Somos
hoje convidados a admirar o exemplo desses sábios do Oriente, que vendo no céu
o sinal do Rei nascido, não temeram deixar tudo e, humildemente, seguir a luz!
Como foram sábios verdadeiramente, esses que, humildes, não temeram em se
deixar guiar pela luz de Deus! Como Abraão, o pai de todos os judeus, deixara
sua terra e partira à ordem de Deus, sem saber aonde ia, assim também, esses
que hoje são as nossas primícias para Cristo, partem, obedecendo ao apelo do
Senhor, sem saber para onde vão! Caríssimos, partamos também nós! Partamos de
nossa vida cômoda, partamos de nossa fé tíbia, partamos de nosso cristianismo
burguês, que deseja ser compreendido, aceito, e aplaudido pelo mundo! , ou não
veremos a luz do Menino! “Deus é luz e nele não há trevas. Se andarmos na luz,
como ele está na luz, então estamos em comunhão uns com os outros e o sangue de
seu Filho Jesus nos purifica de todo o pecado” (1Jo 1,5b-7). Partamos, pois,
caríssimos, e encontraremos aquele que é a Luz do mundo!
Porque
os Magos tiveram a coragem de partir, conseguiram atingir o Deus inatingível e
o adoraram! Diz o Evangelho que eles, “ao verem de novo a estrela, sentiram uma
alegria muito grande!” Nós também, se encontrarmos de verdade o Senhor! Mas,
atentos! O que eles encontram? Pasmem! Encontram um menininho pobre, com uma
pobre jovem do povo, Maria, sua Mãe… Não o encontram num palácio, não o
encontram numa corte! E, no entanto, com os olhos da fé, reconheceram o Rei
verdadeiro, prostraram-se e o adoraram! Vede, caríssimos meus, somente quando
nos deixamos guiar, podemos encontrar o Senhor; somente quando saímos dos
nossos esquemas, dos nossos modos de pensar, de achar e de sentir, podemos de
verdade ver naquilo que é pobre e pequeno, ver naquilo que não estava nos
nossos planos e expectativas, a presença de Deus. Depois, diz o Evangelho que
eles voltaram por outro caminho… Sim, porque quem encontrou esse Menino, quem
se alegrou com ele, quem viu a sua luz, muda de caminho, caminha na Vida!
Mas,
nesta festa de tanto alegria, doçura e luz, há uma nota de treva: “Ao saber
disso, o rei Herodes ficou perturbado e, com ele, toda Jerusalém…” Jerusalém,
que representa o povo judeu… Jerusalém, que deveria alegrar-se, perturba-se,
hesita, não é capaz de reconhecer o tempo da visita de Deus! E nós, caríssimos?
Nós, membros do Povo de Deus, não corremos o risco de nos acostumar de tal modo
com o Senhor, a ponto de não mais reconhecer suas visitas, sua presença
luminosa e humilde, sua graça em nossa vida? Não corremos o risco gravíssimo de
não mais nos deixarmos interpelar pela sua palavra? A festa de hoje, certamente
mostra-nos a benignidade de Deus que a todos quer iluminar e salvar, mas também
revela a concreta e tremenda possibilidade do homem de ser generoso e responder
“sim” ou ser fechado e responder “não”! Os judeus, o povo amado, começa a se
fechar para o seu Senhor. É o início de um drama que culminará na cruz… De modo
grave, Santo Agostinho afirma: “Ao nascer fez aparecer uma nova estrela, Aquele
mesmo que, ao morrer, obscureceu o sol antigo! A luz da estrela começou a fé
dos pagãos; pelas trevas da cruz foi acusada a perfídia dos judeus!” É
impossível, meus caros, ficar-se indiferente ante este Menino, este pequeno
Rei: ou nos abrimos para ele e nele encontramos a luz e a vida, ou para ele nos
fechamos e não veremos a luz! Acorda, cristão! Sai do marasmo, sai da tibieza,
sai da preguiça, sai do pensamento vão, sai do vício, sai dos acordos mornos
com o mundo! Acorda! Sai de ti e deixa-te iluminar pelo Salvador por ti
nascido!
Finalmente,
um último mistério. Se Jerusalém fechou-se para o Rei nascido, como pôde o
profeta cantar a luz da Cidade santa na primeira leitura desta Missa?
“Levanta-te, acende as luzes, Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu
sobre ti a glória do Senhor! Eis que está a terra envolvida em trevas, mas
sobre ti apareceu o Senhor!” Esta Jerusalém santa, envolvida pela glória do
Senhor, esta Cidade fiel à qual se dirigem os povos, é a Igreja, o Novo Israel,
a Esposa de Cristo. É ela a Casa na qual, segundo o Evangelho de hoje, os Magos
entraram e encontraram o Menino com sua Mãe. É na Igreja, na Mãe católica, una,
única e santa, que os homens de todos os povos e de todas as raças podem
encontrar o Salvador! Esta é a grande missão da Igreja: dar Jesus ao mundo,
iluminar o mundo com a luz do Senhor, ser casa espaçosa e aconchegante na qual
toda a humanidade possa ver a salvação do nosso Deus!
Caríssimos,
alegremo-nos! Daqui a pouco, o Menino por nós nascido, por nós oferecido na
cruz em sacrifício e em nosso favor, ressuscitado dos mortos, mais uma vez nos
será dado em comunhão. Como os Magos, nos levantaremos, como os Magos,
acorreremos a ele, como os Magos, reverentes adorá-lo-emos! Que também, como os
Magos, voltemos para nossas casas alegres de grande alegria, tomando outro
caminho na vida! Que no-lo conceda o Deus nascido da Virgem que hoje se
manifestou ao mundo. Amém.