A
liturgia da palavra para este domingo nos mostra a atitude interior que devemos
ter para esperar o Senhor que vem. O evangelho faz uma alusão à Arca de Noé e
apresenta alguns símbolos que enfatizam aqueles que souberam esperar. As
imagens tocantes do evangelho nos levam a pensar se Deus não estaria sendo
injusto “um tomado e outro deixado”. As pessoas parecem estar fazendo a mesma
coisa.
Inicialmente
encontramos no texto a imagem das duas mulheres que estão a moer e dos dois
homens que estão a trabalhar no campo, apresentam-se como uma grande
interrogação para a consciência cristã. Primeiramente, porque o texto sagrado
nos mostra que o juízo de Deus tem em si uma certa dimensão de surpresa. Só
Deus conhece os pensamentos mais íntimos. O que externamente não aparece.
Podemos enganar os outros, mas não a Deus.
A
parábola ainda toma como termo de comparação o ladrão que pode chegar em
horário inesperado. Uma comparação que aparece também em outros escritos do
Novo Testamento (cf. 1Ts 5,2-4; 2Pd 3,10). O texto é apresentado visando
mostrar que o discípulo de Jesus deve ser como o dono de uma casa, sempre
vigilante para impedir a entrada de ladrões em sua residência. E como ele não
sabe a hora exata em que o ladrão virá, deverá sempre estar em estado de alerta
(v. 43). O homem preocupado demais com o viver e se satisfazer com o presente,
esquece muitas vezes a dimensão futura da vida. A vinda do Cristo é certa, mas
o momento exato dessa vinda é incerto, por isso a atitude do cristão é a
abertura e a vigilância.
Enquanto
o evangelho insiste em uma vigilância incansável, e uma prontidão constante em
face à vinda do Senhor, a história e a experiência cotidiana nos ensinam que o
Senhor não tem pressa para vir, mas chegará de modo inesperado, como o dilúvio
no dias de Noé (v. 37). Os conterrâneos de Noé viviam despreocupados, mas o
julgamento divino os surpreendeu. O texto evangélico começa com uma comparação
de caráter geral: “Como foi nos dias de Noé, assim… a parusia do Filho do
Homem” (v. 17). E a maioria das pessoas não se preparam para esta vinda. O
mesmo texto também faz uma outra comparação com a descrição mais pormenorizada
do procedimento despreocupado dos habitantes de Sodoma (v. 39).
A
intenção do evangelista São Mateus é acordar a comunidade cristã para a vinda
do Senhor e a convida a abrir os olhos para descobrir o agir de Deus no
cotidiano da vida: “trabalhando no campo”, “moendo no moinho”. Dessa forma,
estando vigilantes, não serão surpreendidos e serão capazes de estar atentos,
vigilantes para descobrir os apelos que Deus nos faz a cada dia, e saber
responder estes apelos com prontidão e alegria.
Os
acontecimentos são postos para exigir a vigilância que cada um deve ter,
vigilância que deve subsistir até nas horas tardias da madrugada em que os
ladrões podem atacar. O que se pretende lembrar é que cada um deve estar com as
suas contas acertadas com Deus na hora em que Ele vier.
A
questão fundamental é, portanto, esta: o crente ideal é aquele que está sempre
vigilante, atento, preparado, para acolher o Senhor que vem. Não perde
oportunidades, porque não se deixa distrair com os bens deste mundo, não vive
obcecado com os prazeres deste mundo e não faz deles a sua prioridade
fundamental, mas, dia a dia, cumpre o papel que Deus lhe confiou, com empenho e
com responsabilidade.
A
vigilância está unida à ideia de estar acordado, atento e pronto para agir,
seja para construir uma obra boa, seja para combater uma obra má. Trata-se de
um esforço pessoal em “caminhar na luz do Senhor”, como nos recorda o Profeta
Isaías na primeira leitura (cf. Is 2,5), ou como lembra São Paulo na segunda
leitura (cf. Rm 13,11-14), com a nossa coragem de deixar as obras das trevas e
praticar as obras de luz.