Se nós pertencemos a Cristo, se nós somos de Cristo e se o Espírito de Deus habita em nossos corpos, então não podemos padecer de uma doença muito comum neste tempo histórico pelo qual passa a humanidade. Falo da doença espiritual. Pense comigo: se o Espírito de Deus habita em nós, então deveríamos viver espiritualmente saudáveis, isto é, sem raiva, sem mágoa, sem ódio dentro da gente, sem irritações, sem ansiedades, e assim por diante. Por que convivemos com isso em nossas vidas? Porque damos mais atenção ao espírito do mundo — à sabedoria do mundo, como dizia Paulo, na 2ª leitura — que ao Espírito de Deus que habita em nós. Nossa vocação é para que sejamos santos, porque o Deus que habita em nós é santo. Foi o que ouvimos na 1ª leitura. A Palavra deste Domingo é uma Palavra que orienta como ter saúde espiritual, como ter um coração em paz, um coração pacificado: não cultivar o ódio contra ninguém, não ficar tramando vinganças dentro de nós, não guardar rancor ou mágoa do outro... não fazer nada disso. Em vez disso: amar o outro e amar a Deus.
Jesus, no Evangelho, é muito mais contundente: não apenas amar quem nos ama, porque disso cada um é capaz, diz Jesus, mas amar até mesmo os inimigos. Dois aspectos a respeito desse mandamento de Jesus. Um é a radicalidade de tomar isso ao pé da letra. Na Igreja, temos inúmeros exemplos de santos e santas, mas também de pessoas de nossos tempos que socorrem os inimigos e rezam pelos seus perseguidores. As guerras do Oriente Médio que envolve perseguição de cristãos contam casos e mais casos de ajuda a perseguidores. Mas, tem um segundo elemento: rezar pelos que nos perseguem e até ajudar os inimigos se for o caso. Isso tem relação com a saúde espiritual. O amor ama e não olha quem ama. Simplesmente ama e não distingue se o outro é ou não é amigo ou inimigo. Em termos práticos, isso significa que não devemos colocar o inimigo dentro de nós. Se o inimigo, se aquele que nos persegue, se aquele que quer o nosso mal entrar dentro da gente, então nós adoeceremos espiritualmente. Por isso, o segundo modo de amar os inimigos é não colocando ele dentro da gente.
Quando colocamos o inimigo dentro de nós, começamos a tramar vinganças, temos mágoas, todo tipo de sentimento que adoece nosso psicológico e adoece nossa vida espiritual. Jesus conclui o Evangelho de hoje com uma série de orientações que mostram o nosso diferencial cristão. Retribuir amor a quem nos ama qualquer um pode fazer. Retribuir uma saudação a quem nos saúda, qualquer um pode fazer, até mesmo quem vive longe de Deus. Para falar dessa normalidade, Jesus usa a palavra: “extraordinário”: — “o que fazeis de extraordinário?” Onde está o diferencial? Como cristão temos um diferencial em nosso comportamento, em nosso modo de pensar e nosso modo de nos relacionar com os outros. Quanto a isso, a proposta do Levítico (1ª leitura) é de ser santo porque o Pai é santo. A proposta do Evangelho é de ser perfeito porque o Pai é perfeito. Ambas dizem a mesma coisa: como cristão não nos contentamos com o normal, com o corriqueiro, porque sempre estamos em busca da santidade e da perfeição e esta se encontra no amor e na arte de amar. Amém!
Fonte: liturgia.pro