Vivemos numa sensação de segurança que dia e menos dia desaparece de nossos horizontes. Até há pouco tempo atrás, por exemplo, nossos governantes diziam que tínhamos encontrado o caminho certo e que a vida dos brasileiros caminhava para o paraíso, incentivando todos ao consumo. Como um castelo de areia que se desmonta com a água que lentamente chega na praia, assim começaram a ruir as esperanças de milhões de pessoas. Vale, neste caso, a verdade daquele provérbio latino que diz: “sic transit gloria mundi!” (Assim passa a glória do mundo).
Nem tudo é governável no mundo e nem na vida, nem mesmo a prepotência arrogante de dizer que o futuro está em nossas mãos, principalmente quando estas mãos não são limpas, mas manchadas pela ganância que contamina e conduz à corrupção. Não se pode projetar o futuro em cima de caminhos de pecado que condenam à morte milhares de pessoas. Com o que foi roubado por um único ladrão do petrolão, por exemplo, seria possível garantir a saúde de milhares de pessoas. Todos os homens e mulheres morrem; esta é a nossa única certeza na vida, mas contribuir com a morte de milhares de pessoas por causa da ganância, eis um pecado que clama aos céus. De um país que se dizia fraterno e acolhedor, nos tornamos um país sujo, corrupto e corrompido com uma pena de morte que condena milhões de pessoas a viver na incerteza do que comer no dia de amanhã.
“Quem entrará na casa do Senhor?”, interroga o salmista, e logo em seguida ele mesmo responde: “aquele que tem mãos limpas e inocente o coração” (Sl 24,4). E continua, “aquele que não dirige sua mão para o crime...” Viver assim, com as mãos limpas, é cultivar no coração o mesmo desejo de Jó: “depois que minha pele será destruída, verei a Deus” (Jó 19,26). O mesmo Deus que contemplamos no rosto dos pobres (Mt 25,35ss), nos momentos de amor com nossas famílias e nossos amigos, nos sorrisos de alegria celebrando a festa da vida, nas emoções de conquistas... Ora, tudo isso foi, de certa forma, roubado de nós. Os corruptos do governo e das empresas são também os ladrões de nossas seguranças, de nossa alegria porque semearam a desconfiança e o medo do futuro. Não são gente de bem, são corruptos, isto é, corrompidos pela ganância destruidora da vida dos outros.
Nesta celebração que comemoramos nossos falecidos, queremos agradecer a Deus pelo dom da vida daqueles homens e mulheres que dedicaram suas vidas para o bem do povo. Daqueles que honraram sua dignidade política para o bem de seus cidadãos. Hoje, repudiamos o veneno da morte e o fedor cadavérico que os corruptos jogaram no meio de nosso povo. Rezamos especialmente por aqueles que morreram nos hospitais públicos, porque o dinheiro que salvaria suas vidas foi roubado por um ganancioso que já tinha demais.
Fonte: Liturgia.pro texto de Serginho Valle- http://www.liturgia.pro.br/site/