segunda-feira, abril 14, 2025

DOMINGO DE RAMOS E DA PAIXÃO DE JESUS












Neste Domingo de Ramos, iniciamos a Semana Santa. Um tempo sagrado, em que os passos de Cristo nos conduzem à cruz — e além dela, à ressurreição. O Evangelho de hoje é longo, doloroso, intenso. Narra a paixão do Senhor em cada detalhe: traição, abandono, zombaria, flagelação, injustiça, morte. E, no coração desse drama, ressoa um grito que rasga os céus e a alma: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?”

Essas palavras, tiradas do Salmo 21, são talvez as mais misteriosas da boca de Jesus. Não são palavras de desespero. São palavras de oração. Palavras que revelam a profundidade da dor humana, mas também a força da fé que se agarra a Deus mesmo no silêncio. Jesus, na cruz, experimenta o abismo da solidão. Não apenas a ausência dos amigos, mas o aparente silêncio do Pai. Ele se faz solidário até com quem perdeu toda esperança. Ele entra nas trevas do nosso sofrimento mais íntimo.

“Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?” Não é uma pergunta sem resposta. É um clamor que expressa a condição humana. Todos nós, em algum momento, já sentimos o peso do abandono. Quando perdemos alguém. Quando a dor parece sem sentido. Quando a fé balança. Quando o céu parece fechado. Jesus vive isso por nós — e conosco. Ele não foge da angústia. Ele a assume. E ao gritar, nos ensina a rezar até com o pouco de fé que resta.

 

Mas o Salmo não termina no abandono. Ele é um lamento que se transforma em louvor. É uma noite que anuncia o dia. Jesus sabe disso. Ele grita porque confia. Ele sofre, mas crê. E é por isso que a cruz não é o fim. É passagem. É portal. É entrega total ao amor do Pai, que transforma a morte em vida.

Neste domingo, seguramos ramos nas mãos. Ramos de alegria, como a multidão que aclamava: “Hosana ao Filho de Davi!” Mas já sabemos que esses mesmos lábios gritarão “Crucifica-o!” dias depois. O coração humano é inconstante. Por isso, Jesus permanece fiel, mesmo quando todos ao redor vacilam.

 

Que neste Domingo de Ramos, ao entrarmos com Cristo em Jerusalém, também entremos com Ele no mistério da dor redentora. Que possamos, diante da cruz, repetir com reverência, com fé, com verdade: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?” — não como quem perde a esperança, mas como quem se entrega totalmente nas mãos de Deus.

 

Porque é ali, no ponto mais baixo da nossa história, que a salvação começa. É do silêncio do Pai que renasce a vida. É da cruz que brota a ressurreição. Amém.