Estamos
perante uma situação sem saída? Não. Chegou a altura de Jesus mostrar aos
discípulos a “Sua” solução – a solução de Deus – para a fome da humanidade.
Jesus assume a condução do processo e, de forma precisa, dá as suas indicações:
“mandai-os sentar por grupos de cinquenta” (vers. 14b).
Depois
de todos se terem instalado, “Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes,
ergueu os olhos ao Céu e pronunciou sobre eles a bênção. Depois partiu-os e
deu-os aos discípulos, para eles os distribuírem pela multidão” (vers. 16). A
fórmula aqui utilizada por Lucas para descrever a ação de Jesus é decalcada do
relato eucarístico da “última ceia”: Jesus “tomou o pão, deu graças, partiu-o e
distribuiu-o por eles” (Lc 22,19). Naturalmente, Lucas vê uma correspondência
perfeita entre os dois momentos. Em ambos se refere o “tomar”, “dar graças”,
“partir” e “distribuir”.
A
fórmula de Jesus para saciar a fome da multidão resultou? Sim. “Todos comeram e
ficaram saciados”. Mais: “ainda recolheram doze cestos dos pedaços que
sobraram” (vers. 17). Quando reconhecemos que tudo é dom de Deus (“dar graças”)
e nos dispomos a partilhar e a distribuir o que Deus coloca à nossa disposição,
o pouco faz-se muito, a “divisão” gera abundância, os dons de Deus chegam para
todos e ainda sobram.
Detenhamo-nos
um pouco mais na fórmula que Jesus usou para saciar a multidão. Segundo o
relato de Lucas, o que Jesus fez não foi exatamente uma “multiplicação”; mas
foi a “divisão” e a “partilha” de cinco pães e dois peixes. O grande “milagre”
de Jesus não foi fazer aparecer do nada uma montanha de pães e de peixes,
suficiente para saciar a fome de cinco mil homens; mas foi mostrar aos seus
discípulos que o pouco, quando partilhado com amor, chega para todos e permite
saciar todas as fomes. Guiados por Jesus, os discípulos descobriram que a
solução para a “fome” dos homens não está no sistema de compra e de venda, que
apenas produz exploração, injustiça e desigualdade; mas está na adoção de uma
forma de viver que privilegie a partilha, a gratuidade, o dom. Só a partir
desta lógica – a lógica de Deus – será possível saciar uma humanidade
atormentada pela fome de pão e pela fome de tantas outras coisas necessárias
para ter vida em abundância.
Num
“local deserto” perto de Betsaida, Jesus quis que os discípulos distribuíssem
pela multidão o pão e os peixes repartidos; na última ceia, Jesus pediu aos
discípulos que repetissem em sua memória os gestos de entrega e de doação que
Ele tinha feito (“fazei isto em minha memória” – Lc 22,19b). Os discípulos são
testemunhas e arautos daquilo que viram Jesus fazer. Devem dizer ao mundo, com
palavras e com gestos, que a partilha/doação/entrega é fonte de vida para todos
e sacia todas as fomes.