sábado, novembro 28, 2015

FESTA DE NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS




Caros Irmãos em Cristo

Agradeço-vos este encontro que desejei ter convosco durante a minha primeira vista à França. Em primeiro lugar saúdo muito cordialmente os nossos irmãos ortodoxos, vindos em grande número de diversas regiões do Oriente para viverem neste, país que os acolhe, continuando deste modo a longa tradição de que Santo Irineu foi uni dos primeiros exemplos. Não me esqueço do representante da Igreja anglicana. E agora dirijo-me aos representantes do protestantismo francês que estão aqui presentes.

Neste momento do esforço que fazemos em comum para restaurar entre todos os cristãos a unidade querida por Cristo, é necessário, com efeito, que tomemos consciência das exigências que nos traz hoje o facto de sermos cristãos.

Antes de tudo, e na dinâmica do movimento pela unidade, é preciso purificar a nossa memória pessoal e comunitária, com a recordação de todas as tensões, injustiças e ódios do passado Esta purificação realiza-se mediante o perdão recíproco, desde o fundo do coração, condição do crescimento em plenitude de uma verdadeira caridade fraterna, de uma caridade que não se irrita e que tudo desculpa (1Co 13,5 1Co 13,7). Digo isto aqui, porque conheço os dolorosos acontecimentos que no passado caracterizaram neste país as relações dos católicos com os protestantes. Sermos cristãos, hoje, exige que nos esqueçamos do que fica para trás, a fim de estarmos completamente disponíveis para a missão à que o Senhor nos chama (Ph 3,13). Vós estais a enfrentar esta missão e alegro-me de modo particular pela qualidade colaboração existente entre vós, sobretudo no que se refere ao serviço do homem, serviço compreendido em toda a sua dimensão e que exige, com urgência e desde já, um testemunho de todos os cristãos, sobre cuja necessidade já insisti na encíclica Redemtor hominis.


Mas, hoje talvez mais do que nunca, o primeiro serviço a ser prestado ao" homem é testemunhar a verdade, toda a verdade "alithevondes en agapi, "praticando a verdade pela caridade" (Ep 4,15). Não devemos descansar até não sermos novamente capazes de confessar juntos a verdade total, para a qual o Espírito nos guiará (cfr. Jn 16,13). Sei como é sincera também a vossa colaboração neste âmbito: as mudanças realizadas por ocasião da assembleia do protestantismo francês, em 1975, são um exemplo desta sinceridade. É preciso que cheguemos a confessar juntos toda a verdade, para juntos podermos testemunhar verdadeiramente Jesus Cristo, o único em quem e por meio de quem o homem pode ser salvo (cfr. Ac 4,12).


Quis manifestar-vos alguns sentimentos que me animam neste momento, mas não quis ir mais além a fim de evitar que o tempo disponível para o diálogo mais pessoal e para a oração, que concluirá o nosso encontro, se tornasse mais curto.

Antes de recitar a Oração do Senhor, poderemos colocar-nos juntos diante do plano salvífico de Deus, meditando a magnífica confissão do Apóstolo Paulo no exórdio da sua carta aos Efésios.


"Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, do alto dos Céus, nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo. Foi assim que n'Ele nos escolheu antes da constituição do mundo, para sermos santos e imaculados diante dos Seus olhos. Predestinou-nos para sermos Seus filhos adotivos por meio de Jesus Cristo, por Sua livre vontade, para fazer resplandecer a Sua maravilhosa graça, pela qual nos tornou agradáveis em Seu amado Filho. É n'Ele que temos a redenção, pelo Seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da Sua graça, que abundantemente derramou sobre nós, com plena sabedoria e discernimento, dando-nos a conhecer o mistério da Sua vontade, segundo o beneplácito que n'Ele de antemão estabelecera, para ser realizado ao completarem-se os tempos: Reunir sob a chefia de Cristo todas as coisas que há no Céu e na Terra. N'Ele é que fomos escolhidos, predestinados, conforme o desígnio d'Aquele que tudo opera segundo a decisão da Sua vontade, para servir à celebração da Sua glória, nós que, desde o começo, tínhamos esperado em Cristo. Foi n'Ele que vós também, depois de terdes ouvido a Palavra da verdade — o Evangelho da vossa salvação, no qual acreditastes —, fostes marcados com o selo do Espírito Santo, que tinha sido prometido, o qual é penhor da nossa herança, enquanto esperamos a completa redenção daqueles que Deus adquiriu para louvor da Sua glória" (Ep 1,3-14).


Pai Nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome. Venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje. Perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido. E não nos deixeis cair em tentação. Mas livrai-nos do mal. Amém.

Palavras do Papa São João Paulo II em Paris, Capela da Medalha Milagrosa, 30 de maio de 1980.