segunda-feira, abril 24, 2023

III DOMINGO DA PÁSCOA






Em nossa caminhada pela vida fazemos frequentemente a experiência do desencanto, do desalento, do desânimo, como ocorreu inicialmente com os discípulos de Emaús. As crises, os fracassos, o desmoronamento daquilo que julgávamos seguro e em que apostamos tudo, bem como a falência dos nossos sonhos, nos deixam frustrados, perdidos, sem perspectivas. Então, parece que nada faz sentido e que Deus desapareceu do nosso horizonte.  No entanto, de acordo com o evangelho deste domingo,  mesmo diante das dificuldades e dos temores, Jesus, vivo e ressuscitado, caminha ao nosso lado. Ele é esse companheiro de viagem que encontra formas de vir ao nosso encontro, mesmo que nem sempre sejamos capazes de reconhecê-lo imediatamente, mas só Ele pode encher o nosso coração de esperança.

E hoje, possamos fazer nossa a súplica dos discípulos de Emaús: Fica conosco, Senhor, nos acompanhe ao longo do nosso itinerário da nossa vida. Fica conosco, porque ao redor de nós as sombras vão se tornando mais densas e necessitamos da sua luz para iluminar o nosso caminho.  Fica conosco, Senhor, se porventura ao redor de nossa fé surgirem as névoas da dúvida, do cansaço ou da dificuldade. Iluminai todos os dias as nossa mente com a tua Palavra.

Fica conosco Senhor e sede a força a nos sustentar perante as dificuldades cotidianas, venha em nosso auxílio e fortalecei cada um de nós, diante das provações e dos sofrimentos que porventura vierem surgir. Ficai conosco Senhor, nos momentos de desânimo, nos momentos de decepção.  Fica conosco no entardecer da nossa vida. Concedei-nos o dom da unidade, ajudai-nos a cultivar o bem e a paz; fazei com que o nosso coração se abra ao perdão e à reconciliação. Acompanha-nos, como fizeste com os discípulos de Emaús, no nosso caminho pessoal e familiar. Ficai conosco, ficai em nossas casas, em nossos lares.  Abri os nossos olhos, para que saibamos sempre reconhecer os sinais da tua presença a caminhar com cada um de nós, a sanar as nossas dores e a curar as nossas feridas.

Hoje queremos repetir as palavras dos discípulos: “Senhor, ficai conosco!” (Lc 24,29). Ficai conosco e ajudai-nos a caminhar sempre ao longo da senda que leva à Casa do Pai. Ficai conosco na vossa palavra – naquela palavra que se torna sacramento: a Eucaristia da vossa presença. E é justamente no Santíssimo Sacramento do altar que Jesus mostra a sua vontade de ficar conosco, de viver em nós, de doar-se a nós, pois só Ele pode transformar a nossa vida, os nossos pensamentos, o nosso coração. 

Intercedei também por nós a Virgem de Nazaré, para que cada cristão e cada comunidade, revivendo a experiência dos discípulos de Emaús, redescubra a graça do encontro transformador com o Senhor Ressuscitado. Assim seja.










sexta-feira, abril 14, 2023

DOMINGO DA PÁSCOA DE JESUS








Como escutamos a Palavra de Deus neste dia?

A primeira leitura apresenta uma das mais belas caracterizações de Jesus Cristo: “passou fazendo o bem”. Uma passagem de bem pelo mundo, que implica morte e ressurreição, doação total de si mesmo, exigindo aos discípulos que entrem nesta nova dinâmica e anunciem o mesmo caminho de bem a todas as pessoas e em todos os lugares.

A segunda leitura convida os cristãos, revestidos de Cristo pelo Batismo, a continuar a sua caminhada de vida nova até à transformação plena. Aspirar e afeiçoar-se às coisas do alto significa dar sentido ao que somos e fazemos à luz da presença do Senhor que está vivo em nós.

O Evangelho coloca-nos diante de duas atitudes face à ressurreição: a do discípulo obstinado, que se recusa a aceitá-la porque, na sua lógica, o amor total e a doação da vida nunca podem ser geradores de vida nova; e a do discípulo ideal, que ama Jesus e que, por isso, entende o seu caminho e a sua proposta; a esse não o escandaliza nem o espanta que da Cruz tenha nascido a vida plena, a vida verdadeira.

Somos discípulos de Jesus tal como se revela na Palavra, não à nossa maneira. Ser discípulo de Jesus Cristo Ressuscitado implica ser testemunha da ressurreição. Nós não vimos o sepulcro vazio; mas fazemos todos os dias a experiência do Senhor ressuscitado, que anda conosco nos caminhos da história. Porém, o nosso testemunho será oco e vazio se não for comprovado pelo amor e pela doação, as marcas da vida nova de Jesus. Devemos mostrar estas marcas, pois testemunhar é mostrar esta vida nova com entusiasmo e coragem, com convicção e paixão.

Celebremos a Páscoa, no coração da nossa fé, nas fontes do nosso Batismo! Hoje, a Ressurreição de Cristo não pode ser para nós uma espécie de vago sentimento. A Ressurreição de Cristo deve ser o dínamo das nossas vidas de batizados, a energia que nos envia a testemunhar: “Cristo está vivo! Nós encontrámo-lo!”

Somos chamados a viver a presença do Ressuscitado, diante de tantas situações em sentido contrário. Somos levados a anunciar Cristo vivo em atitudes e gestos solidários, plenos de esperança e de doação. Assim seja o nosso tempo pascal, vivido e celebrado na continuidade do tempo quaresmal. Sempre conduzidos e orientados pela Palavra de Deus!

 

 










quarta-feira, abril 12, 2023

VIGÍLIA DA PÁSCOA

 




A liturgia da Palavra desempenha um papel essencial na Vigília Pascal. São nove leituras, oito salmos e oito orações. Um conjunto que visa resumir toda a Palavra de Deus contida na Bíblia. Toda a história da salvação é condensada e apresentada como a paisagem de uma janela aberta diante de nossos olhos. Como pedras pavimentando um caminho a ser percorrido com segurança, as leituras, salmos e orações nos guiam no caminho espiritual em direção ao sepulcro para encontrar o Senhor.

Essa é a noite da verdadeira libertação. “Noite em que Jesus rompeu o inferno, ao ressurgir da morte vencedor” (Proclamação da Páscoa). Nela, a Igreja, permanece à espera da ressurreição do Senhor enquanto celebra os sacramentos da iniciação cristã. A procissão luminosa que realizamos ao entrar na igreja nos relembra o caminho do povo de Deus rumo à terra prometida e simboliza, igualmente o caminho da humanidade, que nas noites escuras da história busca a luz, a reconciliação entre os povos e a paz universal.

Eis porque, mesmo em meio a todas as tragédias que afligem nosso mundo, a chegada da Páscoa é celebrada no coração da noite, com antigos ritos cheios de beleza poética e de força transformadora. O “Círio Pascal”, ao comunicar sua chama às velas que se acendem na escuridão da noite se torna imagem do Cristo Ressuscitado, que rompe as trevas da morte, comunica sua vida sem diminuí-la e compartilha do seu destino glorioso com toda a humanidade.

Ouvimos nas leituras proclamadas que Israel foi guiado de noite por uma coluna de fogo e durante o dia, por uma nuvem. A nossa coluna de fogo, a nossa nuvem é Cristo Ressuscitado, simbolizado pelo círio pascal aceso. Cristo é a luz! Cristo é o Caminho, a Verdade e a Vida! Seguindo-o, tendo fixo o olhar em Nele, não andaremos nas trevas (Jo. 8,12).

Ouvimos no Evangelho proclamado que as mulheres caminham muito cedo em direção ao sepulcro do Senhor (Mt. 28,1)). Elas fazem isto porque o buscam para escutar novamente sua Palavra. Seguir Cristo significa estar atento à sua palavra. Assim compreendemos porque é necessário participarmos da liturgia dominical, semana após semana. Para que entremos numa verdadeira familiaridade com a Palavra. Não vivemos somente do pão, vivemos da Palavra de Deus que nos anuncia os valores do seu Reino. Seguir Cristo implica estarmos atentos aos mandamentos de amar a Deus e ao próximo como a nós mesmos. Seguir Cristo significa ter compaixão dos que sofrem. Seguir Cristo implica amar a sua Igreja (Fl. 2,5-11). Caminhando assim, acendemos pequenas luzes no mundo, afastamos as trevas da história da humanidade.

O caminho de Israel o conduziu a terra prometida. A liturgia pascal que agora celebramos nos dirige à Cristo. E nesta caminhada nos acompanham os sacramentos da iniciação cristã: o Batismo, a Crisma e a santa Eucaristia. Assim, a Igreja nos diz que estes sacramentos são a antecipação do mundo novo. Este Jesus que as mulheres procuraram de manhã e que foi anunciado pelo anjo como ressuscitado, nós o encontramos na Igreja, através dos Sacramentos que Ele nos deixou.

A ressurreição de Cristo não é simplesmente uma recordação de um fato passado! É o glorioso Dom do amor de Deus. Cabe a nós agora apropriarmo-nos desse dom e vivermos na verdade do nosso Batismo. A noite pascal nos convida cada ano a nos imergir novamente nas águas do Batismo, a passar da morte para a vida, a nos tornarmos verdadeiros cristãos. 

É noite. No entanto, não temamos a sua escuridão. Logo contemplaremos a Luz! Ouçamos o que S. Paulo nos fala na Carta aos Romanos (6,11): “Assim, vós também considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus, em Jesus Cristo”. Hoje a Igreja proclama em todos os cantos do mundo e a todos nós: Despertemo-nos do nosso cristianismo cansado, sem motivação. Levantemo-nos e sigamos Cristo, a verdadeira luz, a verdadeira vida!!!!!






























terça-feira, abril 11, 2023

PAIXÃO DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO





“Mesmo sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que sofreu. Mas, na consumação de sua vida, tornou-se causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem”.

Esta hodierna Liturgia é solene e dramática. Altar desnudo cruzes veladas ou retiradas da igreja, nenhum ornamento… Quase não há palavras para exprimir o estupendo mistério que celebramos: o eterno Filho, Deus santo, vivo e verdadeiro, nesta tarde sacratíssima, por nós se entregou ao Pai, em total obediência, até à morte, e morte de cruz! Para contemplar o mistério hoje celebrado, tomemos, então, com temor e tremor, as palavras da Epístola aos Hebreus, que escutamos.

“Mesmo sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que sofreu”. Eis aqui uma realidade que jamais poderemos compreender totalmente! O Filho eterno, o Filho que viveu sempre na intimidade do Pai, o Filho infinitamente amado pelo Pai, no seu caminho neste mundo, aprendeu a descobrir, cada dia, a vontade do seu Pai e a ela obedecer! Mais ainda: esta obediência lhe custou lágrimas, fê-lo sofrer! Toda a existência do Senhor Jesus foi uma total dedicação ao Pai, uma absoluta entrega, no dia-a-dia, nas pequenas coisas… Jesus foi procurando e descobrindo a vontade do Pai nos acontecimentos, nas pessoas, nas Escrituras… e, pouco a pouco, foi percebendo que esta vontade ia levá-lo à cruz. E ele, nosso Salvador, “com forte clamor e lágrimas”, foi se entregando, se esvaziando, se abandonando…

É impressionante pensarmos, mas toda a vida do Filho de Deus neste mundo foi uma busca pobre e obediente da vontade do Pai, entre clamor e lágrimas. Vemo-lo de modo dramático no Horto da Agonia: “Abba! Ó Pai! Tudo é possível para ti: afasta de mim este cálice; porém não o que eu quero, mas o que tu queres!” (Mc 14,36). Para o Senhor, como para nós, a vontade do Pai tantas vezes pareceu enigmática, e ele teve que discerni-la e descobri-la entre trevas densas e dolorosas! Mas, ao fim, como é comovente a entrega total do Cristo: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito!” (Lc 23,46). Em tuas mãos, meu querido Pai, eu me coloco, eu me abandono! Para nós, o Filho é modelo e caminho de amor ao Pai! Ser cristão é entregar-se ao Senhor Deus como ele se entregou! E esta entrega total ao Pai foi por nós: “Cristo por nós se fez obediente até a morte e morte de cruz” (Fl 2,8).

“Mas, na consumação de sua vida, tornou-se causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem”. Isto é, tornado perfeito na obediência, consumando toda a sua existência humana de modo amoroso e total, entregando-se ao Pai por nós, ele se tornou causa da nossa salvação! Vede, irmãos: não se oferece mais ao Pai sacrifícios de vítimas irracionais e impessoais! Agora é o próprio Cordeiro santo e imaculado que, com todo amor do seu coração, com toda dedicação de sua alma, se oferece livremente por nós todos! Por isso ele “tornou-se causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem”, isto é, desde que nós entremos na sua obediência e dela participemos na nossa vida! Eia, irmãos no Senhor! Entremos nessa obediência bendita e amorosa do nosso Senhor: façamos de nossa vida uma entrega total ao Pai com Jesus: entrega de nossos atos, de nossos pensamentos, de nossos afetos, de nossos negócios, de nossa vida familiar e profissional, de nossas decisões e escolhas, de nossas relações humanas… Tudo, absolutamente tudo, ofereçamos ao Pai com Jesus e por Jesus e entraremos na salvação que Jesus nos trouxe por sua cruz! Não esqueçamos: nesta santíssima Sexta-feira da Paixão, somos convidados a não somente contemplar, admirados, a obediência total do Filho querido ao Pai amado, mas também somos interpelados a participar na nossa vida dessa mesma obediência! É assim que Cristo é causa de salvação para nós!

Senhor Jesus, que o teu sublime exemplo de amor ao Pai e a nós, nos comova e converta o coração, tire-nos da preguiça espiritual e de uma vida cristã morna e tíbia! Senhor, obrigados por tão grande prova de amor a nós e ao mundo todo! Obrigados por tuas dores, obrigados por tua cruz, obrigados por tua morte e por tua sepultura!

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos, porque pela vossa santa Cruz remistes o mundo!