sexta-feira, abril 26, 2024

JUBILEU 10 ANOS DA MORTE DO PADRE MARCOS ANTÔNIO









A morte faz parte de nossa realidade humana, por mais difícil que seja compreende-la. Muitas vezes não compreendemos que a experiência da eternidade e imortalidade está além desta experiência terrena. Ela transcende nossa existência e somente pela certeza da Ressureição poderemos vive-la.


Facilmente misturamos estas realidades e, quando morre um padre, parece que nos “assusta” ainda mais…. Talvez imaginemos que ele, por estar próximo do sagrado, servir e viver do sagrado,  possa ser imortal, mesmo nesta realidade temporal em que vivemos, pois esquecemos que ele é humano.


Diante dessa nossa compreensão e dilema, deveríamos pensar na perda que temos quando morre um padre. Talvez para nossa experiência humana seja mais um que partiu. Mas, para a experiência eclesial, é  um sacerdote a menos a consagrar a Eucaristia para centenas de pessoas, um instrumento a menos para oferecer conforto aos enfermos, um ombro a menos para manifestar a misericórdia por meio da reconciliação, um assistente a menos para ser sinal de bênção aos nossos matrimônios, um ministro a menos para oferecer a possibilidade de nos inserir em Cristo pelo batismo. Para o Padre, a morte deve ter pela fé, a certeza e a tranquilidade de conseguir, não por méritos próprios, mas do Cristo, a coroa da glória aos que combateram o bom combate, e foram capazes de guardar a fé como nos afirma São Paulo.


Quando o Padre morre, “começa a virar santo”! Vemos centenas de pessoas que parecem esquecer o quanto o criticavam, o quanto não o compreendiam, não o aceitavam, não respondiam aos seus apelos, nem aos apelos da construção do reino que é do Cristo. Ao  invés,  deveriam  ter confiado nele como parte daquela porção de povo chamada de paróquia.


Quando o padre morre, morrem com ele suas angustias, sofrimentos, solidões, incompreensões, dramas existenciais, pastorais, econômicos….. Neste sentido, muitas vezes o padre não apenas morre, mas como diz o ditado popular, “ele descansou”.


Quando o padre morre, descansa das cobranças que lhe tocam todos os dias. Cobrança da sociedade que exige que ele deixe, muitas vezes, de ser humano e seja um ser divino e perfeito, como os que o julgam não conseguem ser. Cobrança  de administrar uma paróquia, pagar as contas, funcionários, repasse de dinheiro para a cúria, motivar campanhas, fazer festa, cantar bingo, vender carnês, vender pastel, caldinho, pizza, feijoada etc.


Todas estas cobranças vão sufocando a vida do padre. Seja pelo vazio das casas paroquiais, seja porque seu povo recebeu, muitas vezes, respostas às cobranças feitas, mas não conseguiu, talvez por falta de sensibilidade, oferecer ao padre um retorno, não apenas econômico, mas de afeto, atenção e preocupação. Quantos leigos ligam para seus padres para saber se este está bem? Quantos leigos ao encontrar o padre procuram saber se ele está feliz? Quantos procuram saber se a sua saúde está em dia? Quantos bispos ligam para seus padres para reconhecer seu valor que vai além dos valores que ele tem que repassar para cúria?


Talvez a expressão popular seja real e atual quando um padre morre. É, ele descansou!


Que possamos antes deste dia, ter um gesto, mesmo que pequeno, de afeto e atenção aos nossos padres. No dia da missa de corpo presente, será tarde. Talvez até as palavras e mensagens sejam vazias , assim como algumas lágrimas do povo que nunca buscou valorizar, visitar, amar, cuidar e se preocupar com seu padre.


Não deixe para amar e valorizar seu pastor apenas quando o “padre morre”.


quinta-feira, abril 25, 2024

SÃO MARCOS











João Marcos era judeu, da cidade de Jerusalém. Era ainda menino quando os fatos da morte e ressurreição de Jesus aconteceram. Seu pai não é conhecido. Sua mãe, ao contrário, é citada no livro dos Atos dos Apóstolos 12, 12. Por causa da importância de seu filho, ela ficou conhecida como Maria, mãe de João Marcos e, também, Maria de Jerusalém. A Tradição diz que São Marcos foi batizado por São Pedro, de quem ele era discípulo.

Seu lar, uma igreja

São Marcos pertencia a uma das primeiras famílias cristãs da cidade de Jerusalém. Ele não chegou a ser discípulo de Jesus, mas conheceu o Mestre. Segundo a Tradição, foi em sua casa que Jesus celebrou a ceia Pascal e onde instituiu a Eucaristia. Foi também em sua casa que cerca de cento e vinte pessoas, contando com a Virgem Maria e os discípulos, receberam a efusão do Espírito Santo no dia de Pentecostes. Por isso, sua casa passou a ser conhecida como Cenáculo, que significa “local de reunião”. Pela casa mencionada no livro dos Atos, pode-se imaginar que sua família era bem situada economicamente. Ainda criança, Marcos viu seu lar ser transformado no ponto de encontro dos cristãos de Jerusalém. Ali, com efeito, passou a ser o local de reunião dos apóstolos e de todos os cristãos primitivos.


Discípulo de Pedro e Paulo

Mais tarde, quando jovem, Marcos tornou-se discípulo de Pedro e foi com ele para Roma. Lá, ainda jovem, começou a preparar seu escrito sobre a vida de Jesus, que viria a se tornar o Segundo Evangelho. Em Roma, Marcos também prestou serviços a são Paulo, quando este estava preso pela primeira vez. Seus préstimos foram de tão grande ajuda que, quando foi preso novamente, Paulo escreveu uma carta a Timóteo pedindo que este levasse seu precioso colaborador, Marcos, até Roma, para ajudá-lo na missão apostólica. 


O Evangelho de Marcos

O Evangelho escrito por São Marcos é mais curto que os demais (Mateus, Lucas e João). Porém, traz uma visão muito especial, aquela de quem acompanhou a paixão e os sofrimentos de Jesus quando era apenas um menino. A tônica do Evangelho de Marcos está em demonstrar a glória de Deus que nos foi revelada em Jesus e sua missão. Marcos escreveu atendendo ao pedido dos fiéis de Roma. Com efeito, ele tinha todo o conteúdo sobre a vida de Jesus, recebido diretamente de São Pedro. E, Pedro, além de aprovar o manuscrito, ordenou que sua leitura fosse feita em todas as igrejas. Assim começou a se espalhar o Evangelho segundo São Marcos. 


Sobrinho de Barnabé

Marcos tinha a fé cristã em seu DNA. Além de ser filho de Maria, que cedeu sua enorme casa para a Igreja nascente, era também sobrinho de São Barnabé, que foi grande companheiro de são Paulo em viagens missionárias pelo Oriente Médio e Europa. Por isso, ele certamente conheceu todos os apóstolos e todos os grandes evangelizadores da igreja primitiva.


Simbolizado pelo Leão

São Marcos é simbolizado por um leão e isso tem um motivo muito especial. É que ele começa seu Evangelho apresentando missão do profeta João Batista. João Batista, ficou conhecido como a "voz grita no deserto". Ora, nos tempos primitivos, o leão habitava os desertos e seus rugidos impunham temor e respeito. Por isso, São Marcos é representado pelo leão.


Missionário evangelizador

Levando seu manuscrito do Evangelho, São Marcos partiu em missão apostólica, depois da morte de São Pedro e de São Paulo. Segundo a Tradição, ele foi pregar na ilha de Chipre. Em seguida, foi para a Ásia Menor e, depois, ao Egito. Lá, pregou especialmente em Alexandria. Nesta cidade, ele fundou uma das igrejas que mais cresceram.


Morte

A Tradição nos conta que São Marcos foi martirizado numa festa de Páscoa, justamente quando celebrava o “partir do pão”, que era como os primeiros cristãos chamavam a celebração da santa missa. Anos depois, suas relíquias foram levadas para Veneza, por mercadores italianos. Hoje, elas estão guardadas na famosa Catedral de São Marcos, na mesma cidade. A partir do ano 828, Veneza assumiu São Marcos como padroeiro.


Oração a São Marcos

“Deus Eterno e Todo Poderoso, nós vos pedimos as bençãos e graças necessárias, para a nossa Salvação, pela intercessão poderosíssima do evangelista São Marcos. Tudo isto vos pedimos Pai Celeste, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, na Unidade do Espírito Santo. Amém. São Marcos, rogai por nós.”


terça-feira, abril 02, 2024

VIGÍLIA PASCAL





Entramos no mistério da Páscoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. A Páscoa é a celebração do amor de Deus por nós, é o amor de Deus encarnado que se manifesta na Paixão do Seu Filho. A Paixão de Jesus nos salva e nos resgata; e Jesus começa a Sua Páscoa celebrando a Eucaristia com os Seus discípulos. Ele mesmo se dá em alimento, Ele se torna o alimento. A Eucaristia é o próprio Senhor que se dá a nós. Aquilo que Jesus faz, Ele também ensina o que nós devemos fazer. Se Ele se deu a nós, também devemos nos dar uns aos outros.

 

A Eucaristia não é o mistério da introspecção, pelo contrário, a Eucaristia nos arranca de nós para nos levar aos outros, a Eucaristia nos faz penetrar no amor que Deus tem por nós, e nós Acendendo o fogo e o Círio Pascal, celebramos a luz.

Luz significa presença amorosa de Deus.

Luz significa a salvação, a morte para o pecado e para as trevas.

 

As palavras que iluminam esta noite santa são as do próprio ressuscitado: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida”. É a expressão da divindade de Cristo e a salvação que trazia à humanidade.

 

Jesus podia ter dito essas palavras nessa madrugada da Páscoa, ao sair da sepultura. Porque em sua ressurreição, o Senhor, quis compartilhar conosco tanto a divindade quanto a salvação, ou seja, a comunhão com Deus.

 

O Evangelho nos apresenta uma recomendação que deve ser dada as três Marias, de irem à Galiléia transmitir aos apóstolos o que viram. A famosa conclusão breve de Marcos parece, inicialmente, pouco apta para a pregação. Termina aparentemente de maneira pouco pascal, pelo silêncio das mulheres – por medo – a respeito do sepulcro vazio e a mensagem do anjo. Mas, quem sabe, para Marcos, Jerusalém é o lugar da incredulidade e a Galiléia o lugar da fé do pequeno rebanho? Ele entende que o anúncio da ressurreição não foi feito logo em Jerusalém, mas primeiro se devia reconstituir o rebanho na Galiléia, precedendo o Bom Pastor, que deve reunir o rebanho escatológico: Jesus Cristo ressuscitado. Agora já não somos mais ovelhas sem pastor. Somos ovelhas reunidas perante o grande e único pastor: o Redentor que ressuscitou para salvar nossos pecados.

 

Vivemos a Páscoa que significa passagem, que significa vida da graça em Deus.

 

Nesta noite santa celebramos a vitória da vida, da vida em abundância, que vem da vitória da graça sobre o pecado.

 

Páscoa bendita da libertação. Não uma libertação política, mas uma libertação escatológica.

 

Cristo, com a ressurreição, é o Senhor da História, como eleição gratuita de Deus. Por esta morte bendita e, ainda mais, pela sua ressurreição, todos nós, sem exceção, devemos dar testemunho de seu Evangelho diante do mundo. Devemos ser uma comunidade que testemunha e vive a Ressurreição.

 

Um costume da Igreja Antiga, como certa vez nos indicou o papa Bento XVI, deve ainda ser um sinal para nossos tempos. Relata-nos o Vigário de Cristo que, em priscas eras, era hábito o bispo ou sacerdote, após a homilia, conclamar os fiéis “Conversi ad Dominum”, ou seja, “Voltai-vos para o Senhor”. Nesse instante, todos se viravam para o Oriente, ou para a imagem do Cristo, numa expressão de retornarem ao Senhor. “Com efeito, em última análise era deste fato interior que se tratava: da ‘conversio’, de voltar a nossa alma para Jesus Cristo e, n’Ele, para o Deus vivo, para a luz verdadeira”, nos explica o Papa (Vigília Pascal de 2008).

 

Essa exortação que nos chama a conversão inspira-nos a outra, comum em nossas celebrações: “Sursum corda” – “Corações ao alto”. Devemos sempre buscar as coisas do alto, as coisas de Deus, com a sua graça, sob a inspiração do Espírito Santo. Ambas as exclamações nos inspiram a busca de reforma de vida, de um renascer, a partir dos méritos da paixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, para vivermos a plenitude da Ressurreição.

 

Páscoa não é apenas um dia no calendário litúrgico, não é apenas uma celebração bonita, rica de simbolismos, mas uma constante renovação da vida, que nesta noite santa nos libertou do império do pecado que ameaça a dignidade dos homens.

 

Celebrando esta Páscoa do Senhor, cantamos antecipadamente a vitória de todos os que lutam pela vida, inclusive dando a sua própria vida em benefício da implantação do Reino de Deus neste mundo.

 

Que esta noite sacramento, sacramento de vida eterna, nos faça cada vez mais buscar enxergar no pobre e no excluído o rosto do Senhor Ressuscitado. Amém! aleluia!


















segunda-feira, abril 01, 2024

TRANSLADAÇÃO DO SANTÍSSIMO










“Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem.” (Lc. 23,34) Jesus, sempre nos revelou o perdão do Pai. Nos encontros com os pecadores revelou a misericórdia redentora de Deus. E na Cruz, Jesus mostrou que é possível viver a maior exigência da fé cristã: o perdão incondicional a todos. O perdão revela a dignidade e humanidade no coração de quem perdoou e sendo oferecida a quem feriu. Na vida cotidiana, quando nos decepcionarem, nos traírem, nos abandonarem, nos humilharem e caluniarem, contemplemos o Senhor dilacerado na Cruz, dizendo: “Pai, perdoai-lhes.”

 

“Hoje estarás comigo no paraíso” (Lc. 23,43). Jesus morre entre dois ladrões. Ali Ele é o único inocente e justo, todavia não assume o papel de condenador, mas oferece uma nova chance de salvação. Jesus revela uma promessa que muitos precisam ouvir, sobretudo aqueles que sofrem carregando pesadas cruzes injustas e vivem vidas devastadas pela dor, pela solidão, dúvida ou humilhação.

 

 “Mulher, eis o teu filho; filho, eis a tua mãe” (Jo. 19,26): O sim dado por Maria no momento da Encarnação repercute até à Cruz. Sua resposta a acompanhou durante toda a vida. Jesus, crucificado e desprovido de tudo, nos oferece um tesouro. Entrega-nos sua mãe para que seja presença cuidadora e consoladora.

 

“Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?” (Mt 27,46) Aqui contemplamos todo o aniquilamento do Senhor. É aquilo que São Paulo afirma: “aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo” (Fl. 2,8). Jesus sofreu todo o aniquilamento moral, psicológico, afetivo, físico, espiritual, pois Ele “foi castigado por nossos crimes e esmagado por nossas iniquidades.” (Is. 53,5).

 

“Tenho sede…” (Jo. 19,28) Jesus tinha sede de muitas coisas: Sede de fazer a vontade do Pai, de anunciar o Reino, de defender a vida, de servir, etc. Os santos afirmam que na Cruz, a sede que Jesus revela é na verdade a sede de Deus de salvar toda a humanidade. Hoje, muitos pelos quais ele derramou o seu sangue preciosíssimo, continuam vivendo no pecado, afastados do amor de Deus e da Igreja. Quantos nem sequer buscam à Missa aos domingos, não sabem o que é uma Confissão, não comungam, não rezam, enfim, vivem como se Deus não existisse?

 

“Tudo está consumado” (Jo. 19,30). Cristo proclama, com as poucas forças que lhe restam, para o universo que a dívida imposta pelo pecado está “paga”. Mesmo que aos olhos humanos sua morte pareça um fracasso total, na cruz tudo é pago e consumado. Nela, o Senhor mergulha nas trevas do sofrimento humano e ali revela a presença do Deus “compassivo e clemente e misericordioso” (Ex.34, 6-7 / Sl. 86, 15). Do alto da Cruz, Jesus manifesta a consciência que não viveu em vão. Sua vida frutuosa, consumada com amor, no amor e pelo amor, torna sua morte fecunda a ponto de fazer surgir vida em abundância.

 

“Pai, em tuas mãos entrego meu espírito” (Lc. 23,46) Só quem viveu intensamente a vida doada pode acolher a própria morte com paz, confiança, serenidade e abandono nos braços do Deus. Jesus morre como viveu: totalmente entregue na confiança ao Pai. Ele que foi as mãos do Pai atuando no mundo, agora entrega-se nos seus divinos braços. Jesus que viveu em divina comunhão com o Pai, no momento de intenso desespero, quando deveria abandonar a confiança por se sentir infinitamente desamparado, oferece todo seu Ser para ser acolhido por Deus Pai.

 

Estas palavras, proferidas por Jesus nos levam a fixar os olhos em sua Cruz. Lembrando que só podemos crer Nele se estivermos dispostos enxergar todos os seres humanos que sofrem por causa do pecado no mundo em todas as épocas.

 

O que contemplamos na Cruz? A expressão da plena compaixão e comunhão de Deus com os sofredores. Ela aponta para Aquele que foi plena e permanentemente fiel ao Pai e ao seu Reino. A partir da Cruz de Jesus, descobrimos o sentido da sua existência.






















sábado, março 30, 2024

MISSA LAVA-PÉS







Jesus lavou os pés dos Seus apóstolos na última Ceia, os lavou com amor, com o sinal, com o gesto mais concreto daquele que ama e serve, porque, quem ama se coloca a serviço para cuidar e tratar.

 

Quer coisa mais íntima do que os pés de alguém? Quer coisa mais serviçal do que colocar-se aos pés de alguém? Deveríamos nos colocar sempre aos pés de Deus, mas Ele colocou-Se aos nossos pés. Ele se fez um de nós e não começou pela cabeça porque Ele não entra pela nossa cabeça, pois somos cabeças duras demais.

 

Deus quer entrar pelo nosso coração, mas o coração já tem muitos amores, paixões, seduções e ilusões, então, Deus vem entrando por baixo, pelos nossos pés. Ele vem nos servindo e nos puxando, nos lavando por baixo para poder atingir todo o nosso ser, para realmente nos conquistar inteiros, porque Ele não quer somente um pedaço de nós.

 

Deus veio para resgatar a criatura inteira, pois fomos criados à Sua imagem e semelhança. Por isso, digo que: da ponta dos seus pés até o seu último fio de cabelo seja todo de Jesus, porque Ele veio para nos resgatar por inteiros.

 

Receba aquilo que Jesus te enviar, porque, Aquele que nos ama também envia-nos correção, exortação, admoestação, Seu amor, Seu consolo, Sua misericórdia e bondade.

 

Não podemos ser aquelas pessoas seletivas no que diz respeito à Palavra de Deus. Temos de ser seletivos naquilo que estamos assimilando do mundo; selecione e jogue fora aquilo que não presta.

 

Em Deus temos que acolher aquilo que Ele nos envia para nos corrigir, nos orientar e nos formar, porque, quando assim os recebemos também estamos recebendo-O em nós.

 

Deus envia tantas coisas para nos corrigir, Ele envia tantas pessoas para falar ao nosso coração. É Deus quem fala por meio de uma homilia, de uma exortação como essa; é Deus quem fala pelos Seus profetas verdadeiros e autênticos; é Deus quem fala pelas pessoas humildes que vão, em Seu nome, levar o Evangelho. É Deus quem fala a nós pelos fatos, acontecimentos e, acima de tudo, pela Sua Palavra.

 

Quem recebe aquele que Jesus enviar está recebendo a Ele; e quem recebe Jesus, está recebendo o Pai que O enviou.

 

Não diga que Deus não vem ao seu encontro porque Ele vem sempre, somos nós quem não O acolhemos, não O recebemos, colocamos barreiras e queremos receber aquilo que nos é conveniente.

 

Fico olhando as pessoas que ficam tirando aquelas palavras que vêm naquelas caixinhas de orações e palavras bíblicas: a pessoa tira, então, se gosta da palavra, ela fica; se não gosta, ela muda, não recebe. Porém, toda e qualquer Palavra de Deus é Ele quem está nos falando.

 

Precisamos ter o coração para saber acolher, ouvir e escutar o que Deus quer direcionar e cuidar.
















quinta-feira, março 28, 2024

DOMINGO DE RAMOS





A liturgia deste domingo tem seu ápice na leitura da narrativa da paixão do Senhor (cf. Mc 14,1-15,47).  Para muitos cristãos é a única ocasião que têm para ouvir, no decurso de uma assembleia litúrgica, esta parte do Evangelho.  A celebração se abre com o “Hosana!” E culmina com o “Crucifica-o!”  Mas o texto evangélico nos convida a contemplar a paixão e morte de Jesus: É o momento supremo de uma vida feita a serviço do homem.  O relato do Evangelista São Marcos está fundamentado em acontecimentos concretos e apresenta Jesus como o Filho de Deus que aceita cumprir o projeto do Pai, mesmo quando esse projeto passa por um destino de cruz.

 

Pode-se destacar ainda no relato da paixão apresentado por São Marcos, o interrogatório ao qual Jesus é submetido no palácio do sumo sacerdote. Em um certo momento Jesus não hesita em esclarecer os fatos e em deixar clara a sua divindade. Quando o Sumo sacerdote perguntou a Jesus diretamente se Ele era “o Messias, o Filho de Deus bendito” (Mc 14,61), Jesus responde imediatamente: “Eu sou. E vereis o Filho do Homem sentado à direita do Todo poderoso vir sobre as nuvens do céu” (Mc 14,62). A expressão “eu sou” (egô eimi) nos leva ao nome de Deus no Antigo Testamento: “Eu sou aquele que sou” (Ex 3,14).  Na perspectiva do evangelista São Marcos, esta é a afirmação que confirma a divindade de Jesus. A referência ao “sentar-se à direita do Todo poderoso” e ao “vir sobre as nuvens” sublinha, também, a dignidade divina de Jesus, que um dia aparecerá como juiz soberano da humanidade inteira. O sumo sacerdote percebe perfeitamente o alcance da afirmação de Jesus, o que o faz manifestar a sua indignação rasgando as vestes e condenando Jesus como blasfemo.

 

O centurião romano, junto da cruz de Jesus, confirma: “Na verdade, este homem era Filho de Deus” (Mc 15,39). Mais do que uma afirmação histórica, esta frase deve ser vista como uma “profissão de fé” que o Evangelista São Marcos nos convida a fazer. Depois de tudo o que foi testemunhado ao longo do Evangelho em geral, e no relato da paixão, a conclusão é óbvia: Jesus é mesmo o Filho de Deus que veio ao encontro da humanidade para lhe apresentar uma proposta de salvação.

 

Ao perceber a morte próxima, Jesus faz uma oração dizendo: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?” (Mc 15,34). Esta oração de Jesus indica que a sua natureza humana se une a cada um de nós.  Como qualquer outro ser humano, Jesus também experimenta a solidão, o abandono, o sentimento de impotência, a sensação de fracasso. No âmago do seu drama, Jesus sente que foi abandonado por Deus. Mas, com isto, parece se solidarizar com cada homem que sofre e experimenta a fragilidade, o drama e a debilidade que a vida pode oferecer. Em todos os relatos da paixão, Jesus aparece a enfrentar sozinho este abandono.  São Marcos sublinha a solidão de Jesus, nesses momentos dramáticos.

 

Abandonado pelos discípulos, escarnecido pela multidão, condenado pelos líderes, torturado pelos soldados, Jesus percorre na solidão e indiferença de todos, o seu caminho de morte.  Contudo, podemos frisar que apesar destes relatos, sublinhando como Jesus se comporta ao longo de todo o processo que conduz à sua morte, nota-se que ele nunca se descontrola, nunca recua, nunca resiste, mas está sempre sereno e digno, enfrentando o seu destino de cruz. A atitude de Jesus é a atitude de quem sabe e está decidido a cumprir a missão que o Pai lhe confiou.

 

Possamos nestes dias da Semana Santa estar unidos à Virgem Maria no Monte Calvário, permanecendo ela aos pés da Cruz, velando com ela o Cristo morto, aguardando também com ela o dia luminoso da ressurreição.  Que ela interceda por nós e nos faça direcionar os nossos passos no caminho da verdade e do bem.  Assim seja.












terça-feira, março 12, 2024

IV DOMINGO DA QUARESMA









“Alegra-te, Jerusalém! Reuni-vos, vós todos que a amais; vós que estais tristes, exultai de alegria! Saciai-vos com a abundância de suas consolações” (Is 66,10s). Caríssimos em Cristo, estas palavras de Isaías dão o tom da liturgia deste Domingo, chamado pela liturgia de Domingo Laetare – Domingo “Alegra-te!” No meio da Quaresma, na metade do caminho para a a celebração da Ressurreição do Senhor, a Igreja nos convida à alegria pela aproximação da Santa Páscoa. Daí hoje a cor rosa e as flores na igreja. “Alegra-te, Jerusalém!” – Jerusalém é a Igreja,é o Povo santo de Deus, o novo Israel, é cada um de nós… Alegremo-nos, apesar das tristezas da vida, apesar da consciência dos nossos pecados! Alegremo-nos, porque a misericórdia do Senhor é maior que nossa miséria humana!

Como o povo da Antiga Aliança, também nós tantas vezes somos infiéis – já devíamos ter visto isso claramente a essa altura da Quaresma! É trágico, na primeira leitura, o resumo que o Livro das Crônicas traçou da história de Israel: “Todos os chefes dos sacerdotes e o povo multiplicaram suas infidelidades, imitando as práticas abomináveis das nações pagãs. O Senhor Deus dirigia-lhes a palavra por meio de seus mensageiros, porque tinha compaixão do seu povo. Mas, eles zombavam dos enviados de Deus, até que o furor do Senhor se levantou contra o seu povo e não teve mais jeito”. Com estas palavras dramáticas, o Autor sagrado nos explica o motivo do terrível e doloroso exílio da Babilônia: Israel fez pouco de Deus, virou-lhe as costas; por isso mesmo, foi expulso do aconchego do Senhor na Terra que lhe fora prometida, perdeu a liberdade, o Templo, a Cidade Santa, e tornou-se escravo no Exílio de Babilônia. Aqui aparece toda a gravidade do pecado, que provoca a ira de Deus! É sempre essa a conseqüência do pecado: o exílio do coração, a escravidão da vida! A Escritura nos ensina, caríssimos, que Deus nunca faz pouco do nosso pecado, nunca passa a mão na nossa cabeça, jamais faz de conta que não pecamos! Jamais despensa de modo leviano as nossas infidelidades! E por quê? Porque realmente nos ama, nos leva a sério, faz conta de nós! Ora, o pecado, afastando-nos de Deus, nos desfigura e nos faz perder o rumo e o sentido da existência. Por isso mesmo, causa a ira de Deus! Pois bem, o Senhor levou, então, seu povo para o terrível deserto do Exílio para corrigi-lo e fazê-lo voltar de todo o coração para Aquele que é seu único bem, sua verdadeira riqueza – aquele que é o seu Deus! É por misericórdia que ele corrige Israel, por misericórdia que nos corrige: “Pois o Senhor não rejeita para sempre: se ele aflige, ele se compadece, segundo sua grande bondade. Pois não é de bom grado que ele humilha e que aflige os filhos do homem” (Lm 3,31-33). Deus é amor e misericórdia. A leitura do Livro das Crônicas nos mostrou que, uma vez Israel convertido, corrigido, o Senhor fá-lo voltar para a Terra sempre prometida. Sim, efetivamente, “não é de bom grado que ele humilha e que aflige os filhos do homem”.

Caríssimos, esta mesma ideia que tantas vezes aparece no Antigo Testamento, cumpre-se de modo definitivo em Cristo Jesus. Hoje, o Senhor, com palavras comoventes, explica a Nicodemos a sua missão: “Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho unigênito, para que não morra todo aquele que nele crer, mas tenha a vida eterna. De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele”. Porque “estávamos mortos por causa de nossos pecados”, Deus, na sua imensa misericórdia, nos deu a vida no seu Filho único. Vede, irmãos: há duas realidades que são bem concretas na nossa existência. Primeiro, a realidade do nosso pecado. Nesta metade de caminho quaresmal, é preciso que tenhamos a coragem de reconhecer que somos pecadores, que temos profundas quebraduras interiores, paixões desordenadas, desejos desencontrados que combatem em nós… Quantas incoerências, quantos fechamentos para Deus e para os outros, quantas resistências à graça, quantas máscaras! A humanidade é isso! Não somos bonzinhos! Somos todos feridos, todos doentes, todos pecadores, todos necessitados da salvação! Mas, ao lado dessa realidade tão triste, há uma outra: Deus não se cansa de nós; estende-nos a mão para nos tirar do nosso atoleiro e nos salvar! Essa mão estendida é o seu Filho Jesus! Deus amou tanto o mundo, levou-nos tão a sério, que entregou o seu Filho, o Amado, o Único, o Santo! Grande o nosso pecado, imensa a misericórdia de Deus em Cristo; grande a nossa treva, imensa a Luz de Deus que nela brilhou em Cristo; grande o nosso egoísmo; imenso o amor de Deus manifestado em Cristo; grande a nossa morte; imensa a Vida que nos foi dada em Cristo Jesus, nosso Senhor!

Amados em Cristo, a grande tentação de nossa época é fazer pouco de Deus e, cinicamente, mascarar nosso pecado. Quantos cristãos adulteram, roubam, fornicam, abortam, negligenciam seus deveres para com Deus e com a Igreja, desobedecem aos mandamentos, e não estão nem aí. É um espírito de descrença, de falta de atenção e delicadeza para com o Senhor. Vemos isso em tanta gente de Igreja… Aqueles que nos corrigem são chamados logo de reacionários, fechados, sem misericórdia, duros, insensíveis para o mundo atual… E no entanto, a Palavra do Senhor é clara: é necessário que fixemos o olhar em Cristo que se entregou por nós e reconheçamos a gravidade e a concretude do nosso pecado! Volta, Israel! Volta, Igreja de Cristo! Volta, povo do Senhor! Voltemos, irmãos e irmãs! Em Cristo Jesus, nosso Salvador, “Deus quis mostrar a incomparável riqueza da sua graça!” Não brinquemos com o amor de Deus, não recebamos em vão a sua correção!

Recordemos que hoje, no Evangelho, após mostrar o imenso amor de Deus pelo mundo, a ponto de entregar o Filho amado, Jesus nos previne duramente: Quem nele crê, não é condenado, mas, quem não crê, já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho unigênito”. Ora, caríssimos, acreditar no nome de Jesus não é aderir a uma teoria, mas levá-lo a sério na vida pelo esforço contínuo de conversão à sua Pessoa divina e à sua Palavra santa! Crede, irmãos, crede, irmãs! Crede não com palavras vãs! Crede com o afeto, crede com o coração, crede com os lábios, mas, sobretudo, crede com as mãos, com os vossos atos, com a prática da vossa vida! De verdade creremos na medida em que de verdade nos abrirmos para a sua luz; pois “o julgamento é este: a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz”.

Que o Senhor nos dê a graça de ver realisticamente nossos pecados, reconhecê-los humildemente e confessá-los sinceramente, para celebrarmos verdadeiramente a Páscoa que se aproxima e dela participar eternamente na glória do céu. Amém.









segunda-feira, março 04, 2024

3º DOMINGO DA QUARESMA









Comecemos pela primeira leitura a nossa meditação da Palavra de Deus para este Domingo.

 

Que nos apresenta o Livro do Êxodo? As Dez Palavras, os Mandamentos de Torá. A palavra “mandamento” tem hoje um significado antipático. Não gostamos de mandamentos, de normas, de preceitos. No entanto, para um judeu – e também para um cristão -, os preceitos, os mandamentos do Senhor, são uma bênção, um sinal de carinho paterno de Deus, que Se volta para nós e nos abre o Seu Coração, falando-nos da vida, mostrando-nos o caminho, iluminando a direção da nossa existência. Foi com esse sentido que o Senhor nosso Deus deu a Lei, revelou os preceitos a Israel. A Lei não deveria ser vista como um feixe pesado e opressor de proibições, mas como setas que apontam para o caminho da Vida e nos fazem descansar no Coração de Deus.

 

O próprio termo hebraico torá, que traduzimos por lei, significa, na verdade instrução. Na Lei, na Instrução, Deus nos fala da vida porque deseja conviver com o Seu povo. Sendo assim, os preceitos são uma bênção! O profeta Baruc afirma isso com palavras comoventes: Escuta, Israel, os mandamentos da Vida; presta ouvidos, para conheceres a prudência. Por que Israel, por que te encontras na terra dos teus inimigos, envelhecendo em terra estrangeira? É porque abandonaste a fonte da Sabedoria. Ela é o livro dos preceitos de Deus, a Lei que subsiste para sempre: todos os que a ela se agarram destinam-se à Vida, e todos os que a abandonam perecerão. Volta-se, Jacó, para recebê-la; caminha para o esplendor, ao encontro de sua luz! Não cedas a outrem a tua glória, nem a um povo estrangeiro os teus privilégios. Bem-aventurados somos nós, Israel, pois aquilo que agrada a Deus a nós foi revelado” (Br 3,9-10.12; 4,1-4).

 

Eis, pois, o que são os mandamentos: uma luz, um caminho de liberdade, porque nos faz conhecer o Coração de Deus e os Seus sonhos para nós. Viver na Palavra de Deus, mergulhar nos Seus preceitos é viver o Seu sonho para nós, é ser livre, maduro e feliz. Por isso o Salmista, hoje, canta: “A Lei do Senhor Deus é perfeita, conforto para a alma! O testemunho do Senhor é fiel, sabedoria dos humildes. Os preceitos do Senhor são precisos, alegria ao coração. O mandamento do Senhor é brilhante, para os olhos é uma luz. Suas palavras são mais doces que o mel, que o mel que sai dos favos!”

 

E, no entanto, Israel violou a Lei de Deus, fechou-se para os preceitos do Senhor... E por quê? Porque não basta seguir um feixe de regras e normas para agradar a Deus. A Lei somente tem sentido se for vivida como uma relação de amor. Olhai bem como começa o Decálogo: “Eu sou o Senhor teu Deus que te tirou do Egito, da casa da escravidão. Não terás outros deuses diante de Mim”. Aqui está já dito tudo: por lado Deus, apaixonado, fiel, amoroso: tirou o Seu povo da miséria de suas escravidões. Por outro lado, o povo: de quem Ele espera um coração totalmente dedicado ao seu Deus: “Não terás outros deuses diante de Mim!” É esta relação de amor que Israel quebrou, contentando-se muitas vezes com um legalismo vazio e frio.

 

A imagem dessa situação, vemo-la no Evangelho de hoje: o Templo, lugar do encontro de Deus com o Seu povo, transformado numa espelunca, numa casa de comércio, um lugar de prostituição do coração, de idolatria... É idolatria a ganância, é idolatria a impiedade, é idolatria reduzir a religião a um negócio lucrativo, é idolatria pensar que se pode manipular Deus com um dízimo, com um rito ou com um volume da Bíblia! O Senhor previne: “Eu sou o Senhor vosso Deus que não aceita suborno!” (Dt 10,17) Por isso Jesus age de modo tão violento: Fez um chicote de cordas e expulsou todos do Templo, junto com as ovelhas e os bois; espalhou as moedas e derrubou as mesas dos cambistas. Disse aos que vendiam pombas: ‘Tirai isso daqui! Não façais da Casa de Meu Pai uma casa de comércio!’” que significa este gesto de Jesus? É uma pregação pela ação, uma ação profética, uma ação, um gesto que vale por uma pregação. Jesus está revelando a santa ira de Deus contra o seu povo... Hoje em dia, com uma mania boboca de sermos politicamente corretos (coisa que nunca assentará num cristão), ficamos escandalizados com um Deus que Se inflama de ira, com um Jesus que deveria ser mansinho, bonzinho, tolinho,, insossinho, e aparece, no entanto, firme, forte, radical... e irado! Esse é o Jesus de verdade: surpreendente, desconcertante! Sua ira nos previne no sentido de que não podemos brincar com Deus, não podemos fazer pouco Dele! Correremos o risco de perdê-Lo, de sermos rejeitados do Seu Coração! Em outras palavras: a conversão é uma exigência fundamental para quem deseja caminhar com Deus, sendo discípulo do Filho Jesus! Mas, os judeus, ao invés de compreenderem isso, com cinismo criticam Jesus e pedem-Lhe um sinal: “Que sinal nos mostras para agir assim?” Vede bem, caríssimos: quando a infidelidade é grande, quando o nosso coração habituou-se no mal, corremos o risco de sermos tomados de tal cegueira, de tal dureza de coração, que já não vemos nem com a Luz! Jesus é a luz que brilha claramente. Sua atitude dura, recorda aos judeus o amor de Deus que foi traído, a Lei que foi deturpada, e eles ainda pedem por sinais...

 

Jesus dá um sinal, terrível, decisivo: “Destruí este Templo, e em três dias Eu o levantarei”. Que significa isso? “Estais destruindo este Templo? Ele é um sinal, é um símbolo profético: ele é o lugar no qual o homem pode encontrar Deus, ele é imagem do Meu corpo. Pois bem! Vós violastes a aliança, destruístes o sentido da relação com Deus: continuais, pois a destruir este Templo. Mas em três dias Eu o erguerei para sempre: vai passar a imagem, virá o Templo indestrutível, o lugar onde um novo povo poderá para sempre encontrar Deus: o Meu corpo morto e ressuscitado!” Eis o sinal, surpreendente, escandaloso: à infidelidade do seu povo, Deus responde entregando o Seu Filho e fazendo Dele o lugar da salvação e da graça, da Vida e da vitória da humanidade! É o que São Paulo nos diz na segunda leitura deste hoje: “Os judeus pedem sinais, os gregos procuram sabedoria; nós, porém, pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e insensatez para os pagãos”. O sinal que Deus apresenta para Israel, o remédio que Deus preparou para curar a violação da Lei é o seu Filho crucificado, morto e ressuscitado!

 

Caríssimos, olhemos para nós, o Novo Povo de Deus, o Povo nascido da morte e ressurreição de Cristo. Não somos mais obrigados a cumprir os detalhados preceitos da Lei de Moisés mas, somos convidados a olhar o Crucificado, cujo corpo macerado é o lugar do perdão e do encontro com Deus, o lugar da nova e eterna Aliança... Olhando o Crucificado, ouçamos, mais uma vez, como Israel: “Eu sou o Senhor teu Deus, que te fez sair da casa da escravidão, da miséria do pecado e da morte, da escuridão de uma vida sem sentido! Eu te dei o Meu Filho amado! Não terás outros deuses diante de Mim!” Compreendeis, irmãos? Os preceitos do Antigo Testamento passaram; não, porém, a exigência de um coração todo de Deus, um coração que o ame, um coração sem divisão! E, para nós, a exigência é ainda maior, porque Israel não tinha ainda visto até onde iria o amor de Deus; quanto a nós, sabemos: “Deus amou tanto o mundo que entregou o Seu Filho para que todo aquele que Nele crê não pereça, mas tenha a Vida eterna” (Jo 3,16).

 

Caríssimos em Cristo, convertamo-nos! Ergamos os olhos para o Crucificado, “Poder de Deus e Sabedoria de Deus”, e mudemos de vida! Que nossa fé não seja fingida, superficial, descomprometida; que nossa religião não seja simplesmente uma prática fria e sem desejo de real conversão ao Senhor nosso! Crer de verdade exige que nos coloquemos debaixo do preceito de amor do Senhor! Estejamos atentos à advertência final e tremenda do Evangelho de hoje: “Vendo os sinais que Jesus realizava, muitos creram no Seu Nome. Mas Jesus não lhes dava crédito, pois conhecia a todos... conhecia o homem por dentro”. - Ah, Senhor Jesus! Tem piedade de nós! Converte-nos a Ti e, depois, olha o nosso coração convertido e dá-nos a Tua salvação! Piedade, Senhor! Na Tua misericórdia infinita, conduze-nos às alegrias da Páscoa! A Ti a glória, Cristo-Deus, pelos séculos dos séculos! Amém.