segunda-feira, abril 30, 2018

SANTO ATANÁSIO, BISPO E DOUTOR DA IGREJA







 S. Atanásio nasceu em Alexandria do Egito, no ano de 295. De formação grega, foi bispo da sua cidade natal de 328 a 373. Participou no Concílio de Niceia, no ano 325. A sua oposição ao arianismo causou-lhe cinco exílios. Visitou Roma e Tréveris. Visitou os monges que viviam nos desertos do Egito. A vida de Santo Antão, que escreveu, teve enorme influência na difusão do monaquismo e no estilo de vida dos monges. Atanásio faleceu em Alexandria a 2 de Maio de 373.


 S. Atanásio aparece-nos como um homem de enorme importância para a definição do dogma cristão. Quando alguns quiseram reduzir Jesus a simples criatura humana, o bispo de Alexandria interveio vigorosamente para defender a fé católica. Foi o que sucedeu com a heresia de Ario, que afirmava que Jesus era simplesmente um homem grande, santo, adotado por Deus, mas não Filho de Deus. Havia bispos e imperadores que aceitavam esta teoria, porque era mais fácil de aceitar, porque não exigia, a adesão a um mistério inefável, incompreensível. Atanásio defendeu, sem hesitações, e arcando com as consequências – perseguições, exílios – esta verdade de fé, garantindo que se trata de um mistério do qual depende a nossa salvação. De fato, se Jesus não é Filho de Deus, nós não estamos nem redimidos nem salvos, pois a salvação é obra de Deus. O fiel tem uma existência atribulada e, para cúmulo, sem a evidência humana da vitória. É difícil acreditar que Jesus tenha vencido o mundo quando se sofrem perseguições. Mas não há vitória sem luta, sem passar pela paixão do Senhor. Acreditamos no mistério “total” de Jesus: o mistério de uma morte que desembocou na ressurreição. Um cristão não pode ficar espantado se, como Jesus, for perseguido. É condição para a vitória da fé, isto é, para continuar a acreditar, nas tribulações, que Deus nos ama e, se nos prova, é para nos dar bens maiores.


Rezemos com Sto. Atanásio:

“Os querubins são excelsos, mas, tu, ó Virgem, és mais excelsa do que eles; os querubins sustentam o trono de Deus, mas tu sustentas a Deus, nos teus braços. Os serafins estão diante de Deus, mas tu está mais do que eles: os querubins cobrem com as asas o próprio rosto, porque não pode olhar a glória perfeita, mas tu, não só contemplas o seu rosto, mas o acaricias e amamentas a sua boca santa. (Elogio da Mãe de Deus, de uma homilia de Sto. Atanásio).





V DOMINGO DA PÁSCOA, PRIMEIRA COMUNHÃO



Permanecer em Deus

No contexto do caminho espiritual, a vida cristã é um caminho que conduz ao encontro com Deus para com Deus “permanecer”. É o convite feito por Jesus, no Evangelho deste Domingo: “permanecei em mim”. Muitos autores da Teologia Espiritual cristã dizem que uma definição de Deus, dentre as mais belas, é esta: "Deus é aquele que permanece"; não muda. O permanecer em Deus, por isso, é a grande aspiração do coração humano: caminhar para encontrar-se com "aquele que permanece"; aquele que pode ser encontrado no amor (2L) e nele "permanecer" (E). Só tem condições de colher frutos na vida humana aquele que direciona sua vida para ir ao encontro de Jesus e nele permanecer como um ramo permanece na videira (E).

João, no início da 2ª leitura, convida a amar com atitudes concretas e com a verdade. Nosso conceito de verdade relaciona a adequação entre o pensamento e a realidade dos fatos. No conceito Bíblico “verdade” indica a atitude de "fidelidade", atitude de quem é fiel. Deus é verdadeiro porque é fiel, diz o Deuteronômio (Dt 7,9). Num contexto de pecado e de infidelidades da parte do povo — é aqui que retomamos nosso tema — Deus “permanece” verdadeiro, Deus “permanece” fiel em seu amor para com o povo. Diferente de Deus, que "permanece fiel" (verdadeiro), o homem é marcado pela instabilidade, de onde sua dificuldade de ser fiel, ser “verdadeiro”. Logicamente, para viver na fidelidade a Deus e cultivar o projeto divino em sua vida, em palavras e atitudes, o homem precisa “permanecer” em Deus e, para isso acontecer, necessita continuamente redirecionar o caminho para Deus. É o processo da conversão.

Converter-se significa refazer o caminho para enraizar-se — permanecer — na estabilidade de Deus. Aqueles que confiam no poder humano, em carros e cavalos, a Bíblia chama de loucos, porque sempre viverão na instabilidade da vida humana (Sl 20,7); são construtores de vidas sobre a areia, no dizer de Jesus (Mt 7,26-27). A estabilidade de uma pessoa, de uma família, de uma comunidade não está no poder humano, mas na força da fé. A segurança da vida não pode vir de outro homem, mesmo que esteja armado com o mais poderoso arsenal bélico, porque nada que é humano “permanece”. Sempre virá um outro mais forte e tomará o poder. Somente Deus é aquele que "permanece".


Permanecer em Jesus

O tema do "permanecer em mim" aparece no longo discurso de despedida de Jesus, proclamado no Evangelho deste Domingo. "Permanecer em mim" é o Mandamento dado por Jesus pouco antes de sua morte. Estudiosos de João dizem que João introduziu este discurso no seu Evangelho na situação de cansaço na sua comunidade eclesial. A inserção do ensinamento de Jesus, de nele permanecer, portanto, tinha a finalidade de recuperar este Mandamento do Senhor para não cair no desânimo e continuar sendo fiel no caminho do discipulado. Para isso, a necessidade imprescindível de "permanecer em Jesus".

A comparação de Jesus com a vinha tem dois aspectos, no processo do “permanecer”. Um aspecto remete à infidelidade do povo, no Antigo Testamento. Depois de ter conhecido e visto toda a dedicação de Deus para com sua vinha (Is 5; Ez 19,10-12), o povo caiu na infidelidade. O outro aspecto é a condição para se produzir frutos de vida no caminho do discipulado: não é possível produzir frutos se se estiver separado de Jesus. Quem viver distante de Jesus deixa de ser seu discípulo, secará e acabará consumido no fogo (E). Isso significa que a vida cristã só tem sentido e é verdadeiramente autentica se produz frutos.

A conclusão da parábola da vinha demonstra uma finalidade clara de "permanecer em Jesus": "nisto meu Pai é glorificado: que deis muitos frutos e vos torneis meus discípulos" (E). A glória de Deus é a presença da vida divina frutificando no meio da humanidade. A glorificação divina, a sua presença, não acontece pelo esplendor das catedrais e nas grandes concentrações de pessoas em congressos e jornadas, mas pelo fruto da vida divina sendo produzido em quem se faz discípulo e discípula de Jesus, no cotidiano da existência. Lá onde o discípulo e a discípula produzem frutos da vida divina, ali Deus é glorificado.







































domingo, abril 29, 2018

SANTA CATARINA DE SENA



PAPA EMÉRITO BENTO XVI


AUDIÊNCIA GERAL
Sala Paulo VI


Quarta-feira, 24 de Novembro de 2010 

Santa Catarina de Sena

Queridos irmãos e irmãs,

Hoje gostaria de vos falar sobre uma mulher que desempenhou um papel eminente na história da Igreja. Trata-se de Santa Catarina de Sena. O século em que ela viveu — o décimo quarto — foi uma época difícil para a vida da Igreja e de todo o tecido social, tanto na Itália como na Europa. Todavia, mesmo nos momentos de maior dificuldade, o Senhor não cessa de abençoar o seu Povo, suscitando Santos e Santas que despertam as mentes e os corações, levando a conversão e renovação. Catarina é uma delas, e ainda hoje nos fala e nos leva a caminhar com coragem rumo à santidade para sermos, de modo cada vez mais pleno, discípulos do Senhor.

Nasceu em Sena em 1347, numa família muito numerosa, e faleceu em Roma em 1380. Com 16 anos, impelida por uma visão de São Domingos, entrou na Terceira Ordem Dominicana, no ramo feminino chamado das Manteladas. Permanecendo em família, confirmou o voto de virgindade feita de modo particular, quando ainda era uma adolescente, dedicando-se à oração, à penitência e às obras de caridade, sobretudo em benefício dos enfermos.

Quando a fama da sua santidade se difundiu, foi protagonista de uma intensa actividade de conselho espiritual em relação a todas as categorias de pessoas: nobres e homens políticos, artistas e pessoas do povo, pessoas consagradas, eclesiásticos, inclusive o Papa Gregório xi que nesse período residia em Avinhão e que Catarina exortou enérgica e eficazmente a regressar a Roma. Viajou muito para solicitar a reforma interior da Igreja e para favorecer a paz entre os Estados: também por este motivo, o Venerável João Paulo II quis declará-la co-Padroeira da Europa: o Velho Continente nunca esqueça as raízes cristãs que estão na essência do seu caminho e continue a haurir do Evangelho os valores fundamentais que asseguram a justiça e a concórdia.

Catarina sofreu muito, como numerosos Santos. Chegou-se mesmo a pensar que era necessário desconfiar dela, a tal ponto que, em 1374, seis anos antes da sua morte, o capítulo geral dos Dominicanos a convocou em Florença para a interrogar. Puseram ao seu lado um frade douto e humilde, Raimundo de Cápua, futuro Mestre-Geral da Ordem. Tendo-se tornado seu confessor e também seu «filho espiritual», escreveu uma primeira biografia completa da Santa. Ela foi canonizada em 1461.

A doutrina de Catarina, que aprendeu a ler com dificuldade e a escrever quando já era adulta, está contida em O Diálogo da Providência Divina, ou seja, Livro da Doutrina Divina, uma obra-prima da literatura espiritual, no seu Epistolário e na colectânea das suas Orações. O seu ensinamento é dotado de uma riqueza tão profunda, que o Servo de Deus Paulo VI, em 1970, a declarou Doutora da Igreja, título que se acrescentava ao de co-Padroeira da cidade de Roma, por desejo do Beato Pio IX, e de Padroeira da Itália, segundo a decisão do Venerável Pio XII.

Numa visão que nunca mais se cancelou do coração e da mente de Catarina, Nossa Senhora apresentou-a a Jesus, que lhe confiou um anel maravilhoso, dizendo-lhe: «Eu, teu Criador e Salvador, desposo-te na fé, que conservarás sempre pura, até quando celebrares comigo no Céu as tuas bodas eternas» (Raimundo de Cápua, Santa Catarina de Sena, Legenda maior, n. 115, Sena 1998). Aquele anel permaneceu visível unicamente para ela. Neste episódio extraordinário vemos o centro vital da religiosidade de Catarina e de toda a espiritualidade autêntica: o cristocentrismo. Cristo é para ela como o esposo, com quem está em relação de intimidade, de comunhão e de fidelidade; é o bem-amado acima de qualquer outro bem.

Esta profunda união com o Senhor é ilustrada por outro episódio tirado da vida desta insigne mística: a troca do coração. Segundo Raimundo de Cápua, que transmite as confidências recebidas de Catarina, o Senhor Jesus apareceu-lhe tendo na mão um coração humano vermelho resplandecente, abriu-lhe o peito, introduziu-o nele e disse-lhe: «Caríssima filhinha, dado que no outro dia tomei o teu coração, que tu me oferecias, eis que agora te concedo o meu, e doravante estará no lugar que o teu ocupava» (Ibidem). Catarina viveu verdadeiramente as palavras de São Paulo, «... já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim» (Gl 2, 20).

Como a Santa de Sena, cada fiel sente a necessidade de se uniformizar com os sentimentos do Coração de Cristo para amar a Deus e ao próximo como o próprio Cristo ama. E todos nós podemos deixar-nos transformar o coração e aprender a amar como Cristo, numa familiaridade com Ele alimentada pela oração, pela meditação sobre a Palavra de Deus e pelos Sacramentos, principalmente recebendo de maneira frequente e com devoção a Sagrada Comunhão. Também Catarina pertence àquela plêiade de Santos eucarísticos, com a qual eu quis concluir a minha Exortação Apostólica Sacramentum caritatis (cf. n. 94). Estimados irmãos e irmãs, a Eucaristia é uma dádiva extraordinária de amor que Deus nos renova continuamente para alimentar o nosso caminho de fé, revigorar a nossa esperança e inflamar a nossa caridade, para nos tornar cada vez mais semelhantes a Ele.

Em volta de uma personalidade tão vigorosa e autêntica, foi-se constituindo uma verdadeira família espiritual. Tratava-se de pessoas fascinadas pela respeitabilidade moral desta jovem mulher de elevadíssimo nível de vida, e por vezes impressionadas também pelos fenómenos místicos aos quais assistiam, como os frequentes êxtases. Muitos se puseram ao seu serviço e sobretudo consideraram um privilégio ser orientados espiritualmente por Catarina. Chamavam-lhe «mãezinha», porque como filhos espirituais dela recebiam o alimento do espírito.

Também hoje a Igreja recebe um grande benefício do exercício da maternidade espiritual de numerosas mulheres, consagradas e leigas, que alimentam nas almas o pensamento de Deus, revigoram a fé das pessoas e orientam a vida cristã rumo a metas cada vez mais elevadas. «Digo-vos e chamo-vos filho — escreve Catarina, dirigindo-se a um dos seus filhos espirituais, o cartuxo Giovanni Sabbatini — enquanto vos dou à luz mediante contínuas orações e desejos diante de Deus, do mesmo modo como uma mãe dá à luz o seu filho» (Epistolário, Carta n. 141: A dom Giovanni de Sabbatini). Ao frade dominicano Bartolomeu de Dominici, ela estava habituada a dirigir-se com estas expressões: «Amadíssimo e caríssimo irmão e filhinho em Cristo, dócil Jesus».

Outra característica da espiritualidade de Catarina está vinculada ao dom das lágrimas. Elas exprimem uma sensibilidade sublime e profunda, uma capacidade de comoção e de ternura. Não poucos Santos tiveram o dom das lágrimas, renovando a emoção do próprio Jesus, que não impediu nem escondeu o seu pranto diante do sepulcro do amigo Lázaro e do sofrimento de Maria e de Marta, e da visão de Jerusalém nos seus últimos dias terrenos. Segundo Catarina, as lágrimas dos Santos misturam-se com o Sangue de Cristo, do qual ela falava com tonalidades vibrantes e imagens simbólicas muito eficazes: «Recordai Cristo crucificado, Deus e homem (...). Ponde-vos como objectivo Cristo crucificado, escondei-vos nas chagas de Cristo crucificado, afogai-vos no sangue de Cristo crucificado» (Epistolário, Carta n. 21: A alguém sobre cujo nome não se pronuncia).

Aqui podemos compreender por que motivo Catarina, embora estivesse consciente das faltas humanas dos sacerdotes, sempre teve uma grandíssima reverência por eles: eles dispensam, através dos Sacramentos e da Palavra, a força salvífica do Sangue de Cristo. A Santa de Sena convidava sempre os ministros sagrados, até o Papa, a quem chamava «doce Cristo na terra», a serem fiéis às suas responsabilidades, impelida sempre e unicamente pelo seu amor profundo e constante pela Igreja. Antes de morrer, ela disse: «Partindo do corpo eu, na verdade consumi e entreguei a minha vida na Igreja e pela Santa Igreja, o que é para mim uma graça extremamente singular» (Raimundo de Cápua, Santa Catarina de Sena, Legenda maior, n. 363).

Portanto, de Santa Catarina nós aprendemos a ciência mais sublime: conhecer e amar Jesus Cristo e a sua Igreja. No Diálogo da Providência Divina ela, com uma imagem singular, descreve Cristo como uma ponte lançada entre o céu e a terra. Ela é formada por três grandes escadas, constituídas pelos pés, pelo lado e pela boca de Jesus. Elevando-se através destas grandes escadas, a alma passa pelas três etapas de cada caminho de santificação: o afastamento do pecado, a prática da virtude e do amor, a união dócil e afectuosa com Deus.

Caros irmãos e irmãs, aprendamos de Santa Catarina a amar com coragem, de maneira intensa e sincera, Cristo e a Igreja. Por isso, façamos nossas as palavras de Santa Catarina, que podemos ler no Diálogo da Providência Divina, na conclusão do capítulo que fala de Cristo-ponte: «Por misericórdia Vós lavastes-nos no Sangue e por misericórdia desejastes dialogar com as criaturas. Ó Louco de amor! Não vos foi suficiente encarnar, mas também quisestes morrer! (...) Ó misericórdia! O meu coração ofega-me quando penso em Vós: para onde eu me dirija a pensar, mais não encontro do que misericórdia» (cap. 30, págs. 79-80).

Obrigado!

sábado, abril 28, 2018

SÃO PEDRO CHANEL


Pedro nasceu no dia 12 de julho de 1803, na pequena Cuet, França. Levado pelas mãos do zeloso pároco, iniciou os estudos no seminário local e, em 1824, foi para o de Bourg, onde três anos depois se ordenou sacerdote.

Desde jovem, queria ser missionário evangelizador, mas primeiro teve de trabalhar como pároco de Amberieu e Gex, pois havia carência de padres em sua pátria. Juntou-se a outros padres que tinham a mesma vocação e trabalhavam sob uma nova congregação, a dos maristas, dos quais foi um dos primeiros membros, e logo conseguiu embarcar para a Oceania, em 1827, na companhia de um irmão leigo, Nicézio.

Foi um trabalho lento e paciente. Os costumes eram muito diferentes, a cultura tão antagônica à do Ocidente, que primeiro ele teve de entender o povo para depois pregar a palavra de Cristo. Porém, assim que iniciou a evangelização, muitos jovens passaram a procurá-lo. O trabalho foi se expandindo e, logo, grande parte da população havia se convertido.

Ao perceber que vários membros de sua família haviam aderido ao cristianismo, Musumuso, o genro do cacique, matou Pedro Chanel a bordoadas de tacape. Era o dia 28 de abril de 1841.

Foi o fim da vida terrestre para o marista, entretanto a semente que plantara, Musumuso não poderia matar. Quando o missionário Pedro Chanel desembarcou na minúscula ilha de Futuna, um fragmento das ilhas Fiji entre o Equador e o Trópico de Capricórnio, não se pode dizer que o lugar fosse um paraíso.

A pequena ilha é dividida em duas por uma montanha central, e cada lado era habitado por uma tribo, que vivia em guerra permanente, uma contra a outra. Hoje o local é, sim, um paraíso para os milhares de turistas que a visitam anualmente e para a população, que é totalmente católica e vive na paz no Senhor.

E se hoje é assim, muito se deve à semente plantada pelo trabalho de Pedro Chanel, que por esse ideal deu seu testemunho de fé. O novo mártir cristão foi beatificado em 1889 e inscrito no Martirológio Romano em 1954, sendo declarado padroeiro da Oceania.

A Igreja também celebra hoje a memória dos santos: Luís Maria Grignion de Monfort, Valéria e Luquésio.

sexta-feira, abril 27, 2018

A PAZ, FRUTO DO AMOR, POR DOM FERNANDO RIFAN


Dom Fernando Arêas Rifan*

Em sua mensagem “Urbi et Orbi” pela Páscoa deste ano, o Papa Francisco nos exorta: “Jesus ressuscitou dos mortos. Ressoa na Igreja, por todo o mundo, este anúncio, juntamente com o cântico do Aleluia: Jesus é o Senhor, o Pai ressuscitou-O e Ele está vivo para sempre no meio de nós”. 

A morte é a destruição da semente que brota para a vida: “O próprio Jesus preanunciara a sua morte e ressurreição com a imagem do grão de trigo. Dizia: «Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto» (Jo 12, 24). Foi isto mesmo que aconteceu: Jesus, o grão de trigo semeado por Deus nos sulcos da terra, morreu vítima do pecado do mundo, permaneceu dois dias no sepulcro; mas, naquela sua morte, estava contida toda a força do amor de Deus, que se desencadeou e manifestou ao terceiro dia, aquele que celebramos hoje: a Páscoa de Cristo Senhor”.
“Nós, cristãos, acreditamos e sabemos que a ressurreição de Cristo é a verdadeira esperança do mundo, a esperança que não decepciona. É a força do grão de trigo, a do amor que se humilha e oferece até ao fim e que verdadeiramente renova o mundo. Esta força dá fruto também hoje nos sulcos da nossa história, marcada por tantas injustiças e violências. Dá frutos de esperança e dignidade onde há miséria e exclusão, onde há fome e falta trabalho, no meio dos deslocados e refugiados – frequentemente rejeitados pela cultura atual do descarte – das vítimas do narcotráfico, do tráfico de pessoas e da escravidão dos nossos tempos”.
“E nós, hoje, pedimos frutos de paz para o mundo inteiro, a começar pela amada e martirizada Síria, cuja população se encontra exausta por uma guerra sem um fim à vista. Nesta Páscoa, a luz de Cristo Ressuscitado ilumine as consciências de todos os responsáveis políticos e militares, para que se ponha imediatamente termo ao extermínio em curso, respeite o direito humanitário e proveja a facilitar o acesso às ajudas de que têm urgente necessidade estes nossos irmãos e irmãs, assegurando ao mesmo tempo condições adequadas para o regresso de quantos foram desalojados”.
“Frutos de reconciliação, imploramos para a Terra Santa, ferida, também nestes dias, por conflitos abertos que não poupam os indefesos... Frutos de consolação, suplicamos para o povo venezuelano, que vive – escreveram os seus Pastores – como que em «terra estrangeira» no seu próprio país”. 
“Também a nós, como às mulheres que acorreram ao sepulcro, é-nos dirigida esta palavra: ‘Porque buscais o Vivente entre os mortos? Não está aqui; ressuscitou!’ (Lc 24, 5-6). A morte, a solidão e o medo já não são a última palavra. Há uma palavra que vem depois e que só Deus pode pronunciar: é a palavra da Ressurreição. Com a força do amor de Deus, ela ‘afugenta os crimes, lava as culpas, restitui a inocência aos pecadores, dá alegria aos tristes, derruba os poderosos, dissipa os ódios, estabelece a concórdia e a paz’ (Precônio Pascal)”.





*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

quinta-feira, abril 26, 2018

518 ANOS DA PRIMEIRA MISSA NO BRASIL



Portinari



 Hoje fazem exatos 518 anos em que foi celebrada a primeira Missa no Brasil. Era um domingo, oitava da Páscoa e Frei Henrique de Coimbra que acompanhava os colonizadores ofereceu o Sacrifício de Cristo nestas terras, conhecida então como a Ilha de Santa Cruz.

 Em uma carta dirigida ao Rei de Portugal, D. Manuel, o aventureiro, Pero Vaz de Caminha, escrivão mor da esquadra, narra todos os detalhes do episódio que marca o início da História do Brasil.


 ''Ao domingo de Pascoela pela manhã, determinou o Capitão de ir ouvir missa e pregação naquele ilhéu. Mandou a todos os capitães que se aprestassem nos batéis e fossem com ele. E assim foi feito. Mandou naquele ilhéu armar um esperável, e dentro dele um altar mui bem corregido. E ali com todos nós outros fez dizer missa, a qual foi dita pelo padre frei Henrique, em voz entoada, e oficiada com aquela mesma voz pelos outros padres e sacerdotes, que todos eram ali. A qual missa, segundo meu parecer, foi ouvida por todos com muito prazer e devoção.

 Ali era com o Capitão a bandeira de Cristo, com que saiu de Belém, a qual esteve sempre levantada, da parte do Evangelho.

 Acabada a missa, desvestiu-se o padre e subiu a uma cadeira alta; e nós todos lançados por essa areia. E pregou uma solene e proveitosa pregação da história do Evangelho, ao fim da qual tratou da nossa vinda e do achamento desta terra, conformando-se com o sinal da Cruz, sob cuja obediência viemos, o que foi muito a propósito e fez muita devoção.

 Enquanto estivemos à missa e à pregação, seria na praia outra tanta gente, pouco mais ou menos como a de ontem, com seus arcos e setas, a qual andava folgando. E olhando-nos, sentaram-se. E, depois de acabada a missa, assentados nós à pregação, levantaram-se muitos deles, tangeram corno ou buzina, e começaram a saltar e dançar um pedaço.''

Pintura
 de Victor Meirelles



HISTÓRIA DE NOSSA SENHORA DO BOM CONSELHO


Origens

Nossa Senhora do Bom Conselho é um dos títulos da Virgem Maria. O centro dessa devoção está em um ícone da Virgem. Este ícone está hoje exposto na cidade de Genazzano, Itália, na Igreja dedicada a ela. As origens desse ícone estão mescladas a histórias fantásticas e milagres. A história se divide em duas partes. A grande maioria dos relatos relaciona o ícone de Nossa Senhora de Shkodra, que significa Bom Conselho, venerada na Albânia e o ícone que é hoje venerado em Genazzano.

O começo da história na Albânia

Na Albânia, a Virgem Maria era venerada há séculos sob este e vários outros títulos. Havia no país várias capelas dedicadas a ela. Uma delas, especialmente, tornou-se um grande centro de peregrinações no tempo das guerras contra os turcos Otomanos. Trata-se da Capela de Shkodra, que significa “Bom Conselho”. Lá, havia um ícone de Nossa Senhora que era venerado.

O ícone sai da capela

Certo dia, a cidade foi cercada pelos Otomanos. Então, dois albaneses muito devotos da Virgem, postaram-se diante da imagem e pediram a graça de escapar com segurança. Neste momento o ícone soltou-se do altar e, flutuando no ar, saiu da capela. Os dois homens, chamados De Sclavis e Gjorgji, seguiram o ícone flutuante. Seguindo a imagem, eles escaparam do cerco e chegaram a Roma. Lá, o ícone desapareceu.

Redescoberta do ícone

Passado algum tempo, os dois ouviram falar sobre uma imagem de Nossa Senhora que tinha aparecido milagrosamente na cidade de Genazzano. Decidiram, então, ir para lá. Ao chegarem, reconheceram de pronto a imagem como sendo a mesma que era venerada em Shkodra e que os tinha guiado até Roma. Por isso, os dois decidiram fixar moradia em Genazzano.

Igreja

O tempo passou. Então, o Papa Sisto III pediu ajuda a todos os fiéis para efetuar restaurações na Basílica de Santa Maria Maggiore. O povo de Genazzano destacou-se pela generosidade. Por isso, o papa doou à cidade um terreno. Nele, foi erguida uma bela igreja dedicada a Nossa Senhora do Bom Conselho. Mas o tempo passou, a igreja ficou sem cuidados e caiu em ruínas.

Ruínas e restauração

No ano 1467, Petruccia de Geneo, viúva e moradora no local, sentiu o impulso de começar uma restauração da igreja, usando recursos próprios, que não eram muitos. Sem conseguir ajuda do povo, ela acabou gastando tudo o que tinha e, mesmo assim, não conseguiu terminar as obras. Aconteceu que, no dia da festa de São Marcos, 25 de abril de 1467, o povo se reuniu para a festa. Perto das 16h, todos ouviram uma bela música. Procuraram, então, saber de onde ela vinha. Então, todos viram uma nuvem, que se destacava num céu sem nuvens. A tal nuvem desceu e cobriu uma das paredes da igreja, que se encontrava inacabada. Lá, a nuvem permaneceu por um tempo. Ao se dissipar a nuvem, o povo, atônito, viu na parede a pintura de Nossa Senhora com o Menino Jesus. Nesse momento, os sinos começaram a badalar sozinhos. Isso atraiu pessoas de vários lugares, que, curiosas, vinham ver o que estava acontecendo. A própria dona Petruccia, foi uma das que vieram depressa, e quando viu a imagem caiu em choro.

Peregrinações e milagres

Depois disso, a notícia se espalhou rapidamente por toda a Itália. Então, peregrinos de todos os lugares começaram a acorrer para lá. Começou-se a constatar, então, vários milagres que aconteciam diante da pintura. O número desses milagres passou a ser tanto, que indicaram um notário. Este registrava as graças mais extraordinárias. Tal registro existe ainda e lista 171 milagres.

Imagem milagrosa

Além das graças acontecidas na capela, a imagem em si, permanece inexplicável. Desde o século XV ela permanece suspensa no ar, não tendo moldura nem fixação. Fica afastada cerca de três centímetros da parede e toca parcialmente uma base que fica em sua parte inferior. Vários relatos ao longo dos séculos afirmam que a fisionomia da Virgem se altera de acordo com algumas circunstâncias.

Na Albânia

O povo albanês não esqueceu Nossa Senhora do Bom Conselho. Ela ainda é festejada lá duas vezes ao ano. Na ocasião, eles pedem que ela volte para sua primeira casa na Albânia. O Papa Pio XII fez questão de colocar sua missão papal sob a proteção de Nossa Senhora do Bom Conselho.

Oração a Nossa Senhora do Bom Conselho

“Gloriosíssima Virgem, escolhida pelo Conselho Eterno para ser Mãe do Verbo Encarnado, tesoureira das divinas graças e advogada dos pecadores, eu, o mais indigno dos vossos servos, a Vós recorro, para que Vos digneis de ser o meu guia e conselho neste vale de lágrimas. Alcançai-me, pelo preciosíssimo Sangue de vosso Divino Filho, o perdão de meus pecados, a salvação da minha alma e os meios necessários para operá-la. Alcançai para a Santa Igreja o triunfo sobre os seus inimigos e a propagação do Reino de Jesus Cristo por toda a Terra. Assim seja.”

Fonte: http://cruzterrasanta.com.br/

terça-feira, abril 24, 2018

IV DOMINGO DA PÁSCOA





Valores existenciais de nossos dias

Os valores existenciais de nossos dias fazem com que a parábola do Bom Pastor pareça impraticável. Os principais valores de nossos tempos consideram o bem estar pessoal, o sucesso, uma carreira promissora com ganhos a curto prazo e assim por diante. A filosofia existencial de nossos dias, é preciso reconhecer, fala muito de amor, de respeito pelas diferenças e destaca o altruísmo nos momentos de tragédias... Mas, esquecer-se de si mesmo para se dedicar diariamente ao outro, para diariamente doar a vida, é um assunto pouco considerado e até rejeitado nos debates sociais. Hoje, a educação tem como objetivo o sucesso pessoal. Muitas escolas têm como meta preparar seus alunos para passar no vestibular; depois colocam um outdoor mostrando o sucesso do seu ensino. Não se percebe uma educação para a vida, mas para o sucesso pessoal. Quem consegue é aplaudido, quem não consegue é descartado. 


Dar a vida pelo bem do outro

Falava da dificuldade de acolher os valores da parábola do Bom Pastor porque a parábola contradiz a filosofia existencial que prega o empenho para se ter sucesso. Em vez de pensar no sucesso pessoal, Jesus repete por três vezes o mesmo refrão: “dar a vida pelas ovelhas”. Não sugere transformar a vida em sucesso pessoal, mas transformar a vida em oblação para o outro. Esta proposta de doação da vida não é noticiada e nem se mostra atrativa atualmente. Quando muito é admirada à distância. Hoje, celebramos o Dia de Oração pelas Vocações Sacerdotais e Religiosas. Não deveríamos pedir somente mais padres, mais religiosos, mais religiosas; precisamos interceder a Deus que chame pessoas para fazer de Jesus e do seu Evangelho a pedra angular de suas existências, como dizia a 1ª leitura, e para adotar o estilo de vida e a espiritualidade do Bom Pastor.

Dar a vida é o segredo da vida

O segredo da vida consiste em doar a vida. É o que se percebe quando meditamos a passagem do Bom Pastor. O que caracteriza a atividade do pastor, na Bíblia, é a doação da vida. Por três vezes, num breve texto, João menciona que o Bom Pastor doa sua vida. Diferente é a função do mercenário, que cuida das ovelhas por profissão, mais preocupado com seu salário que com as ovelhas. É assim que João descreve a identidade de Jesus, que deveria ser a nossa identidade de filhos e filhas de Deus, como ouvimos na 2ª leitura. A identidade de Jesus caracteriza-se pela prática do amor concreto e isto acontece pela doação da própria vida, para que o outro possa viver. Este é o modelo cristão de viver. Este é o segredo de uma vida feliz. Não viver para si mesmo, mas viver para doar a vida, como ensina a passagem do Bom Pastor. Do ponto de vista vocacional, esta é a proposta radical que vem do Bom Pastor: chamado para doar a vida a Deus e para o bem da humanidade. Amém!