quarta-feira, maio 29, 2024

CORPUS CHRISTI








 “Hoje a Igreja te convida:/ o Pão vivo que dá Vida/ vem com ela celebrar”.


Eis, caríssimos Irmãos, o sentido desta hodierna Solenidade: celebrar com a Igreja, celebrar como Igreja o Cristo, Pão vivo, Pão vivente, que nos dá a Vida divina, Vida que é o próprio Santo Espírito!


Nunca esqueçamos: no santíssimo Sacramento da Eucaristia, o próprio Senhor Jesus Cristo, imolado e ressuscitado, está realmente presente nas aparências do pão e do vinho, cheio de Espírito Santo, Espírito de Ressurreição, a ponto de a Escritura exclamar:


“O Senhor é o Espírito!” (2Cor 3,17)


Pois bem: quem comunga com o Corpo e Sangue do Senhor, recebe a Vida Eterna, isto é, o Espírito Santo, que nos cristifica, nos preparando para a Vida imperecível na Glória!


Muito pode ser dito sobre a Eucaristia!


O mistério é imenso, a riqueza é incomensurável, o amor é infinito!


As leituras que acabamos de escutar dizem-nos que este santíssimo Sacramento é, neste mundo, no caminho da Igreja, o selo sempre presente da Nova e Eterna Aliança do Senhor Deus com o Seu Povo; Aliança no Sangue do Cordeiro que tira o pecado do mundo; dizem-nos que o próprio Cristo, Sacerdote no Santuário da Eternidade, celebra para sempre, uma vez por todas, sem nunca terminar, o Sacrifício eterno pela nossa salvação, Sacrifício continuamente presente em nossos altares quando oferecemos a Eucaristia; dizem-nos que lá, na Glória, na Eucaristia eterna, na Missa perene, Ele nos espera, para bebermos com Ele o cálice da bênção, no Reino eterno de Deus!


Mas, caríssimos meus no Senhor, hoje, gostaria de lhes responder a algumas questões para ilustrar tão grande Sacramento… Ei-las: Por que o Senhor escolheu pão e vinho? E por que numa ceia? E por que corpo e sangue?


Por que o Senhor escolheu o pão e o vinho com água como matérias para a Eucaristia?


A resposta é simples: porque estes três alimentos são aqueles encontrados em todas as mesas, todos os dias, nos grandes e pequenos momentos. Ainda hoje, nos países da bacia do Mediterrâneo, em cada mesa, em cada refeição, estão lá: o pão fatiado, a água e o vinho! Alimentos dos ricos e dos pobres, alimento de todos! Irmãos: Cristo não quer estar presente na nossa vida somente em algumas ocasiões, somente nos grandes momentos… Ele é o alimento de todas as horas, de cada ocasião, do dia-a-dia miúdo da nossa existência! Amigo próximo, companheiro de caminho… E debaixo de sinais tão simples, tão nossos, tão do dia a dia…


– Obrigado, Senhor Jesus, Amigo certo das horas incertas!

Obrigado, Senhor Jesus, Amigo de todos os momentos, dos bons e dos maus, dos sorrisos e das lágrimas!


Obrigado, Amigo tão humilde, que, rico e glorioso, vens a nós “em tão ínfimos sinais”!


Por que o Salvador nosso escolheu uma ceia?


Antes de tudo, porque Ele quis instituir a Sua Páscoa como cumprimento e plena realização da Páscoa dos judeus; assim, na ceia pascal judaica, Ele instituiu o memorial da Sua Páscoa, entregando-a à Sua Igreja nascente como nossa Páscoa! Que mistério tão profundo! Que amor tão admirável: o cordeiro pascal dos judeus sacrificado e consumido em alimento, agora seria o próprio Cristo Senhor, partido, quebrado no sinal do pão e derramado no sinal do vinho, como memorial perene da Sua entrega na Cruz pela salvação nossa e do mundo inteiro!


Mas, tem mais: comer juntos, alimentar-se do mesmo alimento tirado do mesmo prato, na mesma refeição, significa viver a mesma vida! Portanto, o Senhor quis comer conosco, quis que comunguemos, que comamos, que nos alimentamos Dele mesmo, da Sua próprio Vida divina e Eterna, que é o Seu Espírito Santo e agora inunda a aparência do pão e a aparência do vinho! Comungando na Eucaristia, nós “con-vivemos” com o próprio Cristo ressuscitado, nós “vivemos com” a mesma Vida que Ele agora tem nos Céus em plenitude! E, comungando com Ele, Nele nos tornamos membros uns dos outros, um só Corpo, Corpo Dele, Corpo que é a Igreja! Eis, Irmãos, que neste Altar, nesta Mesa, nos tornamos sempre mais membros do Corpo de Cristo, nos tornamos sempre mais membros uns dos outros, nos tornamos sempre mais Igreja! Aqui a Igreja se fortalece, aqui a Igreja continuamente se faz e se refaz, a ponto de São Leão I Magno, Papa de Roma, exortar:


“Comei deste Pão e não vos dividireis; bebei deste Cálice e não vos desagregareis!”


– Obrigado, Salvador nosso, Jesus amado, porque nesta Mesa sagrada, Tu Te fazes nosso alimento de Vida eterna, Tu nos dás a comer Tua própria Vida divina, Tu nos unes a Ti e nos unes uns aos outros em Ti!


Senhor, não permitas nunca que nos separemos de Ti! Não consintas nunca em que nossas diferenças e debilidades nos separem uns dos outros!


Ó Cristo Deus, cada vez que participarmos desta Mesa santa, deste Altar sagrado, faze de nós, sempre mais, um só Corpo-Igreja no Teu Corpo-Eucaristia!


Que o Teu Espírito nos una num só Corpo, até o Dia da Vida Eterna, na Glória!


Por que o Salvador disse, do Pão: “É o Meu Corpo, a Minha Carne”? E por que, do Cálice: “É o Meu Sangue?”


Porque ambos os sinais exprimem bem o Seu amor, a Sua entrega total ao Pai e a nós, ao Pai por nós, em nosso favor!

Nas Escrituras, “corpo” e “carne” exprimem a pessoa toda, o homem todo, na sua fragilidade de criatura. Pois bem, dizendo “é o Meu Corpo”, o Senhor quis dizer:


“Sou Eu mesmo, em todos os Meus sonhos, em todas as dimensões da Minha vida, em todo o Meu amor… Tudo o que sou, tudo o que tenho, tudo quanto vivi, Eu entrego por vós, entrego a vós!”


“Sangue”, na Bíblia Sagrada, significa a vida. O sangue dado, evoca a vida derramada, a vida tirada, esparramada! O Senhor Jesus, dando-nos Seu Sangue, quis nos dar Sua existência vivida o tempo todo como doação, como entrega, até o extremo da Cruz!


Pois bem, no Seu Corpo e no Seu Sangue o Senhor Se deu todo: deu-nos Seu corpo, Sua existência, Seus cansaços, Seus amores, Sua paciência, até a morte e morte violenta, humilhante e dolorosa, morte de cruz!


– Senhor Jesus Cristo, nosso Sumo e Eterno Sacerdote, Cordeiro imolado, Vítima pascal, obrigado, porque, tendo nos amado, amaste-nos até o fim, até o extremo! Tudo Tu nos deste! Em nada Te poupaste!


Ajuda-nos, sustenta-nos, para que, comungando da Tua Eucaristia, saibamos, pelo amor do Teu Espírito Santo, fazer de nossa vida uma entrega total a Ti e, no Teu amor, aos irmãos!


O que não podemos com nossas forças, concede-nos pela força deste Sacramento de Amor!

Irmãos, que doação tão inteira! Que entrega tão total! Que amor tão completo! Que dom tão radical!


Eis a Eucaristia! Eis o Sacramento de amor! Eis o Sinal bendito que mais nos revela Quem é Deus: Deus é amor que Se entrega, que se gasta, que Se deixa consumir até fazer-Se alimento da criatura! Como diz a famosa estrofe “Panis Angelicus”:


“Ó coisa admirável!/ Alimenta-se do Senhor/ o pobre, o servo, o humilde!”


Por tudo isto, caríssimos, a Eucaristia nos impele, nos compromete a responder com amor a tão grande e completo e radical Amor!

Triste de quem comunga deste Sacramento com o coração fechado!

Ai de quem O recebe sem se dispor a amar, amar ao Senhor que nos ama e amar aos irmãos por amor do Amor que nos amou primeiro!

Que proclamemos hoje a nossa fé na Presença real e substancial do Senhor imolado e ressuscitado na Eucaristia!


Proclamemo-la celebrando o Sacrifício eucarístico,

proclamemo-la comungando o Corpo do Senhor,

proclamemo-la saindo em procissão pelas ruas de nossas cidades,

proclamemo-la, enfim, por uma vida eucaristicamente conformada: vida de amor e entrega a Deus, vida de amor e serviço aos irmãos; de modo que possamos, um dia, beber com o Senhor, do Fruto da videira, no Reino de Deus. Amém.