Amanhã,
14 de setembro, a Igreja celebra a festa da Exaltação da Santa Cruz. Esta
festa, muito antiga, também chamada de Cruz gloriosa, celebrava-se já em
Jerusalém no tempo de Constantino (337). A cruz que se exaltava era menos a de
Jesus a sofrer no Calvário que a de Cristo glorioso subindo para o Pai, depois
de vencer a morte e salvar o mundo. Recorda-se, portanto, o triunfo de Cristo e
a mudança por ele causada na condição humana, como ele mesmo anunciara: “Eu,
quando for levantado da terra, atrairei todos a mim” (Jo 12,32). Esta festa
passou de Jerusalém a todo o Oriente e, depois, ao Ocidente, coincidindo com a
apresentação solene da verdadeira cruz do Salvador. E dia 15 próximo,
celebraremos a memória de Nossa Senhora das Dores, a mãe de Jesus, presente no
Calvário, na crucifixão e morte do seu filho.
É
uma boa ocasião para falarmos da cruz presente em nossas vidas. Fala-se hoje em
muitas teologias: teologia da prosperidade, teologia da libertação, mas a mais
importante é a teologia da Cruz. Ali está a verdadeira ciência do cristianismo.
São
João Paulo II, falando das curas dos doentes em Lourdes, pela intercessão de
Nossa Senhora, explica: “O Espírito Santo, que a encobriu com a sua sombra no
momento da Encarnação do Verbo, transforma a alma de numerosos doentes que a
ela recorrem. Mesmo quando não obtêm o dom da saúde corporal, podem sempre
receber outro muito mais importante: a conversão do coração, fonte de paz e de
alegria interior. Este dom transforma a sua existência e faz deles apóstolos da
cruz de Cristo, estandarte de esperança, mesmo entre as provas mais duras e
difíceis”.
“Na
Carta apostólica Salvifici doloris eu anotava que o sofrimento pertence à
vicissitude histórica do homem, o qual deve aprender a aceitá-la e a superá-la.
Mas como pode ele aceitar isto, senão graças à cruz de Cristo? Na morte e
ressurreição do Redentor, o sofrimento humano encontra o seu significado mais
profundo e o seu valor salvífico. Todo o peso de tribulações e sofrimentos da
humanidade está condensado no mistério de um Deus que, assumindo a nossa
natureza humana, se anulou até se fazer ‘pecado em nosso favor’ (2 Cor 5, 21).
No Gólgota Ele carregou as culpas de todas as criaturas humanas e, na solidão
do abandono, gritou ao Pai: ‘Por que Me abandonaste?’ (Mt 27, 46). Do paradoxo
da Cruz surge a resposta às nossas interrogações mais inquietantes. Cristo
sofre por nós: Ele assume sobre si os sofrimentos de todos e redime-os. Cristo
sofre conosco, dando-nos a possibilidade de partilhar com Ele os nossos
sofrimentos. Juntamente com o de Cristo, o sofrimento humano torna-se meio de
salvação. Eis por que o crente pode dizer com São Paulo: "Agora alegro-me
nos sofrimentos que suporto por vós e completo na minha carne o que falta às
tribulações de Cristo, pelo seu Corpo, que é a Igreja" (Cl 1, 24). O
sofrimento, aceite com fé, torna-se a porta para entrar no mistério do
sofrimento redentor do Senhor. Um sofrimento que já não priva da paz e da
felicidade, porque é iluminada pelo esplendor da ressurreição.”
Fonte:
Dom Fernando Arêas Rifan