Dom
Antonio de Assis Ribeiro
Bispo
auxiliar de Belém do Pará (PA)
No
mês de novembro a Igreja no Brasil estimula os seus féis a uma especial
reflexão sobre o dízimo. A palavra dízimo quer dizer a décima parte de alguma
coisa, ou dez por cento. Na Bíblia o dízimo é a décima parte dos bens que cada
família produzia e que era ofertada a Deus em sinal de gratidão. Cada família
entregava aos sacerdotes dez por cento dos produtos da terra para a manutenção
do templo e dos serviços religiosos (cf. Ne 10,38-39; Tb 1,8; Ml 3,10).
Há
umas questões básicas que pressupõe o dízimo: fé, gratidão, generosidade, senso
de corresponsabilidade, consciência da dimensão econômica da evangelização… Por
isso a CNBB assim define o dízimo: “O dízimo é uma contribuição sistemática e
periódica dos fiéis, por meio da qual cada comunidade assume,
corresponsavelmente, sua sustentação e a da Igreja. Ele pressupõe pessoas
evangelizadas e comprometidas com a evangelização” (CNBB, Doc. 106, N.6)
Uma
resposta de gratidão e sinal de corresponsabilidade
Sim,
o dízimo para a Igreja é um gesto de gratidão a Deus por tantos benefícios
recebidos. A devolução do dízimo nasce do coração sensível. O dízimo é um ato de amor a Deus e aos
irmãos. É uma resposta de fé e de corresponsabilidade pela evangelização, pois
a esta tem uma dimensão econômica.
Muitos
se questionam sobre a quantia dos 10%. Quanto a isso é importante se perguntar
sobre medida da própria gratidão. A gratidão não tem medida! Cada um é chamado,
antes de tudo, a avaliar-se! Deus não gosta de nada forçado e nem de medidas
mesquinhas!
Biblicamente
eram dez por cento o que os fiéis judeus davam para a manutenção das despesas
do templo e manutenção dos sacerdotes. Mas o Dízimo é uma questão de
generosidade: “dê cada um conforme o impulso do seu coração, sem tristeza nem
constrangimento. Deus ama quem dá com alegria”. Não se trata de uma questão
matemática, mas moral, espiritual! É desse modo que Paulo reflete com a
comunidade de Corinto (cf. 2Cor 9,7). O importante é que o dizimista se sinta
livre e corresponsável dando fielmente a sua contribuição mensal. “Quem é
generoso progride na vida” (Prv. 11,25).
Quem
deve ser dizimista?
Todas
as pessoas que participam da vida da Igreja e tem uma fonte de renda são
convidadas a serem dizimistas. Ninguém, nessa condição, está dispensado de
manifestar sua gratidão a Deus para a promoção da fé.
A
obrigação do dízimo vem da generosidade do próprio coração. Se o fiel católico
se sente parte integrante da Igreja, então não está dispensado de contribuir
para que ela seja sempre viva, forte, atuante e tenha todos os meios
necessários para que a Palavra de Deus chegue aos mais afastados. O dízimo e
manifestação da consciência da partilha!
Onde é
aplicado esse recurso do dízimo?
Os
recursos financeiros provenientes das paróquias não pertence ao pároco e nem
mesmo em nenhuma forma de percentual. Isso não existe para a Igreja Católica. O
pároco não tem um percentual sobre o dízimo arrecadado. Isso é importante
saber! Então reflitamos para onde vai o seu dízimo.
O
dizimo deve ser entregue mensalmente porque as despesas ordinárias da
manutenção da Igreja são pagas todos os meses. O recurso do dízimo é aplicado
nas seguintes despesas: no pagamento de funcionários, encargos sociais,
assinaturas de subsídios e revistas, energia elétrica, água, telefone,
internet, material de limpeza, manutenção das estruturas físicas e técnicas,
despesas pastorais (eventos), formação, manutenção dos sacerdotes, material
litúrgico (toalhas, velas, flores, papel, vinho, hóstias…), transportes,
partilha com a (Arqui)diocese, ações missionárias, Caridade, etc. Visto que
todos os meses temos contas a pagar, então todo mês cada fiel é chamado a
colaborar para que tudo seja pago. A Igreja é nossa!
A
partir dessas diversas despesas podemos perceber que o dízimo tem muitas
dimensões: administrativa, religiosa, eclesial, ética, missionária, caritativa.
Lamentavelmente muitas paróquias, por causa da frágil corresponsabilidade dos
fieis, tem muita dificuldade para avançar na evangelização por falta de
recursos. Isso é muito grave!
A
necessidade da transparência e fidelidade
No
início de cada mês a liderança da pastoral do dízimo, em nome do Pároco, deve
prestar contas à comunidade dos valores recebidos e onde foram aplicados. Onde
não há transparência há dúvidas administrativas. A prestação de contas é um
direito dos fieis e uma forma de fidelização. É muito bom quando sabemos e
vemos onde está sendo empregado o dízimo devolvido com espírito de fé.
A
coordenação da pastoral do dízimo, juntamente com o COPAE e o CPP devem
continuamente serem informados sobre a situação econômica da paróquia, pois
dela dependem os novos investimentos pastorais.
O
dízimo, devolvido com amor, faz-nos mais generosos e isso agrada a Deus.
Faz-nos mais desapegados dos bens terrenos; faz-nos menos egoístas. Isso é
sinal de amor. Nesse sentido, o dízimo quando manifesta a bondade do coração do
fiel, contribui diretamente para nossa salvação.
Lembremo-nos
do que Jesus cristo declarou: “Quem der ainda que seja apenas um copo de água
fria a um desses pequeninos, por ser meu discípulo, eu garanto a vocês: não
perderá a sua recompensa» (Mt 10,42). O dizimista, portanto, é um fiel que
assume um compromisso de vida cristã baseado na generosidade.
O
dízimo e bênçãos de Deus
Na
Bíblia Sagrada encontramos referências sobre a relação entre dízimo e bênçãos.
Deus usa de muitas formas para derramar sobre nós suas bênçãos e a seu tempo
vai recompensar todos aqueles que fizeram o bem e foram generosos neste mundo.
Por
meio do profeta Malaquias, Deus diz: “Tragam o dízimo. Façam essa experiência
comigo. Vocês vão ver se não abro as portas do céu, se não derramo sobre vocês
as minhas bênçãos de fartura” (Ml 3,10). “A ti, Senhor, pertence o amor, porque
tu pagas a cada um conforme as suas obras» (Sl 62,13; Prov. 24,12). “O Senhor
retribui a oferta e Ele, em troca, lhe dará sete vezes mais” (Eclo 35,7-10).
Com
o dízimo dos fieis a Igreja se fortalece e as possibilidades de fazer o bem e
divulgar a Palavra de Deus aumentam. Por isso a sua participação é muito
importante! Manifeste que você é uma pedra viva da Igreja e por ela se sente
corresponsável.
Certo,
é que a Igreja é obra de Deus, e o seu Senhor vai retribuir a todos aqueles que
foram generosos para com ela: “Eis que venho em breve, e comigo trago o salário
para retribuir a cada um conforme o seu trabalho” (Ap 22,12).