“O FILHO VENCE A VIOLÊNCIA PELO AMOROSO DOM DE SI”
Para os cristãos, a superação da violência se baseia em sua profissão de fé, que começa afirmando:
“Creio em Deus, Pai todo poderoso, criador do céu e da terra”.
A confissão de fé em um Pai comum é a semente da fraternal convivência entre os seres humanos. Malaquias já anunciava esta comum paternidade dizendo:
“Acaso não temos nós o mesmo Pai? Não foi o mesmo Deus quem nos criou? Por que, então, nos enganamos uns aos outros?” (Ml 2,10.16b)
A violência testemunhada desde o fratricídio de Abel por Caim é assumida por Jesus em seu corpo. Ele transforma a violência sofrida em amor ofertado. Diz São Pedro:
“Quando injuriado, não retribuía as injurias; atormentado, não ameaçava. Carregou nossos pecados em seu próprio corpo, sobre a cruz, a fim de que, mortos para os pecados, vivamos para a justiça” (1 Pd 2,23-24).
A IGREJA CONVIDA A PROMOVER A CULTURA DO DIÁLOGO
O Concílio Vaticano II diz:
“Para edificar a paz é preciso eliminar as causas das discórdias entre os homens, que são as que alimentam as guerras e, sobretudo, as injustiças. Muitas delas provêm das excessivas desigualdades econômicas e do atraso em lhes dar os remédios necessários. Outras nascem do espírito de dominação e do desprezo pelas pessoas” (GS n. 83).
Preocupado com a violência crescente, o então Papa Paulo VI, agora beatificado, criou em 1968 a comemoração do dia mundial pela paz, celebrado sempre no primeiro dia do ano. Na mensagem para o primeiro dia mundial da paz o Beato Paulo VI falou da necessidade de um espírito novo, um novo modo de pensar o homem e seus deveres e o seu destino, o qual por sua vez, se constrói com uma nova pedagogia: a educação das novas gerações para o respeito mútuo, para a fraternidade e para a colaboração entre as pessoas, em vista do progresso e do desenvolvimento. Nesta ocasião, em vista disso, indica um conjunto de valores: a sinceridade, a justiça, o amor, a liberdade das pessoas e dos povos, o reconhecimento dos direitos da pessoa humana e da independência das nações. E proclama com convicção:
“… do Evangelho pode brotar a paz, não para tornar os homens fracos e moles, mas para substituir nas suas almas os impulsos da violência e da prepotência pelas virtudes viris da razão e do coração dum humanismo verdadeiro!”
Na celebração do dia mundial da paz de 2017 o Papa Francisco disse:
“Todos nós desejamos a paz; muitas pessoas a constroem todos os dias com pequenos gestos; muitos sofrem e suportam pacientemente a dificuldade de tantas tentativas para construí-la”.
A campanha da fraternidade deste ano nos convoca a viver a prática de Jesus no exercício dos pequenos gestos que o Papa Francisco destaca na ação do Filho de Deus: a escuta, a saída missionária, o acolhimento, o diálogo, o anúncio da paz e a denúncia da violência na dimensão pessoal e social. A lógica do amor é o único instrumento eficaz diante das ações violentas
Na busca da superação da violência como seguimento de Jesus Cristo vale lembrar que em 2007 foi beatificado como mártir o leigo austríaco Franz Jagerstatter, casado e pai de família. Ele rejeitou prestar qualquer tipo de colaboração e de apoio aos nazistas, Foi por isso condenado à morte e decapitado em 09/08/1943. Sua beatificação repropõe o convite a resistir a toda forma de violência e a consagrar todos os esforços possíveis pela causa da paz.
AGIR – AÇÕES PARA A SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA
Um agir que supera a violência tem como fundamento o Evangelho que aponta para a grandeza da vida e a beleza do viver. Testemunhar a beleza da vida e a graça de vivermos todos como irmãos! Essa verdade do Evangelho deveria ecoar em nossos corações, em nossas comunidades e em nossa sociedade.
Por isso, a Campanha da Fraternidade de 2018 nos convoca a viver a prática de Jesus no exercício da escuta, da saída missionária, do acolhimento, do diálogo, do anúncio e da denúncia da violência na dimensão pessoal e social. A lógica do amor é o único instrumento eficaz diante das ações violentas.
PISTAS DE AÇÃO CONCRETA:
A Igreja está intimamente ligada às pessoas, à sua história e aos acontecimentos que marcam a vida de todos. Fiel a Jesus Cristo, que quer que todos os povos sejam seus discípulos e vivam o mandamento do amor, para isso é preciso trilhar um caminho feito de passos como:
– A comunidade insira o tema da paz em sua liturgia e oração
– Articular momentos de oração pela paz em lugares simbólicos, de preferência com a presença de outras religiões.
– Conhecer as realidades próximas da comunidade que apresentem conflitos, para um discernimento sobre as melhores soluções e contribuições possíveis.
– Acompanhar famílias, jovens, grupos de bairros rivais, escolas com incidência de conflitos em vista de superá-los.
– Incluir o tema da superação da violência nos programas de formação para a Iniciação Cristã, Catequese e Pastoral Juvenil.
– Promover uma Pastoral Familiar capaz de ajudar cada família a superar os problemas da violência doméstica.
– Utilizar os meios de formação como homilia, catequese, encontros, cursos, escolas da fé, para aprofundar temas relativos à superação da violência, a fim de atingir as pessoas que participam da vida da comunidade cristã.
- Promover todas de conversas tendo de um lado a comunidade e de outro as autoridades da cidade.
- Despertar os intelectuais da cidade, bem como os meios de comunicação para o assunto.
- Fazer uma grande caminhada pela paz, contra as drogas.
- Organizar debates com jovens sobre a violência familiar.
- oferecer acompanhamento profissional ás votas das violências, junto à pastoral social.
Dom Nelson Francelino Ferreira
Bispo Diocesano de Valença
Rio de Janeiro
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