sexta-feira, junho 20, 2025

CORPUS CHRISTI










Estamos perante uma situação sem saída? Não. Chegou a altura de Jesus mostrar aos discípulos a “Sua” solução – a solução de Deus – para a fome da humanidade. Jesus assume a condução do processo e, de forma precisa, dá as suas indicações: “mandai-os sentar por grupos de cinquenta” (vers. 14b).

Depois de todos se terem instalado, “Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao Céu e pronunciou sobre eles a bênção. Depois partiu-os e deu-os aos discípulos, para eles os distribuírem pela multidão” (vers. 16). A fórmula aqui utilizada por Lucas para descrever a ação de Jesus é decalcada do relato eucarístico da “última ceia”: Jesus “tomou o pão, deu graças, partiu-o e distribuiu-o por eles” (Lc 22,19). Naturalmente, Lucas vê uma correspondência perfeita entre os dois momentos. Em ambos se refere o “tomar”, “dar graças”, “partir” e “distribuir”.

A fórmula de Jesus para saciar a fome da multidão resultou? Sim. “Todos comeram e ficaram saciados”. Mais: “ainda recolheram doze cestos dos pedaços que sobraram” (vers. 17). Quando reconhecemos que tudo é dom de Deus (“dar graças”) e nos dispomos a partilhar e a distribuir o que Deus coloca à nossa disposição, o pouco faz-se muito, a “divisão” gera abundância, os dons de Deus chegam para todos e ainda sobram.

 

Detenhamo-nos um pouco mais na fórmula que Jesus usou para saciar a multidão. Segundo o relato de Lucas, o que Jesus fez não foi exatamente uma “multiplicação”; mas foi a “divisão” e a “partilha” de cinco pães e dois peixes. O grande “milagre” de Jesus não foi fazer aparecer do nada uma montanha de pães e de peixes, suficiente para saciar a fome de cinco mil homens; mas foi mostrar aos seus discípulos que o pouco, quando partilhado com amor, chega para todos e permite saciar todas as fomes. Guiados por Jesus, os discípulos descobriram que a solução para a “fome” dos homens não está no sistema de compra e de venda, que apenas produz exploração, injustiça e desigualdade; mas está na adoção de uma forma de viver que privilegie a partilha, a gratuidade, o dom. Só a partir desta lógica – a lógica de Deus – será possível saciar uma humanidade atormentada pela fome de pão e pela fome de tantas outras coisas necessárias para ter vida em abundância.

 

Num “local deserto” perto de Betsaida, Jesus quis que os discípulos distribuíssem pela multidão o pão e os peixes repartidos; na última ceia, Jesus pediu aos discípulos que repetissem em sua memória os gestos de entrega e de doação que Ele tinha feito (“fazei isto em minha memória” – Lc 22,19b). Os discípulos são testemunhas e arautos daquilo que viram Jesus fazer. Devem dizer ao mundo, com palavras e com gestos, que a partilha/doação/entrega é fonte de vida para todos e sacia todas as fomes.