Queiramos ou não, o sofrimento está incrustado no próprio interior de nossa experiência humana, e seria uma ingenuidade tratar de eludi-lo. Às vezes a dor física que abala nosso organismo. Outras vezes é o sofrimento moral, a morte de um ente querido, a amizade rompida, o conflito, a insegurança, o medo ou a depressão. O sofrimento interno e inesperado que logo passará, ou a situação penosa que se prolonga consumindo nosso ser e destruindo nossa alegria de viver.
Ao longo da história, bem diversas têm sido as posturas que o ser humano adotou diante do mal. Uns acreditam na postura mais humana de enfrentar o mal e a dor e aguentá-la com dignidade. Outros propagam uma atitude pragmática: fugir do sofrimento, desfrutando ao máximo enquanto se possa. O budismo, por sua vez, tenta arrancar o sofrimento do coração humano suprimindo “o desejo”.
Depois, na vida diária, cada um se defende como pode. Uns se rebelam diante do inevitável; outros adotam uma postura de resignação; há aqueles que mergulham no pessimismo; há até quem, ao contrário, precisa sofrer para sentir-se vivo...E Jesus? Qual foi sua atitude diante do sofrimento?
Jesus não faz de seu sofrimento o centro em torno do qual deve girar tudo o mais. Ao contrário, seu sofrimento é uma dor solidária, aberta aos outros, fecunda. Ele também não adota uma atitude vitimista. Não vive compadecendo-se de si mesmo, mas auscultando os padecimentos dos outros. Não se queixa de sua situação , nem se lamenta. Está muito mais atento às queixas e lágrimas dos que o rodeiam.
Jesus não se acabrunha com fantasmas de possíveis sofrimentos futuros. Vive cada momento acolhendo e doando a vida que recebe do Pai. “Não vos preocupeis com o dia de amanhã. O dia de amanhã terá suas próprias dificuldades. A cada dia basta seu peso”(Mt 6,34)
E, acima de tudo, Jesus confia no Pai, coloca-se serenamente em suas mãos . E, inclusive, quando a angústia lhe afoga o coração, de seus lábios só brota uma oração: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”.