São
Marcos relata como Deus se aproxima do sofrimento humano com três movimentos:
Jesus vê o sofrimento humano na pessoa do leproso, Jesus ouve a prece de quem
sofre e Jesus age em favor do sofredor. O evangelista acrescenta um detalhe
interessante: Jesus toca o doente, o que era proibido por lei.
."A
Deus nada é impossível", diz o anjo a Maria. É verdade, Deus pode criar,
pode salvar, pode santificar... Jesus pode curar os doentes que encontra, mas
espera uma palavra de confiança: "Se queres!" O homem submete-se,
então, à sua vontade. Diante desta confiança do doente, Jesus tem piedade,
porque vê que ele se abandona nas suas mãos para ser re-criado, levantado,
salvo, purificado. Deus deixa-Se tocar pelo homem, sua criatura, quando esta se
deixa remodelar por Ele, do mesmo modo que se deixa modelar na manhã da
criação.
Ele
toma o nosso lugar... A maldição que atingia os leprosos era total: mortos
vivos, excluídos dos lugares habitados, proibidos do Templo e da sinagoga,
impuros aos olhos dos homens mas, sobretudo, de Deus. Um deles quebra os
interditos e aproxima-se de Jesus que, perturbado até às entranhas, ousa um
gesto impensável: estende a mão e toca o infeliz, tornando-se Ele mesmo,
imediatamente, impuro. Passa-se, então, algo de extraordinário. Realiza-se a
palavra do salmista: "Senhor, viste o mal e o sofrimento, toma-os na tua
mão". Jesus toma nas suas mãos o mal e o sofrimento deste homem. Tira-o da
sua lepra, liberta-o da sua exclusão, de toda a impureza. O leproso pode
reencontrar a companhia dos outros e de Deus. Mas então, é Jesus que não podia
entrar abertamente numa cidade. Era obrigado a evitar os lugares
habitados". Certamente que era para se proteger da multidão... Mas, de
fato, é como se Jesus tivesse tomado o lugar do leproso. Jesus, o bem amado do
Pai, toma sobre Ele as nossas faltas e os nossos sofrimentos, Ele toma o nosso
lugar para absorver na sua pessoa e no amor do Pai todas as nossas misérias. E,
ao mesmo tempo, encontramos toda a nossa dignidade de homens e de mulheres
livres, de pé, capazes de entrar de novo em relação uns com os outros e,
sobretudo, de nos aproximarmos de novo de Deus, sem qualquer medo.