quinta-feira, fevereiro 28, 2013

PONTIFICADO DE BENTO XVI CHEGA AO FIM

“A IGREJA É UM CORPO VIVO, ANIMADO PELO ESPÍRITO SANTO E VIVE REALMENTE DA FORÇA DE DEUS. ESTÁ NO MUNDO MAS NÃO É DO MUNDO. É DE DEUS, DE CRISTO, DO ESPÍRITO…”

A Igreja é uma realidade viva, que se transforma permanecendo sempre a mesma. O seu coração é Cristo. É através da Igreja que o mistério da encarnação permanece presente para sempre. Reflexões de Bento XVI, esta manhã, no encontro de despedida na Sala Clementina com os muitos cardeais já presentes em Roma. A poucas horas da conclusão deste pontificado, antes de iniciar o comovente gesto de saudação pessoal a cada um, o Papa Ratzinger assegurou que continuará a estar perto de todos eles, “especialmente (disse) nos próximos dias, para que sejais plenamente dóceis à ação do Espírito Santo, na eleição do novo Papa”.
“Que o Senhor vos mostre aquele que Ele quer. Entre vós, entre o Colégio dos Cardeais, está também o futuro Papa, ao qual já hoje prometo a minha incondicionada reverência e obediência”. E foi “com afeto e reconhecimento” que o Papa concedeu aos irmãos cardeais “de coração” uma derradeira “bênção apostólica”.

Cardeal decano Angelo Sodano a
ludira na sua saudação, o episódio dos discípulos de Emaús, e Bento XVI considerou ter sido uma alegria também para ele caminhar com os cardeais, nestes anos, à luz da presença do Senhor Ressuscitado. E recordou o que ontem, na audiência geral disse sobre a “grande ajuda” para o seu ministério que eles representaram.
“Nestes oito anos vivemos com fé momentos belíssimos de luz radiosa no caminho da Igreja, juntamente com momentos em que algumas nuvens se adensaram no céu”
Bento XVI referiu o “amor profundo e total” com que (disse) “procuramos servir Cristo e a sua Igreja”, observando que é esse amor “a alma do nosso ministério”. 
“Demos esperança, aquela esperança que nos vem de Cristo, a única que pode iluminar o nosso caminho”. 
Juntos podemos dar graças a Deus que nos fez crescer na comunhão e pedir-lhe juntos que nos ajude a crescer ainda mais neste unidade profunda… – prosseguiu… 
“Para que o Colégio dos Cardeais seja como uma orquestra onde a diversidade, expressão da Igreja universal, concorram sempre para a harmonia superior e concordia”.
A concluir, Bento XVI quis deixar aos cardeais “um pensamento simples sobre a Igreja, e o seu mistério”, que (disse) “constitui para nós a razão e a paixão da vida”. Uma expressão de Romano Guardini, na sua última obra, publicada no mesmo ano da Constituição conciliar “Lumen gentium”, sobre a Igreja:
“Diz Guardini: ‘A Igreja não é uma instituição elaborada e construída à mesa, mas sim uma realidade viva. Ela vive ao longo dos tempos, como todos os seres vivos, transformando-se, e contudo na sua natureza permanece sempre ela mesma. O seu coração é Cristo”.
Foi a experiência vivida ontem na Praça de São Pedro – observou Bento XVI.

Olhos concentrados sobre o Vaticano no momento em que Bento XVI partia, pouco depois das 17 horas, para Castel Gandolfo. Às 20 horas do dia 28/02 cessará oficialmente o seu ministério petrino. 
O helicóptero transportando Bento XVI aterrou em Castel Gandolfo às 17.24, sendo o Santo Padre acolhido pelo Cardeal Joseph Bertello, Presidente do Governatorato do Vaticano, por Dom Marcello Semeraro, bispo de Albano e ainda pela Presidente da Câmara e pelo Pároco de Castel Gandolfo. 
O Papa assomou à varanda central do Palácio de Castel Gandolfo para "o último ato público", saudando a população local, que o aplaudiu entusiasticamente. Bento XVI improvisou algumas palavras de agradecimento, declarando ter vindo agora na qualidade de "peregrino" que empreende a última fase da sua peregrinação terrena. Às 20 horas, ao iniciar a Sede Vacante, a Guarda Suíça cessa o serviço em Castel Gandolfo. Conclui o ministério de Bento XVI como Papa. 

A DESPEDIDA
Foi a primeira vez que a despedida de um Papa foi televisionado ao vivo. Bento XVI deixou sua casa dentro do Vaticano acompanhado por cardeais Angelo Comastri e Agostino Vallini. Por volta das 17:00, antes de entrar no carro que o levaria para o helicóptero, ele disse adeus ao pessoal no Vaticano. Às 5:05 pm, como os sinos da Basílica de São Pedro, tocou em toda a praça, o helicóptero decolou para Castel Gandolfo. O passeio levou Bento XVI em toda a Cidade Eterna, com um desvio ao longo de alguns dos principais marcos históricos, como o Coliseu ea Basílica de São João de Latrão .
Membro da Guarda Suíça fecha as portas da residência papal de verão, em Castel Gandolfo, para marcar o fim do pontificado de Bento XVI

Ao chegar em Castel Gandolfo, o Papa foi recebido pelo Cardeal Giuseppe Bertello, o bispo de Albano, assim como o prefeito da cidade.
A pequena caravana levou-o ao do Palácio Apostólico de Castel Gandolfo em cerca de 5:30 pm 
Milhares de peregrinos, saudaram com bandeiras,  aplaudido as últimas palavras de Bento XVI como Papa.
"Eu sou apenas um peregrino que começa sua última fase na Terra. Eu gostaria de, com todo o meu coração, a minha oração e minha reflexão, com toda a força dentro de mim, trabalhar para o bem comum e para o bem da Igreja e da humanidade. Eu me sinto muito apoiado pela sua simpatia. Sigamos em frente com o Senhor para o bem da Igreja e do mundo. Obrigado. Agora eu concedo sinceramente a minha Bênção ".
Às vezes, o seu discurso foi interrompido por aplausos e gritos de apoio. Depois de dar-lhes a bênção, Bento XVI disse adeus. Foi sua última aparição como Papa.

Ele também disse adeus através do Twitter , dizendo: "Obrigado por seu amor e apoio. Que você possa sempre experimentar a alegria que vem de colocar Cristo no centro de suas vidas"

 HOMENAGEM AO BENTO XVI
voz Roberto Miranda

No dia 1º de Março o Cardeal Decano Angelo Sodano convoca as Congregações Gerais dos Cardeais. Provavelmente, tais reuniões serão convocadas para se iniciarem a partir do dia 4. No âmbito destas reuniões os Cardeais estabelecerão a data de início do Conclave. 
NEWS.VA
VATICAN.VA
RADIOVATICANA
LOSSERVATOREROMANO.VA
ALETEIA
ROMEREPORTS




quarta-feira, fevereiro 27, 2013

BENTO XVI NA ÚLTIMA AUDIÊNCIA GERAL - 200 MIL FIÉIS NA PRAÇA DE SÃO PEDRO

Na véspera de deixar o ministério petrino (amanhã, quinta-feira, 28 de fevereiro, às 20 horas), o Papa quis, antes de mais, “dar graças de todo o coração a Deus, que guia e faz crescer a Igreja, que semeia a sua Palavra, alimentando assim a fé no seu Povo”.
Bento XVI alargou o seu olhar a toda a Igreja e a todo o mundo, assegurando levar a todos no coração, na oração, confiando tudo e todos ao Senhor. E declarou viver este momento com “grande confiança”, na certeza de que “a Palavra de verdade do Evangelho é a força da Igreja, é a sua vida”. “É esta a minha confiança, a minha alegria”.
Foi neste contexto que Bento XVI evocou o dia 19 de abril de 2005, quando assumiu o ministério de Pedro. Ouçamos as palavras com que, mais adiante nesta audiência, o Papa resumiu em português o essencial desta sua alocução: 

Queridos irmãos e irmãs,
No dia dezanove de Abril de dois mil e cinco, quando abracei o ministério petrino, disse ao Senhor: «É um peso grande que colocais aos meus ombros! Mas, se mo pedis, confiado na vossa palavra, lançarei as redes, seguro de que me guiareis». E, nestes quase oito anos, sempre senti que, na barca, está o Senhor; e sempre soube que a barca da Igreja não é minha, não é nossa, mas do Senhor. Entretanto não é só a Deus que quero agradecer neste momento. Um Papa não está sozinho na condução da barca de Pedro, embora lhe caiba a primeira responsabilidade; e o Senhor colocou ao meu lado muitas pessoas que me ajudaram e sustentaram. Porém, sentindo que as minhas forças tinham diminuído, pedi a Deus com insistência que me iluminasse com a sua luz para tomar a decisão mais justa, não para o meu bem, mas para o bem da Igreja. Dei este passo com plena consciência da sua gravidade e inovação, mas com uma profunda serenidade de espírito.

Na alocução mais desenvolvida, em italiano, Bento XVI convidou todos a renovarem a sua firme confiança no Senhor, a confiarem-se “como crianças nos braços de Deus (disse), na certeza de que esses braços sempre nos sustentam, permitindo-nos caminhar dia após dia, apesar da fadiga”. 
“Agradeçamos ao Senhor por cada um dos nossos dias, com a oração e com uma vida cristã coerente. Deus ama-nos, mas espera também que nós o amemos!” Mas não foi só a Deus que Bento XVI quis agradecer neste momento especial da sua vida e antes da conclusão do seu pontificado. Na verdade – recordou – “um Papa nunca está sozinho na condução da barca de Pedro, embora lhe toque a primeira responsabilidade”.

“Nunca me senti sozinho na (responsabilidade) de levar a alegria e o peso do ministério petrino. O Senhor pôs ao meu lado muitas pessoas que, com generosidade e amor a Deus e à Igreja, me ajudaram com a sua proximidade”.

E aqui o Papa mencionou expressamente: os cardeais, cuja “sageza, conselhos e amizade foram preciosos”, prosseguindo com os colaboradores mais diretos, desde o Secretário de Estado mas incluindo todos os que estão ao serviço da Santa Sé, muitos deles “na sombra, no silêncio e na dedicação quotidiana, com espírito de fé e de humildade”, “um apoio seguro e fiável”. Uma palavra de gratidão também ao Corpo Diplomático, representantes das Nações, e a “todos os que trabalham para uma boa comunicação”, um “importante serviço”. Menção de especial e afetuosa gratidão à “sua” diocese de Roma, a todos os irmãos no episcopado e no presbiterado, todos e todas as consagradas, e todo o Povo de Deus… “nas visitas pastorais, nos encontros, nas audiências, nas viagens, sempre adverti grande atenção e profundo afeto; mas também eu quis bem a todos e a cada um, sem distinções, com aquela caridade pastoral que é o coração de cada Pastor, sobretudo do Bispo de Roma, do Sucessor do Apóstolo Pedro. Cada dia levei na oração cada um de vós , com coração de pai”. 

Bento XVI agradeceu também de todo o coração as numerosas pessoas de todo o mundo que nas últimas semanas lhe enviaram – disse – “comoventes sinais de atenção, amizade e oração”.
“Sim, o Papa nunca está só, experimento-o agora uma vez mais, de um modo tão grande que toca o coração. O Papa pertence a todos e tantíssimas pessoas sentem-se muito perto dele”.

Não foram só os “grandes do mundo” (chefes de Estado, chefes religiosos, representantes do mundo da cultura…) a escrever – esclareceu Bento XVI. Chegaram-lhe “também muitas cartas de pessoas simples”, que exprimem o que o coração lhes dita mostrando “todo o seu afeto, que nasce do estar conjuntamente com Cristo Jesus, na Igreja”…

Bento XVI poderá ser chamado "Papa Emérito ou Romano Pontífice Emérito", esclareceu ontem o Padre Federico Lombardi durante o briefing com os jornalistas na Sala de Imprensa do Vaticano. Salientou igualmente que o Santo Padre está recebendo de todo o mundo muitas mensagens de parabéns, gratidão e apoio.

Joseph Ratzinger continuará a ser "Sua Santidade Bento XVI" e poderá ser chamado "Papa Emérito ou Romano Pontífice Emérito". Assim, o Diretor da Sala de Imprensa do Vaticano, Padre Federico Lombardi dissipou as perguntas recorrentes de jornalistas sobre como dirigir-se ao Pontífice depois de 28 de Fevereiro. A decisão sobre o nome foi tomada de acordo com o próprio Papa.


Na quinta-feira de manhã, às 11 horas, haverá a saudação pessoal dos cardeais que estiverem já em Roma. Às 16.55 Bento XVI do Pátio de São Dâmaso irá ao heliporto, onde receberá a saudação do Cardeal Decano. Vinte minutos depois, prevê-se a chegada em Castel Gandolfo, onde será recebido, entre outros, pelo cardeal Joseph Bertello, Presidente do Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano, pelo Bispo de Albano, Dom Marcello Semeraro, pelo prefeito e o Pároco de Castel Gandolfo. Por volta das 17.30, o Papa aparecerá na varanda central do Palácio Apostólico para "o último acto público". Às 20 horas, quando iniciar a Sede Vacante, a Guarda Suíça cessará o seu serviço em Castel Gandolfo terminando o ministério do Santo Padre como Papa. Provavelmente, fechará a porta de Castel Gandolfo, concluindo também o seu serviço de guarda.

O Cardeal Decano enviará no dia 1 de Março, quando a Sede Vacante tiver já iniciado, as cartas de convocação para as Congregações dos Cardeais. E "provavelmente - disse o Diretor da Sala de Imprensa do Vaticano – a primeira reunião não acontecerá antes de segunda-feira 4 de Março", e será na Nova Sala do Sínodo. Também esclareceu em seguida que os cardeais irão morar na residência Sanctae Marthae apenas nas vésperas do Conclave e que os quartos serão sorteados, conforme previsto pela Constituição.

domingo, fevereiro 24, 2013

II DOMINGO DA QUARESMA 2013

                                                                 
 EVANGELHO– Lc 9,28b-36  - Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago e subiu ao monte, para orar. Enquanto orava, alterou-se o aspecto do seu rosto e as suas vestes ficaram de uma brancura refulgente. Dois homens falavam com Ele: eram Moisés e Elias, que, tendo aparecido em glória, falavam da morte de Jesus, que ia consumar-se em Jerusalém.

Pedro e os companheiros estavam a cair de sono; mas, despertando, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com Ele. Quando estes se iam afastando,

Pedro disse a Jesus: “Mestre, como é bom estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Não sabia o que estava a dizer. Enquanto assim falava, veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra; e eles ficaram cheios de medo, ao entrarem na nuvem. Da nuvem saiu uma voz, que dizia: “Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O”.

Quando a voz se fez ouvir, Jesus ficou sozinho.

Os discípulos guardaram silêncio e, naqueles dias, a ninguém contaram nada do que tinham visto.
A Transfiguração de Jesus é um sinal e uma profecia daquilo que será nosso destino um dia. A este ponto nós poderíamos nos enganar, projetando o significado de nossa transfiguração totalmente para o futuro, no céu, depois de nossa morte. É um engano porque se a transfiguração em Cristo de nosso corpo acontecer no futuro, na ressurreição da carne, a transfiguração do coração deve acontecer agora! Sem está, aliás, não acontecerá aquela; nós devemos nos assimilar a Cristo no espírito, nos pensamentos, na vida, para que um dia, depois da vitória sobre o “último inimigo”, tudo isso possa arrastar para a luz também nosso corpo.
A vida cristã é uma transformação em Cristo: nós estamos já em Cristo, mas devemos nos tornar Cristo Jesus! São Paulo, que descreveu tão bem nosso ser em Cristo, fala de um desejo de que Cristo “seja formado”nos batizados (Gl 4,19), “até que tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo. 

É alguém cujo alimento é fazer a vontade do Pai; alguém que se deixa guiar estavelmente e docilmente pelo Espírito, ainda que este o conduza ao deserto, ao Tabor ou ao Getsêmani. 
O homem transformado em Cristo é um homem que ama os irmãos até dar a própria vida por eles (a vida, não a morte! Isto é, o próprio tempo, o afeto, a competência, os bens materiais); o homem transformado em Cristo é  alguém que se deixou envolver e seduzir apaixonadamente pelo Reino; que nada coloca acima do Reino; que por ele está disposto a doar tudo sem exigir nenhuma recompensa a não ser a pura e simples amizade com Jesus.
Uma comunhão de vida com Cristo que encontramos no sacramento da Eucaristia. Ela é o sacramento por excelência de nossa transfiguração em Cristo. “O efeito da Eucaristia é nos tornar aquilo que comemos” São Leão Magno; “Não é tu que me assimilarás – diz o Senhor – mas que assimilarei a ti”(Santo Agostinho) .

Depois da Eucaristia vem a oração.  Não há progresso em nossa assimilação em Cristo sem oração e sem aquele tipo de oração que Jesus hoje nos mostrou: a oração feita com calma, no silêncio, e, se possível, sozinho.

Ó DEUS, NÓS VOS RENDEMOS GRAÇAS PELA ESPERANÇA QUE INFUNDIS NO CORAÇÃO DOS VOSSOS FILHOS E FILHAS. JESUS TRANSFIGURADO TRANSFORMARÁ A NOSSA CONDIÇÃO TERRENA, CONFORMANDO-A AO SEU CORPO GLORIOSO. QUE NOSSA VIDA SEJA CONSTANTE TRANSFIGURAÇÃO E CONTÍNUA CAMINHADA AO VOSSO ENCONTRO. QUE NOSSAS ORAÇÕES E AÇÕES SEJAM TRANSFORMADORAS DOS ROSTOS DESFIGURADOS. POR CRISTO, NOSSO SENHOR. AMÉM!









PAPA BENTO XVI - ÚLTIMO ANGELUS


Em mensagem lida antes da oração do Ângelus, que ocorreu por volta das 12h (8h no Brasil), o Papa refletiu sobre um trecho do Evangelho e disse que continuará a servir a Igreja, mesmo após sua saída.
Segundo domingo da Quaresma. Último Angelus do Papa Bento XVI. Como sempre ao longo destes oito anos de pontificado, Bento XVI apareceu ao meio dia à janela dos seus aposentos sobre a Praça de São Pedro para a oração mariana do Angelus com os fiéis ali reunidos. 
Mas a Praça estava insolitamente repleta de fiéis vindos de vários cantos da Itália, do mundo, para o saudar, o agradecer, exprimir-lhe, mais uma vez, o imenso afeto e estima que têm e continuarão a ter por ele. "Acreditamos na Igreja una santa, católica e apostólica" diz um cartaz. Jovens, adultos, anciãos, romanos, peregrinos, turistas, policiais, voluntários, membros da Cruz Vermelha, da Proteção Civil… que desafiaram o frio e que lá estavam todos com os olhos voltados para a janela e de coração aberto para ouvir o Santo Padre… 
Bento XVI falou, como é costume, do texto evangélico da liturgia deste domingo: a Transfiguração do Senhor narrada por São Lucas. "Jesus que reza, numa espécie de retiro espiritual, juntamente com Pedro, Tiago e João, no Monte Tabor. Enquanto ora transfigura-se, como que oferecendo aos discípulos uma antecipação da sua glória, Ele que já tinha pré-anunciado a sua morte e ressurreição.
 Tal como no batismo ressoa" – frisa o Papa – a voz do Pai celeste. “Este é o meu filho, o eleito, escutai-o!”. Pedro, numa tentativa impossível de pôr termo àquela experiência mística diz “Maestro, como é belo para nós estar aqui”.
Meditando sobre este texto evangélico podemos tirar três ensinamentos muito importantes – disse Bento XVI.
“Antes de mais, a primazia da oração, sem a qual todo o empenho do apostolado e da caridade se reduz a ativismo. Na Quaresma aprendemos a dar o justo tempo à oração, pessoal e comunitária, que dá respiro à nossa vida espiritual. Além disso, a oração não é um isolar-se do mundo e das suas contradições, como Pedro queria que fosse no Monte Tabor, mas a oração é a recondução ao caminho, à ação”. 
Referindo-se depois à sua mensagem para a Quaresma, o Papa recordou também que “a existência cristã é um contínuo subir ao monte do encontro com Deus, descendo depois com o amor e a força que daí vem, por forma a servir os nossos irmãos e irmãs com o mesmo amor de Deus”. 
Palavras de Deus que o Papa – interrompido a este ponto duas vezes por intensos aplausos - disse sentir particularmente dirigida a eles neste momento da sua vida: 
“O Senhor me chama a “subir ao monte”, a dedicar-me ainda mais à oração e à meditação. Mas isto não significa abandonar a Igreja , antes pelo contrário, se Deus me pede isto é precisamente para que possa continuar a servi-la com a mesma dedicação e o mesmo amor com que o fiz até agora, mas de uma forma mais apta à minha idade e às minhas forças”.

Depois de invocar Nossa Senhora para que nos ajude a seguir Cristo na oração e na caridade, o Papa saudou os peregrinos em diversas línguas, agradecendo sempre pelas orações e afeto e oração que lhe têm nestes dias. Eis a sua breve saudação em português:

"Queridos peregrinos de língua portuguesa que viestes rezar comigo o Angelus: obrigado pela vossa presença e todas as manifestações de afeto e solidariedade, em particular pelas orações com que me estais acompanhando nestes dias. Que o bom Deus vos cumule de todas as bênçãos.
 Desejo a todos um bom domingo e uma boa semana. Obrigado! Na oração estamos sempre perto. Obrigado a todos!"
Não faltou neste domingo o tweet do Papa em que se lê: 
“NESTE MOMENTO PARTICULAR, PEÇO-VOS QUE REZEIS POR MIM E PELA IGREJA, CONFIANDO SEMPRE NA PROVIDÊNCIA DE DEUS”.



sábado, fevereiro 23, 2013

NOTA DA CURIA

EM VISTA DA RENÚNCIA DO SANTO PADRE, O PAPA BENTO XVI, AO SEU MINISTÉRIO DE BISPO DE ROMA,SUCESSOR DE SÃO PEDRO, A CÚRIA METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO, COM APROVAÇÃO DO SENHOR ARCEBISPO, DOM ORANI JOÃO TEMPESTA, DIVULGA ALGUMAS ORIENTAÇÕES PRÁTICAS, PARA OS SACERDOTES E PARA O POVO FIEL, REFERENTES AOS TRÊS PERÍODOS SEGUINTES:


Período antecedente à renúncia:
Até o próximo dia 28 de fevereiro, às 16 horas do Rio de Janeiro, quando a Sé Romana ficará vacante, governa a Igreja o Santo Padre, o Papa Bento XVI. Como Vigário de Cristo na terra, por ele devemos orações, amor, veneração, respeito e obediência, e seu nome deve ser mencionado na Oração Eucarística.

 Período da Sé vacante:
Durante a Sé vacante, e especialmente durante o Conclave, recomenda-se instantemente que todas as comunidades façam orações e súplicas pela eleição do novo Romano Pontífice. Para tanto, pode ser tomado o formulário da missa “Pela eleição do Papa” (no Missal Romano em “missas e orações para diversas necessidades”).
Considerando a utilidade pastoral, esta missa pode ser celebrada nos dias de semana da Quaresma, mas não nos domingos. Os sacerdotes saberão discernir sobre a oportunidade e sobre o uso moderado deste formulário no tempo da Quaresma.
Durante a Sé Vacante, na Oração Eucarística deverá ser mencionado apenas o nome do arcebispo, podendo-se mencionar também os bispos auxiliares.

Período posterior à eleição do novo Romano Pontífice:
Anunciada a eleição do novo Romano Pontífice, sejam tocados, onde for possível, os sinos das igrejas, como manifestação de júbilo e acolhida ao novo pastor supremo.

Para cada um destes períodos haverá celebrações no âmbito arquidiocesano e de cada paróquia.
No período antecedente à renúncia, a Igreja no Rio de Janeiro celebrará, no dia 22 de fevereiro, Festa da Cátedra de Pedro, a ação de graças pelo fecundo ministério e pelo grandioso legado, para a Igreja e para o mundo, deixado pelo Papa Bento XVI. A celebração arquidiocesana será na Igreja Paroquial Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, no Centro, às 12h. As paróquias farão sua própria programação na mesma data.

No período da Sé Vacante, a celebração arquidiocesana “Pela eleição do Papa” terá sua data oportunamente divulgada. Também as paróquias terão sua programação própria.

Anunciada a eleição do novo Romano Pontífice, igualmente, será divulgada a data da celebração arquidiocesana de ação de graças. Do mesmo modo, as paróquias programarão suas celebrações.
Como devem ser proclamadas as intercessões nas Orações Eucarísticas I, II e III

Na Oração Eucarística I:
Nós as oferecemos pela vossa Igreja santa e católica: concedei-lhe paz e proteção, unido-a num só corpo e governando-a por toda a terra. Nós as oferecemos também por nosso bispo Orani e por todos os que guardam a fé que receberam dos apóstolos.

Na Oração Eucarística II:
Lembrai-vos, ó Pai, da vossa Igreja que se faz presente pelo mundo inteiro: que ela cresça na caridade, com o nosso bispo Orani e todos os ministros do vosso povo.

Na Oração Eucarística III:
E agora, nós vos suplicamos, ó Pai, que este sacrifício da nossa reconciliação estenda a paz e a salvação ao mundo inteiro. Confirmai na fé e na caridade a vossa Igreja, enquanto caminha neste mundo: o nosso bispo Orani, com os bispos do mundo inteiro, o clero e todo o povo que conquistastes.

Rio de Janeiro, 17 de fevereiro, primeiro domingo da Quaresma, de 2013.
Monsenhor Helio Pacheco Filho Chanceler da Cúria
* Fonte: Jornal Testemunho de Fé

sexta-feira, fevereiro 22, 2013

22 DE FEVEREIRO - FESTA DA CÁTEDRA DE SÃO PEDRO

PEDRO PERSONIFICA A IGREJA. A SUA RESPOSTA SERÁ A DA IGREJA ILUMINADA PELO ESPÍRITO NO PENTECOSTES. SIMÃO PEDRO RECEBEU ESSA LUZ ANTECIPADAMENTE, POR CAUSA DA MISSÃO QUE CRISTO LHE QUERIA CONFIAR: “TU ÉS PEDRO, E SOBRE ESTA PEDRA EDIFICAREI A MINHA IGREJA. DAR-TE-EI AS CHAVES DO REINO DOS CÉUS, E TUDO QUANTO LIGARES NA TERRA FICARÁ LIGADO NOS CÉUS, E TUDO QUANTO DESLIGARES NA TERRA SERÁ DESLIGADO NOS CÉUS” (MT 16, 18-19).”

Hoje, celebramos a Cátedra de São Pedro. Pretende-se destacar com esta celebração, o fato de que – como um dom de Jesus Cristo para nós — o edifício da Igreja se apoia sobre o Príncipe dos Apóstolos, que goza de uma ajuda divina peculiar para realizar essa missão. Assim o manifestou o Senhor em Cesareia de Filipo: "Eu te digo: tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja" (Mt 16,18). Efetivamente, "só Pedro foi escolhido para ser posto à frente da vocação de todas as nações, de todos os Apóstolos e de todos os padres da Igreja"
São Leão Magno

Evangelho Mt 16,13-19
Naquele tempo, Jesus foi à região de Cesaréia de Filipe e ali perguntou aos discípulos: “Quem é que as pessoas dizem ser o Filho do Homem?”. Eles responderam: “Alguns dizem que és João Batista; outros, Elias; outros ainda, Jeremias ou algum dos profetas”.”E vós”, retomou Jesus, “quem dizeis que eu sou?”. Simão Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”.

Jesus então declarou: “Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi carne e sangue quem te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso, eu te digo: tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e as forças do Inferno não poderão vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”.

A IGREJA BENEFICIOU, DESDE O SEU INÍCIO, DO MINISTÉRIO PETRINO, DE MODO QUE SÃO PEDRO E OS SEUS SUCESSORES PRESIDIRAM A CARIDADE, FORAM FONTE DE UNIDADE E TIVERAM, MUITO ESPECIALMENTE, A MISSÃO DE CONFIRMAR NA VERDADE OS SEUS IRMÃOS.

Jesus, uma vez ressuscitado, confirmou esta missão a Simão Pedro. Ele, que já tinha chorado, profundamente arrependido, a sua tríplice negação de Jesus, faz agora uma tripla manifestação de amor: "Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que te amo" (Jo 21,17). Então o Apóstolo viu com alívio como Jesus não o desdisse e o confirmou, por três vezes, no ministério que antes lhe tinha anunciado: "Cuida das minhas ovelhas" (Jo 21,16.17).

Esta potestade não resulta de mérito próprio, como tão pouco o fora a declaração de fé de Simão em Cesareia: "Não foi carne e sangue quem te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu" (Mt 16,17). Sim, trata-se de uma autoridade com potestade suprema, recebida para servir. É por isso que o Romano Pontífice, quando assina os seus escritos, o faz com o seguinte título honorífico: Servus servorum Dei.

Trata-se, portanto, de um poder para servir a causa da unidade, fundamentada sobre a verdade. Façamos o propósito de rezar pelo Sucessor de Pedro, de prestar delicada atenção às suas palavras e de agradecer a Deus esta grande dádiva.

JESUS ACOLHEU A PROFISSÃO DE FÉ DE PEDRO, QUE O RECONHEÇA COMO O MESSIAS ANUNCIANDO A PAIXÃO IMINENTE DO FILHO DO HOMEM.
Desvendou o conteúdo autêntico de sua realeza messiânica, seja na identidade transcendente de Filho do Homem “que desceu do Céu”., seja em sua missão redentora como Servo sofredor: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate pela multidão”. 

 No colégio dos Doze, Simão Pedro ocupa o primeiro lugar. Jesus confiou-lhe uma missão única. Graças a uma revelação vinda do Pai, Pedro havia confessado: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus Vivo” (Mt. 16,16). Nosso Senhor lhe declara na ocasião: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela” (Mt 16,18). Cristo, “Pedra viva”, garante sua Igreja construída sobre Pedro a vitória sobre as potências de morte. Pedro, em razão da fé por ele confessada, permanecerá como rocha inabalável da Igreja. Terá por missão defender esta fé de todo desfalecimento e confirmar nela seus irmãos."
OREMOS PELO PAPA E PARA QUE O ESPÍRITO SANTO ILUMINE OS CARDEAIS PARA BEM ELEGER O FUTURO PAPA.


CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA
D. Antoni CAROL i Hostench
(Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)

quarta-feira, fevereiro 20, 2013

VISITA DO PÁROCO A VILLA RISO

JESUS NOS ENSINA A ORAR.
ENSINA-NOS A CHAMAR A DEUS DE PAI. LOGO, NOS RECOMENDA COLOCAR-NOS DIANTE DE DEUS, COMO FILHOS.

Quando orardes, não useis de muitas palavras, como fazem os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos por força das muitas palavras. Não sejais como eles, pois o vosso Pai sabe do que precisais, antes de vós o pedirdes.
CESARINA RISO E PADRE MARCOS BELIZÁRIO FERREIRA, PÁROCO DA MATRIZ DE SÃO CONRADO - RJ
 JESUS NOS ENSINA A ORAR. 
ENSINA-NOS A CHAMAR A DEUS DE PAI. LOGO, NOS RECOMENDA COLOCAR-NOS DIANTE DE DEUS, COMO FILHOS.

Quando orardes, não useis de muitas palavras, como fazem os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos por força das muitas palavras. Não sejais como eles, pois o vosso Pai sabe do que precisais, antes de vós o pedirdes. Vós, portanto, orai assim: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, como no céu, assim também na terra. O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. Perdoa as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos que nos devem. E não nos introduzas em tentação, mas livra-nos do Maligno. De fato, se vós perdoardes aos outros as suas faltas, vosso Pai que está nos céus também vos perdoará. Mas, se vós não perdoardes aos outros, vosso Pai também não perdoará as vossas faltas."
VEM SANTO ESPÍRITO, AMOR DO PAI.
TOCA A MINHA MENTE, A MINHA VONTADE, O MEU CORAÇÃO.
ABRE-ME À CORAGEM DA VERDADE.
DÁ-ME A FORÇA PARA DEIXAR-ME TOCAR
E RENOVAR PROFUNDAMENTE POR JESUS, PALAVRA DO PAI. AMÉM.

- O que a Palavra diz?
Leio atentamente Mt 6,7-15.
Neste texto Jesus nos ensina a orar.
Ensina-nos a chamar a Deus de Pai. Logo, nos recomenda colocar-nos diante de Deus, como filhos. Mais ainda: com a consciência de sermos da família de Deus. Depois, indica a atitude que devemos assumir ao orar: não repetir fórmulas, muito menos de forma longa. "Santificar" o nome de Deus não é dar-lhe alguma coisa, mas reconhecer o primado de Deus acima de todas as coisas. Sendo assim, pedimos que venha a nós, ao nosso meio, ao nosso mundo o Reino de Deus. Ou seja, queremos que Deus seja o centro de nossa vida e que seu Projeto se realize entre nós. Por isso dizemos "que a tua vontade seja feita aqui e no céu". Em seguida, fazemos nossos pedidos. É uma atitude de confiança no Pai que já sabe tudo de que necessitamos. 

Thomas Merton diz que, assim como somos, rezamos. E diz mais: "O homem que não reza jamais, é alguém que tentou fugir de si mesmo, porque fugiu de Deus".

terça-feira, fevereiro 19, 2013

A RENÚNCIA DE BENTO XVI: UM PRECEDENTE EVANGÉLICO por Maria Clara Lucchetti Bingemer

Benedetto XVI- Palazzo Apostolico di Castel Gandolfo-Angelus Domini 23-09-2012.

 Eram oito horas da manhã quando o telefone tocou.  Em pleno carnaval, descansando fora do Rio, eu dormia até mais tarde.  A voz vinha de longe e lentamente ativava as sinapses de meu cérebro.  Quando escutei “a renúncia do Papa de Bento XVI ao cargo”, o choque de adrenalina me fez acordar de vez. Pedi um tempo para me inteirar da situação.  E fui verificar.  Era verdade. 
Castel Gandolfo  
Em meio às plumas e paetês das escolas de samba, a notícia da renúncia do Papa começou a ganhar volume e espaço.  E a assombrar a todos!  Nunca antes...jamais se viu...como pode ser...por quê?  Lembrei-me de outras ocasiões, quando minha mãe me avisou: “O Papa morreu”. E eu lhe disse que se enganava por pensar que se referia a Paulo VI.  E era João Paulo I, o Papa sorriso.  Ali também havia a surpresa e o sabor do inesperado.  Ali também experimentávamos perplexidade.
Bento XVI não morreu.  E isto faz toda a diferença.  Foi um papa lúcido e em plena posse de suas faculdades mentais que anunciou na Praça São Pedro sua decisão inabalável de renunciar ao cargo de bispo de Roma e de sucessor de Pedro.  Marcou data e prazo: 28 de fevereiro.  Agradeceu a todos que o ajudaram em seus quase oito anos de papado, pediu perdão pelos erros e...entregou a Igreja nas mãos de seu Supremo e Único Pastor, Jesus Cristo, assim como ao cuidado maternal de sua mãe Maria.
Surpresa como todos diante do inesperado gesto de Bento XVI, aos poucos fui sentindo o peso e a importância desta decisão e deste anúncio.  Parece-me de uma grandeza impressionante, de uma coragem enorme e de uma inspiração evangélica.  Nunca durante este pontificado senti tão presentes o sopro e o impulso do Espírito como neste anúncio dado na Praça de São Pedro no último dia 12 de fevereiro.
  A decisão livre e minuciosamente refletida e pensada de Bento XVI pode ter um enorme significado para a Igreja.  Porque se o Papa pode deixar seu cargo por motivos de idade, por sentir que lhe faltam as forças e o vigor físicos para exercer como deveria a posição que ocupa, a mesma interpelação se abre para outros segmentos eclesiais.  Por que não teriam de fazer o mesmo os superiores das ordens e congregações religiosas masculinas e femininas? Por que se eternizam em cargos de chefia tantos coordenadores de movimentos leigos que não se mostram dispostos a dar um passo para liberar o caminho aos mais jovens? 

Antes do Papa, a Igreja havia já assistido à renúncia do superior geral dos jesuítas, o holandês Peter Hans Kolvenbach.  Depois de 25 anos à frente da Companhia de Jesus, a ordem mais forte da Igreja, Pe. Kolvenbach apresentou sua renúncia.  Já vinha tentando fazê-lo desde o pontificado de João Paulo II, que nunca a aceitou.  No entanto, depositou-a nas mãos do Papa Ratzinger, que entendeu perfeitamente seu desejo e sua decisão.
 O “Papa Negro”- como é chamado o geral dos jesuítas – ao renunciar prenunciava esta outra renúncia, a do Papa sucessor de Pedro. Em ambos a mesma atitude de fundo: liberdade interior e desapego do poder.  Sair porque vê conscientemente seus limites.  Afastar-se do cargo porque reconhece humildemente não ter condições objetivas de exercê-lo. Deixar o poder que lhe foi outorgado pelo colégio cardinalício e reconhecido por toda a Igreja nas mãos desse mesmo colégio para que escolha um sucessor. 

No dia 28 de fevereiro, Bento XVI se retirará à sede de Castelgandolfo, no sul de Roma, e deixará o governo após quase oito anos de papado.  Depois de eleito seu sucessor, viverá na cidade do Vaticano, dedicando-se àquilo que ama fazer: ao estudo, à escrita, à oração.

Com sua atitude nitidamente na contramão da lógica do poder, Bento XVI abre o caminho a uma reformulação do papado, que já deveria há muito ter sido feita na Igreja Católica. Seu sucessor, seja ele quem for, encontrará esse precedente aberto e isso certamente deverá impactar em seu comportamento, em seu estilo de governar e na compreensão que terá de seu cargo e ministério.
Benedetto XVI- Palazzo Apostolico di Castel Gandolfo Angelus Domini 
Com seu gesto extremamente humilde e realista, Bento XVI deixa a autoridade que lhe foi conferida como Papa, mas permanece investido de outra autoridade, mais evangélica, mais inspirada e inspiradora, mais perene: a autoridade do testemunho.  Foi um confessor – como os do cristianismo primevo - aquele que, fragilizado pela idade e pelo cansaço, com a voz tênue e quase inaudível, reconheceu seus limites e abdicou do poder que detinha.  Assim entrava na esfera daquela humildade que deve ser mais forte e presente ainda nos que detêm cargos de mando, tal como ensinou o Mestre Jesus de Nazaré.
Se faltasse ainda algo para convencer-nos da beleza do acontecimento que ungiu a Igreja inteira com a renúncia do Papa, talvez fosse importante prestar atenção ao respeito atento e admirativo que esta despertou naqueles que mais divergiam de suas ideias e de seu magistério.  O teólogo brasileiro Leonardo Boff, por exemplo,  declarou que a atitude de Bento XVI merece toda admiração e respeito. Assim também o teólogo suíço Hans Küng, com quem Ratzinger teve alguns embates bem conhecidos: "A decisão de Bento XVI merece grande respeito, é legítima, compreensível e também corajosa. Nunca esperei que este Papa conseguisse me surpreender, algum dia, de maneira tão positiva".

A nós, que somos espectadores e testemunhas deste evento histórico-teologal, que a atitude do Papa nos inspire e ilumine nesta Quaresma que agora começamos.


Maria Clara Lucchetti Bingemer, professora do Departamento de Teologia da PUC-Rio

POR TRÁS DA RENÚNCIA... por Dom Fernando Arêas Rifan


E a Igreja, à semelhança de seu Divino Fundador, tem sua parte divina e humana. Divina na sua instituição, doutrina e graça salvífica que nos transmite, e humana nos seus membros, muitas vezes pecadores, ela “é ao mesmo tempo santa e sempre necessitada de purificação” (L.G. 8).

Pessoas nem sempre imbuídas de espírito de Fé especulam os problemas da Igreja católica, demasiadamente focados na sua parte humana, organizacional e estrutural, esquecendo-se da parte divina, muito mais importante, e a presença nela do seu Fundador, que a assiste através do Divino Espírito Santo. Mas, há já dois mil anos, ela “continua o seu peregrinar entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus” (L.G. 8).

Mas afinal o que há por trás da renúncia de Bento XVI. Além dos motivos visíveis, apontados pelo próprio Papa – “forças já não idôneas, vigor do corpo e do espírito, devido à idade avançada” – existem outros fatores ocultos. Todos estão curiosos e eu vou lhes revelar o que realmente está por detrás dessa atitude do Papa.

Só é capaz de renunciar a esse cargo de tal importância e influência quem, olhando muito além das perspectivas humanas, tem uma profunda Fé em Deus, na divindade da sua Igreja e na assistência daquele do qual o Papa é o representante na terra: “confiemos a Santa Igreja à solicitude do seu Pastor Supremo, Nosso Senhor Jesus Cristo” (Bento XVI).

E como a Fé é a base da Esperança e da confiança, por trás dessa renúncia há uma sublime confiança em Deus: a barca de Pedro não soçobrará nas ondas desse mar tempestuoso, nem depende de nós para isso: “as forças do Inferno não poderão vencê-la” (Mt 16, 18).

Por trás dessa renúncia, vemos um grande amor a Deus e à sua Igreja: “uma decisão de grande importância para a vida da Igreja”, como disse ele.
Um grande desapego do alto cargo e influente posição, declarando-se apenas um humilde servidor, uma profunda humildade, não se julgando necessário e reconhecendo a própria fraqueza e incapacidade, de corpo e de espírito, para exercer adequadamente o ministério petrino, e ao pedir perdão – “peço perdão por todos os meus defeitos”.

AO LADO DO HEROÍSMO DO BEATO JOÃO PAULO II DE LEVAR O SOFRIMENTO PESSOAL ATÉ O FIM, TEMOS O GRANDE HEROÍSMO DE BENTO XVI DE RENUNCIAR POR AMOR À IGREJA, PARA EVITAR QUALQUER SOFRIMENTO PARA ELA. 

No começo da Igreja, no tempo das perseguições, houve cristãos que resolveram ficar onde estavam e enfrentar o martírio. Exemplo de fortaleza. Houve outros cristãos, que temendo a perseguição e a própria perseverança, acharam melhor fugir da perseguição e se refugiar no deserto, para rezar e fazer penitência, longe do mundo. Exemplo de humildade. Houve santos de ambas as posturas, os que enfrentaram e os que se retiraram. Heroísmo de fortaleza e heroísmo de humildade, frutos da Fé. A Igreja é feita de heróis da Fé!
Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney