O
amor é a energia que dá verdadeira vida à sociedade. Em toda civilização há
forças que geram vida, verdade e justiça, e forças que provocam morte, mentira
e indignidade. Nem sempre é fácil detectá-las, mas na raiz de todo impulso de
vida está sempre o amor. Por isso, quando numa sociedade se sufoca o amor,
está-se sufocando ao mesmo tempo a dinâmica que leva ao crescimento humano e à
expansão da vida. Daí a importância de cuidar socialmente do amor e de lutar
contra tudo aquilo que pode destruí-lo. Uma forma de matar o amor pela raiz é a
manipulação das pessoas. Na sociedade atual proclamam-se em voz alta os
direitos da pessoa, mas depois os indivíduos são sacrificados ao lucro, à
utilidade ou ao desenvolvimento do bem-estar. Produz-se então aquilo que chamo
de "a eutanásia da liberdade", Há um número cada vez maior de pessoas
que vivem uma não liberdade "confortável, cômoda, razoável,
democrática". Vive-se bem, mas sem conhecer a verdadeira liberdade nem o
amor. Outro risco para o amor é o funcionalismo. Na sociedade da eficácia o
importante não são as pessoas, mas a função que elas exercem. O indivíduo fica
facilmente reduzido a uma peça da engrenagem: no trabalho é um empregado, no
consumo é um cliente, na política é um voto, no hospital é um número de cama…
Nesta sociedade, as coisas funcionam; as relações entre as pessoas morrem.
Outro
modo frequente de sufocar o amor é a indiferença. O funcionamento da sociedade
moderna concentra os indivíduos em seus próprios interesses. Os outros são uma
"abstração". Publicam-se estudos e estatísticas, por trás dos quais
se oculta o sofrimento das pessoas concretas. Não fácil sentir-nos
responsáveis. É a administração pública que deve ocupar-se desses problemas. O
que cada um de nós pode fazer? Diante de tantas formas de desamor, o Batista
sugere uma postura clara: "Quem tiver duas túnicas, reparta-as com quem
não tem; e quem tiver comida faça o mesmo". O que podemos fazer?
Simplesmente compartilhar mais o que temos com aqueles que vivem em
necessidade.
Apesar
de toda a informação fornecida pelos meios de comunicação, temos dificuldade em
tomar consciência de que vivemos numa espécie de "ilha da
abundância", no meio de um mundo no qual mais de um terço da humanidade
vive na miséria. No entanto, basta voar algumas horas em qualquer direção para
topar com a fome e a destruição. Esta situação só tem um nome: injustiça. E só
admite uma explicação: inconsciência. Como podemos sentir-nos humanos quando a
poucos quilômetros de nós o que são, definitivamente, seis mil quilômetros? -
há seres humanos que não têm casa nem terra alguma para viver, homens e
mulheres que passam o dia procurando algo para comer, crianças que jã não
poderão superar a desnutrição? Nossa primeira reação costuma ser quase sempre a
mesma: "Mas nós, o que podemos fazer diante de tanta miséria?"
Enquanto nos fazemos perguntas deste gênero, sentimo-nos mais ou menos
tranquilos. E vêm as justificativas de sempre: não é fácil estabelecer uma
ordem internacional mais justa; é preciso respeitar a autonomia de cada país; é
difícil assegurar canais eficazes para distribuir alimentos; mais ainda
mobilizar um país para que saia da miséria.