As
três parábolas da misericórdia pretendem, portanto, justificar o comportamento
de Jesus para com os publicanos e pecadores. Elas definem a "lógica de
Deus" em relação a esta questão.
A
primeira parábola (vers. 4-7) é a da ovelha perdida. Trata-se de uma parábola
que, lida à luz da razão, é ilógica e incoerente, pois não é normal abandonar
noventa e nove ovelhas por causa de uma; também não faz sentido todo o
espalhafato criado à volta de um fato banal como é o reencontro com uma ovelha
que se extraviou... Nesses exageros e nessas reações desproporcionais
revela-se, contudo, a mensagem essencial da parábola... O "deixar as
noventa e nove ovelhas para ir ao encontro da que estava perdida" mostra a
preocupação de Deus com cada homem que se afasta da comunidade da salvação; o
"pôr a ovelha aos ombros" significa o cuidado e a solicitude de Deus,
que trata com cuidado e com amor os filhos que se afastaram e que necessitam de
cuidados especiais; a alegria desproporcionada do pastor que encontrou a ovelha
mostra a alegria de Deus, sempre que encontra um filho que se afastou da
comunhão com Ele.
A
segunda parábola (vers. 8-10) reafirma o ensinamento da primeira. O amor
misericordioso e constante de Deus busca aquele que se perdeu e alegra-se
quando o encontra. A imagem da mulher preocupada, que varre a casa de cima a
baixo, ilustra a preocupação de Deus em reencontrar aqueles que se afastaram da
comunhão com Ele. Também aqui há, como na parábola anterior, a referência à
alegria do reencontro: essa alegria manifesta a felicidade de Deus diante do
pecador que volta.
A
terceira parábola (vers. 11-32) apresenta o quadro de um pai (Deus), em cujo
coração triunfa sempre o amor pelo filho, aconteça o que acontecer. Ele
continua a amar o filho rebelde e ingrato, apesar da sua ausência, do seu
orgulho e da sua autossuficiência; e esse amor acaba por revelar-se na forma
emocionada como recebe o filho, quando ele resolve voltar para a casa paterna.
Esta parábola apresenta a lógica de Deus, que respeita absolutamente a
liberdade e as decisões dos seus filhos, mesmo que eles usem essa liberdade
para buscar a felicidade em caminhos errados; e, aconteça o que acontecer,
continua a amar, a esperar ansiosamente o regresso do filho, preparado para o
acolher com alegria e amor. É essa a lógica que Jesus quer propor aos fariseus
e escribas (os "filhos mais velhos") que, a propósito dos pecadores
que tinham abandonado a "casa do Pai", professavam uma atitude de
intolerância e de exclusão.
O
que está, portanto, em causa nas três parábolas da misericórdia é a
justificação da atitude de Jesus para com os pecadores. Jesus deixa claro que a
sua atitude se insere na lógica de Deus em relação aos filhos afastados. Deus
não os rejeita, não os marginaliza, mas ama-os com amor de Pai... Preocupa-se
com eles, vai ao seu encontro, solidariza-Se com eles, estabelece com eles
laços de familiaridade, abraça-os com emoção, cuida deles com solicitude, alegra-Se
e faz festa quando eles voltam à casa do Pai. Esta é a forma de Deus atuar em
relação aos seus filhos, sem exceção; e é essa atitude de Deus que Jesus revela
ao acolher os pecadores e ao sentar-Se com eles à mesa. Por muito que isso
custe aos fariseus, essa é a lógica de Deus; e todos os "filhos de
Deus" devem acolher esta lógica e actuar da mesma forma.
O
seu amor não é condicional: Ele ama, apesar do pecado e do afastamento do
filho. Esse amor manifesta-se em atitudes exageradas, desproporcionais, de
cuidado, de solicitude; revela-se também na "festa" que se sucede a
cada reencontro... Não é que Deus pactue com o pecado; Deus abomina o pecado,
mas não deixa de amar o pecador. É este Deus - "escandaloso" para os
que se consideram justos, perfeitos, irrepreensíveis, mas fascinante e amoroso
para todos aqueles que estão conscientes da sua fragilidade e do seu pecado -
que somos convidados a descobrir.