Meus
irmãos e irmãs, ao cair da tarde daquele domingo — o primeiro da nova criação —
as portas estavam fechadas. O medo reinava. O coração dos discípulos batia no
compasso da insegurança. Eles tinham visto a cruz, escutado os gritos, sentido
o peso da perda. E agora? Agora restavam sombras, perguntas, um silêncio
desconfortável.
Mas
é exatamente nesse cenário — de portas trancadas e almas encolhidas — que o
Ressuscitado entra. Sem bater. Sem anunciar. Ele se põe no meio. Como quem diz:
“Eu ainda sou o centro de vocês.” E ali, no meio da dor, Ele sopra paz. “A paz
esteja convosco.” Três vezes. Três sopros de vida para três dias de morte. Três
remédios para três feridas: o medo, a dúvida, a culpa.
Ele
mostra as mãos. Mostra o lado. Mostra as marcas. Porque o amor verdadeiro deixa
cicatriz. A paz DELE não vem do esquecimento, mas da redenção. Jesus ressuscita
com as chagas. E nelas, o céu beija a terra. As feridas abertas agora são
fontes de misericórdia.
E
então, Ele sopra. O mesmo sopro do Gênesis, vento que pairava sobre as águas. O
mesmo fôlego que transformou barro em homem. Agora, esse sopro transforma o
medo em missão: “Como o Pai me enviou, também eu vos envio.” Ele não nos envia
perfeitos. Nos envia tocados. Marcados. Respirando o Espírito.
E
aqui entra Tomé… o cético, o teimoso, o tardio. Mas também, o honesto. O
transparente. O que diz o que sente. Ele não estava lá. Perdeu o primeiro
sopro, o primeiro olhar. E, por isso, carrega a sede da prova. Quer tocar, quer
ver. Porque no fundo, quer crer. Quer ter certeza. E quem de nós nunca foi
Tomé?
Oito
dias depois — o tempo da nova criação — Jesus volta. De novo, portas fechadas.
De novo, paz. E agora, com um convite direto: “Tomé, vem cá. Toca. Sente. Não
tenhas medo da dúvida, mas não te acomodes nela.” E Tomé se rende. E em seu
grito — “Meu Senhor e meu Deus!” — explode a fé da Igreja. Ele não toca. Não
precisa mais. O amor já o tocou primeiro.
E
Jesus então proclama a bem-aventurança que nos inclui: “Felizes os que creram
sem ter visto.” Nós. Eu. Você. Todos que seguem acreditando mesmo quando a fé é
um passo no escuro, um salto no silêncio, uma esperança contra toda esperança.
Hoje
é o Domingo da Divina Misericórdia. Não por acaso. Porque esse evangelho é todo
sobre misericórdia. Misericórdia que entra com as portas fechadas, que mostra
as chagas e não acusa. Misericórdia que sopra vida nova. Que abraça até o
incrédulo. Que transforma a dor em testemunho.
Meus
irmãos, deixemos hoje que o Ressuscitado entre em nossa casa interior. Que
atravesse nossos bloqueios e mostre Suas marcas. Que nos sopre de novo o
Espírito. E então, como Tomé, deixemos que o coração diga — com fé, com amor,
com entrega total —: “Meu Senhor e meu Deus!”.