Para
que seus discípulos não desanimem diante das perseguições, Jesus lembra que
também ele encontrou oposição.
As
exigências da missão são extremas, podendo incluir a perseguição e a morte!
Hoje, Jesus introduz no seu discurso a expressão «Não temais», que ocorre 366
vezes na Bíblia. O nosso texto está estruturado sobre a repetição, a modo de
imperativo: “ não tenhais medo”! E depois dá razões pelas quais a confiança
deve sempre vencer. A primeira razão é: ainda que o bem esteja, por agora,
velado, e a astúcia e a virulência do mal pareçam escondê-lo, acontecerá uma
reviravolta completa e veremos, no triunfo de Cristo, a vitória dos que
escolheram praticar o bem. Eis a razão pela qual os discípulos de Jesus são
encorajados à audácia do anúncio. O que recebemos é pequeno como uma luzinha
nas trevas, como um sussurro ao ouvido, mas deve ser dado à plena luz do dia, gritado
sobre os telhados. Inicialmente, o Evangelho era algo de oculto e misterioso,
que era preciso manter em segredo, dado a conhecer a poucos e com as devidas
precauções, para não desencadear a perseguição. Mas chegou o tempo de o dar a
conhecer ao mundo inteiro! O pior que pode acontecer aos missionários do Reino
é a morte do corpo. Mas seria muito pior a morte da alma, a perda da vida. Ora,
só Deus pode tirar a vida. Mas não o faz àqueles que O amam e O temem. Jesus
conclui a sua argumentação com duas imagens muito ternas: a dos pássaros que,
valendo pouco, são amados pelo Pai, e a dos cabelos da cabeça, contados por
Ele. Não há, pois, que temer: Ide: proclamai que o Reino do Céu está perto! (Mt
10, 7).
O
temor de Deus é uma atitude complexa em que conflui o respeito reverente, a
obediência, a adesão profunda, a adoração, o amor. Foi sentido por muitos
profetas e santos, que fizeram a experiência do encontro com Deus, três vezes
santo. Diante d´Ele, damo-nos conta da nossa condição de criaturas e da impureza
da nossa vida. Já o salmista rezava: «Senhor, nosso Deus, como é admirável o
teu nome em toda a terra! Adorarei a tua majestade, mais alta que os céus… que
é o homem para te lembrares dele, o filho do homem para com ele te
preocupares?» (Sl 8, 2.5). Mas, se nos deixarmos penetrar por esta atitude,
também poderemos ter toda a confiança na sua misericórdia. Jesus une o temor de
Deus e a confiança: «Não se vendem dois pássaros por uma pequena moeda? E nem
um deles cairá por terra sem o consentimento do vosso Pai! … Não temais, pois
valeis mais do que muitos pássaros» (vv. 29.31)
Ambas
as leituras nos falam da experiência de temor na presença de Deus, que Se nos
revela e chama a uma missão. Mas também em ambas as leituras escutamos a
palavra do Senhor que nos diz: «não tenhas medo», «não temais». Aquele que nos
ama, nos chama e nos envia, purifica-nos e está conosco: «Não temas: eu estarei
contigo»; «não temais, eu estarei convosco» (Ex 3, 12; Dt 31, 6; 31, 15; 1 Cr
28, 20; Jr 1, 17; 46, 28; 30, 11). A Virgem Maria também experimentou a sua
condição de criatura limitada e frágil perante a grandeza e poder de Deus, no
dia da Anunciação. Por isso, o Anjo lhe diz: «Não tenhas medo, Maria » (Lc 1,
30).
O
medo e a desconfiança, na relação com Deus, mas também na relação conosco ou
com os outros, paralisam-nos, transformam-nos em escravos. Mas Paulo
adverte-nos: «Vós não recebestes um espírito de escravidão para recair no medo,
mas recebestes um espírito de filhos adotivos, por meio do qual gritamos:
“Abbá, Pai!”. O mesmo Espírito atesta ao nosso espírito que somos filhos de
Deus» (Rm 8, 15-16). «Se vivemos do Espírito, caminhemos segundo o Espírito»
(Gl 5, 25). Na relação com Deus, embora conhecendo os nossos limites e os
nossos pecados, temos consciência de estar perante um Pai, cheio de amor e de
misericórdia. No exercício da missão que nos confia, na sua obra de salvação do
mundo, sabemos que não estamos sós, mas que Ele está connosco.
Senhor
purifica os meus lábios, mas purifica, sobretudo, o meu coração. Quantas vezes
alimento pensamentos e desejos, que não nascem da certeza do teu amor, da
vontade de lhe corresponder, da confiança em Ti. Quantas vezes me deixam
dominar pelo temor, quando surgem dificuldades e problemas no caminho para Ti,
ou na missão que me confiaste. Faz-me escutar novamente a tua palavra: «Não
temas; Eu estou contigo!». Purifica-me, Senhor, e dá-me coragem e confiança
para aceitar a purificação! Dá-me agilidade no combate espiritual contra as
paixões, para que deseje e queira, sempre, em tudo, e somente a tua glória.
Assim encontrarei também a paz e a serenidade, que tornarão mais felizes e
plenos os breves dias da minha vida. Amén!