A
justiça se define como equidade: “cuique suum”, a cada um o que é seu. É a
virtude moral que consiste na vontade constante e firme de dar a cada o que lhe
é devido. É quase sinônimo de isonomia, princípio geral do direito segundo o
qual todos são iguais perante a lei, não devendo ser feita nenhuma distinção
entre pessoas que se encontrem na mesma situação. Assim, da justiça decorre
logicamente a imparcialidade. Juiz não pode ser parcial, nem estar sujeito a
pressões de quem quer que seja a não ser da justiça. O que mais revolta as
pessoas de bom senso é a parcialidade do juiz.
Nas
paredes dos tribunais de justiça, costuma estar a imagem de Jesus crucificado,
lembrando a todos a maior injustiça cometida contra um inocente por um juiz
fraco, parcial, temeroso de perder o cargo, injusto e sujeito a pressões dos
partidos dos inimigos de Cristo, mesmo diante da verdade por ele mesmo
reconhecida da inocência do réu: Pôncio Pilatos, o governador Romano a quem foi
apresentado Jesus inocente, acusado pelos seus inimigos. Nos tribunais, está lá
o crucifixo para que nunca mais se repita tal injustiça.
“Em
João 18, 34-35, fica claro que, com base nas informações que possuia, Pilatos
nada tinha que pudesse incriminar Jesus e constituir um risco para a lei e a
ordem. A acusação vinha do próprio povo de Jesus, das autoridades do templo”
(Bento XVI no livro “Jesus de Nazaré II).
Quando
Pilatos ouviu a ameaça de que ele poderia perder o seu cargo se não condenasse
Jesus, que se proclamava rei, a preocupação com a sua carreira se revelou mais
forte do que qualquer escrúpulo de consciência. Mas Pilatos ainda tentou alguns
expedientes. Apresentou Jesus como um candidato à anistia da Páscoa, buscando
libertá-lo. “Ao fazê-lo, ele se coloca em uma situação fatal. Qualquer pessoa
apresentada como um candidato à anistia é em princípio já condenada”. Em
seguida, Pilatos mandou flagelar Jesus, que ele proclamara inocente. Ele
contava erradamente com a compaixão dos acusadores. Mas, no direito penal
Romano, a flagelação era a punição que acompanhava a sentença de morte, que,
por fim, ele pronunciou.
Embora
tivesse declarado Jesus inocente – essa verdade ele sabia -, “a grande
‘Verdade’ de que Jesus tinha falado ficou inacessível a Pilatos. Ou seja, no
final das contas, o conceito pragmático, a solução prática, prevaleceu, sendo,
para ele, mais importante do que a verdade.
Quando
Jesus afirmou diante dele que era rei e que veio ao mundo para dar testemunho
da verdade, Pilatos lhe perguntou: “o que é a verdade?” E saiu, sem esperar a
resposta. “Pilatos não estava sozinho em afastar esta pergunta como
irrespondível e irrelevante para seus propósitos. Também hoje, em assunto
político e na discussão dos fundamentos da lei, ela geralmente é experientada
como perturbadora. Se o homem vive sem verdade, a vida fica sem sentido para
ele. Finalmente ele se entrega a quem é o mais forte. ‘Redenção’, no pleno
sentido da palavra, somente pode consistir em que a verdade se torne
reconhecível. E ela se torna reconhecível quando Deus se torna reconhecível.
Ela se torna reconhecível em Jesus Cristo”.
Fonte: Dom Fernando Arêas Rifan