A Cruz tornou-se o sinal da rejeição do Filho de Deus por parte do Povo de Deus, o sinal da rejeição de Deus por parte do mundo.
Mas, ao mesmo tempo, a mesma cruz tornou-se o sinal da aceitação de Deus, também, por parte do homem, por parte de todo o Povo escolhido, por parte do mundo.
Quem quer que seja que acolha Deus em Cristo, acolhe-O mediante a Cruz.
E quem acolheu Deus em Cristo, exprime isso mesmo mediante esse sinal:
Quem O aceitou, efetivamente, benze-se com o sinal da Cruz sobre a fronte, sobre os ombros e sobre o peito, para manifestar e para professar que na Cruz se encontra de novo totalmente a si mesmo, alma e corpo, e que com este sinal abraça e aperta ao peito Cristo e o seu reino.
Quando Cristo se apresentou aos olhos da multidão, no centro do Pretório romano, Pilatos, apontando para Ele, disse: “Aqui está o homem” (Jo. 19, 5). E a multidão respondeu: “crucifica-o!”.
A Cruz tornou-se o sinal da rejeição do homem em Cristo. Caminham a par e passo, na verdade, a rejeição de Deus e a rejeição do homem.
Ao gritar “crucifica-o!”, a multidão de Jerusalém pronunciou a sentença de morte contra toda aquela verdade sobre o homem, que nos foi revelada por Cristo, Filho de Deus.
Foi rejeitada, portanto, a verdade quanto à origem do homem e quanto ao fim da sua peregrinação sobre a terra; foi rejeitada a verdade sobre o amor, que tanto nobilita e une entre si os homens, e sobre a misericórdia que faz levantar-se mesmo após as maiores quedas.
E então, eis que aqui, neste lugar onde — segundo uma tradição — os homens, por causa de Cristo, eram ultrajados e condenados à morte
Há muito tempo foi colocada a cruz como sinal da dignidade do homem, salvo pela Cruz; como sinal da verdade sobre a origem divina
e sobre o fim da peregrinação do homem; como sinal, ainda, do amor e da misericórdia que ergue da queda e, todas as vezes que isso sucede, renova, num certo sentido, o, mundo. Eis-nos diante da Cruz: eis o madeiro da Cruz (“Ecce lignum Crucis”). Ela é o sinal da rejeição de Deus e o sinal da Sua aceitação; e é o sinal do vilipêndio do homem e o sinal da sua elevação.
O sinal da vitória! Sim, Cristo havia dito: “Eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a Mim” (Jo. 12, 32). No entanto, a Via-Sacra de Cristo e a sua Cruz são uma aspiração, perseverante e inflexível, e a um tempo um brado, um grande grito dos corações.
“Acabamos de recordar, através das meditações, da oração e dos cânticos, os passos de Jesus no caminho da Cruz: um caminho que parecia sem saída e, no entanto, mudou a vida e a
história do homem, abrindo a passagem para “os novos céus e a terra nova” (Ap 21,1).
A experiência do sofrimento marca a humanidade e, naturalmente, a família. Quantas vezes o caminho se torna cansativo e difícil! Incompreensões, divisões, preocupação com o futuro dos filhos, doenças, incômodos de vários tipos. Para além disso, a situação de muitas famílias vê-se agravada, hoje em dia, pela precariedade do emprego e outras consequências negativas provocadas pela crise econômica. O caminho da Via-Sacra, que acabamos de percorrer espiritualmente nesta noite, é um convite feito a todos nós, e de modo especial às famílias, para contemplarmos Cristo crucificado a fim de termos a força de ultrapassar as dificuldades.
A CRUZ DE JESUS É O SINAL SUPREMO DO AMOR DE DEUS POR CADA HOMEM, A RESPOSTA SUPERABUNDANTE À NECESSIDADE QUE TODA A PESSOA SENTE DE SER AMADA.
Quando passamos pela prova, quando as nossas famílias enfrentam o sofrimento, a tribulação, olhemos para a Cruz de Cristo!
Nela encontraremos a coragem para prosseguir o caminho, podendo repetir, com firme esperança, estas palavras de São Paulo:
“Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? (…) Mas, em tudo isso, somos mais que vencedores graças Àquele que nos amou!” (Rm 8, 35.37).
Nas tribulações e dificuldades, não estamos sozinhos; não está sozinha a família: Jesus está presente com o seu amor, sustenta-a com a sua graça e dá-lhe a força para prosseguir, enfrentando os sacrifícios e superando qualquer obstáculo.
E, quando os desvarios humanos e outras dificuldades põem em risco e ferem a unidade da nossa vida e da nossa família, é para o amor de Cristo que devemos voltar-nos.
O mistério da paixão, morte e ressurreição de Cristo encoraja-nos a continuar com esperança.
Se forem vividos com Cristo, com fé n’Ele, os dias de tribulação e de prova trazem já dentro de si a luz da ressurreição, a vida nova do mundo ressuscitado, a páscoa de todo o homem que crê na sua Palavra.
Naquele Homem crucificado que é o Filho de Deus, mesmo a própria morte ganha novo significado e orientação, é resgatada e vencida, torna-se passagem para a nova vida:
“Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, continua só um grão de trigo; mas, se morrer, então produz muito fruto” (Jo 12, 24). Confiemo-nos à Mãe de Cristo.
Ela que acompanhou o seu Filho ao longo da via dolorosa, Ela que esteve aos pés da Cruz na hora da sua morte, Ela que encorajou a Igreja desde o seu nascimento a viver na presença do Senhor.
Conduza os nossos corações, os corações de todas as famílias, através do vasto mysterium passsionis rumo ao mysterium paschale, rumo à luz que irrompe da Ressurreição de Cristo e manifesta a vitória definitiva do amor, da alegria e da vida, sobre o mal, o sofrimento e a morte. Amém”.
PALAVRAS DO PAPA BENTO XVI
NO FINAL DA VIA-SACRA NO COLISEU
NO FINAL DA VIA-SACRA NO COLISEU
Monte Palatino
Sexta-feira Santa, 6 de Abril de 2012
Sexta-feira Santa, 6 de Abril de 2012
© Copyright 2012 - Libreria Editrice Vaticana
vatican.va