ENTÃO É NATAL
24 de dezembro de 2024
Paróquia
São Conrado de Constança
Dom Fernando Arêas Rifan*
O
primeiro Natal, do qual celebramos a memória, foi realmente alegre e feliz. Que
alegria e que felicidade! Nasceu Jesus, o Messias prometido desde o Paraíso
perdido, esperado pelos Patriarcas desde Adão, razão de ser do povo eleito, o
Salvador da humanidade, o Senhor feito homem. E os anjos anunciaram aos
pastores essa felicidade. A aparição da estrela misteriosa fez renascer a
felicidade no coração dos Magos que vieram do Oriente.
Mas
como pode ter sido feliz um Natal cheio de sofrimentos? Segundo a filosofia,
felicidade é o estado constituído pelo acúmulo de todos os bens com a ausência
de todos os males (Cícero, Tusculanes
V,10 – Boécio, De Cons. Phil. III, p.2, 2-4). Então, como poderemos chamar feliz um
Natal onde houve desprezo, rejeição – Jesus nasceu numa estrebaria por falta de
lugar para Ele nas casas e nas hospedarias, lágrimas, gritos, morte, luto –
Herodes, perseguindo Jesus, mandou matar as crianças de Belém – fuga, desterro,
pobreza, sacrifícios? Realmente, felicidade perfeita, na definição filosófica,
só se encontrará no Céu, na Jerusalém celeste, onde Deus “enxugará toda a
lágrima dos seus olhos. A morte não existirá mais, e não haverá mais luto, nem
grito, nem dor, porque as coisas de antes passaram” (Apoc. 21,4).
É a
grande lição do Natal: como se pode ser feliz no desterro, na dor, no desprezo,
no luto, até com lágrimas, aqui na terra. Aqui, a felicidade consiste em ter
Jesus, em estar com Jesus, em amar Jesus de todo o coração, com a esperança de
tê-lo perfeitamente um dia no Céu.
Aqui, o que faz a
felicidade é a esperança: "alegres pela esperança, pacientes na
tribulação" (Rom 12,12). O cristão é otimista pela esperança. É feliz
porque espera. Mesmo quando sofre. Mesmo no meio dos sofrimentos, angústias e dores,
pode-se ter a felicidade. Por isso, o primeiro Natal foi cheio de felicidade. A
pobre estrebaria de Belém era o Céu. Ali faltava tudo e não faltava nada. Ali
estava a felicidade que a todos encheu de alegria: Jesus.
São
Francisco de Assis inventou o presépio,
quer dizer, a representação iconográfica do nascimento de Jesus, para que
refletíssemos nas grandes lições desse maior acontecimento da história da
humanidade, seu marco divisor, fonte de inspiração para os grandes pintores e
manancial de meditação para os místicos.
O
presépio de Belém é o princípio da pregação de Jesus, o resumo da sua boa nova,
o Evangelho. Dali, daquele pequeno púlpito, silenciosamente, ele nos ensina o
desprezo da vanglória desse mundo, o valor da pobreza e do desprendimento, o
nada das riquezas, a necessidade da humildade, o apreço das almas simples, a
paciência, a mansidão, a caridade para com o próximo, a harmonia na convivência
humana, o perdão das ofensas, a grandeza de coração, a pureza de alma, enfim,
todas as virtudes cristãs, que fariam o mundo muito melhor, se as praticasse.
É por
isso que o Natal cristão é festa de paz e harmonia, de confraternização em
família, de troca de presentes entre amigos, de gratidão e de perdão. FELIZ
NATAL!