Na origem do tempo, Deus abençoa a humanidade com a vida. A bênção divina é o sopro existencial que possibilita a vida na terra, seja vida vegetal, animal e, principalmente, a vida humana. A criação do mundo (Gn 1-2), na Teologia Bíblica, é a grande bênção divina que perdura no tempo e no espaço. Na narrativa da criação, Deus é apresentado como o abençoador, aquele que abençoa, que é a fonte da vida em toda a sua criação. Assim, por exemplo, Deus abençoa os animais e concede-lhes o dom da multiplicação da vida (Gn 1,22). A bênção, portanto, não se resume a um momento ritual, como fazemos em nossas Liturgias, mas é algo continuamente dinâmico, que se manifesta na continuidade da vida. Cada novo ser que nasce na terra, qualificadamente com a vida humana, pelo amor que a envolve, é bênção divina descendo à terra.
A grande bênção divina, qualificada pelo amor, é dirigida ao casal humano. Deus abençoa o início da vida humana, soprando sua vida nas narinas do homem e da mulher, para que tenham a plenitude da vida em suas vidas (Gn 2,3). Por isso, sempre no contexto Bíblico, a bênção divina tem uma finalidade bem especifica: oferecer a vida plena ao homem e à mulher. O homem e a mulher são abençoados com o derramamento da própria vida divina em suas vidas humanas.
Do ponto de vista Bíblico, portanto, a bênção é sempre derramamento da vida divina, para que a vida humana seja plena. Se o casal humano conta com a bênção divina desde a sua origem, nada mais coerente que cada casal humano acolha a orientação de Deus, para que os pais abençoem seus filhos e as filhas (1L). Cada nascimento humano é bênção divina descendo à terra. Isto torna a vida humana bela, brilhante que, na Palavra desta Solenidade, descreve a bênção como o brilho da luz divina resplandecendo no rosto humano (1L e SR).
Os pais recebem de Deus a bênção de transmitir a vida e, a partir desse dom gerador da vida, entende-se a força da bênção paterna e materna invocada sobre seus filhos e filhas, independente da idade que estes tiverem. Bênção paterna e materna como invocação da paz, da justiça, da glória de Deus na vida dos filhos e filhas para o bem deles e de todos que com ele convivem (SR).
Dizem os exegetas que Lucas escreve sua obra (Evangelho e Atos) na ótica da bênção divina. Ele inicia sua obra chamando atenção para a maravilha do Mistério da bênção divina capaz de ser visualizada no Menino Deus, nascido em Belém: os pastores chegam ao presépio e encontram Maria, José e o Menino; este é a bênção divina entre nós (2L e E). Bênção visualizada na simplicidade do presépio.
Se toda a criação é a grande bênção da vida divina oferecida à humanidade, em Jesus esta bênção se torna humana, pelo Mistério da Encarnação. Tudo aquilo que Jesus realiza, como por exemplo, os milagres, mas também o anúncio do Reino, a evangelização, é bênção divina sendo semeada na terra. Por isso, a admiração dos pastores diante do presépio do Menino Jesus, é apenas um detalhe. Existe um algo a mais que precisa ser considerado: este algo a mais é a necessidade de acolher a bênção divina e, para isso, é preciso silenciar, meditar os acontecimentos de Deus no coração, como faz Maria, a Mãe de Deus. Ela é a grande abençoada por Deus (E), de onde o título dado a Maria como a “cheia de graça”, a que plenamente acolheu a bênção divina em sua vida humana.
Admirar ou contemplar o presépio é permanecer no primeiro momento, no momento inicial, do encantamento. Por isso, existe a necessidade de um passo a mais: o passo que nos conduz a penetrar no interior do Mistério para encontrar-se com a bênção divina. Para este ingresso, o caminho é através do silêncio. O grande mistério do Natal consiste em compreender que Deus abençoa plenamente a humanidade pela Encarnação de Jesus e esta bênção desce tão profundamente na vida humana a ponto de contamina-la com sua bondade, alegria, paz e esplendor da glória divina.