segunda-feira, novembro 29, 2021

I DOMINGO DO ADVENTO








Por isso quando a esperança se apaga, apaga-se também a vida, a pessoa já não cresce, não busca, não luta, pelo contrário, se apequena, desaba, deixa se levar pelos acontecimentos. Se se perde a esperança, perde-se tudo. Por isso, a primeira coisa que é preciso alimentar no coração da pessoa no seio da sociedade ou na relação com Deus, é a esperança.

A esperança não consiste na reação otimista de um momento. É, antes, um estilo de vida, uma maneira de enfrentar o futuro de forma positiva e confiante, sem deixar-nos cair no derrotismo. O futuro pode ser mais ou menos favorável, mas a característica peculiar de quem vive com esperança é sua atitude positiva, seu desejo de viver e de lutar, sua postura decidida e confiante. Nem sempre é fácil. É preciso trabalhar a esperança.

A primeira coisa é olhar para frente. Não ficar no que já passou. Não viver de recordações ou nostalgias. Não ficar sentindo saudades de um passado talvez mais feliz, mais seguro ou menos problemático. É agora que devemos viver enfrentando o futuro de maneira positiva.

A esperança não é uma atitude passiva, é um estímulo que nos impele à ação. Quem vive animado pela esperança não cai na inércia. Pelo contrário, se esforça para mudar a realidade e torná-la melhor. Quem vive com esperança é realista, assume os problemas e as dificuldades, mas o faz de maneira criativa, dando passos, buscando soluções e transmitindo confiança. A esperança não se sustenta no ar. Tem suas raízes na vida. Em geral, as pessoas vivem de "pequenas esperanças" que vão se realizando ou vão se frustrando. Precisamos valorizar e alimentar essas pequenas esperanças, mas o ser humano precisa de uma esperança mais radical e indestrutível, que possa sustentar-se quando toda outra esperança desaba. Assim é a esperança em Deus, salvador último do ser humano. Quando andamos cabisbaixos e com o coração desanimado, precisamos escutar estas inesquecíveis palavras de Jesus: "Levantai a cabeça, pois se aproxima vossa libertação".


sábado, novembro 27, 2021

VISÕES DE SÃO CONRADO





Pediu a São Conrado, Bispo de Constança, que se dignasse fazer a consagração da igreja de sua Abadia. O Prelado atendendo a solicitação, dirigiu-se ao Convento, acompanhado do Santo Bispo de Augsbourg, Ulric, e de uma comissão de cavalheiros da sociedade.

No dia fixado para a cerimônia, São Conrado e alguns religiosos se dirigiram a igreja, alta noite, e se puseram em oração. De repente, viram que a igreja se iluminara de uma luz celeste e que o próprio Jesus Cristo, acolitado pelos quatro evangelistas, celebrava no altar o oficio da Dedicação. Anjos espargiam perfumes à direita e à esquerda do Divino Pontífice; o apóstolo São Pedro e o Papa São Gregório seguravam as insígnias do pontificado; e diante do altar se achava a Santa Mãe de Deus, circundada de uma auréola de glória. Um coro de anjos, regido por São Miguel, fazia vibrar as abóbadas do templo com seus cantos celestiais. Santo Estêvão e São Lourenço, os mais ilustres mártires diáconos, desempenham as suas funções. São Conrado refere em uma de suas obras as diversas exclamações dos anjos no canto do Sanctus, do Agnus Dei e do Dominus vobiscum final. Ao Sanctus, entre outras, diziam eles: “Tende piedade de nós, ó Deus, cuja santidade refulge no santuário da Virgem gloriosa. Bendito seja o Filho de Maria, que vem a esse lugar para reinar eternamente!”

Maravilhado com semelhante aparição, o Bispo continuou a rezar até onze horas do dia. E o povo esperava com ansiedade o início da cerimônia, sem que, no entanto, alguém ousasse indagar a causa dessa demora.

Afinal, alguns religiosos se acercam do Prelado e lhe pedem que comece a solenidade. Mas São Conrado, sem deixar o lugar onde rezava, conta com simplicidade tudo o que presenciara e ouvira. Sua narração fez supor que ele estivesse sob a ilusão de um sonho. Finalmente, o santo Bispo, cedendo às instâncias de todos, dispôs-se a proceder a consagração da igreja. Foi então que aos ouvidos dos fiéis escutaram estas palavras, pronunciadas por uma voz angélica, que repercutiu em toda a assembléia, dizendo mais de uma vez, na linguagem da Igreja: “Cessa, cessa, frater! Capella divinitas consecrata est: detende-vos, detende-vos, meu irmão, a capela já foi divinamente consagrada.”

Dezessete anos mais tarde, São Contado, Santo Ulrico e outras testemunhas oculares do acontecimento, encontrando-se reunidos em Roma, prestaram acerca dele um solene testemunho. E depois de todas as necessárias informações jurídicas, Leão VIII deu publicidade ao fato por meio de uma bula especial, que foi confirmada pelos papas Inocêncio IV, Martinho V, Nicolau IV, Eugênio VI, Nicolau V, Pio II, Júlio II, Leão X, Pio IV, Gregório XIII, Clemente VII e Urbano VIII. E, a 15 de maio de 1793, Pio VI ratificou os atos de seus predecessores, a despeito dos céticos, sempre prontos a duvidar do que lhes não convém, e cheios de credulidade absurda para com o que os lisonjeia.

(MÊS DE NOSSA SENHORA DO SANTISSIMO SACRAMENTO – Pe. Alberto Tesnière, S.S.S. – Tip. Maria Auxilium, S.P. – la. edição, 1946, pp. 76 -77


quinta-feira, novembro 25, 2021

OBRIGADO, MEU DEUS!







Hoje, dia 25 de novembro, celebra-se o Dia Nacional de Ação de Graças. É uma festa de origem norte-americana (Thanksgiving), regulamentada no calendário brasileiro em 1949, pelo então presidente Eurico Gaspar Dutra, por sugestão de Joaquim Nabuco, entusiasmado com as comemorações que vira na Catedral de São Patrício, quando embaixador em Washington. No Brasil, o Dia Nacional de Ação de Graças vem sendo ofuscado pelo Black Friday, também de origem americana, promoção de venda antes das vendas de Natal, festa cristã também comercializada.

Mas, mesmo sendo de origem não católica, essa celebração pode ser uma boa ocasião para darmos graças a Deus, por todos os seus benefícios e graças: nossa existência, a natureza que ele nos deu, a família, os amigos, as graças espirituais e materiais, com o reconhecimento da sua suprema soberania e bondade, por tudo de bom que recebemos durante o ano. Por isso, é um bom costume cristão, herdado de nossos antepassados, dizer sempre “graças a Deus!”. E é dia de agradecimento também ao nosso próximo, especialmente aos nossos pais, parentes e amigos.

“São Paulo inculcava nas suas cartas este contínuo espírito de gratidão: ‘Em todas as circunstâncias dai graças, porque esta é a vosso respeito a vontade de Deus em Jesus Cristo’ (1 Tess. 6, 18); ‘Enchei-vos do Espírito... dando sempre graças por tudo a Deus Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo’ (cf. Ef. 5, 18-20). É uma atitude ‘eucarística’, que vos dá paz e serenidade nas fadigas, vos liberta de todo o apego egoísta e individualista, vos torna dóceis à vontade do Altíssimo, também nas exigências morais mais difíceis, vos abre para a solidariedade e para a caridade universal, vos faz compreender como é absolutamente necessária a oração, e sobretudo a vida eucarística mediante a Santa Missa, o ato de Ação de graças por excelência, para viver e testemunhar coerentemente a própria fé cristã. Agradecer significa acreditar, amar, dar! E com alegria e generosidade!” (São João Paulo II, homilia no dia de ação de graças 9/11/1980).

E agradecemos a Deus as alegrias e até os sofrimentos, pois são para o nosso bem e deles podemos tirar bons frutos. Celebramos há pouco a memória de Santa Isabel, rainha da Hungria. Quando no castelo, aproveitou da sua influência para fazer o bem. Sempre agradecia a Deus. Poder-se-ia dizer que isso é fácil pela vida rica que tinha! Mas a desgraça lhe bateu à porta: após a morte do marido, foi expulsa da corte pelos usurpadores do reino, insultada por todos, até pelos mendigos e enfermos que ela tinha socorrido, e teve que se refugiar, com os filhos pequenos, num curral de porcos. Dali, de madrugada, ouviu o sino de um convento, que ela tinha ajudado a construir, e lá foi pedir que rezassem em ação de graças, pela tribulação que ela estava passando!

Em português, como forma de agradecer, temos a belíssima palavra “obrigado”. Significa o mais profundo grau da gratidão, não só um reconhecimento intelectual do favor recebido (thank you), nem apenas uma simples retribuição com outra mercê (merci, gracias), mas uma vinculação, um comprometimento a continuar a servir, a retribuir favores, a quem nos prestou algum benefício. É nesse sentido que dizemos a Deus e aos irmãos: “muito obrigado!”.


Fonte: Dom Fernando Arêas Rifan

terça-feira, novembro 09, 2021

A ESPERANÇA NA VIDA ETERNA








Lembrando-nos dos nossos falecidos, finados, animamo-nos com a virtude da esperança. “Esta é, de fato, uma palavra central da fé bíblica, a ponto de, em várias passagens, ser possível intercambiar os termos ‘fé’ e ‘esperança’. Assim, a Carta aos Hebreus liga estreitamente a ‘plenitude da fé’ (10,22) com a ‘imutável profissão da esperança’ (10,23). O Evangelho não é apenas uma comunicação de realidades que se podem saber, mas uma comunicação que gera fatos e muda a vida. A porta tenebrosa do tempo, do futuro, foi aberta de par em par. Quem tem esperança, vive diversamente; foi-lhe dada uma vida nova” (Bento XVI, enc. Spe Salvi, 2).

“O cristianismo não tinha trazido uma mensagem sócio revolucionária semelhante à de Espártaco, que tinha fracassado após lutas cruentas. Jesus não era Espártaco, não era um guerreiro em luta por uma libertação política, como Barrabás ou Bar-Kochba. Aquilo que Jesus – Ele mesmo morto na cruz – tinha trazido era algo de totalmente distinto: o encontro com o Senhor de todos os senhores, o encontro com o Deus vivo e, deste modo, o encontro com uma esperança que era mais forte do que os sofrimentos da escravatura e, por isso mesmo, transformava a partir de dentro a vida e o mundo” (idem ib. 4).

“No décimo primeiro capítulo da Carta aos Hebreus (v. 1), encontra-se, por assim dizer, uma certa definição da fé que entrelaça estreitamente esta virtude com a esperança... A fé não é só uma inclinação da pessoa para realidades que hão de vir, mas estão ainda totalmente ausentes; ela dá-nos algo. Dá-nos já agora algo da realidade esperada, e esta realidade presente constitui para nós uma ‘prova’ das coisas que ainda não se veem. Ela atrai o futuro para dentro do presente, de modo que aquele já não é o puro ‘ainda-não’. O fato de este futuro existir, muda o presente; o presente é tocado pela realidade futura, e assim as coisas futuras derramam-se nas presentes e as presentes nas futuras” (Idem ib. 7).

No rito do Batismo na forma tradicional, o sacerdote pergunta aos padrinhos, que respondem pelo afilhado: “Que pedes à Igreja?” A resposta: “A fé”. “E que te alcança a fé?” “A vida eterna”. A fé é a chave para a vida eterna. Fé é substância da Esperança.

“Aqui, porém, surge a pergunta: Queremos nós realmente isto: viver eternamente? Hoje, muitas pessoas rejeitam a fé, talvez simplesmente porque a vida eterna não lhes parece uma coisa desejável. Não querem de modo algum a vida eterna, mas a presente... Certamente a morte queria-se adiá-la o mais possível... ‘Sem dúvida, a morte não fazia parte da natureza, mas tornou-se natural; porque Deus não instituiu a morte ao princípio, mas deu-a como remédio. Condenada pelo pecado a um trabalho contínuo e a lamentações insuportáveis, a vida dos homens começou a ser miserável. Deus teve de pôr fim a estes males, para que a morte restituísse o que a vida tinha perdido. Com efeito, a imortalidade seria mais penosa que benéfica, se não fosse promovida pela graça’ (S. Ambrósio). Antes, ele tinha dito: ‘Não devemos chorar a morte, que é a causa de salvação universal’” (Idem ib 10).

 

Fonte: Dom Fernando Arêas Rifan