1 –
Quaresma em tempo de pandemia
Passamos
por provações muito exigentes no ano passado e, segundo os analistas sociais,
outras provações deverão acontecer no nosso tempo presente e no futuro próximo.
Falamos e ouvimos falar muito de distanciamento social. Hoje, a Palavra fala de
distanciamento de Deus. Diante deste distanciamento, a profecia de Joel, que
ouvimos na 1ª leitura, convida, como que apela para que voltemos para Deus. São
Paulo, na 2ª leitura, dizia que estamos vivendo o tempo favorável de voltar
para Deus. Essa a primeira proposta para a Quaresma deste ano: acolher o
convite divino para voltar a se aproximar de Deus. Voltar para Deus abrindo
nossos corações, reconhecendo nossos pecados e invocando a purificação de
nossas vidas pelo perdão divino, como cantávamos no belo salmo responsorial.
2 – O
caminho da volta se faz com penitência
O
caminho da volta para Deus acontece pela penitência. Não estou falando de
alguns tipos de penitência, como por exemplo, deixar de tomar cerveja, não
comer carne... são válidas, mas a Palavra convoca para um caminho penitencial
mais profundo e mais exigente. Para falar deste caminho penitencial, que conduz
a volta para Deus, a Palavra usa a expressão "rasgar o coração". O termo se encontra na 1ª leitura: “rasgai o
coração e não apenas a veste”. É preciso “rasgar o coração”, mudar o interior,
mudar o modo de pensar, mudar o modo de ver e viver a vida. A penitência de
rasgar as vestes limita-se ao exterior, indicativo de algo superficial, um
gesto que não toca o centro da vida, o coração da existência. “Rasgar o
coração” tem a ver com o rasgar o centro da vida, não apenas dar uma
concertada, mas rasgar um modo de viver que não conduz a Deus para que um
coração novo, que seja atraído por Deus, comece a pulsar no centro da vida. É o
que o salmista suplicava: “criai em mim um coração que seja puro”. “Rasgar o
coração” para que colocar um coração puro criado por Deus, que pensa como Deus,
que sente como Deus.
3 –
Mudar a vida a partir de dentro
A
proposta de “rasgar o coração” é compromisso concreto para mudar de vida a
partir de dentro, a partir do coração, e não mudando vestes, mudando o
exterior. Essa é a maior e a mais difícil penitência que somos desafiados a
fazer. Mudar algumas atitudes durante a Quaresma, como por exemplo não comer
chocolate, pode exigir sacrifício, mas jamais será tão exigente quanto mudar o
coração. Mudar o conceito de vida para viver segundo o projeto divino. Um meio
concreto para fazer isso é proposto por Jesus no Evangelho. Para Jesus, vale
mais praticar a religião de modo silencioso, que usar a religião para aparecer