A
criação da mulher (1L) é considerada como necessidade humana para o
relacionamento amoroso gerador da vida. Depois de estabelecer relação com o
mundo, Adão (homem da terra) percebe uma ausência, que nem mesmo os animais,
seres vivos, são capazes de preencher. Entende-se que a verdadeira comunhão de
vida não acontece pela posse, mas pela possibilidade de pertença recíproca, e
esta só é possível quando a comunhão é estabelecida em igual dignidade.
O
sono de Adão, provocado por Deus (1L), é um modo literário para dizer que foi
no silêncio do mistério divino que Deus criou a mulher. Adão e Eva se
reconhecem na mesma dignidade e se acolhem concretamente, como carne da mesma
carne, ossos do mesmo osso. Na reciprocidade do "eu" e do
"tu" não acontece a dissolvência, mas o acolhimento “no nós” que
comporta igual dignidade e relacionamento dialógico. No "mono-logo"
(monólogo), o outro é obrigado a entrar no “meu esquema”; no "dia-logo"
(diálogo) acontece o acolhimento, o favorecimento da partilha de experiências
existenciais. Deus nos criou homem e mulher (1L) para o diálogo, para a
convivência de vidas capazes de gerar mais vida.
Em
síntese, compreendemos que a vida conjugal, do homem e da mulher, acontece pelo
acolhimento, que se realiza no diálogo para gerar mais vida. Isto só é possível
pelo e no amor oblativo, o amor que ama sem cobranças e sem esperar nada em
troca, como é o modo divino de amar. Amor que se realiza trilhando os caminhos
de Deus (SR); motivo pelo qual Jesus recusa a prática do divórcio (E).
O ponto central da recusa do divórcio, da parte de Jesus, encontra-se na "dureza de coração" (E). Jesus explica que as concessões a favor do divórcio aconteceram no tempo da "dureza de coração"; agora é necessário restituir a vontade originária de Deus, que criou o homem e a mulher não como propriedade um do outro, mas como companheiros de vida que se completam um ao outro no amor e pelo amor.