segunda-feira, abril 26, 2021

IV DOMINGO DA PÁSCOA









“O Senhor é o meu pastor: nada me falta”: assim começa esta linda oração, evocando o ambiente nômade da pastorícia e a experiência de conhecimento recíproco que se estabelece entre o pastor e as ovelhas que compõem o seu pequeno rebanho. A imagem evoca uma atmosfera de confiança, intimidade e ternura: o pastor conhece as suas ovelhas uma por uma, chama-as pelo nome e elas seguem-no porque o reconhecem e confiam nele (cf. Jo 10, 2-4). Ele cuida delas, conserva-as como bens preciosos, pronto a defendê-las, a garantir o seu bem-estar e a fazer com que vivam em tranquilidade. Nada lhes pode faltar, se o pastor estiver com elas. A esta experiência faz referência o Salmista, chamando Deus seu pastor e deixando-se orientar por Ele para pastagens seguras:

 

A visão que se abre aos nossos olhos é de verdes prados e águas refrescantes, oásis de paz rumo aos quais o pastor acompanha o rebanho, símbolos dos lugares de vida para os quais o Senhor conduz o Salmista, que se sente como as ovelhas deitadas na relva ao lado de uma nascente, numa situação de descanso, não em tensão nem em estado de alarme, mas confiantes e tranquilas, porque o lugar é seguro, a água é fresca e o pastor vela sobre elas. E não esqueçamos aqui que a cena evocada do Salmo é ambientada numa terra em boa parte desértica, atingida pelo sol ardente, onde o pastor seminômade médio-oriental vive com o seu rebanho nas estepes que se estendem ao redor dos povoados. Mas o pastor sabe onde encontrar erva e água fresca, essenciais para a vida, sabe conduzir ao oásis em que a alma “se restabelece” e é possível retomar as forças e novas energias para se pôr novamente a caminho.

Como diz o Salmista, Deus guia-o rumo a “verdes prados” e “águas refrescantes”, onde tudo é superabundante, tudo é concedido abundantemente. Se o Senhor é o pastor, também no deserto, lugar de ausência e de morte, não esmorece a certeza de uma presença de vida radical, a ponto de poder dizer: “Nada me falta”. Com efeito, o pastor tem a peito o bem do seu rebanho, adapta os próprios ritmos e as suas exigências aos das suas ovelhas, caminha e vive com elas, guiando-as por caminhos “retos”, ou seja adequados, com atenção às necessidades delas, e não às suas. A segurança do seu rebanho é a sua prioridade, e a ela obedece ao guiá-lo.

Prezados irmãos e irmãs, também nós, como o Salmista, se caminharmos atrás do “Bom Pastor”, por mais difíceis, sinuosos ou longos que possam parecer os percursos da nossa vida, com frequência inclusive em regiões espiritualmente desérticas, sem água e com um sol de racionalismo ardente, sob a guia do Bom Pastor, Cristo, temos a certeza de caminhar pelas estradas “retas”, e que o Senhor nos orienta e está sempre próximo de nós, e nada nos faltará.

Por isso, o Salmista pode declarar uma tranquilidade e uma segurança, sem incertezas nem temores:

 

Quem atravessa com o Senhor mesmo os vales sombrios do sofrimento, da incerteza e de todos os problemas humanos, sente-se seguro. Tu estás comigo: esta é a nossa certeza, aquela que nos sustém. A escuridão da noite causa medo, com as suas sombras mutáveis, a dificuldade de distinguir os perigos, o seu silêncio cheio de ruídos indecifráveis. Se o rebanho se move depois do pôr-do-sol, quando a visibilidade se faz incerta, é normal que as ovelhas se sintam inquietas, pois há o risco de tropeçar, ou então de se afastar e de se perder, e há ainda o temor de possíveis agressores que se escondam na obscuridade. Para falar do vale “sombrio”, o Salmista usa uma expressão hebraica que evoca as trevas da morte, pelo que o vale a atravessar é um lugar de angústia, de ameaças terríveis, de perigo de morte. E no entanto, o orante procede seguro, sem medo, porque sabe que o Senhor está com ele. Aquele “Tu estás comigo” é uma proclamação de confiança inabalável e resume a experiência de fé radical; a proximidade de Deus transforma a realidade, o vale sombrio deixa de ser perigoso, esvaziando-se de qualquer ameaça. Agora, o rebanho pode caminhar tranquilo, acompanhado pelo barulho familiar do bastão que bate no terreno e denota a presença tranquilizadora do pastor.

 

Fonte: Papa Emérito Bento XVI


quinta-feira, abril 22, 2021

CONFIANÇA E PREVENÇÃO!










Vendo a morte levar nossos conhecidos e entes queridos pela COVID-19, é difícil, mesmo confiando em Deus, não ficarmos tristes nem nos preocuparmos com esse flagelo. E não nos consola o fato de o mundo já ter passado por pestes semelhantes, por muita gente ter morrido nas guerras, por sabermos que a vida é mesmo assim... Mas quando chega a nossa vez, quando a morte bate na porta dos nossos vizinhos, todos trememos de medo. Rezando pela nossa saúde e confiando em Deus, precisamos estar preparados para tudo.        

 

Deus não é autor do mal. O mal é proveniente da nossa finitude, pois só Deus é o sumo bem e a suma perfeição.  O mal é consequência às vezes do mau uso da nossa liberdade e, muitas vezes, dos nossos pecados. Mas Deus só permite um mal para dele tirarmos algum bem. E podemos tirar sim.

 

Essa doença vem nos lembrar a nossa pequenez. O homem, orgulhoso de sua ciência e de suas conquistas tecnológicas em todos os campos, prostra-se de joelhos diante de um ser ultramicroscópico, que põe toda a humanidade temerosa. Realmente nós não somos onipotentes e tão poderosos: só Deus o é. Portanto, a primeira lição é de humildade.

 

Por isso, recorramos a Deus onipotente, pedindo-lhe que afaste de nós esta calamidade: “ela não é enviada por Ele, mas permitida, para que nos convertamos de nossa soberba e desmando na organização dos recursos da criação...” (Dom Pedro Cipollini). Segunda lição: oração. E a lembrança de que a nossa pátria definitiva não é aqui. Somos cidadãos do Céu.

 

“Nas tempestades da vida, nos momentos de desorientação, o homem não pode contar apenas com as próprias forças. É preciso ter fé e recordar que Deus pode nos salvar de todas as tempestades”. Foram as palavras do Cardeal Angelo Comastri, arcipreste da Basílica de São Pedro, lembrando da tempestade no Mar da Galileia, com os Apóstolos temerosos acordando Jesus. “Temos que recordar sempre que Deus pode nos tirar de todas as tempestades, desde que tenhamos fé e abramos o nosso coração a Ele”. Oração com fé e humildade.

 

Se de um lado devemos recorrer à oração, com confiança em Deus, por outro lado devemos usar todos os recursos, prevenções e assepsias que os médicos e os profissionais da saúde nos recomendam. Jesus disse: “Os doentes precisam de médico” (Mt 9, 12).

 

E não devemos “tentar a Deus”, ou seja, fazer coisas imprudentes e perigosas para a nossa saúde, confiando erradamente que Deus nos protegerá (Mt 4, 7). Prevenção e cuidados. Ouvindo o que nos dizem os médicos, todos devemos ser vacinados, evitar aglomerações, usar máscaras, lavar as mãos e usar álcool para assepsia.

 

Essa calamidade nos ensina ainda que todos somos iguais em natureza, sem distinção de classes, cor, nacionalidade, sexo, etc., fracos e débeis, precisando sempre e dependentes uns dos outros. Isso nos obriga a cuidarmos uns dos outros, à solidariedade e à caridade.

 

Que Maria Santíssima, saúde dos enfermos, nos proteja.

 

 

Fonte: Dom Fernando Arêas Rifan


segunda-feira, abril 19, 2021

III DOMINGO DA PÁSCOA








O caminho da fé não é o caminho das evidências materiais, das provas palpáveis, das demonstrações científicas; mas é um caminho que se percorre com o coração aberto à revelação de Deus, pronto para acolher a experiência de Deus e da vida nova que Ele quer oferecer. Foi esse o caminho que os discípulos percorreram. No final desse caminho (que, como caminho pessoal, para uns demorou mais e para outros demorou menos), eles experimentaram, sem margem para dúvidas, que Jesus estava vivo, que caminhava com eles pelos caminhos da história e que continuava a oferecer-lhes a vida de Deus. Eles começaram a percorrer esse caminho com dúvidas e incertezas; mas fizeram a experiência de encontro com Cristo vivo e chegaram à certeza da ressurreição. É essa certeza que os relatos da ressurreição, na sua linguagem muito própria, procuram transmitir-nos.

Na catequese de Lucas há elementos que importa pôr em relevo:

1. Ao longo da sua caminhada de fé, os discípulos descobriram a presença de Jesus, vivo e ressuscitado, no meio da sua comunidade. Perceberam que Ele continua a ser o centro à volta do qual a comunidade se constrói e se articula. Entenderam que Jesus derrama sobre a sua comunidade em marcha pela história a paz (o "shalom" hebraico, no sentido de harmonia, serenidade, tranquilidade, confiança, vida plena - verso 36).

2. Esse Jesus, vivo e ressuscitado, é o filho de Deus que, após caminhar com os homens, reentrou no mundo de Deus. O "espanto" e o "medo" com que os discípulos acolhem Jesus são, no contexto bíblico, a reação normal e habitual do homem diante da divindade (vers. 37). Jesus não é um homem reanimado para a vida que levava antes, mas o Deus que reentrou definitivamente na esfera divina.

3. As dúvidas dos discípulos dão conta dessa dificuldade que eles sentiram em percorrer o caminho da fé, até ao encontro pessoal com o Senhor ressuscitado. A ressurreição não foi, para os discípulos, um fato imediatamente evidente, mas uma caminhada de amadurecimento da própria fé, até chegar à experiência do Senhor ressuscitado (vers. 38).

4. Na catequese/descrição de Lucas, certos elementos mais "sensíveis" e materiais (a insistência no "tocar" em Jesus para ver que Ele não era um fantasma -  são, antes de mais, uma forma de ensinar que a experiência de encontro dos discípulos com Jesus ressuscitado não foi uma ilusão ou um produto da imaginação, mas uma experiência muito forte e marcante, quase palpável. São, ainda, uma forma de dizer que esse Jesus que os discípulos encontraram, embora diferente e irreconhecível, é o mesmo que tinha andado com eles pelos caminhos da Palestina, anunciando-lhes e propondo-lhes a salvação de Deus. Finalmente, Lucas ensina também, com estes elementos, que Jesus ressuscitado não está ausente e distante, definitivamente longe do mundo em que os discípulos têm de continuar a caminhar; mas Ele continua, a sentar-Se à mesa com os discípulos, a estabelecer laços de familiaridade e de comunhão com eles, a partilhar os seus sonhos, as suas lutas, as suas esperanças, as suas dificuldades, os seus sofrimentos.

5. Jesus ressuscitado desvela aos discípulos o sentido profundo das Escrituras. A Escritura não só encontra em Jesus o seu cumprimento, mas também o seu intérprete. A comunidade de Jesus que caminha pela vida deve, continuamente, reunir-se à volta de Jesus ressuscitado para escutar a Palavra que alimenta e que dá sentido à sua caminhada histórica (vers. 44-46).

6. Os discípulos, alimentados por essa Palavra, recebem de Jesus a missão de dar testemunho diante de "todas as nações, começando por Jerusalém". O anúncio dos discípulos terá como tema central a morte e ressurreição de Jesus, o libertador anunciado por Deus desde sempre. A finalidade da missão da Igreja de Jesus (os discípulos) é pregar o arrependimento e o perdão dos pecados a todos os homens e mulheres, propondo-lhes a opção pela vida nova de Deus, pela salvação, pela vida eterna (vers. 47-48).

















segunda-feira, abril 12, 2021

II DOMINGO DE PÁSCOA









Antes de mais, a catequese que João nos apresenta garante-nos a presença de Cristo no meio da sua comunidade em marcha pela história. Os discípulos de Jesus vivem no mundo, numa situação de fragilidade e de debilidade; experimentam, como os outros homens e mulheres, o sofrimento, o desalento, a frustração, o desânimo; têm medo quando o mundo escolhe caminhos de guerra e de violência; sofrem quando são atingidos pela injustiça, pela opressão, pelo ódio do mundo; conhecem a perseguição, a incompreensão e a morte... Mas são sempre animados pela esperança, pois sabem que Jesus está presente, oferecendo-lhes a sua paz e apontando-lhes o horizonte da vida definitiva. O cristão é sempre animado pela esperança que brota da presença a seu lado de Cristo ressuscitado. Não devemos, nunca, esquecer esta realidade.

 

A presença de Cristo ao lado dos seus discípulos é sempre uma presença renovadora e transformadora. É esse Espírito que Jesus oferece continuamente aos seus, que faz deles homens e mulheres novos, capazes de amar até ao fim, ao jeito de Jesus; é esse Espírito que Jesus oferece aos seus, que faz deles testemunhas do amor de Deus e que lhes dá a coragem e a generosidade para continuarem no mundo a obra de Jesus.

 

A comunidade cristã gira em torno de Jesus é construída à volta de Jesus e é de Jesus que recebe vida, amor e paz. Sem Jesus, estaremos secos e estéreis, incapazes de encontrar a vida em plenitude; sem Ele, seremos um rebanho de gente assustada, incapaz de enfrentar o mundo e de ter uma atitude construtiva e transformadora; sem Ele, estaremos divididos, em conflito, e não seremos uma comunidade de irmãos... Na nossa comunidade, Cristo é verdadeiramente o centro? É para Ele que tudo tende e é Dele  que tudo parte?

 

A comunidade tem de ser o lugar onde fazemos, verdadeiramente, a experiência do encontro com Jesus ressuscitado. É nos gestos de amor, de partilha, de serviço, de encontro, de fraternidade (no "lado trespassado" e nas chagas de Jesus, expressões do seu amor), que encontramos Jesus vivo, a transformar e a renovar o mundo.

 

Por fim, o encontro com o Senhor ressuscitado comporta também um envio missionário. Jesus entra no cenáculo e entrega o seu Espírito Santo para os Apóstolos com a missão de perdoar os pecados. O dom do Espírito Santo é sempre oferecido com uma finalidade missionária. No Evangelho que ouvimos, a finalidade é levar o perdão dos pecados. Hoje, comemoramos o Domingo da Divina Misericórdia. O perdão dos pecados é a grande manifestação da Divina Misericórdia para o mundo e para a humanidade. O perdão dos pecados é um gesto do amor divino. Se o pecado provoca a morte, o perdão restaura a vida. Jesus oferece à sua Igreja o dom de perdoar os pecados pelo Sacramento da Penitência. A Confissão, a celebração da Penitência, não é invenção da Igreja, é missão que a Igreja recebeu de Jesus Cristo ressuscitado para manifestar a misericórdia divina no perdão dos pecados.
















sexta-feira, abril 09, 2021

CRISTO VENCEU A MORTE





Estamos na semana da Páscoa, maior festa do calendário cristão, celebração da gloriosa Ressurreição de Jesus Cristo, a sua vitória sobre o pecado, sobre a morte e sobre a aparente derrota da Cruz. Cristo ressuscitou glorioso e triunfante para nunca mais morrer, dando-nos o penhor da nossa vitória e da nossa ressurreição. Choramos a sua Paixão e nos alegramos com a vitória da sua Ressurreição. Para se chegar a ela, para vencer com ele, aprendemos que é preciso sofrer com ele: “Quem quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16,24). A morte não é o fim. O Calvário não foi o fim. Foi o começo de uma redenção, de uma nova vida. A Páscoa é, portanto, a festa da alegria e a da esperança na vitória futura.

 

“Cristo rompeu a perpetuidade da morte, transformando-a de eterna em temporal. Pois, como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos reviverão (1 Cor 15,2)” (São Leão Magno, Papa).

 

“Ressoa na Igreja espalhada por todo o mundo o anúncio do anjo às mulheres: ‘Não tenhais medo. Sei que buscais Jesus, o crucificado; não está aqui, pois ressuscitou. Vinde, vede o lugar onde jazia’ (Mt 28, 5-6). Este é o ponto culminante do Evangelho, é a Boa Nova por excelência: Jesus, o crucificado, ressuscitou! Este acontecimento está na base da nossa fé e da nossa esperança” (Papa Francisco).

 

Mesmo tendo sido profetizada por Jesus em diversas ocasiões, como sendo o maior de todas os sinais da sua divindade, os Apóstolos demoraram a crer nela. Eles estavam apavorados com a prisão, o julgamento, a paixão e a morte de Jesus, seu Mestre, e com medo de que o mesmo poderia acontecer com eles. A suposição de que eles poderiam roubar o corpo de Jesus é completamente sem fundamento. Os inimigos de Jesus, fariseus e chefes religiosos, sabiam que ele profetizara sua ressurreição no terceiro dia. Por isso foram a Pilatos e pediram que mandasse soldados guardar com segurança o sepulcro de Jesus, o que foi feito: “puseram em segurança o sepulcro, lacrando a pedra e colocando a guarda” (Mt 27, 66). O fato da ressurreição de Jesus não foi algo inventado pelos Apóstolos, eles mesmos incrédulos e temerosos. Só foram convencidos quando foram ao sepulcro e o encontraram vazio, conforme relataram as santas mulheres, que lá foram primeiro para terminar a unção de seu corpo. Foram convencidos mais ainda quando o Senhor lhes apareceu, mostrou-lhes as chagas e tomou refeição com eles no Cenáculo. Tomé, representando a incredulidade de muitos, só acreditou depois que Jesus lhe fez colocar a mão nas suas chagas e penetrar no seu lado aberto pela lança.

 

Lamentamos profundamente a morte dos nossos amigos e familiares por essa pandemia. Mas, como cristãos, vivemos de esperança. Cristo venceu a morte e nós também a venceremos e nos encontraremos todos, como esperamos, no Céu junto dele. Foi sua promessa. Ele nos resgatou do pecado e da morte. E nos garantiu: “Não se perturbe o vosso coração!... Vou preparar-vos um lugar” (Jo 14, 1-2).

 

Fonte: Dom Fernando Arêas Rifan


terça-feira, abril 06, 2021

MISSA DOMINGO DA PÁSCOA DE JESUS

 





1 – Votos de feliz Páscoa

Faço votos de feliz Páscoa a cada um de vocês, às suas famílias e a toda nossa comunidade. O que significa para nós celebrar, hoje, o Domingo da Páscoa, considerando a experiência dolorosa da pandemia? Se na Sexta-feira Santa, a pandemia mantinha uma relação muito estreita com o sofrimento e a morte de Jesus, hoje, a sua realidade nos provoca a cantar canções de esperança. Sim, os sustos, as cicatrizes, os traumas... tudo isso continua e, em alguns irmãos e irmãs, continuará marcando suas vidas por longo tempo. Podemos permanecer num canto chorando a derrota para o vírus da Covid 19, podemos nos esconder em tristezas de luto, como fizeram os Apóstolos depois da morte de Jesus, ou podemos entrar no caminho da esperança e acender a luz da nossa fé porque Jesus ressuscitou. 

 

2 – A madrugada de Maria Madalena

O nosso contexto social, marcado pela crise que atravessamos e pela retomada das atividades sociais, encontra na figura de Maria Madalena uma referência da nossa reflexão. João diz que Madalena vai bem de madrugada para o jardim onde Jesus tinha sido sepultado. É uma cena que vemos sendo repetida em tantas situações. Como Madalena, tantas vezes nos colocamos a procura do Senhor nas madrugadas de nossas vidas. A madrugada é um tempo de lusco fusco, um tempo ainda escurecido, sem muita luz. O acendimento do sol, o brilho do sol, é a Ressurreição de Jesus. Sim, todos sentimos que fomos jogados em algum tipo de madrugada, e nossas vidas ficaram um pouco escurecidas. Hoje, Maria Madalena, depois do susto, é exemplo de quem espera o sol da vida plena aparecer para encher sua vida de esperança. É tempo de deixar a madrugada, de deixar a escuridão da noite de tristezas e medos para acender a luz da Ressurreição, da vida nova que se encontra em Jesus.

 

3 – Testemunho e coerência de vida

A luz da Ressurreição é a luz da fé. Só compreendemos a Ressureição pela fé. Os discípulos correm, o que chega primeiro olha para dentro e só vê panos dobrados. Quando chega Pedro e entram no túmulo vazio, compreendem o que aconteceu. Este é o grande exemplo: entrar dentro da Ressurreição de Jesus Cristo. Hoje, não podemos entrar no túmulo onde Jesus foi sepultado. O nosso modo de tomar contato com a Ressurreição de Jesus é sugerido por Paulo, na 2ª leitura, com dois verbos: esforçar-se e aspirar. As nossas vidas, dizia a 2ª leitura, encontram sentido pleno se iluminadas com a luz da Ressurreição de Jesus. Por isso, os verbos esforçar-se e aspirar. Esforço para não aumentar o coro dos reclamadores, mas buscar as coisas do alto e, a aspiração para valorizar sempre mais o que vem de Deus. Gostaria de concluir minha reflexão pedindo que digamos todos juntos: Jesus Cristo ressuscitou! Verdadeiramente ressuscitou, aleluia, aleluia! 






segunda-feira, abril 05, 2021

MISSA VIGÍLIA DA PÁSCOA




 




1 – O anúncio Pascal

Com muita alegria desejo Feliz Páscoa a cada um de vocês que, nesta Noite Santa, proclama e faz memória da Ressurreição do Senhor. Meus votos são extensivos também aos vossos familiares, de modo muito especial, a quem se encontra enfermo em nossa comunidade. Desejo feliz Páscoa a quem foi resiliente no decorrer de todas as tribulações e agressividades que sofremos no decorrer de 2020. Precisamos concordar que a pandemia abriu nossos olhos para a debilidade humana. Uma demonstração que nos faz perguntar: será que nossa vida tem tanto valor a ponto de tudo terminar com a morte? A resposta, do ponto de vista divino, é “não”. Nossa vida tem grande valor diante de Deus. Tanto nos ama que jamais permitirá que nossa vida termine com a morte e nem termine na morte. Deus não nos quer mortos, quer que vivamos e participemos eternamente da sua vida. Este é o grande anúncio pascal neste tempo tão turbulento e marcado por um novo começo. 

 

2 – Promessa de vida plena

Num tempo de grande provação que atingiu nossas vidas tão fortemente, especialmente para aqueles que perderam entes queridos, é confortante recordar o canto do salmista dizendo: “vós tirastes minha alma dos abismos e me salvastes, quando estava já morrendo” (Sl 29). E, noutro salmo: “pois não me haveis de me deixar entregue à morte, nem vosso amigo conhecer a corrupção” (Sl 15). Existe um grito de fé nestes dois salmos que podemos colocar em nossos corações para fazer crescer a fé na Ressurreição de Jesus e na nossa ressurreição. Hoje, no dia que celebramos a vitória de Jesus sobre a morte, nós proclamamos nossa fé que Deus não deseja nossa morte, não quer que sejamos entregues à morte porque ele tem projetos de vida plena, de vida eterna, para cada um de nós. Nesta Noite Santa da Ressurreição de Jesus, rezo e convido a rezar pelas famílias que foram abaladas na fé; intercedamos juntos a graça de voltar a confiar, pois o sentido da vida encontra-se unicamente em Deus.

 

3 – A vida é mais forte e mais bela em Jesus

Na manhã da Ressurreição, o anjo aparece a algumas mulheres com um anúncio: “não vos assusteis! Vós procurais Jesus de Nazaré que foi crucificado? Ele ressuscitou, não está aqui!” Hoje, neste tempo de pandemia e crise, ouvimos o grito de tantas pessoas que perderam o amor, que perderam a luz da vida, que vivem procurando a vida em cemitérios e locais onde a vida não pode ser plena. Para estes, nós somos os anjos que anunciam a mesma mensagem: não procurem a vida entre os mortos; Jesus não está entre os mortos, ele ressuscitou. “Não procurem Jesus entre os mortos”; não procurem Deus na morte porque ele se encontra onde está a vida. Sim, o sofrimento e a dor pela perda de tantas pessoas machuca nosso coração, mas jamais pode nos cegar diante da evidência do amor divino que nos resgata para a vida e quer que vivamos plenamente. O Senhor ressuscitou, é tempo de esperança, é tempo de olhar a vida com a alegria de um tempo novo e repleto de esperança. O Senhor ressuscitou verdadeiramente, aleluia, aleluia.

 







sábado, abril 03, 2021

CELEBRAÇÃO DA PAIXÃO DE JESUS









1 – A violência vem ao encontro da humanidade

Durante o ano passado, e em parte, ainda neste ano, fomos agredidos pela violência da pandemia. A Covid 19 é uma peste violenta que silenciosamente agrediu a humanidade. A violência nem sempre é barulhenta; muitas vezes é silenciosa e causa estragos terríveis na vida das pessoas. Infelizmente, não foi somente a violência pandêmica que nos agrediu, também políticas atrapalhadas e corruptas atingiram a sociedade de modo violento. Seria injusto generalizar, mas quando vemos que foi gasto dinheiro para construir hospitais de campanha que sequer foram abertos e, olhamos para hospitais com pessoas amontoadas, então podemos ver a cara da violência feita pelo descaso e matando pessoas. Neste tempo de pandemia, pudemos ver o rosto do servo sofredor estampado em tantos homens e mulheres de todas as idades. Diante de tamanha covardia, o salmista retrata o coração do servo sofredor de nossos tempos: só pode esperar em Deus, por isso entrega-se completamente nas mãos de Deus. Neles continua ecoando o mesmo grito de Jesus: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?”

 

2 – Contemplar o sofrimento

Hoje, Sexta-feira Santa, é dia para contemplar o sofrimento. Não é um quadro agradável diante de nossos olhos, como fez Isaías, na 1ª leitura, e João, no Evangelho. Mas, o sofrimento é humano e por isso é importante considerar como olhamos o sofrimento e como olhamos o sofredor. Isaias, na 1ª leitura, fala de desvio do olhar. Não é fácil entrar em contato com o sofrimento pessoal e com o sofrimento do outro. Arrumamos desculpas, buscamos argumentos, criamos suposições para explicar o sofrimento. O “Servo Sofredor”, Jesus Cristo, acolheu o sofrimento com ansiedade, com temor, mas não se furtou a ele. Fez sua Páscoa, sua passagem pelo sofrimento. Isaías diz que o sofrimento faz alcançar uma ciência perfeita. Sim, porque o sofrimento coloca-nos em contato com nossa realidade existencial, com nossas fragilidades, com nossas fraquezas com aquilo que é essencial na vida. A sabedoria do sofrimento ensina-nos o caminho da humildade, da simplicidade da vida e da serenidade diante dos reveses da vida.

 

3 – Reagir ao sofrimento

Neste momento histórico que vivemos, marcado pela pandemia, provocadora de sofrimento, celebramos a Paixão do Senhor como um encontro da violência contra a vida divina. Jesus não buscou a violência; ele foi agredido e transfigurado pela violência. Quando Pedro reage com violência, Jesus manda Pedro guardar a espada. O segredo para resistir a violência não está na força e nem em se mostrar mais forte; o segredo está no amor. Toda violência precisa ser perdoada e isto só é possível pelo amor. É pelo amor que Jesus venceu a violência. Em tempo de sofrimento, como este, algumas escolhas parecem continuar sendo opções pela violência do descaso, pela violência do descuido com a saúde pública, pela violência da irresponsabilidade de poder contagiar outras vidas, pela violência de disputas políticas sem sentido... O julgamento de Jesus continua acontecendo e, como aconteceu com o Mestre, são os mais vulneráveis que sofrem condenações injustas e evitáveis. Não escolhamos a violência de Barrabás, escolhamos a vida de Jesus. Amém!

















MISSA DA SANTA CEIA





Páscoa é uma palavra de origem judaica com o significado de passagem. Fazer uma passagem é realizar uma Páscoa. A 1ª leitura e o Evangelho relatam duas celebrações pascais: aquela da Páscoa judaica, na 1ª leitura, e a Páscoa de Jesus, no Evangelho. São Paulo, na 2ª leitura, explica que na Páscoa celebrada com seus discípulos, Jesus instituiu a Eucaristia. Seja na páscoa judaica como na Páscoa de Jesus acontece a passagem de uma situação para outra situação existencial. A páscoa dos judeus fez a passagem da situação de povo escravo para a situação de povo livre. Para isso precisou passar, fazer sua páscoa, pelo deserto, que foi um tempo de provação e grandes desafios. Jesus também faz sua passagem de um modo de viver para outro modo de viver. O evangelista São João define este momento como a “hora”. A Páscoa de Jesus consiste dele passar pela morte. Depois da Ceia, no Monte das Oliveiras, Jesus passa por seu momento de deserto rodeado de angústia a ponto de suar sangue. No ano passado, também realizamos uma páscoa, uma passagem pelo deserto. Foi um tempo de provação, de sofrimento e de luto. A provação, o padecimento, o sofrimento fazem parte da páscoa: da páscoa dos judeus, da páscoa de Jesus e da passagem pela pandemia.

 

A Páscoa dos judeus foi realizada com altos e baixos. Entraram no deserto confiantes, mas logo perceberam que a passagem seria longa; começaram a murmurar e chegaram a ponto de trocar Deus pela idolatria. Os profetas sempre alertavam e pediam que o povo voltasse à fidelidade. Nem sempre tiveram êxito. Jesus tinha consciência que havia chegada a sua “hora”. O Evangelho diz que Jesus amou até o fim; não fez como os judeus; não murmurou e nem trocou Deus pela idolatria. Viveu na fé e na fidelidade ao projeto do Pai; e isto até o fim da sua vida. Jesus vive sua Páscoa traduzida num rito: levanta-se da mesa, despe as vestes de Mestre e se paramenta com um avental. Não faz um ensinamento com palavras, mas com um rito: a páscoa se faz entregando a vida pelo serviço; fazendo-se servidor de todos. A páscoa, a passagem da humanidade em 2020, foi realizada com análises de conjunturas sociais e financeiras, com reclamações e protestos, com depressões e luto. Mas, também com profetas da esperança e da alegria.

 

Nesta celebração da Quinta-feira Santa é preciso falar do Mandamento Novo como necessidade para vivermos a nossa páscoa, a nossa passagem na história deste ano. Diferente de Jesus, que se levantou, podemos ficar acomodados nas mesas dos analistas, dos reclamadores, dos amigos ou adversários políticos; na mesa dos acomodados. Em Cada uma das mesas fartando-se com comentários e estatísticas. A Eucaristia, desde aquela Quinta-feira Santa, nunca nos deixa sentados à mesa. Sempre nos oferece um avental e nos envia para servir. Sim, na páscoa da nossa história tão particular neste ano de 2021, podemos levantar da mesa, vestir o avental e nos dispor ao serviço, como pede o Mandamento Novo. Na passagem do tempo da pandemia para o a normalidade, é preciso se fazer servidor e ajudar quem está com medo do caminho, quem se enfraqueceu a ponto de não conseguir realizar a travessia. A Páscoa de Jesus nos inspira