domingo, outubro 15, 2017

CANONIZAÇÃO DE NOVOS SANTOS E PROTOMÁRTIRES DA IGREJA


Cidade do Vaticano (RV) – A Igreja tem 35 novos Santos, e entre eles, 30 brasileiros. Na cerimónia presidida pelo Papa Francisco na manhã deste domingo (15/10) na Praça São Pedro, foram canonizados os mártires de Cunhaú e Uruaçu, os Protomártires do México – considerados os primeiros mártires do continente americano -, além do sacerdote espanhol Faustino Míguez, fundador do Instituto Calasanzio, Filhas da Divina Pastora, e do Frade Menor Capuchinho italiano Angelo d’Acri.

Após ser cantado o Veni Creator, o Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, Cardeal Angelo Amato, acompanhado pelos Postuladores das Causas, dirigiu-se até o Santo Padre para pedir para que se procedesse à canonização dos Beatos, mediante a leitura dos seus nomes.

A seguir, foi lida uma breve biografia dos novos Santos e entoada a Ladainha de todos os Santos, pedindo que por meio da Virgem Maria e de todos os Santos seja sustentado o ato que está para ser cumprido. Por fim, o Santo Padre leu a fórmula da canonização.

Se se perde de vista o amor, “a vida cristã torna-se estéril, torna-se um corpo sem alma, uma moral impossível, um conjunto de princípios e leis a serem respeitados sem um porquê”, sublinhou, a seguir Francisco, na sua homilia.

Inspirando-se no Evangelho de Mateus proposto pela Liturgia do dia, o Papa recorda na sua homilia que ”o Reino de Deus é comparável a uma Festa de Núpcias”. Nós, disse, “somos os amados, os convidados” para estas núpcias, mas “o convite pode ser recusado”. Neste sentido, somos chamados a “renovar a cada dia a opção de Deus”, vivendo segundo o amor verdadeiro, superando a resignação e os caprichos do nosso eu”.

Francisco iniciou a sua reflexão explicando que o protagonista da festa das núpcias “é o filho do rei, o noivo, no qual facilmente se vislumbra Jesus”. Mas na parábola, não se fala da noiva, “mas de muitos convidados, desejados e esperados: são aqueles, acrescenta, que trazem as vestes nupciais:

“Tais convidados somos nós, todos nós, porque o Senhor deseja «celebrar as bodas» com cada um de nós. As núpcias inauguram uma comunhão total de vida: é o que Deus deseja ter com cada um de nós. Por isso o nosso relacionamento com Ele não pode ser limitado ao dos devotos súbditos com o rei, ao dos servos fiéis com o patrão ou ao dos alunos diligentes com o mestre, mas é, antes de tudo, o relacionamento da noiva amada com o noivo”.

Em outras palavras – explica Francisco – o Senhor “não se contenta com o nosso bom cumprimento dos deveres e a observância das suas leis, mas quer uma verdadeira comunhão de vida connosco, uma relação feita de diálogo, confiança e amor”:

“Esta, vincou o Santo Padre, é a vida cristã, uma história de amor com Deus, na qual quem toma gratuitamente a iniciativa é o Senhor e nenhum de nós pode gloriar-se de ter a exclusividade do convite: ninguém é privilegiado perante aos outros, mas cada um é privilegiado diante de Deus. Deste amor gratuito, terno e privilegiado, nasce e renasce incessantemente a vida cristã”.

Francisco pergunta porém, se no nosso dia-a-dia nos recordamos de dizer “pelo menos uma vez”, “Senhor, eu vos amo. Vós sois a minha vida”:

“Com efeito, se se perde de vista o amor, a vida cristã torna-se estéril, torna-se um corpo sem alma, uma moral impossível, um conjunto de princípios e leis a respeitar sem um porquê. Ao contrário, o Deus da vida espera uma resposta de vida, o Senhor do amor espera uma resposta de amor”.

O Papa alerta para o perigo “de uma vida cristã rotineira, onde nos contentamos com a «normalidade», sem zelo nem entusiasmo e com a memória curta”.

Neste sentido, disse, somos chamados a reavivar a memória do primeiro amor: “somos os amados, os convidados para as núpcias, e a nossa vida é um dom, sendo-nos dada em cada dia a magnífica oportunidade de responder ao convite”.

Mas este convite pode ser recusado. O Evangelho – observa o Papa – relata que muitos convidados disseram não, pois “estavam presos aos próprios interesses”, “ao seu campo, ao seu negócio”.

A palavra “seu” – frisou Francisco – “é a chave para entender o motivo da recusa”. De facto, sublinhou, afastamos-nos do amor, “não por malvadez”, mas porque se prefere “as seguranças, a autoafirmação, as comodidades”:

“Então reclinamo-nos nas poltronas dos lucros, dos prazeres, de qualquer passatempo que nos faça estar um pouco alegres. Mas deste modo envelhece-se depressa e mal, porque se envelhece dentro: quando o coração não se dilata, fecha-se. E quando tudo fica dependente do próprio eu – daquilo com que concordo, daquilo que me serve, daquilo que pretendo –, tornamo-nos rígidos e maus, reagimos maltratando por nada, como os convidados do Evangelho que chegam ao ponto de insultar e até matar aqueles que levaram o convite, apenas porque os incomodavam”.

Ora, recordou o Pontífice, “Deus é o oposto do egoísmo, da auto-referencialidade”, pois diante das nossas contínuas recusas e fechamentos, “não adia a festa. Não se resigna, mas continua a convidar”:

“Vendo os «nãos», não fecha a porta, mas inclui ainda mais. Às injustiças sofridas, Deus responde com um amor maior. Nós muitas vezes, quando somos feridos por injustiças e recusas, incubamos ressentimento e rancor. Ao contrário, Deus, ao mesmo tempo que sofre com os nossos «nãos», continua a relançar, prossegue na preparação do bem mesmo para quem faz o mal. Porque assim faz o amor; porque só assim se vence o mal”.

Hoje – portanto salientou ainda Francisco – “este Deus que não perde jamais a esperança, nos compromete a fazer como Ele, a viver segundo o amor verdadeiro, a superar a resignação e os caprichos de nosso “eu” susceptível e preguiçoso".

O Papa destaca então, um último aspecto do Evangelho do dia: “as vestes dos convidados, que são indispensáveis”. Ou seja, não basta responder ao convite dizendo sim e basta, “mas é preciso vestir” “o hábito do amor vivido cada dia”, porque “não se pode dizer “Senhor, Senhor”, sem viver e praticar a vontade de Deus. Daí que para o Santo Padre, precisamos de revestir-nos cada dia do seu amor, de renovar a cada dia a opção de Deus”:

“Os Santos canonizados hoje, disse, sobretudo os numerosos Mártires, indicam-nos esta estrada. Eles não disseram «sim» ao amor com palavras e por um certo tempo, mas com a vida e até ao fim. O seu hábito diário foi o amor de Jesus, aquele amor louco que nos amou até ao fim, que deixou o seu perdão e as suas vestes a quem O crucificava. Também nós recebemos no Baptismo a veste branca, o vestido nupcial para Deus.”

“Peçamos a Ele, então, por intercessão destes nossos irmãos e irmãs santos, a graça de optar por trazer cada dia esta veste e de a manter branca”, o que é possível, “antes de mais nada, indo sem medo receber o perdão do Senhor, o passo decisivo para entrar na sala das núpcias e celebrar a festa do amor com Ele”, concluiu dizendo O Papa Francisco.