Com a Orientação do nosso Pároco Pe Marcos Belizário, Fernando e
Carolina Mousinho, Ana Luiza e Luiz, e com o conteúdo “Fundamentação Bíblica”, “Valores
essenciais do Amor Matrimonial” e “Ritual do Sacramento do Matrimônio”.
Compareceram 22 casais.
FUNDAMENTAÇÃO
BÍBLICA
Qual é a razão
do amor?
Gn 2,18-24; 1,27-28a
E o Senhor disse: “Não é bom que o homem esteja só. Vou
fazer-lhe uma auxiliar que lhe corresponda”.
Então o Senhor Deus formou da terra todos os animais selvagens e todas
as aves do céu, e apresentou-os ao homem para ver como os chamaria: cada ser
vivo teria o nome que o homem lhe desse.
E o homem deu nome a todos os animais domésticos, a todas as aves do céu
e a todos os animais selvagens, mas não encontrou uma auxiliar que lhe
correspondesse.
O homem se sente
só. A solidão indica a falta de acabamento do homem. O homem ainda não está
completo. Deus, a natureza e os animais não bastam ao homem. Para ser completo,
ele precisa de alguém com quem dialogar, trocar afeto, compartilhar e
transmitir a vida. Deus quer que o homem tenha vida plena, por isso lhe dá um
“aliado”, um parceiro, uma pessoa do mesmo gênero, da mesma natureza.
O texto usa o termo “auxiliar” que no hebraico (kenegdo) tem um sentido profundo: a mulher é o ser necessário para a autocompreensão do homem. O homem sem a mulher não se entende e se não se entende é como se não existisse. A mulher é quem vai dar sentido ao homem. E o homem dá sentido à mulher. Homem e mulher são um para o outro a revelação do que o outro é.
Então o
Senhor Deus fez vir sobre o homem um profundo sono, e ele adormeceu. Tirou-lhe
uma das costelas e fechou o lugar com carne. Depois da
costela tirada do homem, o Senhor Deus formou a mulher e apresentou-a ao homem.
E o homem
exclamou: “Desta vez sim, é osso dos meus osso e carne da minha carne! Ela será
chamada ‘humana’ porque do homem foi tirada”.
Há aqui o
símbolo da costela, que, numa leitura fundamentalista foi interpretada como uma
dependência da mulher em relação ao homem. Na realidade, todo o texto e o
contexto (séc.V a.C.) em que foi escrito têm a finalidade de demonstrar que
homem e mulher são da mesma natureza.
A mulher é
formada a partir do lado do homem e da mesma substância. Em outras palavras, é
humana como o homem e não foi criada para estar submissa ou para submeter o
homem, e sim para andar ao seu lado, para ser companheira.
Auxiliar é a que
lhe corresponde (que lhe responde com o coração), que está diante, que lhe é semelhante.
Esse é o sentido da mulher. O homem e a mulher estão em relação recíproca, não
uma subordinada ao outro. A auxiliar foi criada para viver uma relação de
igualdade. Na realidade, a
humanidade deve ter sido criada imediatamente em forma masculina e feminina. Na Bíblia,
frequentemente, os sonos e os sonhos comportam uma revelação. O homem ao
despertar de um sono profundo, descobre qual era aquela auxiliar semelhante da
qual tinha necessidade. E exclama maravilhado: “Esta sim é osso dos meus ossos
e carne da minha carne”. É um canto de amor da humanidade.
Apaixonar-se por
uma pessoa é algo tão extraordinário que não conseguimos explicar por qual
razão ele acontece. Não conseguimos explicar porque nos apaixonamos por uma
determinada pessoa. Passado certo tempo, começamos a apresentar algumas razões,
mas elas não eram pensadas anteriormente, e menos ainda planejadas. Ninguém
acorda de manhã e diz hoje, vou me apaixonar por fulana ou fulano. Na
realidade, simplesmente nos apaixonamos por uma pessoa e somente depois nos
damos conta do fato.
Lidamos com
tantas pessoas do sexo oposto e, no entanto, exatamente por uma nos
apaixonamos. Mas, para haver casamento, é necessário que essa pessoa também se
apaixone por nós. Apaixonar-se por uma pessoa e ser correspondido é algo
extraordinário!
Não é raro
encontrarmos casais dizerem que o companheiro ou companheira foram presentes de
Deus.
“Esta sim, é
osso dos meus ossos e carne da minha carne” (Gn 2,23). Nesse versículo é
refletido o sentimento que temos quando descobrimos que estamos apaixonados por
uma pessoa e esse amor é correspondido.
O gesto do
primeiro homem com sua mulher se repete ainda hoje, a cada instante. A
experiência do amor é vivida pelo homem de todos os tempos.
Por isso
deixará o homem o pai e a mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só
carne.
Esse sono
profundo indica também o mistério que cerca a relação homem-mulher. Um foi
criado para o outro e, quando se unem na relação íntima do matrimônio, estão
obedecendo ao projeto de Deus, que emerge do mais fundo de cada um, a fim de
formar uma nova unidade para os dois, para os próprios filhos e para a
sociedade.
Deus criou o ser humano à sua imagem, imagem de Deus o criou. Homem e mulher ele os criou.
Só a humanidade é criada à imagem e semelhança de Deus. Não somos deuses, mas imagem de Deus e semelhantes a Deus na nossa capacidade de amar. O homem não é criado sozinho, mas é chamado para uma relação com o outro sexo. A relação homem-mulher, relação entre dois seres de sexualidade diferente, portanto, que se acolhem, se amam e se enriquecem reciprocamente se torna o primeiro sinal que anuncia e manifesta Deus. Homem e mulher, juntos, formam a imagem de Deus.
E Deus os
abençoou e lhes disse: “Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e
submetei-a!
Como imagem de
Deus, o homem também é chamado à tarefa criadora e ordenadora da natureza. Deus
criou tudo voltado para a vida; a tarefa do homem também é preservar e criar
mais vida.
Como vemos, o
matrimônio foi criado e querido por Deus. Deus criou e santificou o matrimônio
no próprio ato da Criação. Ou seja, o casamento é uma instituição que nasceu
com a própria humanidade.
Não só homem e
mulher unem-se em casamento, como também formam desde o início a família. Em
todos os registros arqueológicos verifica-se que toda sociedade se fundamenta
na família. A instituição do casamento e a família antecedem a qualquer outra
instituição humana.
PROFETAS
O matrimônio
assume tamanha relevância diante de Deus, que no Antigo Testamento, vários
profetas recorrem à relação de amor entre os esposos para simbolizar a Aliança
de Deus com Israel, seu povo.
(O Antigo
Testamento fala sobre a Aliança (por volta de 1250 a.C.) que Deus faz com seu
povo. O povo viveria segundo o projeto de Deus para ele, e Deus estaria a seu
lado, dando-lhe força. Mas o povo se afasta desse projeto, sendo infiel ao
pacto com Deus, e então, enfrenta sofrimentos, se arrepende e volta novamente
para Deus. Por seu lado, Deus é sempre fiel e está sempre disposto a perdoar, e
acolher o povo de volta. Toda a história de Israel foi uma longa série de
infidelidade e de rebeliões contra Deus.)
Para falar sobre
a Aliança de Deus com o povo, e muitas vezes advertir o povo sobre sua infidelidade,
havia os profetas. Muitos usavam a imagem do amor conjugal para descrever a
íntima relação existente entre Deus e o povo de Israel.
Oséias (2,16-25;
3,1-5) (séc.VII a.C.) é o primeiro profeta que usou essa imagem. Para falar do
amor e da fidelidade de Deus, ele parte da sua experiência matrimonial
concreta. Oséias casa-se com uma mulher que parece ter sido prostituta.
Entretanto, essa mulher, Gomer, deixa Oséias e volta à prostituição.
Oséias gostaria
de esquecer a mulher, mas não consegue. O amor não lhe dá paz e ele procura
todos os meios para reconquistá-la: primeiro, a ameaça, depois a acusa e em
seguida a conduz ao deserto e lhe fala ao coração.
No fim, a mulher volta e tem
início um novo relacionamento. Essa experiência vivida por Oséias lhe dá a
intuição para ler também a relação de Deus com Israel, seu povo.
Deus seria o
esposo. O povo, a esposa infiel. Apesar da Aliança de amor feita por eles, o
povo corre atrás de outros deuses considerados seus amantes. Podemos dizer que
aqueles outros deuses seria tudo que desse respaldo às ganâncias, às injustiças
sociais, à violência. Assim, os pecados do povo seriam a prova da infidelidade
da esposa para com o esposo divino.
Como se comporta
Deus? Também ele acusa, queixa-se de seu povo, contudo não se vinga. Deus como
esposo abandonado e desiludido, continua, apesar de tudo, a amar a esposa
adúltera e não cessa de esperar o seu arrependimento. Oséias apresenta Deus
como um amante que faz a experiência de toda a gama de sentimentos que
caracterizam as relações amorosas entre dois jovens esposos. O amor permanece
fiel apesar da traição. Deus é capaz de esquecer a sua ira e procurar a
definitiva reconciliação com a esposa infiel, estabelecendo com ela uma relação
de intimidade e comunhão que nenhuma coisa do mundo poderia destruir. O amor
ilimitado de Deus perdoa, recria, salva.
Oséias descreve
também o novo matrimônio, símbolo também da nova aliança de Deus com Israel:
“Nesse dia –
oráculo do Senhor – você me chamará ‘meu marido’ e não mais ‘meu dono’” (cf. Os
2,18).
Na sociedade da
época, o homem tinha direito de propriedade sobre todas as coisas que se
achavam em casa, inclusive a esposa. Na nova relação conjugal entre Deus e
Israel, o Senhor terá com o povo sentimentos de afeto e de amor e não reivindicará
os direitos de propriedade. A relação que Deus deseja com seu povo é de
intimidade, de corespondência amorosa.
“Eu me casarei
com você para sempre, me casarei com você na justiça e no direito, no amor e na
ternura. Eu me casarei com você na fidelidade e você conhecerá o Senhor” (cf.
Os 2,21-22).
Há aqui a
promessa de fidelidade para sempre, e mais uma vez, proclama um relacionamento
justo e respeitoso, amoroso e terno.
Vários outros
profetas bíblicos têm mensagens riquíssimas de matrimônio como imagem de Deus.
“Passei por aí,
e vi você. Notei que estava na idade do amor. Então joguei a minha capa em seus
ombros, para cobrir a sua nudez. Fiz um juramento e me comprometi com você em aliança
– oráculo do Senhor Deus – de modo que você passou a ser minha” (...) “Assim
diz o Senhor Deus: ‘Vou agir com você do mesmo modo como você agiu: você
desprezou o juramento e quebrou a aliança! No entanto, eu me lembrarei da
aliança que fiz com você, quando era jovem, e farei com você uma aliança
eterna’” (Ez 16,8.59-60).
Em cada
Matrimônio, os noivos devem desejar que a relação entre eles corresponda à
relação de Deus com seu povo, e vice-versa: a Aliança de Deus com seu povo deve
revelar-se em cada Matrimônio.
Deus está
presente no amor humano. Se existe o amor, existe Deus. O amor humano é o
fragmento que evoca Deus.
NOVO TESTAMENTO
No Novo
Testamento, à cerca do Matrimônio, Paulo (Ef 5,21-33) também vai mencionar a
ideia do mistério: um homem e uma mulher com educação diferente, maneira de
pensar diferente, viver junto é um mistério. Mas é algo desejado e
possibilitado por Deus.
Paulo vai dizer
que a relação homem-mulher vai ser correspondente à relação Jesus-Igreja. Ao
olhar para o comportamento do casal, as pessoas devem se admirar e perceber o
amor de Deus por seu povo, ou de Cristo por sua Igreja. Um matrimônio feliz, o
amor dos esposos é a visibilização do amor de Deus no mundo. E assim, uma
realidade humana e terrena é transformada numa realidade religiosa. Torna-se
sacramento.
O Sacramento do
Matrimônio só acontece quando os noivos decidem e desejam que a união deles
represente a união de Jesus com sua Igreja. Esse é o sentido do “sim” que vocês
dão na celebração do Matrimônio. Mas o sacramento não é encerrado na
celebração. Na vida é que os esposos vão torná-lo visível.
A união dos esposos
deve ter como modelo a união de Cristo com sua Igreja.
No Matrimônio,
ter como modelo a união de Cristo com sua Igreja, é que dá o diferencial do
“casar na Igreja”, e não simplesmente casar no civil, ou buscar outra
celebração não cristã. Optar pelo Sacramento do Matrimônio significa optar pela
vivência cristã do casamento.
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