus não buscou a violência; ele foi agredido e transfigurado
pela violência. Quando Pedro reage com violência, Jesus manda Pedro guardar a
espada. O segredo para resistir a violência não está na força e nem em se
mostrar mais forte; o segredo está no amor. Toda violência precisa ser perdoada
e isto só é possível pelo amor. É pelo amor que Jesus venceu a violência. Em
tempo de sofrimento, como este, algumas escolhas parecem continuar sendo opções
pela violência do descaso, pela violência do descuido com a saúde pública, pela
violência da irresponsabilidade de poder contagiar outras vidas, pela violência
de disputas políticas sem sentido... O julgamento de Jesus continua acontecendo
e, como aconteceu com o Mestre, são os mais vulneráveis que sofrem condenações
injustas e evitáveis. Não escolhamos a violência de Barrabás, escolhamos a vida
de Jesus. Amém!