domingo, agosto 31, 2014

"TOME SUA CRUZ E SIGA-ME" - XXII DOMINGO DO TEMPO COMUM - A


Evangelho (Mt 16,21-27): A partir de então, Jesus começou a mostrar aos discípulos que era necessário ele ir a Jerusalém, sofrer muito da parte dos anciãos, sumos sacerdotes e escribas, ser morto e, no terceiro dia, ressuscitar. Então Pedro o chamou de lado e começou a censurá-lo: 
«Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isto nunca te aconteça!» Jesus, porém, voltou-se para Pedro e disse: «Vai para trás de mim, satanás! Tu estás sendo para mim uma pedra de tropeço, pois não tens em mente as coisas de Deus, e sim, as dos homens!».
Então Jesus disse aos discípulos: «Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar sua vida a perderá; e quem perder sua vida por causa de mim a encontrará. De fato, que adianta a alguém ganhar o mundo inteiro, se perde a própria vida? Ou que poderá alguém dar em troca da própria vida? 

Pois o Filho do Homem virá na glória do seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a cada um de acordo com a sua conduta».

Homilia de Padre Marcos Belizário Ferreira
Poucos aspectos da mensagem evangélica foram tão desvirtuados como o convite de Jesus de “carregar a cruz”. Daí que não poucos cristãos tenham ideias bem confusas sobre a atitude cristã diante do sofrimento. 
Recordemos alguns dados que não podemos ignorar, se quisermos seguir o Crucificado com maior fidelidade.
Em Jesus não encontramos esse sofrimento, tão frequente em nós, que é gerado por nosso próprio pecado, ou pela nossa maneira desacertada de viver.
 Jesus não conheceu os sofrimentos que nascem da inveja, do ressentimento e do vazio interior ou do apego egoísta às coisas e às pessoas. Portanto, há em nossa vida um sofrimento que temos que ir eliminando, precisamente, se quisermos seguir a Jesus.
Por outro lado Jesus não ama nem busca arbitrariamente o sofrimento, nem para Ele nem para os outros, como se o sofrimento encarnasse algo que agrada especialmente a Deus. É um erro acreditar que a pessoa segue mais de perto a Cristo porque busca sofrer arbitrariamente e sem nenhuma necessidade. 
O que agrada a Deus não é o sofrimento, mas a atitude com que a pessoa assume o seguimento fiel a Cristo.
Além disso, Jesus se compromete com todas as suas forças a fazer desaparecer no mundo o sofrimento. 
Toda sua vida foi uma luta constante para arrancar o ser humano desse padecimento que se oculta na enfermidade, na fome, na injustiça, nos abusos, no pecado ou na morte.
Quem quiser segui-lo poderá ignorar os que sofrem. Ao contrário, sua primeira tarefa será suprimir o sofrimento da vida das pessoas.
Antes de tudo “carregar a cruz” é seguir fielmente a Jesus e aceitar as consequências dolorosas que se seguirão, sem dúvida, deste seguimento. Há rejeições, padecimentos e danos que o cristão sempre há de assumir. É o sofrimento que só poderíamos fazer desaparecer de nossa vida, deixando de seguir a Cristo. Aí está para cada um de nós a cruz que temos que levar seguindo seus passos.
Se quisermos esclarecer qual deve ser a atitude cristã, temos que compreender bem em que consiste a cruz para o cristão, pois pode acontecer que nós a ponhamos onde Jesus nunca a pôs. Facilmente chamamos de 'cruz' tudo aquilo que nos faz sofrer, inclusive esse sofrimento que aparece em nossa vida, gerado por nosso próprio pecado, ou por nossa maneira equivocada de viver, Mas não devemos confundir a cruz com qualquer desgraça, contrariedade ou mal-estar que acontece na vida.
A cruz é outra coisa. O Reino de Deus. Isto é o principal. A cruz é apenas o sofrimento que nos virá como consequência desse seguimento; o destino doloroso que teremos de compartilhar com Cristo, se quisermos realmente seguir seus passos. cf Pagola, José Antonio

Hoje, em todo o Brasil, celebramos o dia do Catequista, serviço abnegado e indispensável em toda a Igreja. Que Deus abençoe quem exerce este grande serviço, acolha junto a Si os que em vida o exerceram e faça nascer nos corações dos batizados o desejo de servir na catequese.

ORAÇÃO PELOS CATEQUISTAS
Senhor Jesus, Palavra Eterna do Pai, somos teus servos, somos teus amigos! Sendo servos, somos amigos. Sendo amigos, somos servos.  Tu, que não vieste para ser servido, mas para servir; Tu que, lavando os pés dos discípulos, ensinastes a agir do mesmo modo,  envia teu Espírito sobre nós.  Que Ele nos envolva com o sentido do serviço,  para que, disponíveis de coração,  possamos atender ao chamado que, por tua Igreja, Tu nos fazes,  para te seguir no serviço, para servir ao irmão, no teu seguimento. Fica conosco, Jesus!  Abençoa os catequistas  presentes em toda a tua Igreja.  Desperta outros corações para esta grande missão.  Recebe no céu os que, nesta vida, foram catequistas. Amém.

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quinta-feira, agosto 28, 2014

"A IGREJA NA VISÃO AGOSTINIANA"


"Recordamos hoje à grande figura de Santo Agostinho. O meu querido Predecessor João Paulo II dedicou em 1986, isto é, no décimo sexto centenário da sua conversão, um longo e denso documento, a Carta apostólica Augustinum Hipponensem. O próprio Papa quis definir este texto "um agradecimento a Deus pelo dom feito à Igreja, e através dela à humanidade inteira, com aquela admirável conversão".

Hoje a catequese é dedicada ao tema fé e razão, que é o tema determinante para a biografia de Santo Agostinho.
Quando era criança tinha aprendido da sua mãe Monica a fé católica. Mas quando era adolescente abandonou esta fé porque não via a sua racionalidade e não queria uma religião, que não fosse também para ele expressão da razão, isto é, da verdade. A sua sede de verdade era radical e levou-o portanto a afastar-se da fé católica. Mas a sua radicalidade era tal que ele não podia contentar-se com filosofias que não alcançassem a própria verdade, que não chegassem a Deus. E a um Deus que não fosse só uma última hipótese cosmológica, mas o verdadeiro Deus, o Deus que dá a vida e que entra na nossa própria vida.

Assim todo o percurso intelectual e espiritual de Santo Agostinho constitui um modelo válido também hoje na relação entre fé e razão, tema não só para homens crentes mas para cada homem que procura a verdade, tema central para o equilíbrio e o destino de cada ser humano.

Estas duas dimensões, fé e razão, não podem ser separadas nem contrapostas, mas devem antes estar sempre juntas. Como escreveu o próprio Agostinho, depois da sua conversão, fé e razão são "as duas forças que nos levam a conhecer" (Contra Academicos, III, 20, 43). A este propósito permanecem justamente célebres as duas fórmulas agostinianas (Sermones, 43, 9) que expressam esta síntese coerente entre fé e razão: crede ut intelligas ("crê para compreender") o crer abre o caminho para passar pela porta da verdade mas também, e inseparavelmente, intellige ut credas ("compreende para crer"), perscruta a verdade para poder encontrar Deus e crer.

As duas afirmações de Agostinho exprimem com eficaz prontidão e com igual profundidade a síntese deste problema, na qual a Igreja católica vê expresso o próprio caminho. Historicamente esta síntese vai-se formando, ainda antes da vinda de Cristo, no encontro entre fé judaica e pensamento grego no judaísmo helênico. Sucessivamente na história esta síntese foi retomada e desenvolvida por muitos pensadores cristãos.

A harmonia entre fé e razão significa sobretudo que Deus não está longe: não está longe da nossa razão e da nossa vida; está próximo de cada ser humano, perto do nosso coração e da nossa razão, se realmente nos pusermos a caminho.
Precisamente esta proximidade de Deus ao homem foi sentida com extraordinária intensidade por Agostinho. A presença de Deus no homem é profunda e ao mesmo tempo misteriosa, mas pode ser reconhecida e descoberta no próprio íntimo: não saias afirma o convertido mas "volta para ti"; no homem interior habita a verdade; e se achares que a tua natureza é alterável, transcende-te a ti mesmo. Mas recorda-te, quando te transcendes a ti mesmo, transcendes uma alma que raciocina" (De vera religione, 39, 72). 
Precisamente como ele mesmo ressalta, com uma afirmação muito famosa, no início das Confessiones, autobiografia espiritual escrita para louvor de Deus: "Criastes-nos para Vós, e o nosso coração está inquieto, enquanto não descansa em Vós" (I, 1, 1).

A distância de Deus equivale à distância de si mesmo: "De fato, tu reconhece Agostinho (Confessiones, III, 6, 11) dirigindo-se diretamente a Deus estavas dentro de mim mais que o meu íntimo e acima da minha parte mais alta", interior intimo meo et superior summo meo; a ponto que acrescenta noutro trecho recordando o tempo que precedeu a conversão "tu estavas diante de mim; e eu, ao contrário, tinha-me afastado de mim mesmo, e não me reencontrava; e muito menos te encontrava a ti" (Confessiones, V, 2, 2). Precisamente porque Agostinho viveu em primeira pessoa este percurso intelectual e espiritual, soube transmiti-lo nas suas obras com tanta prontidão, profundidade e sabedoria, reconhecendo em dois outros célebres trechos das Confessiones (IV, 4, 9 e 14, 22) que o homem é "um grande enigma" (magna quaestio) e "um grande abismo" (grande profundum), enigma e abismo que só Cristo ilumina e salva. Isto é importante: um homem que está distante de Deus está também afastado de si mesmo, alienado de si próprio, e só pode reencontrar-se encontrando-se com Deus. Assim chega também a si, ao seu verdadeiro eu, à sua verdadeira identidade.

O ser humano ressalta depois Agostinho no De civitate Dei (XII, 27) é social por natureza mas anti-social por vício, e é salvo por Cristo, único mediador entre Deus e a humanidade e "caminho universal da liberdade e da salvação", como repetiu o meu predecessor João Paulo II (Augustinum Hipponensem, 21): fora deste caminho, que nunca faltou ao gênero humano afirma ainda Santo Agostinho na mesma obra "ninguém jamais foi libertado, ninguém é libertado e ninguém será libertado" (De civitate Dei, X, 32, 2). Enquanto único mediador da salvação, Cristo é a cabeça da Igreja e a ela está misticamente unido a ponto que Agostinho pode afirmar: "Tornamo-nos Cristo. De fato, se ele é a cabeça, nós somos os seus membros, o homem total é Ele e nós" (In Iohannis evangelium tractatus, 21, 8).

Povo de Deus e casa de Deus, a Igreja na visão agostiniana está portanto estreitamente relacionada com o conceito de Corpo de Cristo, fundada na releitura cristológica do Antigo Testamento e na vida sacramental centrada na Eucaristia, na qual o Senhor nos dá o seu Corpo e nos transforma em seu Corpo. Então, é fundamental que a Igreja, povo de Deus em sentido cristológico e não em sentido sociológico, esteja verdadeiramente inserida em Cristo, o qual afirma Agostinho numa lindíssima página "reza por nós, reza em nós, é rezado por nós; reza por nós como nosso sacerdote, reza em nós como nossa cabeça, é rezado por nós como nosso Deus: reconhecemos portanto nele a nossa voz e em nós a sua" (Enarrationes in Psalmos, 85, 1).

Na conclusão da Carta apostólica Augustinum Hipponensem João Paulo II quis perguntar ao próprio Santo o que tem para dizer aos homens de hoje e responde antes de tudo com as palavras que Agostinho escreveu numa carta ditada pouco antes da sua conversão: "Parece-me que se deve reconduzir os homens à esperança de encontrar a verdade" (Epistulae, 1, 1); aquela verdade que é o próprio Cristo, Deus verdadeiro, ao qual é dirigida uma das orações mais bonitas e mais famosas das Confessiones (X, 27, 38): 

"Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Estáveis dentro de mim e eu estava fora, e aí Vos procurava; e disforme como era, lançava-me sobre estas coisas formosas que criastes. Estáveis comigo e eu não estava convosco. Retinha-me longe de Vós aquilo que não existiria se não existisse em Vós. Mas Vós me chamastes, clamastes e rompestes a minha surdez. Brilhastes, resplandecestes e curastes a minha cegueira. Exalastes o vosso perfume: respirei-o e agora suspiro por Vós. Saboreei-Vos, e agora tenho fome e sede de Vós. Tocastes-me, e comecei a desejar ardentemente a vossa paz".

Eis que Agostinho encontrou Deus e durante toda a sua vida fez experiência dele a ponto que esta realidade que é antes de tudo encontro com uma Pessoa, Jesus mudou a sua vida, assim como muda a de quantos, mulheres e homens, em todos os tempos têm a graça de o encontrar. Rezemos para que o Senhor nos conceda esta graça e nos faça encontrar assim a sua paz".

PAPA EMÉRITO BENTO XVI
30 de Janeiro de 2008
© Copyright 2008 - Libreria Editrice Vaticana
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quarta-feira, agosto 27, 2014

"UMA AUTÊNTICA OPÇÃO PELOS POBRES" - POR DOM HELDER CAMARA


"E pensar que Cristo, o Filho de Deus, veio à Terra, sobre tudo para ensinar que Seu Pai é não só o Deus todo poderoso e cheio de majestade e que Deus deseja acima de tudo, ser Pai, mas não apenas Pai de um pequeno grupo privilegiado, mas Pai de todos nós...

Cristo disse que nasceu para trazer vida, mas vida abundante para todos. Cristo, nosso Salvador e nosso Mestre, é o nosso grande exemplo de prioridade pelo pobre. Ele preferiu nascer pobre; viver no seio de uma Família pobre; ter como colaboradores diretos, homens pobres pescadores, mas, sobretudo, Cristo se identificou com o pobre, com o oprimido, o sem-voz...

Algumas pessoas chamam, imediatamente, a atenção para as palavras de Cristo, abençoando a pobreza. Perdão! Ele abençoou a pobreza e não a miséria, que é um insulto ao Criador e Pai.
Sempre e em toda parte, quando uma pessoa está sofrendo – sem alimento, sem roupa, sem liberdade e sendo oprimida, não temos tempo para discutir teorias, temos que ajudar Cristo, presente no pobre.
Mas eu chamo, fraternalmente, a atenção: já descobriram como é perigoso denunciar injustiças e tentar dar apoio aos direitos humanos?
Uma pessoa é recebida como santa enquanto faz caridade, sinônimo da sempre necessária distribuição de alimentos, roupas, remédios e casas. A partir do momento em que esta mesma pessoa começa a denunciar injustiças, sem pregar ódio ou violência, imediatamente é julgada como fazendo política, como subversiva e comunista..."

"...Cristãos de todas as denominações, minhas irmãs e meus irmãos em Cristo: juntos, precisamos sustentar que política, sinônimo de preocupação com os grandes problemas humanos, sinônimo de defesa dos fundamentais direitos humanos, é não só um direito, mas um dever de toda criatura humana, mas, sobretudo, dos cristãos".

"Cristãos, minhas irmãs e meus irmãos;  precisamos deixar claro que as Nações Unidas proclamaram os fundamentais Direitos Humanos, mas que o autêntico Autor dos mesmos é o nosso Criador e Pai..."
"Cristãos, minhas irmãs e meus irmãos; precisamos exigir de nossos pastores que eles sejam não só Pastores de almas, mas Pastores de Criaturas Humanas, com Alma e Corpo".
"Cristãos, minhas irmãs e meus irmãos; precisamos guardar em nossa mente a presença da Vida Eterna. Mas precisamos ter a convicção de que a Vida Eterna começa agora e aqui, porque é agora e aqui que construímos nossa Eternidade".
"Cristãos, minhas irmãs e meus irmãos; guardando a ideia de nossos pecados pessoais, que exigiam, exigem e sempre exigirão conversões pessoais, precisamos ter atenção, sempre mais, aos pecados sociais, que exigem conversões sociais... precisamos passar das palavras aos atos!"

"Que o Espírito Divino realize o que, pela nossa fraqueza tem ficado em desejo, em boa intenção... pensando em nossas várias denominações Cristãs, que o Santo Espírito nos faça superar nossas estreitezas, nosso melindres, nosso amor próprio, nossas divisões, nossos conflitos e nos torne UM em Cristo, como o próprio Cristo pediu, em seu testemunho espiritual na última Ceia!

Que o Espírito Divino  faça com que nós Cristãos sejamos exemplos de sermos Irmãos de verdade, dos homens de todas as Raças, de todas as Cores, todas as Culturas, de todas as Religiões.. Irmãos porque filhos do mesmo Pai e irmãos em Jesus Cristo".

Palestra feita por +Helder Câmara, Arcebispo de Olinda e Recife (Brasil), a 23/10/1980, em Glasgow (Escócia – Inglaterra), em uma Cerimônia Ecumênica realizada na Igreja de São Luis
DOM HELDER CÂMARA PODERÁ VIRAR SANTO
No fim de maio, a arquidiocese de Olinda e Recife enviou à Congregação para Causa dos Santos, no Vaticano, o pedido de abertura para o processo de beatificação de dom Helder Câmara. O anúncio foi feito por dom Antônio Fernando Saburino (OSB), arcebispo metropolitano da Igreja local, onde viveu e faleceu dom Helder.
Na ocasião, dom Antônio apresentou a carta enviada ao Vaticano com o pedido de beatificação e canonização. O parecer dos bispos do Regional Nordeste 2 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) foi positivo e unânime. Uma vez aberto o processo, frei Jociel Gomes se torna vice-postulador da causa.


UM POUCO DA HISTÓRIA DE DOM HELDER
Conhecido como “Dom da Paz”, Helder Câmara nasceu no dia 7 de fevereiro de 1909, em Fortaleza, Ceará. Mas foi no Rio de Janeiro e em Pernambuco que ganhou destaque com o exercício frutuoso do ministério episcopal voltado para os pobres.

Aos 27 anos, já como sacerdote, foi para a arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, onde, em 1952, se tornou bispo auxiliar. Lá, fundou a Cruzada São Sebastião, em prol das famílias carentes que sonhavam com uma moradia digna, e o Banco Providência, voltado para a redução da desigualdade social e desenvolvimento humano nas comunidades mais pobres. Ainda no Rio, articulou a realização do XXXVI Congresso Eucarístico Internacional, em 1955.
Em 1964 recebeu a missão de dirigir a arquidiocese de Olinda e Recife como arcebispo metropolitano. Neste ínterim, criou a Comissão de Justiça e Paz, que defendeu presos políticos e perseguidos da ditadura militar, assim como protegeu os excluídos sociais.
Dom Helder também ajudou na criação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na qual exerceu o cargo de secretário geral, e o Conselho Episcopal Latino Americano (Celam), do qual foi vice-presidente.


Incansável, o Dom da Paz lutou contra a fome e a miséria no Brasil. Em 1990 lançou a campanha Ano 2000 sem Miséria.  
Com uma vida toda dedicada aos pobres, Dom Helder chegou a ser indicado quatro vezes ao Prêmio Nobel da Paz.

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terça-feira, agosto 26, 2014

CNBB NO ENCONTRO DIOCESANO DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS - ALAGOAS

O DOCUMENTO 100 DA CNBB, “COMUNIDADE DE COMUNIDADES: UMA NOVA PARÓQUIA”, PROPÕE REFLEXÃO E AÇÕES PRÁTICAS PARA UMA CONVERSÃO PASTORAL DA PARÓQUIA.
Após, aproximadamente, dois anos de estudo, os bispos reunidos na 52ª Assembleia Geral, no mês de maio, aprovaram o texto para publicação como Documento oficial da Igreja no Brasil.
O Documento 100 “Comunidade de comunidades: uma nova paróquia. A conversão pastoral da paróquia” é composto de seis capítulos, são eles: Sinais dos Tempos e Conversão Pastoral, Palavra de Deus, Vida, Missão nas Comunidades, Surgimento da Paróquia e sua Evolução, Comunidade Paroquial, Sujeito e Tarefas da Conversão Paroquial.

Logo no início é apresentada análise da realidade paroquial. Na sequência traz, também, reflexão histórica e teológica sobre a paróquia. Segue abordando a dimensão de comunidade, a partir da conversão paroquial e pastoral, com ideias do significado da paróquia.

Ao final do documento, são apresentadas propostas práticas para conversão da paróquia, ou seja, as proposições pastorais. São pistas de ações que tratam da acolhida e vida fraterna, iniciação à vida cristã, leitura orante da palavra, liturgia e espiritualidade; incluindo o funcionamento da paróquia, seus conselhos, organização e manutenção.
A valorização e incentivo da participação do laicato e os ministérios leigos são indicados no documento. Orienta-se, também, a atenção e acolhida às famílias que residem em condomínios e conjuntos residenciais populares, na tentativa de estabelecer proximidade e integração na comunidade. Outro aspecto contido nas pistas de ações é incentivo às paróquias para utilizar dos recursos da mídia e novas formas de comunicação e relacionamento nas atividades de evangelização.

A comunidade acolhe, forma e transforma, envia em missão, restaura, celebra, adverte e sustenta.
Ao mesmo tempo em que se constata, nesta mudança de época, uma forte tendência ao individualismo, percebe-se igualmente a busca por vida comunitária.
Esta busca nos recorda como é importante a vida em fraternidade. Mostra também que o Espírito Santo acompanha a humanidade suscitando, em meio às transformações da história, a sede por união e solidariedade.

Constatamos também o rápido crescimento das comunidades virtuais, tão presentes na cultura juvenil atual. Estes fatos abrem o coração do discípulo missionário a novos horizontes de concretização comunitária.
“As paróquias têm um papel fundamental na evangelização e precisam tornar-se sempre mais comunidades vivas e dinâmicas de discípulos missionários de Jesus”.
A busca sincera por Jesus Cristo faz surgir a correspondente busca por diversas formas de vida comunitária. Articuladas entre si, na partilha da fé e na missão, estas comunidades se unem, dando lugar a verdadeiras redes de comunidades.

Entre elas, encontram-se as Comunidades Eclesiais de Base e outras formas de novas comunidades, cada uma vivendo seu carisma, assumindo a missão evangelizadora de acordo com a realidade local e se articulando de modo a testemunhar a comunhão na pluralidade.

Comunidade implica necessariamente convívio, vínculos profundos, afetividade, interesses comuns, estabilidade e solidariedade nos sonhos, nas alegrias e nas dores. Um dos maiores desafios consiste em iluminar, com a Boa Nova, as experiências nos ambientes marcados por aguda urbanização, para os quais vizinhança geográfica não significa necessariamente convívio, afinidade e solidariedade. 
Outro grande desafio encontra-se nos ambientes virtuais, onde a rapidez de comunicação e a liberdade em relação às distâncias geográficas tornam-se grandes atrativos. Estas situações configuram desafios para a ação evangelizadora, na medida em que nada substitui o contato pessoal.

O Espírito sopra onde quer e nenhuma concretização comunitária possui o monopólio da ação deste mesmo Espírito. Nenhuma deve chamar para si a primazia sobre as demais, pois todos os membros do corpo, possuem igual valor. 

O caminho para que a paróquia se torne verdadeiramente uma comunidade de comunidades é a criatividade, o respeito mútuo, a sensibilidade para o momento histórico e a capacidade de agir com rapidez.

A Igreja se faz presente nas diversas realidades, vai ao encontro dos afastados, promove novas lideranças e a iniciação à vida cristã acontece no ambiente em que as pessoas vivem.

COMUNIDADES SÃO ESCOLAS DE DIÁLOGO INTERNO E EXTERNO. SÃO PONTOS DE PARTIDA PARA O ANÚNCIO DO DEUS DA VIDA, QUE ACOLHE, REDIME, PURIFICA, GERA COMUNHÃO E ENVIA EM MISSÃO.

Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil
2011 - 2015


CNBB

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domingo, agosto 24, 2014

“E VÓS, QUEM DIZEIS QUE EU SOU?” - XXI DOMINGO DO TEMPO COMUM


Homilia de Padre Marcos Belizário Ferreira
Domingo passado, caso não tivéssemos a festa da Assunção de Maria transferida para o XX Domingo do Tempo Comum, teríamos proclamado e ouvido a passagem do Evangelho da “mulher cananeia”; “Ó mulher, grande é a tua fé”.

Hoje a pergunta de Jesus não nos pede simplesmente nossa opinião, mas nos interpela principalmente sobre a nossa atitude diante dele. E essa atitude não transparece só em nossas palavras, mas sobretudo em nosso seguimento concreto de Jesus.
As palavras de Jesus pedem uma opção radical. Ou Jesus é para nós um personagem a mais, ao lado de muitos outros da história, ou Ele é a Pessoa decisiva que nos traz a compreensão última da existência, a orientação decisiva para a nossa vida e nos oferece a esperança definitiva.
A pergunta “e vós, quem dizeis que Eu sou?” adquire então um conteúdo novo. Não é mais apenas uma questão sobre Jesus, mas sobre nós mesmos. Quem sou eu? Em quem eu creio? A partir de que oriento a minha vida? A que se reduz  minha fé?

Todos temos de lembrar sempre de novo que a fé não se identifica com as fórmulas que pronunciamos. Para compreender melhor o alcance “do que eu creio”, é necessário verificar como vivo, a que aspiro, em que me comprometo.
Por isso, a pergunta de Jesus, mais do que um exame sobre nossa ortodoxia, deveria ser um apelo a um modo de vida cristão. Não se trata evidentemente de dizer ou crer qualquer coisa sobre Cristo.
Mas também não fazer solenes profissões de fé ortodoxa, para viver depois muio longe do espírito que essa mesma proclamação de fé traz consigo.

Confessamos a Cristo por costume, por piedade ou por disciplina , as vivemos na maioria das vezes sem captar a originalidade de sua vida, sem escutar a novidade de seu apelo, sem deixar-nos atrair por seu amor apaixonado, sem contagiar-nos por sua liberdade e sem esforçar-nos em seguir sua trajetória.

Nós o adoramos com 'DEUS', mas Ele não é o centro de nossa vida. Nós o confessamos como “SENHOR”, mas vivemos de costas para seu projeto, sem saber muito bem qual era esse projeto e o que pretendia. Nós o chamamos de “MESTRE”, mas não vivemos motivados pelo que motivava a vida dele. 
Vivemos como membros de uma religião,mas não  somos discípulos de Jesus.
Paradoxalmente , a “ortodoxia” de nossas fórmulas doutrinais pode dar-nos segurança, dispensando-nos de um encontro mais vivo com Jesus.
Não devemos enganar-nos. Cada um de nós deve colocar-se diante de Jesus, deixar-se olhar diretamente por Ele e escutar do fundo do seu ser esta pergunta que Ele nos faz: 
Quem sou eu realmente para vós? 
Responde-se a esta pergunta muito mais coma vida do que com palavras sublimes.


cf Pagola, José Antonio

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sábado, agosto 23, 2014

SER CATEQUISTA É UMA VOCAÇÃO! É UM CHAMAMENTO DA PARTE DE DEUS PARA UMA MISSÃO.

PELO EXEMPLO E PALAVRAS TÃO BELAS NOSSO DEUS, QUE É AMOR, SE REVELA E EM SEUS BRAÇOS TE RECEBERÁ.

Catequese é participação, não existe maior entre nós. Como Cristo, libertadora, é dos pequenos a vez e a voz. Catequista é missionário, sim, é canal da Palavra de Deus. Como Cristo, tem compromisso, sim, com a vida dos filhos seus.
Quem quiser ser um catequista e trabalhar por um mundo irmão: ó Divina Messe, os seus operários como estrelas no céu brilharão.


SENTIR-SE CHAMADO A SER CATEQUISTA E A RECEBER DA IGREJA A MISSÃO PARA FAZÊ-LO, PODE ADQUIRIR, DE FATO, DIVERSOS GRAUS DE DEDICAÇÃO, SEGUNDO AS CARACTERÍSTICAS DE CADA UM.

O catequista é um instrumento vivo, através do qual Deus se comunica com os homens; é um educador da fé e não um mero repetidor de uma doutrina; é um transmissor do Evangelho com a própria vida, seguindo o conteúdo, o estilo, os critérios e os métodos de Jesus, aprendendo a ter os seus mesmos sentimentos (cf. Fl 2, 5-11).

O catequista é uma testemunha, capaz de santificar Cristo em seu coração e que está sempre pronto a dar razão de sua esperança a todos aqueles a pedirem.

 Isto torna-se, por assim dizer, uma tarefa ainda maior nos nossos dias, que imersos num contexto secularizado e de inversão de valores, exigem do catequista uma capacidade de incarnar no mundo a própria fé e de comunicá-la de modo convincente e crível, a fim de que os homens se possam libertar de tudo aquilo que é contrário à sua dignidade de filhos de Deus.

COMO EDUCADOR DA FÉ DOS SEUS IRMÃOS, O CATEQUISTA É DEVEDOR A TODOS DO EVANGELHO QUE ANUNCIA, AO MESMO TEMPO EM QUE SE DEIXA EDUCAR PELA FÉ E PELO TESTEMUNHO DAQUELES QUE CATEQUIZA.

Ser destinatário de um dom de Deus e tornar-se dom de Deus para os outros, deve fazer surgir no catequista a exigência de um forte crescimento espiritual.  

Ele deve ser o discípulo que está em constante escuta do seu Mestre. Como Maria, a primeira dos discípulos do seu Filho, assim o catequista deve saber acolher com humildade e meditar a Palavra do Evangelho, referindo e pautando a própria vida nesta Palavra.

O catequista deve saber colocar-se próximo dos homens e caminhar com eles, na escuta das suas exigências, sobretudo daqueles que são considerados os últimos na sociedade: os pobres, os marginalizados  e os que não são considerados capazes, por serem portadores de deficiência física ou mental.

O CATEQUISTA, AO SENTIR ESTE CHAMAMENTO VERIFICA QUE NECESSITA COMPREENDER MELHOR SEU TRABALHO MISSIONÁRIO.

O catequista assume concretamente a história do homem e dela se torna atento leitor. Servidor da Palavra de Deus que é para o homem, ele se qualifica em particular como animador da comunidade, favorecendo a participação de todos e a tomada de consciência da história que se vive. 
Uma autêntica catequese vai para além dos muros paroquiais e atua também fora deles com a atenção viva e generosa do catequista aos problemas da sociedade.

O CATEQUISTA É CHAMADO À SANTIDADE
Na Carta Apostólica Novo Millenio Ineunte, o Papa João Paulo II enfatiza a necessidade de buscarmos a santidade em toda e qualquer atividade pastoral: “Em primeiro lugar, não hesito em dizer que o horizonte para que deve tender todo o caminho pastoral é a santidade (...) Na verdade, colocar a programação pastoral sob o signo da santidade é uma opção carregada de consequências. 

Significa exprimir a convicção de que, se o Batismo é um verdadeiro ingresso na santidade de Deus através da inserção em Cristo e da habitação do seu Espírito, seria um contra-senso contentar-se com uma vida medíocre, pautada por uma ética minimalista e uma religiosidade superficial. 

Perguntar a um catecúmeno: “Queres receber o Batismo?” significa ao mesmo tempo pedir-lhe: “Queres fazer-te santo?” Significa colocar na sua estrada o radicalismo do Sermão da Montanha: “Sede perfeitos, como é perfeito vosso Pai celeste” Mt 5,48
PARABÉNS AOS CATEQUISTAS PELO DIA DO CATEQUISTA NESSE MÊS DAS VOCAÇÕES

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sexta-feira, agosto 22, 2014

CENTENÁRIO DA MORTE DO PAPA SÃO PIO X


Cem anos atrás morria São Pio X. O ponto alto das celebrações para recordar o "Papa da Eucaristia" será vivido no próximo sábado, dia 23, com a missa que o Cardeal Secretário de Estado, Pietro Parolin, presidirá no parque do "Santuário delle Cendrole", em Riese, na província italiana de Treviso.  Ali, em 1835, nasceu Giuseppe Melchiorre Sarto – seu nome de batismo.

SÃO PIO X PROMOVEU REFORMAS PASTORAIS QUANTO À PARTICIPAÇÃO DOS FIÉIS NO CULTO. ENTRE ELAS ESTÁ A PROMOÇÃO DO CULTO EUCARÍSTICO. AINDA NO COMEÇO DO SÉCULO XX, ELE VIA NO SACRAMENTO DA EUCARISTIA UM MODO DE OS FIÉIS SE APROXIMAREM MAIS DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO.

ANTES DELE A COMUNHÃO SACRAMENTAL ERA UMA PRÁTICA POUCO COMUM, RARAMENTE REALIZADA. FOI SÃO PIO X QUEM PROMOVEU A DEVOÇÃO DA COMUNHÃO FREQUENTE E REDUZIU A IDADE MÍNIMA PARA PODER RECEBER A EUCARISTIA. ISSO FACILITOU A PRÁTICA PRECOCE DA COMUNHÃO PARA AS CRIANÇAS: A PARTIR DOS SETE ANOS JÁ SE PODERIA COMUNGAR.


Numa entrevista publicada pelo semanário da Diocese de Treviso e também reportada pelo "L'Osservatore Romano", o Cardeal Parolin ressalta as semelhanças, sobretudo no estilo do serviço, entre o próprio Pio X e o Papa Francisco.

EM PARTICULAR, O PURPURADO EVIDENCIA QUE A FIGURA DE PIO X NÃO MAIS ESTÁ "VINCULADA SOMENTE AO PROBLEMA DO MODERNISMO".
A atenção está se concentrando, sobretudo, no impulso pastoral por ele dado na Igreja de início do Séc. XX. Trata-se de uma leitura partilhada pelo professor de história contemporânea da Universidade de Pádua e membro do Comitê Pontifício de Ciências Históricas, Gianpaolo Romanato, entrevistado pela Rádio Vaticano:

Gianpaolo Romanato:- "Existem muitas afinidades, inclusive de caráter biográfico, entre Pio X e o Papa Francisco: ambos são provenientes de famílias modestas, ambos têm um estilo pastoral muito semelhante e ambos colocaram a reforma da Igreja no centro de seu Pontificado."

DE FATO, PIO X REFORMOU A CÚRIA, E ISSO NÃO OCORRIA DESDE 1588...
Gianpaolo Romanato:- "Sim, a Cúria nasceu após o Concílio de Trento, efetivamente, em 1588. 
Mesmo tendo passado por ajustamentos, permaneceu inalterada até o fim do poder temporal e coube a Pio X, no início do Séc. XX, repensá-la e reformá-la. Sucessivamente, a Cúria foi ulteriormente reformada por Paulo VI e por João Paulo II, mas nas linhas basilares, no fundo, até hoje, é a que foi pensada por Pio X, com a reforma que fez em 1908."

 SÃO PIO X TINHA MUITO A PEITO A EVANGELIZAÇÃO, A PREPARAÇÃO DAS PESSOAS PARA O CRISTIANISMO. TANTO É VERDADE QUE ELE REALIZOU TAMBÉM UM "CATECISMO" QUE FOI MUITO IMPORTANTE.
POR QUAL MOTIVO?
Gianpaolo Romanato:- "A evangelização, a 'catequese' estavam no centro da linha de governo e pastoral de Pio X. 


Não nos esqueçamos que Pio X é o único Pontífice dos tempos modernos que por muitos anos foi pároco, durante uns vinte anos: primeiro foi capelão e depois pároco em pequenas paróquias rurais. Consequentemente, a pastoral e o contato direto com a população e a transmissão da mensagem evangélica estavam no centro de sua atenção também do ponto de vista biográfico. 

Tornando-se Papa, estendeu essa linha a nível universal com as reformas litúrgicas, com as reformas da participação dos fiéis no culto, com a publicação do Catecismo e com a promoção do culto eucarístico. Antes de São Pio X a Eucaristia era uma prática distante, que se fazia raramente. Pio X, ao invés, promoveu a comunhão frequente e reduziu a idade mínima a fim de permitir o acesso das crianças à Comunhão, vendo no Sacramento da Eucaristia um instrumento contínuo aproximação do fiel a Cristo."

PORTANTO, SÃO PIO X FOI UM PAPA REFORMADOR?
Gianpaolo Romanato:- "Creio que no centro de seu Pontificado – os estudos mais recentes parecem me dar razão – encontram-se a reforma da Igreja, a pastoral, a renovação da Cúria Romana e da relação da Instituição eclesiástica com os fieis, e da participação dos fiéis. A reforma da Igreja é, portanto, o 'focus' do Pontificado." (RL)
NA LÁPIDE DO SEU TÚMULO NA BASÍLICA DE SÃO PEDRO NO VATICANO, LÊ-SE: A sua tiara era formada por três coroas: pobreza, humildade e bondade.
Foi beatificado em 1951 e canonizado em 3 de Setembro de 1954 pelo Papa Pio XII. É considerado um dos maiores Papas da Igreja. (JSG)

L'Osservatore Romano

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quinta-feira, agosto 21, 2014

O SINAL DA PAZ INSERIDO ANTES DA COMUNHÃO


A Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos quis submeter à prudente consideração das Conferências dos Bispos de cada país, conforme suas realidades, quatro sugestões práticas

No dia 8 de junho último, solenidade de Pentecostes, a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos publicou a Carta Circular 
O SIGNIFICADO RITUAL DO DOM DA PAZ NA MISSA.

Respondendo a questões surgidas no seio da Igreja, especialmente a partir do Sínodo dos Bispos sobre a Eucaristia, em 2005, o Documento afirma, após ter ouvido as Conferências Episcopais de todo o mundo, que se deve manter o “rito” e “sinal” da paz no lugar em que hoje está na Santa Missa, ou seja, entre o Pai-Nosso e a Fração do Pão. Exorta, porém, para que não haja distorção do ato, pois esta pode causar confusão entre os fiéis.

A Carta Circular tem, pois, lembrado ao início que, em duas ocasiões especiais, o Senhor Jesus ofereceu aos discípulos a sua Paz: a primeira, antes da Paixão, no cenáculo, ao dizer-lhes: “DEIXO-VOS A PAZ, DOU-VOS A MINHA PAZ” (Jo 14,27); 

A segunda, depois da Ressurreição, no local em que os apóstolos se achavam escondidos por medo dos judeus, ao comunicar-lhes: 
“A PAZ ESTEJA CONVOSCO” (Jo 20,19-23). 

Ora, é essa mesma paz que Ele oferece, hoje, à Igreja reunida na Celebração Eucarística para ser vivida e testemunhada no dia a dia.

O fato de estar o sinal da paz inserido antes da Comunhão – e aí ser mantido – demonstra que ele tem seu cume no Mistério Pascal de Cristo. Daí dizer, textualmente, o Documento que “o sinal da paz, portanto, se encontra entre o Pater noster – ao qual se une mediante o embolismo [“Livrai-nos de todos os males, ó Pai...” – nota nossa] que prepara ao gesto da paz – e a fração do pão – durante a qual se implora ao Cordeiro de Deus que nos dê sua paz. 

COM ESTE GESTO, QUE SIGNIFICA A PAZ, A COMUNHÃO E A CARIDADE’, A IGREJA IMPLORA A PAZ E A UNIDADE PARA SI MESMA E PARA TODA A FAMÍLIA HUMANA, E OS FIÉIS EXPRESSAM A COMUNHÃO ECLESIAL E A MÚTUA CARIDADE, ANTES DA COMUNHÃO SACRAMENTAL’, ISTO É, A COMUNHÃO NO CORPO DE CRISTO SENHOR” (n. 2).

No entanto, o gesto da paz não deve menosprezar o valor sagrado da Santa Missa e o mistério da comunhão sacramental, por isso 
“A CONVENIÊNCIA DE MODERAR ESTE GESTO, QUE PODE ADQUIRIR EXPRESSÕES EXAGERADAS, PROVOCANDO CERTA CONFUSÃO NA ASSEMBLEIA PRECISAMENTE ANTES DA COMUNHÃO. 

SERIA BOM RECORDAR QUE O ALTO VALOR DO GESTO NÃO FICA DIMINUÍDO PELA SOBRIEDADE NECESSÁRIA PARA MANTER UM CLIMA ADEQUADO À CELEBRAÇÃO, LIMITANDO, POR EXEMPLO, A TROCA DA PAZ AOS MAIS PRÓXIMOS” 

Isso posto, a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos deseja submeter à prudente consideração das Conferências dos Bispos de cada país, conforme suas realidades, quatro sugestões práticas. 

São elas: a) Esclarecer que “o rito da paz alcança já seu profundo significado com a oração e o oferecimento da paz no contexto da Eucaristia. O dar-se a paz corretamente entre os participantes na Missa enriquece seu significado e confere expressividade ao próprio rito”. Portanto, se for para convidar para o gesto da paz de modo “mecânico” ou se for possível prever que a saudação na Missa não atingirá o seu real objetivo, este pode e deve ser omitido, conforme já prescreve o Missal Romano n. 128.

b) Nos locais em que a saudação da paz foi distorcida com a introdução de gestos profanos, as Conferências Episcopais, a mantenham no mesmo lugar, na Missa, mas a substitua “por gestos mais apropriados”.

c) “De todos os modos, será necessário que no momento de dar-se a paz se evitem alguns abusos tais como: - A introdução de um ‘canto para a paz’, inexistente no Rito romano; - Os deslocamentos dos fiéis para trocar a paz; - Que o sacerdote abandone o altar para dar a paz a alguns fiéis; - Que em algumas circunstâncias, como a solenidade de Páscoa ou de Natal, ou Confirmação, o Matrimônio, as sagradas Ordens, as Profissões religiosas ou as Exéquias, o dar-se a paz seja ocasião para felicitar ou expressar condolências entre os presentes”.

d) As Conferências Episcopais estão convidadas, nesse contexto, a preparar catequeses sobre o Rito da Paz e seu correto desenvolvimento na celebração da Santa Missa seguindo as pistas orientadoras da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos que acompanham a Carta Circular.
Por fim, pede-se que: 
a) o gesto da paz, bem vivenciado na Santa Missa, nos faça construtores de um mundo mais justo e pacífico em uma relação entre o que se reza, se crê e se vive (cf. n. 7); 
b) os Bispos, e, em comunhão com eles, os sacerdotes, aprofundem o significado do rito da paz na Santa Missa, na formação litúrgica e espiritual em oportunas catequeses aos fiéis, pois nesse gesto humano elevado ao âmbito do sagrado a paz do Senhor Ressuscitado é invocada, anunciada e difundida (cf. n. 8).

Eis, em breves palavras, o teor do breve Documento assinado pelo Cardeal Antônio Cañizares Llovera, prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, com anuência do Papa Francisco, como norma disciplinar sobre o gesto da paz na Santa Missa.

(11 de Agosto de 2014) © Innovative Media Inc.

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